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4 ESCOLINHA DE ARTE E SOCIEDADE: IMAGENS, ENUNCIADOS E OS

4.4 AUTORIDADES NA EXPOSIÇÃO

Conforme o CEP, administrado pelo governo, tem suas atividades divulgadas pelos periódicos da época, verifica-se a teia social que perpassava tanto a instituição como a própria Escolinha, envolvendo educadores, políticos e membros Igreja Católica. O jornal, funcionando como porta voz do estado, autorizando ou desautorizando aquilo que o público deveria pensar sobre a instituição (VIEIRA, 2007), também atribuía visibilidade a esses mesmos personagens e suas funções. 76

No jornal Gazeta do Povo, de 21 de novembro de 1958,77 (FIGURA 34), há

uma fotografia que ilustra o principal momento da inauguração da exposição, representado pelo desatar da fita simbólica por relevantes figuras públicas da cidade.

Relacionando-a com o álbum da Escolinha, a imagem pode ser encontrada sob o número 40 (FIGURA 35). A boa qualidade da fotografia encontrada no dossiê

76 O “uso” das exposições pelo governo também pode ser compreendido como uma forma de dar relevo à instrução pública (OSINSKI; SIMÃO, 2014).

77 EXPOSIÇÃO da “Escolinha de Arte”. Gazeta do Povo, Curitiba, 21 nov. 1958. Exposição da Escolinha de Arte. Inaugurada a montra no pavimento térreo do Edifício do IPASE: Foi solenemente inaugurada ontem, a exposição da “Escolinha de Arte”, do Colégio Estadual do Paraná, no pavimento térreo do Edifício “Souza Naves”. A importante montra, onde estão expostos trabalhos realizados por alunos daquele tradicional educandário paranaense, ficando aberta, diariamente, até o dia 30 do corrente mês, das 15 às 21 horas. O ato: Ao ato inaugural da “Escolinha de Arte” compareceram o sr. Nivon Weigert, Secretário de Educação e Cultura, Dom Manuel da Silveira D’Elboux, Prof. Ulisses de Melo e Silva, Diretor do Colégio Estadual do Paraná, sr. Van den Berg, Consul da Holanda, Ver. Sebastião Darcanchy, Profa. Lenir Mehl, Diretora e organizadora da Escolinha de Arte e outras autoridades. A fita simbólica foi cortada, pelo Secretário de Educação e Cultura, sr. Nivon Weigert que, na oportunidade, proferiu, de improviso, significativa oração, salientando, especialmente o trabalho realizado pelos alunos do Colégio Estadual, dentro da “Escolinha de Arte” sob a acertada orientação da Profa. Lenir Mehl que tem sido incansável nesse seu meritório empreendimento. Disse também que os esforços dispensados estavam, agora, plenamente compensados. Promoção da Secretaria de Educação: E exposição que ontem foi inaugurada é uma promoção da Secretaria de Educação e Cultura de nosso Estado, juntamente com o Colégio Estadual e com a valiosa cooperação do Departamento de Turismo e Divulgação. Na ocasião de sua inauguração, falou, também, o senhor Aluizio Finzetto em nome do Colégio Estadual do Paraná. Transcrevemos um trecho de seu discurso: “Se os homens, aqui são grotêscos e disformes, si ali as casas se inclinam, perigosamente, em várias direções, si lá adiante há um palácio viajando pelos céus ou ainda um automóvel deslizando sôbre o lago é tudo, o fruto magnifico e ainda verde da mais humana característica – a imaginação – que jamais poderemos dissociar do homem, pois, criando visões e ansiando impossíveis o tem inspirado na criação exaltada de todas as suas conquistas”. Encerrando suas palavras, agradeceu, ao Govêrno do Estado que através da Secretaria de Educação e Cultura, na pessoa do sr. Nivon Weigert, proporcionou os meios para que aquela exposição fosse realizada.

contribui para perceber detalhes que contrastam com a imagem publicada no periódico.

FIGURA 34 - EXPOSIÇÃO DA “ESCOLINHA DE ARTE”

FONTE: Jornal Gazeta do Povo, Curitiba, 21 nov. 1958.

O evento patrocinado pela SEC, apoiado pelo Departamento de Turismo e Divulgação, contou em seu ato inaugural com a presença do Secretário de Educação e cultura, Nivon Weigert. Sua figura expressa o papel político prestado ao evento pelo governo. A exposição, e por consequência o trabalho da EACEP, adquiriu reconhecimento por meio de um representante direto da administração pública. Por outro lado, a proposta da EACEP surge como resultado de uma política de incentivo à educação, o que implicaria no favorecimento da imagem do estado como estimulador da educação.

A representação do Secretário surge em outro momento do álbum, com a aula inaugural do I Curso Intensivo de Desenho e Artes Aplicadas, realizado em 1959, nas dependências CEP (figuras 49 e 50 do ANEXO 5).

A proximidade do Secretário com o CEP expressa, novamente, a importância estratégica que a instituição possuía para o governo. A visibilidade que o maior colégio público do Paraná desfrutava serviria de propaganda para as ações governamentais. Nesse sentido, a exposição se configura como um panfleto da administração pública.

FIGURA 35 - [40] INAUGURAÇÃO DA IIª EXPOSIÇÃO DE ARTES DA EACEP

FONTE: Dossiê Escolinha de Arte do Colégio Estadual do Paraná (s.d.).

Junto a eles, estava outra importante figura ligada à educação, o arcebispo da cidade, Dom Manuel da Silveira D’Elboux.78 O religioso foi responsável por uma

série de atos que resultaram na criação da Universidade Católica do Paraná, em 1959.79 O crédito de sua presença, além de indicar as relações próximas entre Igreja

78 Enquanto alguns educadores do período defendiam a escola laica, afastada dos domínios religiosos, a professora Almeida recorreu a uma espécie de alinhamento com a Igreja, situação verificada pela valorização da presença religiosa em seus eventos.

79 Segundo o site da instituição “o Arcebispo Metropolitano D. Manuel da Silveira D´Elboux, desde a sua chegada em Curitiba, em 1950, se empenhou na criação de uma Universidade Católica. Nesta perspectiva, no dia 31 de dezembro de 1950, fundou a Sociedade Paranaense de Cultura cuja finalidade era a de manter a futura universidade e de congregar, criar e manter instituições de ensino superior que, ao seu tempo, haveriam de integrar a Universidade Católica. Nessa época já funcionavam a Escola de Serviço Social (1944) e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Curitiba (1950). Dom Manuel estimulou a fundação da Escola de Enfermagem Madre Léoni, em 1953, a Faculdade Católica de Direito e a Faculdade de Ciências Médicas, em 1956, e a Faculdade de Ciências Econômicas, em 1959, respeitando os dispositivos que permitiam a existência de uma

e Estado, conferia à exposição outro atestado de importância como resultado de um modelo educacional.

Esta não foi a única vez em que o Secretário e o religioso realizaram conjuntamente um ato público. No jornal Correio do Paraná, de 18 de outubro de 1959, ambos aparecem prestigiando a Semana da Asa, com “extenso programa, oferecendo ao público o verdadeiro sentido da aeronáutica e a sua história em nosso país.”80 O prestígio de Weigert e sua relação com o arcebispo também foram

caracterizados pela presença do Secretário em uma solenidade na catedral,81 além

da cessão de escolas públicas por parte do governo para acomodar os participantes de um evento eclesiástico ocorrido na cidade.82

A proximidade do estado com a Igreja se configura como cordialidades estratégicas, reafirmando a autoridade sobre questões educacionais tanto de um como de outro frente à sociedade. Nesse caso, a fotografia da exposição precisa ser tratada como uma forma de representação social, “o que quer dizer, em última instância, como produto material (visual) e vetor material (visual) de relações sociais.” (ULPIANO in LIMA; CARVALHO, 1997, p. 9).

Também estiveram presentes na inauguração, o professor Ulisses de Melo e Silva, diretor do CEP, o cônsul da Holanda Van den Berg, e a professora Lenir Mehl de Almeida, coordenadora da EACEP e organizadora da exposição. Possivelmente, buscando dividendos políticos, também se encontrava um vereador da cidade de Curitiba, Sebastião Darcanchy.

Na imagem existente no álbum, o fotógrafo captou o Secretário de Educação no centro da composição, destacando sua figura. Já na reportagem, houve uma adaptação, na qual a parede do lado direito foi cortada, resultando no equilíbrio entre a imagem do arcebispo e do político. Além deles, identifica-se o diretor do CEP, junto ao Secretário, e a professora Almeida, ao fundo, no canto esquerdo, logo atrás do religioso.

Mesmo sendo observável apenas um detalhe de seu rosto, sua figura se destaca por não compor o enfoque da ação, mas por responder pelo

Universidade pelo agrupamento de faculdades. Na sua origem, a Universidade Católica integrou

essas instituições, além do Círculo de Estudos Bandeirantes, fundado em 1929.”

Disponível em < https://www.pucpr.br/a-universidade/sobre-a-pucpr/centro-de-memoria/ >. Acesso em 13/10/2018.

80 SEMANA da asa: autoridades, exército e estudantes abriram as solenidades: (ontem) em praça pública. CORREIO DO PARANÁ, Curitiba, 18 out. 1959.

81 DIA universal de Ação de graças. O DIA, Curitiba, 27 nov. 1959.

desenvolvimento dos trabalhos da EACEP que possibilitaram a realização do momento. O simbolismo de seu protagonismo sendo oferecido às autoridades, configura formas de relação social, no qual a professora, mesmo sendo a responsável pelo evento, acaba representada em segundo plano.

As imagens da professora junto a autoridades, possibilitam compreender uma visualidade que vai além da proximidade física, mas que também se caracteriza pelos modos de relacionamento com as ideias e perspectivas das personalidades ali representadas. Fazer-se aparecer ao lado de administradores educacionais, contribuiu para ampliar uma imagem de bom trânsito que a professora tinha entre eles.83

Por meio de notícias e documentos, constatou-se que o período de 9 anos entre a inserção da professora no Colégio Estadual em 1955, e sua saída em 1964, foi de intensa movimentação. Sua presença constante nas imagens do álbum, fornece pistas a respeito das relações que foram elaboradas pela docente nessa época. O discurso defendido reiteradamente, tornou-se outro aspecto de sua forma de trabalho, podendo ser detectado vários anos após sua saída.

A pertinência e os resultados de suas ações, seu desejo de comunicação e o trânsito entre figuras proeminentes da educação e da sociedade, a coloca como personagem relevante do ensino de arte no estado naquele momento. Junto a isso, exercendo sua docência em uma instituição expressiva como o CEP, suas ações se tornaram representações que identificaram um modelo de educação bem-sucedido, expresso nas obras que fizeram parte da exposição.

Ao longo das 114 fotografias do álbum da Escolinha, foram captadas diferentes imagens com outros ângulos sobre os mesmos eventos. A I Exposição da Escolinha, por exemplo, realizada no interior do CEP, em novembro de 1957, foi registrada em duas fotografias. Contudo, poucas informações haviam sido divulgadas sobre o espaço, não obtendo a mesma repercussão social, enquanto outras fotografias da II exposição no edifício do IPASE, que mostra a interação entre os personagens e as obras, tampouco tiveram circulação.

Este tópico teve como finalidade revelar uma amostragem das fotografias sobre a Escolinha que circularam na sociedade curitibana do período, relacionando-as com

83 No depoimento concedido a Daniela Pedroso, a professora Almeida comenta um encontro casual com o ex-governador Ney Braga, que teria demonstrado gratidão pelo desenvolvimento do trabalho na EACEP (ALMEIDA, 06 jun. 1989).

outras imagens e comentários que pudessem contextualizá-las. Destaca-se aqui que a análise investigou as construções e mensagens com que se buscou definir e divulgar a imagem da EACEP, entretanto a professora Almeida escreveu em seu relatório que outros modelos de exposições, bem como o cinema e visitas guiadas também eram formas de comunicação das atividades do espaço.

Diversas imagens do álbum representando aspectos relevantes para compreensão do início da EACEP não circularam. Mesmo assim, elas possuem igual importância histórica para o entendimento da educação pela arte nos anos 1950 e 1960. Restritas às páginas do arquivo, torna-se necessário hoje, divulgá-las novamente, para que a história da educação pela arte no Paraná possa ganhar novos capítulos.