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Avaliação da Dimensão das Saídas: Possibilidades e Realidades

CAPÍTULO 8 AVALIAÇÃO DA PSC NA ÓTICA DOS NOVOS RUMOS DA

8.3. Avaliação da Dimensão das Saídas: Possibilidades e Realidades

8.3.1 Modelos conceituais de PSC e abordagens de avaliação da dimensão das Saídas

A terceria dimensão da PSC, com exceção da versão original do modelo, se refere às saídas, ou efeitos, da atividade corporativa, podendo ser consideradas como: políticas (WARTICK; COCHRAN, 1985); políticas, programas e impactos (WOOD, 1991); ou apenas impactos (SWANSON, 1995; WOOD; JONES, 1995) (Quadro 17).

Quadro 17 – Características dos modelos conceituais de PSC: dimensão das saídas Segundo os modelos de PSC, a dimensão das saídas pode ser avaliada em função da existência e/ou da qualidade de políticas e programas sociais, e/ou pelos impactos das atividades corporativas sobre a sociedade e os stakeholders.

Avaliar as saídas da PSC apenas pela existência de políticas e programas sociais é uma das abordagens usuais de pesquisa empírica da PSC, mas é desaconselhável. Como discutido no tópico 7.2.5, essa abordagem não indica a

Modelos

conceituais Como é avaliado

Padrão de desempenho Questões

Sociais

Consumo, meio ambiente, discriminação, segurança de produtos, segurança ocupacional, acionistas Carroll (1979) N/A Políticas (GQS): Identificação e Análise de Questões, Desenvolvimento de Respostas Wartick e Cochran (1985) Sobre os stakeholders: internos, externos e instituições externas Wood e Jones (1995) Sobre a sociedade: 'Economizing'; 'Ecologizing'; Busca de poder Swanson (1995) Impactos não estabelece Wood (1991) Políticas, programas e impactos sociais

existência e/ou qualidade de políticas e programas sociais Impactos O que é avaliado Políticas, Programas e Impactos

eficiência nem a eficácia da empresa em lidar com as Questões Sociais, além de poder encobrir práticas anti-éticas, portanto, não será explorada em maior profundidade.

A avaliação da dimensão das saídas da PSC a partir de alguma medida de qualidade das políticas e programas sociais seria uma abordagem mais coerente com a noção de desempenho organizacional, mas também é insuficiente para refletir os efeitos do comportamento corporativo sobre os stakeholders. Por exemplo, uma empresa que possui um código de ética primoroso, segundo qualquer parâmetro de qualidade que se possa estabelecer, pode ter um comportamento menos ético do que outra empresa que nem possui um código de ética a ser avaliado.

Portanto, a existência ou mesmo a qualidade de políticas e programas sociais formalizados são fatores que influenciam mas não determinam os impactos do comportamento corporativo sobre a sociedade e/ou stakeholders organizacionais. Ou seja, as políticas e programas sociais que as empresas adotam, ou não, para lidar com as questões sociais são parâmetros de interesse para análise da PSC, mas não são suficientes para avaliar os impactos da atividade corporativa.

A avaliação dos impactos positivos e negativos do comportamento corporativo sobre a sociedade é fundamental (JAMALI, 2008), afinal, a ideia subjacente à PSC é entender como os negócios afetam a sociedade (CARROLL, 2000; WOOD, 2010). Os modelos de Wood (1991), Swanson (1995) e Wood e Jones (1995) incluem os impactos nas saídas da PSC. Wood (1991) contempla também as políticas e programas sociais; Swanson (1995) propõe que os impactos sejam avaliados em função de três aspectos: busca de poder, ‘economizing’ e ‘ecologizing’, mas não foram identificados estudos empíricos que especifiquem como operacionalizar esses conceitos; enquanto Wood e Jones (1995) focam nos impactos sobre os stakeholders.

8.3.2 Avaliação da dimensão das Saídas pelos impactos

A interação da organização com o ambiente gera impactos nas dimensões cultural, legal, política, econômica e natural, contudo o impacto mais estudado é o econômico. A abordagem instrumental que busca relacionar PSC e PFC (Performance Financeira Corporativa), a mais difundida na literatura empírica da PSC, também

apresenta diversas limitações. O tópico que trata do tema (7.2.3) ressalta que essa abordagem sofre de problemas conceituais e metodológicos, além de priorizar a análise dos efeitos da atividade corporativa na perspectiva de um único grupo de stakeholders composto por acionistas e proprietários.

Apesar da grande ênfase em indicadores financeiros, há diversos estudos adotando tanto medidas perceptuais quanto objetivas para avaliar os impactos sobre outros stakeholders (WOOD, 2010), tais como:

 Funcionários: satisfação de funcionários; qualidade do trabalho; igualdade de oportunidades;

 Meio ambiente: níveis de emissões tóxicas;

 Consumidores: satisfação de consumidores; reclamações de propaganda enganosa; recalls de produtos;

Governos: violações regulatórias;

 Sociedade/comunidades: contribuições filantrópicas.

Os estudos que analisam os impactos sobre os stakeholders adotam indicadores de diversos tipos, tais como: indicadores baseados no conteúdo de relatórios anuais corporativos; indicadores de poluição; indicadores obtidos em surveys baseados em questionários; indicadores de reputação corporativa; e indicadores gerados por agências de rating. As características e limitações de cada tipo de indicador também já foram descritas no tópico 7.1.

Um estudo em especial foi selecionado para ser descrito, pois possui características que visam contornar algumas das limitações típicas das pesquisas empíricas de PSC. Mahon e Wartick (2005) desenvolveram um framework para avaliar a PSC de indústrias do mesmo setor a partir da perspectiva dos seus stakeholders, denominado Corporate Social Performance Profiling. As principais características do framework são:

 Adotar medidas de desempenho relacionadas aos resultados das ações corporativas sobre os stakeholders;

Adotar critérios e padrões de avaliação definidos pelos stakeholders;  Dar ênfase à desagregação, a fim de melhorar o significado das medidas;

 Permitir análises transversais, dentro de um mesmo setor, e longitudinais, de modo que mudanças na percepção dos stakeholders podem ser observadas;

Permitir a identificação de áreas de trade-offs que empresas individuais fazem, que talvez sejam necessárias para atender a expectativas de um determinado grupo de stakeholder ao longo do tempo.

Para ilustrar e testar o framework proposto, Mahon e Wartick (2005) traçaram o perfil de duas empresas de cada um de três setores: farmacêutico, químico e de computadores. A operacionalização do framework começou com a identificação dos stakeholders relevantes de cada setor e a seleção das medidas que seriam adotadas para representar suas respectivas perspectivas quanto ao comportamento das empresas.

Os dados utilizados na operacionalização do framework são de dois tipos: indicadores de reputação (Fortune Magazine e Business Ethics Magazine) e indicadores gerados por agências de rating (KLD). É válido lembrar, como foi discutido no tópico 7.1., que esses indicadores representam fenômenos que podem ilustrar o compromisso com princípios de RSC, o uso de processos de responsividade e impactos sobre stakeholders. Ou seja, embora o framework proponha adotar medidas de desempenho relacionadas aos resultados das ações corporativas sobre os stakeholders, os indicadores utilizados em sua operacionalização combinam aspectos das outras duas dimensões da PSC. Os autores, justificam a escolha pela disponibilidade e facilidade de acesso aos dados, mas sugerem que a consulta direta a representantes dos grupos de stakeholders seria de grande interesse.

Os dados obtidos foram plotados em contínuos que variam de neutro a negativo e de neutro a positivo, tornando os resultados mais significativos. Por exemplo, uma empresa que não fez doações filantrópicas não gerou um efeito negativo, mas neutro. Da mesma forma, uma empresa que não contribui com a limpeza de um rio, que ela não poluiu, também teve um efeito neutro ao invés de negativo (MAHON; WARTICK, 2005).

É interessante observar que o CSP Profilling não possui uma medida agregada da PSC global que indique quais empresas são socialmente mais ou menos responsáveis. Essa abordagem é deliberada e se justifica pela multiplicidade de critérios e perspectivas que os stakeholders possuem para avaliar o desempenho corporativo. Desse modo, não seria útil estabelecer critérios únicos para determinar o que é bom e o que é ruim. Ao apresentar os resultados desagregados, os autores deixam o juízo de valor à critério do observador (MAHON; WARTICK, 2005).

8.3.3 Considerações finais sobre as realidades e possibilidades da avaliação da dimensão das Saídas na ótica dos novos rumos da pesquisa empírica de PSC

O que avaliar na dimensão das saídas

Os modelos conceituais de PSC representam a dimensão das saídas por políticas, programas e impactos sociais, podendo ser avaliada em função da existência e/ou da qualidade de políticas e programas, e/ou pelos impactos das atividades corporativas sobre a sociedade e os stakeholders. Na ótica da tese, a abordagem considerada mais significativa é a que avalia a dimensão das saídas pelos impactos sobre os stakeholders, conforme previsto no modelo de Wood e Jones (1995).

O framework proposto por Mahon e Wartick (2005) foi considerado bastante contributivo na orientação da proposição da tese, por avaliar os impactos sobre os stakeholders e por outros aspectos destacados a seguir. O Quadro 18 resume as características de sua operacionalização.

Quadro 18 – Avaliação da dimensão das saídas: características do estudo empírico descrito

Como avaliar a dimensão das saídas

A avaliação dos impactos sobre os stakeholders organizacionais envolve medidas perceptuais e objetivas de diversos tipos, tais como: indicadores baseados no conteúdo de relatórios anuais corporativos; indicadores de poluição; indicadores obtidos em surveys baseados em questionários; e indicadores gerados por agências de rating. O que é avaliado Como é avaliado Padrão de desempenho Mahon e Wartick (2005) Wood e Jones (1995) Impactos sobre stak eholders escala: negativo- neutro-positivo quanto maior, melhor Indicadores de reputação (Fortune) e da agência de Estudo empírico Modelo concei- tual Aspectos da avaliação da dimensão das saídas

Fontes de dados

Obtenção dos dados

O framework de Mahon e Wartick (2005) propõe adotar medidas de desempenho relacionadas aos resultados das ações corporativas sobre os stakeholders. Contudo, devido à disponibilidade e facilidade de acesso, sua operacionalização utilizou indicadores de reputação e indicadores gerados por agências de rating. Esses indicadores representam aspectos das 3 dimensões da PSC, e não apenas das saídas, e refletem a ótica dos avaliadores. Nesse sentido, os autores reconhecem que seria de grande interesse utilizar dados que refletissem a perspectiva dos stakeholders por suas próprias vozes.

(i) Qual padrão de desempenho adotar na dimensão das saídas

Mahon e Wartick (2005) sugerem adotar critérios e padrões de avaliação definidos pelos stakeholders, abordagem alinhada ao modelo conceitual de Wood e Jones (1995) e à noção de RSC ‘remoralizada’.

8.4. ESTUDOS EMPÍRICOS DE PSC MULTIDIMENSIONAIS QUE ADOTAM A