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CRITÉRIOS DESCRIÇÃO

2.4.4 Auto-organização

O princípio da auto-organização, abordado neste estudo, está ancorado nos escritos de Morgan (1996, p.81-113), quando o autor representa metaforicamente as organizações vistas como cérebro, isto é, flexíveis, criativas, resistentes e em processo contínuo de aprendizagem.

Esses atributos requerem muito mais do que simples ações dominadas pela racionalidade instrumental, em que o imperativo são as habilidades técnicas individuais dos elementos humanos da organização. Esses atributos exigem uma capacidade organizacional elaborada também sob a égide da racionalidade substantiva, em que as convicções, crenças e valores e liberdade de criação tem presença marcante.

A auto-organização compreende um contínuo processo de pensamento e

feedback destinados a provocar mudanças, pois, “(...) sob circunstâncias que

mudam, é importante que os elementos da organização sejam capazes de questionar a propriedade daquilo que estão fazendo e modifiquem sua ação para levar em conta novas situações” (MORGAN, 1996, p.82).

A metáfora do cérebro, relacionada com a auto-organização dos sistemas municipais de vigilância sanitária, apresenta aspectos que se tornam relevantes tanto para a conformação de indicadores de desempenho quali-quantitativo, quanto para orientar o desenho da arquitetura de sistemas de informações gerenciais para o segmento.

Em analogia à Morgan, uma organização municipal de vigilância sanitária, vista como cérebro, envolve, por exemplo, aspectos como a tomada de decisão, a cibernética, a capacidade de aprender a aprender e o planejamento organizacional sitêmico.

Para Morgan (1996, p.87),

O enfoque da tomada de decisão na organização tem assim criado uma nova forma de pensar sobre como as organizações realmente operam e tem feito contribuições à compreensão do planejamento organizacional. (...) Se a

organização é, na verdade, um produto ou reflexo da capacidade de processamento da informação como Herbert Simon sugeriu, então novas capacidades levarão a novas formas organizacionais.

Na mesma direção, envolvem a cibernética, isto é, ciência que tem como foco o estudo da informação, comunicação e controle, cuja origem moderna se deu a partir da Segunda Guerra Mundial na área da aviação.

A cibernética evidencia o conceito de Feedback Negativo. Este se caracteriza pela capacidade de estabelecer percursos em direções opostas às iniciadas com o propósito de corrigir erros detectados. Para Morgan (1996, p.90),

(...) a cibernética conduz à teoria da comunicação e aprendizagem, ressaltando quatro princípios chaves. Primeiro que os sistemas devem ter a capacidade de sentir, monitorar e explorar aspectos significantes do seu ambiente. Segundo, que eles devem também ser capazes de relacionar essa informação com as normas operacionais que guiam o sistema comportamental. Terceiro, que eles devem ser capazes de detectar desvios significativos dessas normas. Quarto, que eles devem ser capazes de iniciar ação corretiva quando são detectadas discrepâncias.

O terceiro aspecto diz respeito a capacidade em aprender a aprender. Ressalta Morgan (1996, p.91) que a aprendizagem pode ocorrer de duas formas: em “circuito único”, quando se apoia na habilidade de detectar e corrigir o erro com relação a um dado conjunto de normas operacionais; e, em “circuito duplo”, quando o que importa é a capacidade de olhar-se duplamente a situação, questionando a relevância das normas em funcionamento. Observa-se que a forma, em “sentido único”, é dominada pela racionalidade instrumental/funcional, e a forma, em “sentido duplo”, além de sofrer influência da racionalidade instrumental/funcional, também é influenciada pela racionalidade substantiva.

No âmbito da vigilância sanitária, muito por influência de sua conformação histórica, a grande obstrução que se apresenta à prática da aprendizagem em “sentido duplo” recai sobre a intensidade burocrática que habita o segmento e que impõe estruturas fragmentadas de pensamento aos seus membros. Na realidade, não encorajam os funcionários a também pensar por si próprios.

O enfoque organizacional da vigilância sanitária de municípios, orientado para a aprendizagem, enseja a prática de diretrizes construídas com base em Morgan (1996, p.95-98):

1. encorajar e valorizar uma abertura e flexibilidade que aceita erros e incertezas como um aspecto inevitável da vida em ambientes complexos e mutáveis;

2. encorajar um enfoque de análise e solução de problemas complexos que reconheçam a importância da exploração de diferentes pontos de vista; 3. evitar, imposição de estruturas de ação em ambientes organizados em que a

inteligência criativa e a direção podem emergir do processo organizacional corrente;

4. incorporar a necessidade de fazer intervenções que criam estruturas e processos organizacionais para ajudar a implementação dos princípios anteriormente apresentados, fomentados pelo pensamento e visão sistêmicos.

5. relacionar a auto-organização com os princípios do planejamento holográfico, isto é, ter a concepção e percepção da organização de forma sistêmica, integrada e experimentando todas as conexões possíveis sob o conhecimento e o domínio dos elementos humanos da organização.

O princípio holográfico facilita o processo de auto-organização, por meio do qual estruturas internas e funcionamento podem evoluir de acordo com as circunstâncias de mudança.

A concepção holográfica repousa sobre a implementação de quatro princípios integrados, quais sejam: redundância de função, variedades de requisito, especificação crítica mínima, e aprender a aprender. Com base em Morgan (1996, p.102-108), esses princípios criam as condições através das quais tais modelos de ordem podem emergir.

O princípio de redundância de funções revela um meio para que se construa o todo em cada uma das partes da organização, criando redundância e condutibilidade, bem como, simultaneamente especialização e generalização. Emerge deste contexto a concepção de pensamento sistêmico.

O princípio das variedades de requisito ajuda a promover orientações práticas para o planejamento das relações parte-todo, mostrando exatamente quanto do todo precisa estar presente em determinada parte. Ressalta-se aqui, a essencialidade das conexões e do processo de comunicação.

O princípio da especificação mínima crítica, sugere que administradores e planejadores organizacionais devam principalmente adotar um papel de facilitar ou orquestrar a sua própria forma. Ajuda a preservar a capacidade de auto-organização que princípios burocráticos usualmente desgastam. Abre-se a idéia da ação dirigida a inquirições sobre o que está sendo feito.

O princípio de aprender a aprender tem uma função reguladora. Este evita que a mínima especificação crítica se torne caótica. Aprender a aprender significa criar um ambiente organizacional propício à promoção de identidade compartilhada com orientação e dificuldades compartilhadas, em que diferentes princípios gerenciais possam existir em diferentes níveis hierárquicos. Nessa direção, Maslow (2000, p.23) afirma que:

Cada nova invenção, cada nova descoberta cria uma conturbação nos bastidores gerenciais. As pessoas que se estabeleceram, confortavelmente, são sacudidas e perturbadas, sendo tiradas de seu conforto. Fica claro que qualquer grande descoberta, qualquer nova invenção... qualquer coisa que exija uma reorganização do território conquistado não será facilmente aceita (...).

Um dos maiores desafios deste estudo está em permitir que a identificação de fatores técnicos, humanos e conceituais possam orientar a conformação de indicadores de desempenho quali-quantitativo para o Sistema Municipal de Vigilância Sanitária de Florianópolis, mensurando na direção de uma orientação organizacional, em que possa co-habitar princípios da auto-organização e a burocracia menos intensa possível, elevando a patamares desejáveis ações de proteção e promoção da saúde individual e coletiva por meio de impulsos pró-ativos e colaborativos.

A delimitação de fatores técnicos, humanos e conceituais voltados para a conformação de uma matriz de desempenho em vigilância sanitária para cidades, constituída de indicadores de desempenho quali-quantitativo com focos voltados para produção, estrutura, resultado e aprendizagem, que apresente resultados confiáveis, com excelência estratégica, e que busque a auto-organização do sistema, requer, sem prejuízo à outros requisitos, que seja estabelecida uma arquitetura de sistemas de informações gerenciais capaz de permitir, dentro de um enfoque prospectivo, o processo continuado de decisões consistentes para o alcance de estados futuros desejados. Esse requerimento será assunto do próximo tópico.

2.5 ARQUITETURA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS:

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