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CAPÍTULO II A AUTORIDADE SEGUNDO OS ADOLESCENTES

2.3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

2.3.1 Autoridade como organização

Apesar de a autoridade possuir caráter contraditório, uma vez que pode se manifestar na forma de autoritarismo, contrariando os interesses e necessidades dos indivíduos, segundo os autores da teoria crítica, a formação do indivíduo e a possibilidade de autonomia destes não podem prescindir da autoridade. Nesse sentido, Engels (apud MARCUSE, 1972) aponta que existe na sociedade uma ‘autoridade-coisa’ necessária em qualquer organização social. Adorno (1995c) admite também a existência de uma autoridade técnica que deve ser considerada, baseada no fato de que um homem entende mais de algum assunto do que outro.

Dessa forma, compreende-se que o exercício da autoridade, como forma de organização social e como elemento essencial na formação do indivíduo, não pode renunciar ao emprego de regras e limites. Sendo assim, na categoria autoridade como organização são descritos e analisados os dados referentes à maneira como as regras e limites se manifestam nas relações de autoridade sob as quais os adolescentes estão submetidos na família e na escola. A apresentação dos dados será iniciada pela descrição da rotina dos adolescentes na família.

a) Família

Com o objetivo de compreender como é a rotina dos sujeitos da pesquisa em suas casas e, portanto, na família, foi apresentada no questionário a seguinte questão: “Quando você não está na escola onde passa a maior parte do tempo?” Para tal pergunta, se obteve as respostas abaixo:

Tabela 6. Local onde os adolescentes passam a maior parte do tempo quando não estão na

escola Local Frequência Em casa 11 Na rua 1 Na casa de amigos -* Na casa de parentes - Total 12

-* Indica valor nulo.

Na sequência, ainda no questionário, foi perguntado aos adolescentes: “O que você faz quando está em casa?”. Para essa pergunta foi possível aos adolescentes indicar mais de uma resposta, conforme Tabela 7, abaixo:

Tabela 7. Atividades realizadas pelos adolescentes quando estão em casa

Atividades Frequência

Acessar a Internet 10

Assistir TV 9

Ajudar no trabalho doméstico 8

Ler livros, gibis ou revistas 7

Estudar 6

Ajudar a cuidar dos irmãos 4

Conversar com os pais 4

Brincar 3

Desenhar 2

Observando a Tabela 6, nota-se que, com exceção de um adolescente apenas, todos os demais passam a maior parte do tempo em casa quando estão fora da escola. Com relação aos dados apresentados na Tabela 7, é possível identificar que parte da ocupação do tempo livre dos adolescentes é gasto com atividades de lazer como acessar a Internet, assistir TV, ler livros, gibis ou revistas, brincar, desenhar ou jogar videogame. Nota-se também que a maioria dos adolescentes assume responsabilidade pelas atividades domésticas, sendo que 1/3 dos participantes ajudam a cuidar dos irmãos. Cerca de metade dos adolescentes afirmou destinar certo tempo para estudar quando estão em casa.

Sobre a participação dos adolescentes nas atividades domésticas foi perguntado no questionário: “Quanto tempo você gasta diariamente ajudando a sua família no trabalho doméstico?” Diante de tal questão, foram constatadas as seguintes respostas:

Tabela 8. Tempo que os adolescentes gastam diariamente ajudando a família no trabalho

doméstico

Tempo gasto diariamente Meninos Meninas Frequência

1 hora ou menos 2 2 4

2 horas ou mais 3 3 6

Não realiza trabalhos domésticos 1 1 2

Total 6 6 12

Observando a Tabela 8, pode-se verificar que dez dos doze adolescentes participantes ajudam a família no trabalho doméstico, sendo que metade deles gasta duas horas ou mais por dia se dedicando a estas atividades. Os dados coletados apontam ainda que a responsabilidade pelas tarefas da casa não se restringe somente às meninas, mas, ao contrário, faz parte também da rotina dos meninos. A pesquisa mostrou que o tempo de participação no trabalho doméstico está distribuído de forma igualitária entre meninos e meninas. Apenas dois adolescentes afirmaram não participar de nenhuma atividade doméstica, um menino e uma menina.

É importante destacar que as questões apresentadas acima constavam no questionário como perguntas fechadas, visto que apresentavam alternativas delimitadas, conforme anexo 2. Porém, no grupo focal, a questão sobre a participação dos alunos nas atividades domésticas foi retomada. Quando questionados sobre quais atividades domésticas realizavam em casa, apareceram as seguintes respostas:

Escola A:

Mediadora: E, de uma forma geral, o que os adultos da família cobram de vocês? Tomas, Andréia e Caio (escola A): O estudo.

Ana (escola A): Arrumar a casa...

Mediadora: Quais as obrigações que vocês têm em casa? Paulo (escola A): Lavar banheiro, lavar roupa...

Tomas (escola A): Lavar o cachorro. Paulo (escola A): Escovar os dentes.

Caio (escola A): Eu lavo mais é a louça ... Chego em casa, tem uma pilha, tem que lavar ... Arrumo meu quarto.

Andréia (escola A): Eu, de manhã, eu lavo louça, eu varro a casa, arrumo minha cama. E, à noite, ajudo minha mãe a fazer janta.

Beatriz (escola A): Eu arrumo minha cama e algumas coisas, e olhe lá...! Porque minha mãe já deixa tudo arrumado. Eu não faço nada...

Ana (escola A): Eu faço tudo. Só não faço comida e lavar roupa, só... Escola B:

Felipe (escola B): Eu limpo a casa, limpo os móveis, lavo a louça, limpo o banheiro, cuido do cachorro, faço comida e lavo a minha roupa.

Tiago (escola B): Eu cozinho e lavo a louça... Daniela (escola B): Lavar louça...

Com base nas falas dos adolescentes, foi possível identificar que estes se dedicam a diferentes atividades domésticas como lavar louça e roupa, limpar a casa, fazer comida, entre outras. Diante dessas informações, foi questionado nos grupos focais se, além dessas obrigações com as atividades domésticas, havia também a imposição de limites sobre o comportamento dos adolescentes e quais eram esses limites. As respostas foram as seguintes: Escola A:

Paulo (escola A): Não ficar até tarde no computador... Desligar a TV.

Ana (escola A): No máximo, até às oito ficar na rua... Depois das dez eu não posso sair. Meia noite tenho que desligar o computador. Três da manhã, no máximo, eu tenho que desligar a TV, depois tenho que dormir.

Andréia (escola A): Também, quando sair ter cuidado, essas coisas. Quando eu saio, ela não gosta que chegue tarde.

Beatriz (escola A): Minha mãe pede pra desligar o computador. Caio (escola A): Quando chego tarde, ela fala um pouquinho...

Andréia (escola A): Toma cuidado com quem você tá andando, o que você tá fazendo...

Ana (escola A): É o que todo mundo fala pra você: que horas você vai voltar? Que horas você vai embora? Com quem você vai? Aonde você vai?

Tomas (escola A): É, as mesmas coisas, quase igual. Não ficar até muito tarde no computador, senão já viu, fica de castigo. Não ficar até tarde na rua... Ah, é isso aí...

Mediadora: E quanto ao comportamento de vocês, o que a família exige?

Caio (escola A): Eu sou muito nervosinho... E minha mãe fala, assim, pra eu falar direito. Porque tem vez que eu desabafo. Pra mim falar baixo, assim, pra não ficar nervoso...

Andréia (escola A): Eu...? Ah, eu só sou um pouco estressada, mas nada que ela me exija muito, assim...

Ana (escola A): Eu... Minha mãe não me conhece muito, mas ela fica falando mesmo sem me conhecer... E meu pai vem com umas coisas sobre mim, normal... Aí minha mãe fica brigando comigo, que eu fico falando mentira, que meu pai tá mexendo com ela. E é isso...

Andréia (escola A): Meu pai briga comigo às vezes porque eu sou um pouco ignorante. Aí tem isso, ele briga um pouco comigo.

Tomas (escola A): Ah, minha mãe fala porque eu sou ignorante, sou nervoso demais, mas nada demais... Porque, aí, de mim mesmo, não tem nada, assim...

Mediadora: E sobre o comportamento de vocês fora de casa? Vamos dar o exemplo da escola. Segundo eles, como vocês devem se comportar na escola?

Caio (escola A): Respeitar os mais velhos, respeitar os professores... (Paulo e Tomas concordam)

Ana (escola A): Parar de falar... Caio (escola A): É, falar pouco...

Beatriz (escola A): Minha mãe não fala nada... Porque ela já sabe como eu sou... Ah, porque eu já me comporto de um jeito normal, bem... Ela não reclama muito de mim, ela sabe como eu sou...

Andréia (escola A): A minha, ela não fala muito, eu sou tranquila...

Tomas (escola A): Ela fala pra mim respeitar o próximo, essas coisas assim... Mais nada... Escola B:

Camila escola B): Ir pra escola e fazer as coisas em casa. Flávia (escola B): Fazer comida; ir pra escola...

Pedro (escola B): Eles falam que você tem que fazer tudo da escola em primeiro lugar. Flávia (escola B): Eles falam que tem que ter educação com as outras pessoas... Camila (escola B): Ah! Fala pra ter educação e saber o que está fazendo.

Felipe (escola B): Desde a minha infância, a minha mãe fala para eu ter educação, desde os sete anos. Fala pra eu não desrespeitar os adultos, não arrumar brigas, não fazer coisas meio conflitantes.

Pedro (escola B): Eu nunca fui assim... eu nunca tive problemas nessa parte que você falou... meus pais cobravam mesmo a educação. Respeitar as pessoas é a primeira coisa que você tem que saber... ter respeito... é o mais importante.

Tiago (escola B): Eu nunca tive problema. Daniela (escola B): Ter respeito...

Felipe (escola B): É... ter educação com as pessoas. É... respeitar ao próximo como a si mesmo. Pedro (escola B): Respeitar as pessoas é a primeira coisa que você tem que saber... ter respeito... é o mais importante.

Nos grupos focais discutiu-se também a preocupação dos pais ou responsáveis com os estudos dos adolescentes. Essas questões estão presentes nos seguintes trechos:

Escola A:

Mediadora: Há preocupação, por parte das pessoas responsáveis por vocês, com relação aos estudos? Paulo (escola A): Principalmente esse ano, que a gente tá saindo da escola... Muitas provas por aí... Tomas (escola A): Tá acabando um ciclo da nossa vida, né? Muda bastante.

Beatriz (escola A): Prestar ETEC.8 Mediadora: Vocês vão prestar? Tomas (escola A): SENAI.9 Paulo (escola A): ETEC...

Caio (escola A): Estou em dúvida, mas acho que ETEC e SENAI.

Andréia (escola A): Eu também estou em dúvida, mas acho que mais a ETEC... Beatriz (escola A): ETEC... Mas ainda preciso ver o quê...

Mediadora: E a Ana?

Ana (escola A): Quem me aceitar... (ela e o grupo riem)

Mediadora: Você vai tentar algum? Ana (escola A): Vou tentar os dois... Mediadora: E o Tomas?

Tomas (escola A): Minha mãe quer que eu faça ETEC, meu pai quer que eu faça SENAI... Ana (escola A): Faz os dois...

Andréia (escola A): Mas eles (os pais) não podem escolher... Mediadora: E a escolha de vocês tem a ver com a família de vocês? Ana (escola A): Não.

(grupo concorda)

8 Escola Técnica Estadual.

Mediadora: Não houve nenhuma cobrança da família?

Andréia (escola A): Só um pouco do meu pai, ele me cobra bastante...

Paulo (escola A): Minha mãe falou: “Se você não passar, tudo bem. Você tentou...” Ana (escola A): Minha mãe não falou nada... Ela nem sabia que tinha ETEC... (...)

Mediadora: E o que os pais ou responsáveis de vocês esperam da escola? Eles dizem para vocês frequentarem a escola por quê? O que eles esperam?

Tomas (escola A): Um futuro melhor pra gente...

Ana (escola A): Eles sabem que aqui a gente aprende muita coisa boa, que é uma escola bem conceituada na região...

Caio (escola A): Mas eu acho que é verdade. (grupo concorda)

Mediadora: E o que eles esperam?

Andréia (escola A): Que a gente aproveite a escola boa, porque nem todas as escolas são assim. Caio (escola A): Porque essa é a única chance da gente estudar, porque no futuro, quando a gente estiver mais velho, a gente não vai poder estudar de novo.

Ana (escola A): Minha mãe sempre fica falando pra gente aproveitar o que tem aqui, porque na época dela não tinha isso.

(Todos concordam) Escola B:

Mediadora: Agora eu gostaria de conversar um pouquinho sobre a preocupação dos pais de vocês com a escola. Os pais de vocês, os responsáveis, a família, se preocupam com os estudos, com a educação de vocês?

(sim geral)

Flávia (escola B): Sim.

Felipe (escola B): Meu pai se preocupa muito mesmo e minha mãe também. Ela diz que eu tenho que deixar tudo em ordem e diz que eu tenho que ter educação com os meus professores e pelos outros professores.

Pedro (escola B): No caso, desde que eu tinha oito anos, eu acho, eles já estavam pensando em faculdade: “O que você quer fazer quando você crescer... é melhor você começar a pensar logo para você não ter problemas quando você estiver mais velho”. Sempre foi assim.

Tiago (escola B): É... foi assim também. Flávia (escola B): Também.

Mediadora: Como que a família cobra de vocês os estudos?

Flávia (escola B): É. Minha mãe fala mais... que eu devo estudar pra ser uma pessoa na vida e ela vem na escola.

Flávia (escola B): É. No ano passado ela vinha todo dia pra saber de mim, o que eu estava fazendo. Mediadora: E a Camila?

Camila (escola B): Também. Ela fala para eu estudar pra ter futuro. Ela olha meu caderno também. Flávia (escola B): Todo dia minha mãe olha.

Daniela (escola B): Minha mãe olha. Camila (escola B): Minha mãe olha.

Felipe (escola B): Olha bastante. E minha mãe fala pra eu olhar o caderno do meu irmão pra corrigir o caderno dele.

Daniela (escola B): Ela fala para eu me dedicar mais ao estudo, pra ter um futuro melhor do que eles

teve. (silêncio)

Mediadora: E, além de falar, eles cobram? Eles olham as notas de vocês? (sim geral)

Mediadora: E acompanha as notas? Flávia (escola B): Acompanha. Daniela (escola B): Sim.

Pedro (escola B): Toda vez que eu tiro uma nota boa ele fala assim: “Você está no caminho certo para ser alguém na vida”.

Tiago (escola B): Ela olha a minha letra para ver se está boa. Ela vê as notas, aí dá a opinião dela. Mediadora: E eles são presentes aqui na escola? Os pais de vocês participam de reunião?

Flávia (escola B): Sim. Pedro (escola B): Bastante.

Daniela (escola B): A minha, às vezes não vem não. Tiago (escola B): Nem a minha.

Daniela (escola B): Só quando é grave mesmo, aí ela vem. Felipe (escola B): Minha mãe vem bastante nas reuniões.

De acordo com os adolescentes, a rotina na família é permeada por uma série de exigências e expectativas com relação aos seus comportamentos, expressas em regras e limites. Essas regras são destinadas a regular suas condutas não apenas no âmbito familiar, mas em outros espaços, como na escola, e expressam a preocupação que as famílias apresentam com relação à segurança dos filhos, aos estudos e também com as relações que estabelecem com as demais pessoas. Além disso, para todos os participantes, as regras estipuladas pela família para regular os seus comportamentos são claras, não havendo ambiguidade.

Identificou-se também, de acordo com as manifestações dos participantes, que todas as famílias demonstram ter preocupação com os estudos dos adolescentes. Tal preocupação é expressa nas exigências das famílias no que se refere às notas, participação nas aulas, observadas por meio das atividades desenvolvidas nos cadernos, assim como na presença dos responsáveis na escola. Percebeu-se, ainda, que as expectativas dos responsáveis com relação à educação escolar dos adolescentes aparecem de forma muito genérica na fala dos participantes. Os objetivos apontados para os estudos são explicitados em frases como: “ser alguém na vida” ou “ter um futuro melhor” indicando que, possivelmente, os responsáveis não tenham muita clareza quanto ao que se esperar da educação escolar.

b) Escola

Com o objetivo de compreender as formas de exercício da autoridade no espaço escolar, colocou-se para discussão nos grupos focais quais são as cobranças feitas aos adolescentes pela escola. Nesse sentido, discutiu-se se existem ou não regras que regulam a conduta dos alunos na escola, quais são essas regras e se existe clareza quanto à definição do que é aceito ou não pela escola com relação ao comportamento dos alunos. Tais questões podem ser observadas nos seguintes excertos dos grupos focais:

Escola A:

Mediadora: O que a escola cobra de vocês?

Ana (escola A): Que a gente tem que respeitar não só os professores, mas as tias da limpeza... Eles não dizem “não faz assim”. A gente vai pra diretoria, fazem ocorrência...

Beatriz (escola A): E respeitar bem as regras... (...)

Caio (escola A): Dentro da escola todo mundo respeita, obedece as regras... Beatriz (escola A): O professor já conhece o aluno... E eles cobram bastante. (o grupo concorda).

(...)

Mediadora: Quais são as regras?

Paulo (escola A): Vir de uniforme, assim, completo. Deixa eu ver... Não usar boné. Beatriz (escola A): Nem touca, assim...

Caio (escola A): Sem celular... Nada.

Paulo (escola A): Nem de blusa com touca não pode...

Beatriz (escola A): Não. Usar blusa pode, só não pode por a touca.

Caio (escola A): Senão elas vão falar “tá com dor de ouvido? Não? Então tira”... Mediadora: Que mais? Quais outras regras?

Paulo (escola A): Não pode correr, brincadeira de mão...

Caio (escola A): Tem os cards (jogos de figurinhas) com os pequenos, aí, ficam batendo... Não pode... Mas elas pegam, ajudam... Aí eles ficam com raiva...

Tomas (escola A): Tem mais uma: mascar chiclete... Mediadora: Não mascar chiclete? O que mais?

Beatriz (escola A): Não comer na sala... Só se tiver alguma coisa, que o professor vai dar... Escola B:

Mediadora: A escola tem regras?

Daniela (escola B): Tem, se você não faz toma convocação.

Felipe (escola B): Sim, têm algumas que funcionam e as outras não porque os alunos e os professores não obedecem.

Flávia (escola B): É mesmo.

Pedro (escola B): A regra do celular...

Felipe (escola B): O próprio professor fica usando, fica entrando no facebook...

Camila (escola B): O professor tem celular e fica com o celular lá na frente, na sala, no face(book)... Pedro (escola B): (a regra do celular) que não pode ter celular aqui... os professores falam que você pode mexer no celular na sala desde que ninguém da... inspetor ou direção descubra que você está usando, aí você pode usar livremente lá. Desde que você esteja com fone de ouvido escutando música sem barulho você pode usar.

(Todos concordam gesticulando positivamente a cabeça) Flávia (escola B): É mesmo.

Pedro (escola B): Vários professores falam isso.

Camila (escola B): Ele vai lá... passa a lição e fica mexendo no face(book).

Felipe (escola B): Você pode usar o celular escondido... escondido embaixo da blusa... Mediadora: Então tem a regra, mas vocês não precisam cumprir. É isso?

(todos, exceto a Flávia, gesticulam positivamente a cabeça) Felipe (escola B): É como se fosse um código de trapaça...

Daniela (escola B): Mas só eles podem usar e nós não pode? Eles são melhores?

Camila (escola B): Tem um professor que substitui... ele entra na sala e mexe bastante no facebook... e nem passa lição.

Mediadora: E vocês usam... mexem no celular? Felipe (escola B): Eu só uso o celular em casa. Daniela (escola B): Eu uso na cara da diretora.

Pedro (escola B): A minha professora de História, ela fala... quando o pessoal está mexendo no celular, ela fala... “guarda esse celular; se eu ver você mexendo de novo eu vou pegar esse celular e vou levar para a direção”. Ela é a única que tem um comportamento...

Felipe (escola B): (comportamento) Certo.

Pedro (escola B): ...que respeita essa regra do celular.

Mediadora: Vocês estão falando da regra do celular, mas quais outras regras existem aqui na escola? Flávia (escola B): Muitas.

Daniela (escola B): Uniforme.

Mediadora: Quais? Vão me falando... Tem regra para o uso do uniforme? (todos gesticulam positivamente com a cabeça)

Daniela (escola B): Essa é a mais foda.

Felipe (escola B): Tem. Você tem que usar pelo menos a camiseta branca, se você não tiver você não entra na escola.

Tiago (escola B): Aí só vai entrar se estiver com todo o uniforme. Pedro (escola B): Isso mesmo.

Daniela (escola B): Tem que usar a camiseta da escola.

Mediadora: Certo. Então basta a camiseta da escola. Eu estou vendo que nem todos vocês estão com o uniforme...

(Daniela, Felipe, Pedro e Tiago mostraram um pedaço da camiseta debaixo da blusa para confirmar que estavam uniformizados)

Camila (escola B): Eu tenho... só que está na bolsa.

Flávia (escola B): Eu tenho, todo dia eu estou com o uniforme, né gente? (os alunos gesticulam com a cabeça que não)

Flávia (escola B): É porque hoje eu sabia que não iria ter aula. Eu estava vindo com ela só que eu fiquei sabendo que não ia ter aula, então eu fui em casa vesti essa roupa e vim.

Felipe (escola B): E tem uma regra aqui também que é a do próprio aluno ficar na sua sala e tem aluno que fica entrando na sala do outro e fica na sala que não é sua e fica a aula inteira e não volta para a sala dele.

(...)

Mediadora: Então, vocês têm a regra do uniforme, a regra de permanecer na sala de aula, a regra de não usar o celular. E quais as outras regras?

Tiago (escola B): Não jogar comida no chão. Mediadora: Não jogar comida no chão?

Pedro (escola B): E levar o prato para onde eles ficam. Tem gente que come e deixa o prato em cima da mesa.

Tiago (escola B): No ano passado teve guerra de mexerica. Mediadora: O quê? Guerra de mexerica?

Tiago (escola B): É.

Flávia (escola B): E de goiaba.

Mediadora: Certo. E o que mais que tem de regras? Daniela (escola B): Só isso.

Durante os grupos focais questionou-se ainda junto aos alunos adolescentes se as regras cobradas pelas escolas eram claras e se eles tinham conhecimento prévio sobre a existência delas. Sobre essa questão, apareceram expressões como:

Escola A:

Mediadora: Há clareza quanto às regras da escola? Vocês sabem o que pode ser feito e o que não pode ser feito dentro da escola?

(todos afirmam que sim)

Ana (escola A): Quando diz que não sabia, todo mundo sabe que é mentira. Porque todo mundo sabe o que pode e o que não pode aqui, o que deve e o que não deve.

Mediadora: E como vocês ficam sabendo das regras?

Ana (escola A): Eles avisam. E não é regra nova, é tudo regra antiga... Caio (escola A): Quando você entra, não sabe, ela alerta você, te avisa... Mediadora: Ela quem?

Caio (escola A): A Dona Rosa (assistente de direção). Porque nos intervalos, na entrada da escola ela fica observando os alunos muitas vezes...