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CAPÍTULO II A AUTORIDADE SEGUNDO OS ADOLESCENTES

2.2 MÉTODO

2.2.2 Caracterização das escolas

A fim de compreender a relação que os adolescentes do 9º ano do Ensino Fundamental desenvolvem com a autoridade exercida sobre eles na escola e na família e qual a compreensão que expressam sobre autoridade, optou-se pela seleção de duas escolas de Ensino Fundamental da rede municipal de ensino de São Paulo, sendo uma considerada com índice alto e outra considerada com índice baixo no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), ambas situadas em localidade com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e pertencentes à mesma Diretoria de Ensino.

Os critérios estabelecidos para a escolha das escolas, colocação no IDEB e no IDH, estão relacionados ao interesse desta pesquisa de selecionar alunos adolescentes pertencentes a contextos sociais com características semelhantes, porém, em escolas com características distintas. Considerou-se que na medida em que ambas as escolas estão inseridas em condições

objetivas de vida muito próximas, os resultados obtidos no IDEB podem ser um indicador de que as escolas possuem diferenças significativas no atendimento aos alunos. É necessário destacar, no entanto, que esta pesquisa não teve como objetivo realizar um estudo comparativo entre as escolas selecionadas, tampouco confrontar o desempenho escolar com a relação que os alunos estabelecem com a autoridade, mas apenas observar se em diferentes realidades escolares os alunos apresentam diferentes posturas perante a autoridade. Vale ressaltar ainda que os critérios IDEB e IDH foram selecionados pelo seu caráter de dado oficial, isto é, indicadores adotados pelo poder público na formulação de ações e políticas. No entanto, é importante salientar que se reconhece as limitações de ambos os índices.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) apresenta limitações ao pautar-se apenas nas variáveis renda, educação e longevidade, desconsiderando todos os outros fatores que poderiam incidir sobre o desenvolvimento humano. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), por sua vez, configura-se como um indicador de qualidade da educação brasileira, que relaciona dados da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) – exames padronizados – realizados por alunos do último ano dos Ciclos I e II do Ensino Fundamental e do último ano do Ensino Médio, e dados do Censo Escolar sobre a taxa de aprovação e retenção de alunos. O IDEB, no entanto, é alvo de inúmeras críticas de pesquisadores que discutem a avaliação educacional. De acordo com Biancardi:

[...] o IDEB avalia somente o fluxo e proficiência em Língua Portuguesa e Matemática. Não existe por parte dessa avaliação, que atribui uma nota e estabelece uma média para ser alcançada, a preocupação em avaliar a realidade local, os problemas específicos e únicos de uma unidade escolar ou de um município. É como se toda a população, todos os municípios, todas as unidades escolares e todos os atores envolvidos nesse processo (inclusive o aluno) fossem iguais e sofressem uma mesma interferência no processo de ensino e aprendizagem (BIANCARDI, 2010, p. 59).

A primeira escola, que será denominada como Escola A, foi selecionada por estar entre as 21 escolas municipais com melhor colocação no IDEB de 2011, com a pontuação de 5,3 referente ao Ensino Fundamental (ciclo II). A segunda escola, denominada Escola B, por sua vez, foi selecionada por estar entre as 56 escolas municipais com pior colocação no IDEB de 2011, pontuação de 3,7 referente ao Ensino Fundamental (ciclo II).

A rede municipal de São Paulo é composta por 532 escolas de Ensino Fundamental (ciclo II), considerado o segmento mais crítico da educação no que se refere ao desempenho escolar, conforme apontam as avaliações externas. As diferenças entre as escolas A e B, no que se refere às notas do IDEB, podem ser observadas nas Tabelas 1 e 2, abaixo:

Tabela 1. Pontuação média alcançada no IDEB referente ao Ensino Fundamental (ciclo I) Unidades de análise 2005 2007 2009 2011

Escola A 4.0 4.4 5.6 5.3

Escola B 3.2 3.9 4.1 3.9

Escolas da rede municipal de São Paulo 4.1 4.3 4.7 4.8

Escolas públicas do Brasil 3.6 4.0 4.4 4.7

Fonte: Portal IDEB, 2013

Tabela 2. Pontuação média alcançada no IDEB referente ao Ensino Fundamental (ciclo II) Unidades de análise 2005 2007 2009 2011

Escola A 3.9 4.4 5.2 5.3

Escola B 3.5 3.3 3.3 3.7

Escolas da rede municipal de São Paulo 4.1 3.9 4.2 4.3

Escolas públicas do Brasil 3.2 3.5 3.7 3.9

Fonte: Portal IDEB, 2013

Ambas as escolas encontram-se situadas na Zona Leste da cidade de São Paulo e localizam-se em regiões com baixo IDH. O Índice de Desenvolvimento Humano é utilizado para aferir o desenvolvimento socioeconômico e social, a partir de três componentes básicos: renda, educação e longevidade. Esse indicador foi adotado, desde 1990, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano, como medida padrão para comparar o desenvolvimento dos países, e foi utilizado para aferição do nível de desenvolvimento dos 96 distritos da cidade de São Paulo. De acordo com o Atlas do Trabalho e Desenvolvimento da Cidade de São Paulo (2007), o IDH dos 96 distritos varia entre 0,961 e 0,701. A Escola A está localizada no distrito de Iguatemi, com IDH 0,751, e a Escola B no distrito de São Rafael, com IDH 0,767. No primeiro, o percentual de crianças em domicílios com renda per capita menor que R$ 75,50 é de 30,15% e, no segundo, é de 27,99%. Portanto, estão entre os piores IDH da cidade.

Segue, Tabela 3 com as variáveis que compõem o IDH – baseadas no Censo Demográfico de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – dos distritos onde estão localizadas as escolas estudadas, além de informações sobre os distritos com melhor e pior IDH como referência.

Tabela 3. Composição do IDH nos distritos da cidade de São Paulo onde se localizam as

escolas pesquisadas, com maior e com menor valor

Distritos IDH Posição Renda per Capita

(em R$) Longevidade (em anos) (% alfabetizados) Educação

Moema 0,961 1º 2.826,15 78,17 99,44

Marsilac 0,701 96º 146,46 65,29 88,03

Iguatemi 0,751 92º 211,70 66,81 92,04

São Rafael 0,767 86º 243,89 68,43 93,12

Fonte: Atlas do Trabalho e Desenvolvimento da Cidade de São Paulo, 2007

Além de contextualizar as localidades onde as escolas A e B estão inseridas, assim como a posição que ocupam no IDEB, considera-se necessário também apresentar algumas características das instituições, no que se refere a estrutura física, ao número de docentes e discentes e as concepções educacionais e pedagógicas que orientam as práticas dos profissionais. Tais dados são importantes para a pesquisa na medida em que são elementos que interferem diretamente nas formas de organização do ambiente escolar e, consequentemente, na maneira como se desenvolvem as relações entre os sujeitos. Portanto, essas particularidades que caracterizam as escolas devem ser consideradas no processo de análise dos dados coletados. Contudo, é importante destacar que as informações apresentadas abaixo foram disponibilizadas pelas instituições ou retiradas dos Projetos Pedagógicos das escolas, documento contendo os princípios educacionais que orientam as ações das instituições, e, portanto, se constituem como dados oficiais. Outras características das escolas A e B poderão ser identificadas na descrição do processo de coleta de dados, assim como na análise do seu conteúdo, conforme será apresentado adiante.

Escola A

A Escola A foi inaugurada em 1989 e sua construção foi resultado de várias reivindicações da comunidade local que não contava com nenhuma escola no Jardim Marilu. Seu funcionamento está organizado em dois turnos, sendo o primeiro das 7h às 12h e o segundo das 13h30 às 18h30. Possui apenas oito salas e atende 542 alunos do Ensino Fundamental, distribuídos em oito turmas do ciclo I, no período da manhã, e oito turmas do ciclo II, no período da tarde. A unidade possui 36 docentes, 13 pertencentes ao ciclo I e 23 ao ciclo II. A equipe gestora é composta por diretora, assistente de direção e duas coordenadoras. Quanto à estrutura física, a escola dispõe de recursos como sala de leitura, sala de recuperação

paralela, laboratório de informática, pátio interno, com refeitório e espaço para o Projeto Xadrez, pátio externo, quadra poliesportiva coberta, além de um palco interno com camarim.

No que tange a proposta pedagógica da Escola A, de acordo com o Projeto Pedagógico (PP), a instituição apresenta como objetivos educacionais: “formar o aluno cidadão, crítico, solidário, participativo, educado, criativo, consciente, letrado, conhecedor de seus direitos e deveres, participante da sua realidade local e global, a fim de interagir e transformar o meio”. A concepção de educação apresentada no Projeto Pedagógico faz referência direta às ideias de Paulo Freire, para quem o educador não é apenas aquele que educa, mas também é educado no diálogo com o educando. Nesse sentido, a escola compreende o processo educacional como a possibilidade do desenvolvimento de um conhecimento crítico, reflexivo, capaz de transformar o mundo. Quanto às práticas pedagógicas, a escola destaca a importância de uma organização curricular que atenda os objetivos educacionais, defende a construção de uma aprendizagem significativa que permita aos alunos aprenderem por múltiplos caminhos e modos de expressão e considera a avaliação contínua do aluno como um instrumento que possibilita ao docente tomar decisões e rever as suas práticas, assim como permite ao aluno tomar consciência dos seus avanços e necessidades.

Escola B

A Escola B possui 18 salas, atende 1.271 alunos, distribuídos entre o ciclo I e o ciclo II do Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos, e está organizada em três períodos: manhã, tarde e noite. Os alunos de ambas as escolas, na sua grande maioria, pertencem ao bairro onde elas estão localizadas e, portanto, são oriundos das chamadas classes populares. A Escola B possui 64 professores, 28 pertencentes ao ciclo I e 36 ao ciclo II. No que se refere à estrutura física, a instituição dispõe de recursos semelhantes aos da escola A, como sala de leitura, laboratório de informática e outros, mas se diferencia pelo tamanho, sendo muito maior que a primeira, pelo número de salas, pela ausência de um palco e por possuir um espaço destinado para ser o laboratório de ciências, embora estivesse sendo utilizado para outra finalidade no momento da coleta de informações.

Quanto aos objetivos educacionais, o Projeto Pedagógico da escola apresenta como proposição: “formar os educandos para o pleno exercício da cidadania, respeitando seus valores, formas de pensar e agir, conhecimentos, os diferentes tempos e modos de aprender dos alunos, em todas as modalidades de ensino; bem como sua contextualização cultural e social”. Nesse sentido, o Projeto Pedagógico defende ainda que as ações pedagógicas devem pautar-se nos princípios de respeito às diferenças e diversidades, na promoção da integração

dos alunos, na construção de um currículo que possibilite o conhecimento significativo e concebem a avaliação, realizada de forma continua e cumulativa, como um instrumento a serviço da aprendizagem do aluno.