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2 O INÍCIO DA ESCOLINHA: AÇÕES E CONTEXTOS

2.6 A MATERIALIDADE DO DOSSIÊ

A sistematização da análise sobre a constituição interna do dossiê, contribuiu para perceber as histórias que formam sua organização. As fotografias e recortes, encontram-se estruturados em sequências, fixados em folhas, unidas de forma a compor um documento que por suas características físicas, tornou-se singular como objeto de memória.

Ao examinar, classificar e categorizar as figuras e reportagens, buscou-se verificar as formas visuais e textuais que articulam as representações dos acontecimentos, além de possibilitar o diálogo entre formas e conteúdos expressos. Para essa abordagem, utilizou-se a definição que Armando Silva (2008, p. 147) apresenta sobre os modos de constituição de um álbum de fotografias. Segundo o autor:

O álbum é constituído de histórias que podem se originar de temas e motivos, ou de ritos […]. O motivo dá conta de dois critérios: os temas e a maneira como se destacam e as razões que os relatores têm para preencher o álbum. Os ritos, ao contrário, são cerimônias que vivem de forma independente do álbum, mas que também ali se instauram com suas devidas particularidades formais e visuais.

A separação do dossiê em fotografias e recortes, possibilita avaliar sua estrutura em dois gêneros de álbuns, mas que possuem o mesmo tema. No primeiro, observa-se um conjunto fotográfico, contendo legendas simples, que esclarecem de forma insuficiente a visualidade apresentada. No outro, um álbum de recortes, que ajuda a explicar as imagens, relatando textualmente os acontecimentos do dossiê. Dessa forma, na relação de ambos, delimitou-se uma narrativa que expressa uma visão dos acontecimentos sobre os primórdios da EACEP.

O documento é um encadernado feito com papelão e papel, contendo 90 folhas, presas na lateral por meio de um cordão de ráfia vermelho. Sua capa foi revestida com um tipo de estopa marrom (FIGURA 9). Afixada sobre ela, um papel cartão vermelho com o título escrito à mão manifesta o caráter informal da proposta.

FIGURA 9 - DOSSIÊ ESCOLINHA DE ARTE DO COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ

Fonte: Fotografia do autor (2016).

O primeiro álbum é composto por 41 folhas, totalizando 82 páginas, com o mesmo tamanho da capa (48,3 cm x 34,3 cm). As primeiras 20, encontram-se amareladas pelo tempo ou manchadas pela umidade. Entre o primeiro álbum e o segundo há um espaço de 3 folhas deixadas em branco, pensadas para uma futura continuidade da coleta e conservação das imagens.

A maneira artesanal com as quais as páginas foram unidas, o peso elevado e tamanho, além da fragilidade de suas folhas, não permitem que haja uma circulação

do objeto no espaço escolar, restringindo-se à EACEP a possibilidade da apreensão de suas imagens.

Identificou-se variados padrões de configuração de conteúdo desenvolvidos ao longo do álbum. Apesar de não constar paginação, ou mesmo numeração das fotografias, com o objetivo de auxiliar a localização e percepção dessa organização, determinou-se a qualificação numérica das laudas, mesmo as que não foram preenchidas, bem como a numeração de cada imagem.

A partir da primeira página, iniciou-se a contagem, tendo sido estabelecida a fotografia dessa lauda como a primeira da série (FIGURA 10). A marcação das seguintes, seguem identificadas de cima para baixo e da esquerda para direita. Ao longo desta dissertação, o número entre colchetes, no início da legenda de cada figura, refere-se à sua sequência no álbum.

FIGURA 10 - PRIMEIRA PÁGINA DO DOSSIÊ ESCOLINHA DE ARTE DO COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ

Fonte: Fotografia do autor (2016).

Todas as 114 fotografias foram reveladas em preto e branco, com o tamanho padrão de 11 cm x 17 cm. Contudo, surgem exceções, como a imagem maior,

medindo 18,2 cm x 24 cm (FIGURA 88), ocupando toda a página 75. Por outro lado, a imagem menor mede 3,9 cm x 3,2 cm (FIGURA 32), dividindo a página 31 com outras três figuras.

O idealizador do álbum, por uma questão de organização estética, demandada pelo tamanho das imagens com relação ao tamanho da folha, agrupou duas fotografias por página. Contudo, diferentes folhas contêm 3, 4 ou 5 imagens. O modo como elas foram afixadas, por meio de cola branca em suas arestas, impossibilita a retirada para verificação de possíveis informações na parte posterior. Todas retratam cenas e objetos distintos, com exceção da fotografia de número 14 da página 15, e a de número 26 da página 27, que acabaram duplicadas no conjunto.

A FIGURA 10 mostra a primeira lauda do dossiê. Sua diagramação destoa do restante das páginas, ao colocar apenas uma fotografia, que é seguida pelo manifesto citado anteriormente. Já nas folhas seguintes, a ênfase da composição recai sobre os retratos e legendas.

A fotografia que inicia o dossiê foi tirada na rua, em frente à fachada principal. A imagem apresenta o edifício do Colégio, além de um pinheiro centralizado, bem como o muro e a vegetação. Dois indivíduos cruzam a calçada no momento decisivo da tomada, mas suas figuras acabaram desfocadas por seu movimento.

Sintomático de um desejo de afirmação de identidade, o pinheiro, unido ao prédio, configuram um retrato do orgulho causado pelo sucesso do empreendimento. Mais do que palavras para descrever a visualidade, a composição conjuga de ingredientes referenciados na tradição da educação, tanto pela imagem do CEP, como no Pinheiro do Paraná, árvore símbolo do estado.50

As páginas seguintes possuem informações datilografadas em recortes de papel que foram colados posteriormente na estrutura, referindo-se a nomes, datas, eventos ou uma breve expressão que descreve a imagem. Sobre essa construção, Lima (1988, p. 33), comenta que “no livro de fotografias [álbum], que é o principal suporte criado pela fotografia para a sua expressão, o texto antecede ou procede as imagens, e as legendas de cada foto tendem a ser discretas, apenas ilustrativas.”

50 O Paranismo foi um movimento que atingiu seu auge em meados da década de 1920, tendo como premissa a criação de uma identidade própria para o Paraná. O mais notável literato da proposta, Alfredo Romário Martins (1874-1948), utilizou-se de determinismos étnicos e geográficos, mas principalmente o pinheiro e o pinhão como símbolos identitários para o estado (BATISTELLA, 2012).

Tal é a situação verificada no álbum da Escolinha. Corrente nas primeiras páginas, rareando e desaparecendo nas últimas, os rótulos contribuem para assinalar principalmente eventos e ações educativas. Junto a isso, foram citados os nomes das principais ou mais relevantes personalidades do período, envolvendo principalmente políticos e religiosos.

Avaliando a distribuição dessas inscrições pelo álbum, 37 páginas possuem uma ou duas, variando o número de fotografias entre 1 e 5 por lauda. Apenas uma página contendo três imagens, possui legenda para cada uma delas. Ainda, 10 páginas contêm fotografias sem nenhum tipo de informação, variando entre 2 e 4 fotografias por página.

A FIGURA 11 mostra a segunda página do álbum. A primeira fotografia, após a apresentação da estrutura do colégio, é composta por duas estudantes trabalhando com as tintas e a paleta de cores, os elementos mais representativos da arte.

FIGURA 11 - PÁGINA 3 DO DOSSIÊ ESCOLINHA DE ARTE DO COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ

Fonte: Fotografia do autor (2016).

Enquanto a garota da direita deposita a tinta recém captada com uma colher em seu godê, a da esquerda, também com uma colher, retira o material de pequenas

vasilhas. Diante de ambas, há um balcão com 11 desses recipientes, contendo cada um, a tinta e uma colher. Ainda sobre ele, são visíveis outros 11 jarros, contendo pigmentos que compõem os ingredientes das tintas. Ao fundo, do lado direito da imagem, há um lavatório, junto a uma mesa repleta de pequenos potes e pinceis.

Na mesma página, logo abaixo, há a fotografia de outra dupla de estudantes praticando seus exercícios. Em primeiro plano, um garoto e uma garota estão colorindo os desenhos realizados anteriormente. Ambos estão em pé, diante dos cavaletes, segurando a paleta de cores com a mão esquerda e o pincel com a mão direita. Enquanto ele mistura a tinta no godê, ela se ocupa em preencher os espaços da figura. Logo atrás, outra estudante olha para o fotógrafo, ao mesmo tempo em que uma outra se ocupa com sua tarefa. Mesmo sendo a sala de aula, o ambiente fechado surge como forma alternativa de espaço de ensino.

Ao mostrar na primeira fotografia a preparação da tinta pelas estudantes, e na segunda, a aplicação por meio da atividade da pintura, a sequência desenvolve uma pequena narrativa visual, em um contexto de antes e depois que as imagens buscam expressar. Nas duas representações, os estudantes estão voltados para a esquerda, possibilitando uma harmonização dos padrões e elementos apresentados, auxiliando e facilitando a compreensão da mensagem.

Por fim, as fotografias 113 e 114, encontram-se soltas nas últimas páginas do álbum. Na parte posterior dessas imagens, constam informações como o nome dos eventos e datas que as contextualizam. Completando a primeira parte, surgem 3 folhas em branco, fazendo o limite com o álbum de recortes.

A compreensão da configuração material da principal fonte deste estudo, caracteriza uma etapa da possibilidade investigativa. A preocupação do responsável por sua elaboração não foi tanto contextualizar as imagens e reportagens, indicando nominalmente lugares e pessoas, mas mostrar as diferentes etapas do desenvolvimento das atividades da EACEP.

A ênfase que rege a composição do álbum é a expressão das ações que movimentavam o espaço da EACEP nos primeiros momentos de sua instalação. Nesse sentido, o próximo tópico tem como propósito discutir e estabelecer uma organização para o visível nas fotografias, observando ações, objetos e temas que definiram e contextualizaram os meios sociais e educativos que as formaram. Em seguida, serão apresentadas informações sobre os recortes que compõem o segundo álbum do dossiê.