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Figura 3.37 – Comparação entre a geometria dos projetos para a Marquise. Fonte: Breno Veiga, 2016.

É notório o desenvolvimento da forma da Marquise ao longo dos vários projetos preliminares até o projeto definitivo. A Marquise passou de uma simples cobertura de faces ortogonais para um elemento agregador da arquitetura do parque. Sem dúvida, pode-se afirmar que os elementos mais marcantes na série de projetos relatados na Figura 3.37 são os arcos de circunferências que compõem a forma dos projetos. Percebe-se durante o desenvolvimento do projeto

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que Oscar Niemeyer e equipe propõem, cada vez mais, aumentar o número de arcos criados a partir de circunferências de raios de grande dimensão, chegando a uma medida superior a 570 m no projeto executado. Nota- se que existe uma relação direta e inversa entre o comprimento do raio, medido em metros e o tamanho do arco, medido em graus, minutos e segundos. Nota-se que a equipe de arquitetos optou por um aumento substancial dos raios e uma supressão no tamanho dos arcos, que juntamente com a união de diferentes arcos de circunferência, através de tangentes, possibilitou desenvolver no projeto executado, uma curvatura muito mais suave do que o perímetro das versões preliminares.

O projeto preliminar I é o que possui as menores dimensões. Além de segregarem parte dos edifícios construídos, suas três extremidades acarretam em um menor número de fluxos e conexões com o resto do Parque. Não se observa nas linhas retas dessa versão a fluidez espacial presente no interior dos Pavilhões construídos.

Em relação à versão anterior, o projeto preliminar II avançou nas conexões entre o Parque e os edifícios do conjunto. Essa versão, agora com cinco extremidades, proporcionava uma conexão com o planetário, atual Oca, e os projetos não construídos do Auditório e do Restaurante. Em termos de geometria, essa versão se vale de 12 circunferências para proporcionar inflexões de sua forma sobre o terreno. É uma forma extensa que ainda não apresenta uma relação de proporção entre linhas curvas e segmentos de reta.

Observa-se que o projeto preliminar III e o projeto executado são geometrias derivadas de um número similar de circunferências, 20 e 18 respectivamente. Porém a conexão entre as circunferências do projeto preliminar se dá através do uso de segmentos de reta, já que as circunferências possuem raios menores, ocasionando uma ausência de pontos de tangência entre curvas. A alternância de arcos de grande dimensão e retas extensas proporcionou a forma de maior dinamismo dos projetos analisados.

Devido à diversas alterações no projeto dos edifícios, como a modificação da estrutura que provocou a remoção dos pórticos externos previstos no Pavilhão das Indústrias, Pavilhão das Nações e no Pavilhão dos Estados, bem como o

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afastamento do projeto do restaurante para a outra margem do lago, a Marquise do parque perdeu uma de suas extremidades, e sua curvatura ficou mais suave. Notou-se que o vazio elíptico em sua curvatura possui as mesmas proporções do vazio planejado e não construído para a marquise do Pavilhão da Agricultura. É possível imaginar que a equipe de arquitetos transferiu, por analogia, esse elemento da marquise do edifício para a grande marquise do parque, com apenas algumas mudanças na escala do vazio, criando uma clareira em uma de suas extremidades. Diante do que foi exposto acima, é possível afirmar que a Marquise do Ibirapuera é o elemento mais destacado do conjunto arquitetônico construído no Parque, sobretudo pelo seu caráter agregador, de conexão entre os edifícios e seu entorno imediato. Porém, não seria interessante que esse elemento se sobressaísse sobre as outras arquiteturas.

Pavilhão das Indústrias - Bienal (1952)

Arquitetos: Oscar Niemeyer, Carlos Lemos,Eduardo Kneese de Mello, Gauss Estelita, Hélio Uchôa e Zenon Lotufo Construção: Secla – Sociedade de Engenharia e Construções LTDA. Fonte: REVISTA ACRÓPOLE, Outubro de 1954 n. 193, p. 54

O prédio da Bienal é o Pavilhão de maior extensão do Ibirapuera, cobrindo uma área de 250 m de comprimento por 50 m de largura, sustentada por uma estrutura dividida em 26 eixos estruturais, apresentando vãos de 10 m e 6 m e com destaque ao grande pilar tronco que sustenta as rampas internas.

A circulação interna possui uma grande importância nos edifícios do Conjunto do Ibirapuera. Oscar Niemeyer usa diversos artifícios para ressaltar as rampas e escadas internas. É observado em todos os Pavilhões do Parque, que Niemeyer cria vazios sinuosos, junto ao eixo vertical de circulação, essa organicidade proporciona uma contraposição à ortogonalidade externa.

Sob o ponto de vista observado em Giedion (2004), a arquitetura molda e “cava” o espaço. No Ibirapuera, Niemeyer cria dilatações e contrações espaciais internas, projeta espaços fluidos e contínuos. Mais interessante que as formas orgânicas produzidas pelo arquiteto são seus espaços internos, caracterizados pela organicidade inerente de sua obra.

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Figura 3.38 – Corte transversal (1:200) do projeto preliminar de 1952 do Pavilhão das Indústrias.

Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo, 2015. Foto: Breno Veiga, 2015.

O que torna o projeto do Pavilhão das Indústrias (1952) muito peculiar e interessante é a forma sinuosa dos vazios. As lajes oscilam em torno dos pilares, enquanto as rampas em ferradura se fundem ao pilar que as sustenta.

A partir da análise dos desenhos da época, notou-se que a primeira versão do pilar central é bem diferente da atual. Em um corte preliminar datado de 24/09/1952, obtido na exposição temporária dos desenhos dos Pavilhões do Parque,

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se observa que a primeira versão do primeiro pilar projetado pelo arquiteto era em V, sustentando apenas a rampa do segundo pavimento. Foi também observada a falta de desenhos técnicos do pilar em tronco construído nos desenhos cedidos pelo Arquivo Histórico Wanda Svevo da Fundação Bienal e nos desenhos encontrados na sede do IPHAN/SP. No corte transversal, apresentado na Figura 3.38, é possível observar que os pilares laterais do térreo se assimilavam aos dos Pavilhões dos Estados e das Nações, assim como o pilar em V que se manifesta como elemento estrutural para as rampas nos mesmos dois pavilhões. O pilar central do prédio da Bienal, nessa versão, possui apenas duas ramificações diferentes do construído que apresenta cinco (dois para sustentar a rampa inferior, dois para a rampa superior e um para sustentar a laje de cobertura).

Figura 3.39 – Desenhos técnicos do Pavilhão das Indústrias. Fonte: Arquivo Histórico Wanda Svevo – Fundação Bienal de São Paulo, 2015.

O Arquivo Histórico Wanda Svevo cedeu os desenhos técnicos do Pavilhão em formato digital CAD (plantas) e arquivos no formato PDF (cortes e elevações), datados de 13/10/2001. A Figura 3.39 mostra parte dos desenhos obtidos que,

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assim como observado anteriormente, não havia o desenho do pilar em tronco em planta e nem em corte, porém, como esses foram obtidos por meio digital, a etapa seguinte contemplou o redesenho dessa fonte.

Figura 3.40 – Corte longitudinal e fachadas sudeste e nordeste (1:250) do projeto do Pavilhão das Indústrias.Fonte: IPHAN/SP, 2015. Foto: Wilson

Florio, 2015.

No IPHAN de São Paulo foi encontrado o projeto completo do edifício da Bienal, cuja “adaptação, seguiria as exigências de segurança”, como é possível observar na instalação das escadas metálicas de emergência observadas na fachada sudeste do edifício. Observou-se que a fachada nordeste apresenta a configuração antiga dos brises e

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caixilhos, o corte longitudinal não reproduz o desenho do pilar tronco, fazendo com que as rampas apareçam sem a devida estrutura.

Redesenho

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Modelagem Paramétrica

Figura 3.44 – Processo de criação da forma do vazio dos pavimentos da Bienal (1952). Fonte: Breno Veiga, 2016.

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alternância entre arcos de circunferência e retas tangentes, diferentemente da Marquise que é formada pela sucessão de arcos tangentes. Observa-se na Figura 3.44 a construção da forma do vazio central, as diferentes etapas (1,2,3,4...) e seus acontecimentos (retas e arcos), assim como a marcação dos centros das circunferências e os raios, em vermelho. Foi possível desenhar o perímetro do vazio do pavimento da Bienal com 13 linhas retas e 10 arcos de circunferência.

Quadro 3.1 – Etapas para a construção do modelo paramétrico do Pavilhão das Indústrias (1952). Fonte: Breno Veiga, 2015.

Após o desenho do vazio central foi produzido um modelo tridimensional digital com o auxílio da MP (Quadro 3.1). Primeiramente foi delimitado o perímetro retangular do edifício (250 m X 50 m) em segundo, o vazio da Bienal foi modelado e localizado, assim como os 104 pilares de seção circular 0,76 m de diâmetro e 52 pilares de mesma seção

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com 0,37 m de diâmetro, localizados nas extremidades da laje. O passo seguinte foi criar uma dimensão em Z para os pilares (4 m) e para a laje caixão (0,50 m), proporcionando uma tridimensionalidade ao modelo. Em seguida foi criado o terceiro pavimento, fruto da duplicação do pavimento inferior e a laje de cobertura.

As rampas em ferradura do Pavilhão da Bienal e do Edifício da Oca foram desenvolvidas a partir de um algoritmo, criado no Grasshopper, que permitiu gerar a forma da rampa a partir de uma curva guia em um plano e uma seção em “U”, gerando a laje e guarda corpo (Quadro 3.2).

Figura 3.45 – Algoritmo. Figura 3.46 – Posição de cada elemento no algoritmo. Fonte: Breno Veiga, 2015. Fonte: Breno Veiga, 2015.

A MP das rampas, como observado no Quadro 3.2, se iniciou com uma curva base, extraída da etapa de redesenho do edifício, após essa etapa a curva base foi dividida em 60 partes iguais através de 61 pontos. No passo seguinte, cada ponto foi movido na direção do eixo Z e depois interligados a partir de uma curva interpolada, permitindo criar uma curva com inclinação semelhante à inclinação da rampa, observada nos redesenhos.

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possibilitou “orientar” o desenho do perfil sobre cada um dos 61 pontos criados. O último passo foi a união de cada seção “U” com o comando Loft que gerou o modelo paramétrico da rampa.

Quadro 3.2 – Etapas para a construção do modelo paramétrico das rampas do Pavilhão das Indústrias (1952). Fonte: Breno Veiga, 2016.

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Modelagem Geométrica

Devido à falta de desenhos técnicos que explicassem a geometria da coluna, a modelagem do pilar em tronco foi realizada a partir da interpretação de uma série de fotos (feitas por este autor). Uma imagem que retrata a vista frontal do pilar foi aberta dentro do Rhinoceros como plano de fundo. A partir disso a foto foi escalonada e retificada, utilizando dimensões já conhecidas, presentes no desenho técnico, assim como a altura dos peitoris e dos pilares e com o auxílio de uma curva interpolada. 3.2 O perímetro do pilar foi desenhado, fotos que mostravam as laterais do pilar

tronco foram utilizadas para encontrar a espessura da coluna. Houve alguns ajustes posteriores para unir com precisão o pilar tronco às rampas do Pavilhão.

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Figura 3.53– Corte transversal do Pavilhão das Indústrias (1952) com o pilar que sustenta as rampas. Fonte: Arquivo Histórico Wanda Svevo. Redesenho: Breno Veiga, 2015.

Como observado anteiormente na coleta de dados, aqui também não havia desenhos técnicos, especialmente cortes que representassem a forma ou mesmo a geometria da coluna tronco que sustenta as rampas. Além de possíbilitar o estudo do pilar, único na arquitetura de Oscar Niemeyer, com o auxílio da MG foi possível contribuir para a representação completa do edifício e de seus componentes. Observa-se nos cortes da Figura 3.54 a quebra do caráter ortogonal do edifício provocada pontualmente pela associação de elementos curvilíneos rampa e pilar, porém para

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que se entendesse o espaço por completo, foram criadas séries de cortes tridimensionais pelo edifício, como uma “tomografia do edifício.”

Figura 3.54 – Cortes perspectivados do modelo do Pavilhão das Indústrias (1952). Fonte: Breno Veiga, 2015.

Como se pode notar, os espaços internos são muito importantes na obra de Oscar Niemeyer e por isso a modelagem digital foi explorada para aprofundar o estudo das variantes do espaço interno no Pavilhão das Indústrias. Foi criada uma série de cortes perspectivados, transversais, passando pelo eixo de circulação vertical do edifício. Esse tipo de representação teve como objetivo demonstrar o dinamismo espacial interno da obra, em contraste com a

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simplicidade da forma exterior. Cortes técnicos, bidimensionais, são de extrema importância para a execução de um edifício, porém, são muito limitados para o estudo de edifícios curvilíneos. O desenho perspectivado é o mais apropriado para entender espaços com formas curvas, pois a tridimensionalidade de um corte perspectivado aproxima o observador do mundo tridimensional que o rodeia (ZEVI, 1950; 1996).

Análise Geométrica

As dimensões dos elementos que compõem a forma do vazio dos pavimentos da Bienal podem ser vistas na Figura 3.55. Nota-se que mais da metade dos raios que a estruturam medem entre 1,6 m e 2,1 m e que boa parte dos arcos descritos apresentam medidas de até 90°, proporcionando uma curvatura suave e constante, sendo interrompida em apenas duas circunstâncias, nos arcos A5 e A6, onde as dimensões dos arcos (136°37’ e 95°36’) criam dois pontos de flexão da curva, acarretando em um fechamento abrupto da forma. Das 13 linhas retas que compõem o perímetro do vazio, mais da metade apresenta dimensão inferior a 10 m, com exceções em L2 (19,3 m), L8 (12,2 m) e L12 (14 m), nas extremidades do perímetro.

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O dinamismo espacial é exaltado pela articulação e pela sucessão entre segmentos de reta e linhas curvas. É na oscilação entre esses dois elementos que está a sensação de espaço fluido e em movimento. O vazio curvilíneo dos pavimentos da Bienal provoca um “respiro” a ortogonalidade do resto da planta. O arquiteto propõe um diálogo entre o vazio e o resto do piso, mediado pelas rampas em ferradura, por onde um transeunte, ao subir tem uma visão de 360º do entorno, da coluna em tronco que estrutura as rampas, da forma e do espaço arquitetônico.

As rampas e o vazio têm o papel de definir o espaço em que estão inseridas. A complexa coluna W, que sustenta os dois lances de rampa e a cobertura do edifício, serve como elemento articulador entre o vazio sinuoso e a forma construída em formato de ferradura das rampas. A forma do pilar, possibilitada por meio da MG, como observado na Figura 3.56, retrata uma geometria composta por arcos de circunferência em diversas direções, criando uma arquitetura de formas oscilantes. Esse jogo de curvas, convida o usuário a transitar ao redor de sua forma.

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Fabricação Digital

Foi produzido um protótipo rápido com o auxílio de uma máquina com tecnologia SLS, no Centro de Tecnologia Renato Archer. A escolha desse método foi fruto da forma orgânica do pilar tronco, das rampas e da possibilidade de construir um modelo sem usar a necessidade de suportes. O modelo foi produzido na escala 1:100, e apresenta as seguintes dimensões: 16,14 cm de largura, 31,1 cm de comprimento e 16,12 cm de altura. Devido às dimensões do tanque da máquina (ver cap. anterior), somente uma parte do modelo modelado com Grasshopper e Rhinoceros foi fabricado, justamente a que apresentava formas não ortogonais.

Verificou-se que devido à quantidade de pó usado na fabricação do modelo, a máquina sinterizadora teve que ser interrompida para que mais material pudesse ser adicionado, isso provocou uma pequena falha transversal no modelo físico, porém isso não diminuiu a qualidade da execução do protótipo.

Nesse modelo não são as grandes dimensões que impressionam, mas sim as menores. Nessa escala o guarda-corpo da escada tem 0,6 mm de espessura. É notável a qualidade da impressão. É possível observar atentamente a curvatura das rampas em ferradura e sua relação com os vazios centrais dos pavimentos e com a forma curva e tentacular do pilar tronco central.

Esse método foi o único entre os métodos utilizados que possibilitaria a construção de um modelo com tal forma e precisão e sem o auxílio de suportes. O modelo físico contribui para o estudo da forma de componentes não ortogonais do edifício da Bienal, proporciona o estudo do pilar em tronco, ainda pouco estudado e entendido, o estudo do espaço interno do edifício e suas diversas contrações e dilatações e a suas relações com o resto do edifício. A FD desse protótipo auxiliou no estudo do jogo de curvas proposto por Niemeyer nesse edifício. Observou-se relações entre as diversas curvas do projeto entre cada elemento estruturante. A curvatura do vazio acompanha a curva do pilar e das rampas, o vazio apresenta uma geometria menos dinâmica, quando próximo das rampas e pilar. O vazio se torna estático para a forma ganhar dinamismo e o cheio se torna menos dinâmico para o vazio se sobresair.

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Figuras 3.57, 3.58, 3.59 e 3.60 – Protótipo na escala 1:100 do Pavilhão das Indústrias (1952). Dimensões: 16,14 cm X 31,1 cm X 16,12 cm

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Espaço multimídia anexo ao Pavilhão da Bienal (1993)