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CAPÍTULO II A AUTORIDADE SEGUNDO OS ADOLESCENTES

2.2 MÉTODO

2.2.1 Instrumentos de pesquisa

Para coleta de dados utilizou-se dois instrumentos de pesquisa: o grupo focal e a aplicação de questionário.

Grupo focal

Foram realizados dois grupos focais com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, em

duas escolas da rede municipal de ensino da cidade de São Paulo, selecionadas com base nos critérios de colocação no IDH e pontuação no IDEB, conforme será detalhado na caracterização das escolas. Cada grupo foi composto por seis alunos (três meninas e três meninos), de diferentes turmas do 9º ano do Ensino Fundamental II de cada escola, totalizando uma amostra de 12 alunos. Foram realizadas duas sessões, uma em cada escola, com duração de aproximadamente duas horas cada uma.

A técnica de grupo focal consiste em reunir um grupo de pessoas, selecionadas pelo pesquisador, para discutir determinado tema a partir da experiência pessoal dos participantes. Durante a realização do grupo focal são abordadas questões que estão relacionadas ao objeto de pesquisa. Segundo Morgan e Krueger (1993 apud GATTI, 2005, p. 9):

A pesquisa com grupos focais tem por objetivo captar, a partir das trocas realizadas no grupo, conceitos, sentimentos, atitudes, crenças, experiências e reações, de um modo que não seria possível com outros métodos, como, por exemplo, a observação, a entrevista ou questionários.

A opção por coletar dados a partir do grupo focal é resultante do próprio problema de pesquisa, pois se considerou que a dinâmica interacional do grupo poderia incentivar a participação dos membros, fazendo emergir informações, opiniões e impressões sobre a relação que os alunos adolescentes estabelecem com a autoridade na escola e na família com certo detalhamento e profundidade. Segundo Gatti (2005), a maior justificativa para a utilização do grupo focal deve-se a preocupação dos pesquisadores em observar as interações em grupo uma vez que a sequência de relatos possibilita compreender o impacto das vivências do grupo sobre as trocas dos participantes. Vale destacar, no entanto, que esta preocupação não esteve presente nesta pesquisa à medida que a escolha do método teve a intenção apenas de incentivar a participação coletiva e não de observar as interações dos membros do grupo.

Nesse sentido, pode-se afirmar que o tipo de instrumento utilizado aproximou-se mais da chamada dinâmica de grupo, técnica proposta no trabalho de Giovinazzo Jr. (2003), do que do grupo focal tal como caracterizado por Gatti (2005). A técnica de dinâmica de grupo utilizada como método de pesquisa pelo autor distingue-se do grupo focal “por não ter como referência o grupo em si, mas os indivíduos” (GIOVINAZZO JR., 2003, p. 7). Contudo, salientamos ainda, que embora se identifique divergência entre o método utilizado nesta pesquisa em relação à definição das especificidades que caracterizam um grupo focal para Gatti (2005), optou-se por adotar formalmente o nome grupo focal para o instrumento utilizado.

As discussões entre os membros do grupo foram estimuladas a partir da apresentação de uma série de questões, desenvolvidas com base em roteiro apresentado no Anexo A. A princípio seriam apresentados para a discussão em grupo apenas alguns temas ou ideias mais amplas, por meio de questões como, por exemplo, “fale sobre a sua relação com os adultos da sua família”. No entanto, após o primeiro contato com os alunos, optou-se por detalhar os temas em questões mais direcionadas, conforme apresentadas no anexo 3, a fim de garantir a coleta de informações necessárias à pesquisa de forma mais precisa. É importante destacar que embora todas as questões baseadas no roteiro tenham sido apresentadas aos participantes em ambos os grupos focais, a própria dinâmica das discussões contribui para que outras surgissem ao longo da atividade, isso explica algumas diferenças presentes nas discussões desenvolvidas em cada grupo. As questões apresentadas no grupo focal tinham como objetivo coletar, a partir das falas dos alunos adolescentes, as seguintes informações:

Expressões de autoridade no espaço escolar:

 A rotina diária dos adolescentes na escola;

 A relação que os adolescentes desenvolvem com os adultos na escola;

 As cobranças e limites impostos pela escola sobre o comportamento dos adolescentes, assim como as sanções aplicadas em caso de descumprimento das regras estabelecidas;

 A compreensão dos adolescentes sobre quais seriam os aspectos positivos e negativos da escola;

 As características que os adolescentes consideram necessárias para ser um “bom” professor, como o domínio do conteúdo, a competência didática,

afetividade/proximidade com os alunos, a capacidade de impor autoridade, entre outras;

 As características do clima da escola;  A relação dos adolescentes com seus pares;

 As expectativas dos adolescentes com relação à escola.

Expressões de autoridade no âmbito familiar:

 A rotina diária dos adolescentes em casa;

 Os adultos que compõem a rede de relações dos adolescentes no âmbito familiar;  A relação que os adolescentes desenvolvem com os adultos no âmbito familiar;

 As cobranças e limites impostos pela família sobre o comportamento dos adolescentes, assim como as punições aplicadas em caso de descumprimento das regras estabelecidas;

 As expectativas das famílias dos adolescentes em relação à escola, aos estudos e à educação de seus filhos.

As discussões em grupo foram gravadas em áudio e vídeo e, posteriormente, transcritas. A opção por filmar os participantes deveu-se à necessidade de captar, além da fala, gestos e olhares como uma importante fonte de expressão que pode contribuir para uma maior compreensão sobre a relação que estes estabelecem com a autoridade.

É necessário salientar que na construção do roteiro que orientou a coleta de dados houve a preocupação em contemplar todas as informações necessárias para responder o problema de pesquisa. No entanto, admite-se que o instrumento apresenta algumas limitações devido as dificuldades de apreensão de dados e da análise do próprio objeto autoridade na realidade objetiva. Assim, considerando que a autoridade não se restringe a um elemento externo ao indivíduo, mas é internalizada por ele no processo de formação, conforme aponta Freud (2007), é importante esclarecer que existem limitações no seu estudo. Essas dificuldades tornam-se ainda mais complexas numa sociedade em que as expressões de autoridade estão reduzidas muitas vezes ao autoritarismo.

Portanto, embora a opção tenha sido de coletar informações sobre a presença de regras, limites e punições existentes na escola e na família, como formas de manifestações da autoridade contidas nas relações entre os adolescentes e os adultos, não se pretende afirmar

que esses recursos de controle e cerceamento sobre o comportamento dos indivíduos expressem a autoridade, mas que é apenas a forma possível de expressão da autoridade na sociedade administrada. Conforme apresentado no Capítulo I, a autoridade é dialética e, portanto, contém em si elementos contraditórios, pois ao mesmo tempo em que é necessária para a formação e é condição para a autonomia, também é um meio para o controle, alienação e adaptação do indivíduo à sociedade, embora essa adaptação contrarie os seus interesses e necessidades.

Questionário

Além do grupo focal, também foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário contendo 10 questões (nove fechadas e uma aberta), apresentadas no Anexo B, sobre a composição familiar dos adolescentes, as situações de moradia, as atividades que estes desenvolvem fora da escola, o envolvimento destes com as atividades domésticas e a relação que estabelecem com os adultos da família. O instrumento foi aplicado alguns minutos antes da realização do grupo focal em cada escola.

O questionário desempenhou a função complementar a do grupo focal, contendo, inclusive, questões que foram abordadas nos grupos, pois temia-se que, devido à quantidade de participantes e a limitação do tempo, não fosse possível coletar informações mais detalhadas sobre os sujeitos da pesquisa.