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EDUCAÇÃO PELA ARTE NO BRASIL: REFERÊNCIAS ESTRANGEIRAS E

1 ARTE E EDUCAÇÃO NO SÉCULO XX: EUROPA, ESTADOS UNIDOS E

1.4 EDUCAÇÃO PELA ARTE NO BRASIL: REFERÊNCIAS ESTRANGEIRAS E

Em novembro de 1894, fundou-se em Nova Iorque o Teachers College. Criado por Grace Hoadley, Nicholas Murray Butler e James E. Russel no bojo do feminismo

15 Segundo o autor: “aquilo que a arte dos cegos me ensinou está parcialmente refletido em quase tudo que eu fiz depois, não simplesmente considerar a aparência do produto final, mas ver objetivamente o que está escondido atrás dele para chegar ao seu entendimento.” (LOWENFELD apud BARBOSA, 2015, p. 445).

estadunidense. A instituição foi patrocinada por figuras da alta classe da época, cujos métodos buscavam aliar assistência social ao desenvolvimento. Entre os professores, Barbosa (2015) destaca Paul Monroe (1869-1947), autor de um dos manuais de História da Educação mais difundidos no Brasil,16 Edward Lee

Thorndike, John Dewey e Arthur Dow, este último considerado “estrela” do Teachers

College no ensino de arte.

A prática de Dow com crianças era pautada pelo reconhecimento da livre expressão, mas ao mesmo tempo, proposições com linhas, notan (trabalho envolvendo o dégradé das cores) e cor. Do mesmo modo, a professora Belle Boas teria se notabilizado por ter trabalhado além de obras de arte, a análise e a produção de pôsteres comerciais. Outra característica educacional relevante, efetivada pelos professores do Teachers College, teria sido a preocupação em fazer e apreciar arte, revelada pela organização de atividades extracurriculares em museus (BARBOSA, 2015).

As referências exportadas pela instituição se popularizaram em intercâmbios realizados por professores, que chegaram ao Brasil em meados da década de 1920. O jornal Diário de Notícias, de 10 de julho de 1930, comunicou a vinda ao Rio de Janeiro, de uma delegação de professores do Institute of International Education, de Nova Iorque, para um extenso programa de cursos e estudos da situação educacional no país. O informe também lembra que, da capital, partiu em novembro de 1929, um grupo de educadores brasileiros em direção aos Estados Unidos, com os mesmos objetivos (BARBOSA, 2015).

Barbosa (2015), traz uma lista de alguns brasileiros formados no Teachers

College entre 1916 e 1956, que posteriormente tiveram relevante atuação nacional.

Entre eles, destacam-se as mineiras Celina Viegas e Ignacia Ferreira Guimarães, alcançando prestigio em seu estado, além de Anísio Teixeira (1900-1971)17 e Isaias

Alves de Almeida (1898-1968), importantes educadores de nível nacional.

No Brasil, as primeiras tentativas de implementação das escolas voltadas especialmente ao ensino de arte ocorreram na virada da década de 1920 para 1930, na cidade de São Paulo. A Escola Brasileira de Arte, idealizada por Sebastiana

16 MONROE, Paul. História da Educação. Tradução de Nelson Cunha de Azevedo. 1ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939.

17 Anísio Teixeira foi um dos mais importantes teóricos brasileiros sobre a educação. Ocupando diferentes cargos públicos, foi um dos responsáveis por difundir no Brasil os pressupostos da Escola Nova. Sua relação com o Paraná surge nos contatos e ações realizadas com a professora Eny Caldeira.

Teixeira de Carvalho em 1929, funcionava em um anexo ao Grupo Escolar João Kopke, onde as crianças estudavam música, desenho e pintura sob orientação do professor Theodoro Braga. Nesse período, a conceituada pintora, desenhista, gravadora e professora Anita Malfatti (1889-1964), ensinava em seu ateliê e na Escola Mackenzie. Ainda, o poeta, escritor e crítico literário paulista Mário de Andrade (1893-1945), também apresentou contribuições sobre o estudo e a valorização da atividade artística da criança (BARBOSA, 2008).

Na mesma época, foi criado na Universidade do Distrito Federal (UDF), no Rio de Janeiro, pelas mãos do professor Anísio Teixeira, o primeiro curso de formação de professores de desenho. Porém, com o fechamento da Universidade em 1939, encerrou-se também o curso. Anos mais tarde, na década de 1960, o mesmo professor criaria na Universidade de Brasília (UNB), um ensino de arte interdisciplinar. Contudo, em 1965 a proposta acabou se transformando em um departamento de desenho, retornando como Instituto de Artes (IdA) somente na década de 1980 (BARBOSA, 2008).

Em 1948, um grupo de artistas e intelectuais liderados por Augusto Rodrigues18

cria a Escolinha de Arte do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. O princípio que fundamentava o trabalho realizado no espaço era a liberação da criança e seu desenvolvimento como ser humano (OSINSKI, 2008). As finalidades da Escolinha, segundo o mesmo, envolviam o “estímulo à auto-expressão da criança através das atividades artísticas e recreativas, o provimento dos meios materiais e as oportunidades de aprendizagem das diversas técnicas de arte.” (RODRIGUES apud OSINSKI, 2008, p. 199). Segundo Osinski (2008, p. 197), Rodrigues defendia que “as atividades artísticas, quando realizadas com liberdade e sem imposições do educador, atuam na criança como um modo de liberação de energia e um meio para a expressão de sentimentos.”

A Escolinha de Arte de Rodrigues expressa um movimento de difusão e ampliação do ensino de arte. Após a implementação de cursos para a formação de professores, o modelo ali adotado acabou se tornando referência para outras Escolinhas (OSINSKI, 2008).19 Segundo Simão (2003), a fundação da Escolinha de

18 Rodrigues foi um educador e artista que se utilizou das mais diversas técnicas em sua produção. Sua obra envolveu a pintura, o desenho, a gravura, a ilustração, a caricatura, a fotografia e a poesia, buscando atribuir funções para a arte.

19 A professora Lenir Mehl de Almeida, futura fundadora da Escolinha de Arte no Colégio Estadual do Paraná, foi uma das estudantes que tiveram orientação na Escolinha de Arte do Brasil.

Arte do Rio de Janeiro provocou um movimento de criação de outras Escolinhas similares por todo o país. Iniciativas em diferentes cidades20 criaram ateliês

“orientados por artistas que tinham como objetivo liberar a expressão da criança, fazendo com que ela se manifestasse livremente sem interferência do adulto.” (BARBOSA, 2008, p. 4-5).

Em 1950, no Rio Grande do Sul, o Major Fortunato e a professora Edna Sóter, referenciando-se nos princípios da Escolinha de Rodrigues, criaram a Escolinha de Desenho do Círculo Militar, de Porto Alegre. No Espírito Santo, Isabel Rocha Braga inaugurou a sua própria instituição, na cidade de Cachoeiro do Itapemirim, encerrando suas atividades 5 anos depois. Em 1953, Noêmia Varella fundou a Escolinha de Arte do Recife. De volta a Porto Alegre, em 1957, as professoras Ruth Anicet e Elvira Saibro criaram a Escolinha de Arte de Porto Alegre (BARBOSA, 2008). No Paraná, o CJAP é oficializado em 1953, tendo à frente o pintor italiano Guido Viaro, e a EACEP acaba implementada quatro anos depois.

Analisando a propagação desse modelo de educação por diferentes estados, assinala-se que a EACEP se insere nesse movimento. Por outro lado, o campo inovador, aliado a um conjunto de fatores políticos e individuais, resultaram na instituição da atividade no espaço do CEP, que na época respondia pela instituição educativa ideal. Com um corpo docente amplo e especializado, instalações espaçosas e modernas, era o local preferido, tanto pelas famílias com melhores condições financeiras, buscando qualidade de ensino, como as mais humildes, que podiam matricular seus filhos para cursarem o ensino básico sem custos elevados.