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Avaliação externa da organização escola

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. Da avaliação das organizações à avaliação das escolas

3.2. Avalia ção das es colas

3.2.1. Avaliação externa da organização escola

Pela exposição que temos vindo a realizar emerge, como fulcral no domínio da avaliação, a sua dimensão interna e a sua dimensão externa. Neste capítulo privilegiaremos a dimensão externa, aprofundando a dimensão interna no capítulo seguinte.

Sobre a avaliação externa, Marchesi (2002, p. 35) afirma que é realizada por pessoas e equipas que não pertencem à escola, podendo ser feita “a pedido da própria comunidade educativa” ou por “ordem da administração educativa responsável”, realçando que poderão surgir dificuldades como “o desconhecimento da escola e o receio que suscita nos professores quando não se vê com clareza quais são as consequências da avaliação, ou quando não se está de acordo com elas”. Sugere ainda, como vantagens, “a maior objectividade e a possibilidade de os dados poderem ser interpretados à luz dos obtidos em escolas com características semelhantes”.

Acrescentamos a perspetiva de Clímaco (2002, p. 65) ao referir que se a avaliação “for formativa, orienta a acção e responsabiliza os atores, apoia a decisão e fundamenta a prestação de contas. Se for não formativa, orienta-se para a fiscalização e para o desenvolvimento de um aparelho prescritivo”.

A avaliação externa segundo Guerra (2002, p. 16), “vem de fora, por via hierárquica”, aproximando-se “do modelo de accountability ou prestação de contas” o que origina um “fraco poder transformador” uma vez que “cria resistências, (…) não implica os protagonistas, (…) cria o hábito de esperar que as decisões de mudança provenham de agentes exteriores”.

Para o mesmo autor, a avaliação externa tem poucas possibilidades de prosperar como uma atividade enriquecedora, como uma ocasião de mudança, como um exercício de participação, como um processo de aprendizagem, pois mais facilmente será considerada como um ameaça, do que como uma ajuda profissional.

A avaliação das escolas é realizada por entidades externas às escolas, imposta pelos serviços centrais. Esta regulação efetuada pelo poder central ao modo de funcionamento das escolas é justificada pelo SICI (2007, p. 7) através da seguinte afirmação: “controlar e orientar as escolas”, representando “um modo de garantir uma oferta educativa de qualidade e de assegurar que as escolas usam os recursos eficazmente e que os seus

resultados justificam o dinheiro investido”. Ainda pelo mesmo documento verificamos que a avaliação externa, enquanto meio de controlo e de regulação estatal, “deve garantir que as diferenças no desempenho entre escolas não sejam demasiado discrepantes e que os resultados previstos sejam alcançados”.

No caso específico de Portugal, a iniciativa externa, que no panorama legislativo português se reveste de um carácter de imposição é conduzida pela Inspecção-Geral da Educação e Ciência (IGEC). Este organismo governamental tem um longo percurso histórico entre nós, assunto que não aprofundamos neste trabalho. Contudo, importa referir, de acordo com Afonso (2005b, p.13), que tradicionalmente se dedicava a tarefas de “verificação da conformidade normativa e para a execução de actividade disciplinar” nas escolas, mas que tem vindo a reorientar a sua ação, desde a segunda metade dos anos 90, para uma função “de auditoria e de avaliação externa ” das instituições, procurando recolher e produzir informação relevante que permita monitorizar e pilotar a qualidade dos desempenhos dos estabelecimentos de ensino.

Segundo Clímaco (2002,pp 66-67), a avaliação externa das escolas públicas portuguesas “aproxima-se de um modelo holístico de avaliação, terá de recorrer a novas metodologias inspectivas baseadas em conhecimento e orientadas para a me lhoria e aperfe içoamento das escolas, consideradas como contextos privilegiados para a aprendizage m e o desen volvimento profissional. (…) as metodologias fa ze m parte o recurs o a novos processos de trabalho, organizando -se em equipas de inspectores a quem se procurou reforçar a capacidade técnica profissional”.

Neste modo de trabalhar e encarar a avaliação externa das escolas foram igua lmente envolvidas as escolas

“informando-as antecipadamente do processo e dos seus contornos, disponibilizando a informação sobre metodologias de intervenção e instrumentos de apoio à observação, e solicitando às escolas que se organizassem e preparassem para a avaliação exte rna, nomeada mente cons tituindo uma equipa interna, que preparava e trabalhava a informação necessária e que servia de elemento de articulação entre as diferentes estruturas, numa perspectiva de organização da auto-avaliação” (ibidem).

Segundo a mesma autora

“o envolvimento daqueles que têm parte na responsabilidade pela qualidade das escolas é uma estratégia de credib ilização das avaliações integradas e de “desmontagem” da desconfiança tradicional entre avaliadores e avaliados. Mas acima de tudo, é uma estratégia de motivação pa ra a mudança, através do feedback constante sobre o que foi considerado importante, quer isso signifique o que está correto, muito bom, menos bom ou mes mo ma l e é funda mental para alimentar positiva mente a política e a micropolítica local e a auto-estima das pessoas. Foi nesta linha de pensamento que se fixara m co mo objectivos para a avaliação integrada: - valoriza r as aprendizagens e a qualidade das vivências escolares; - identificar pontos fortes e pontos fracos no desempenho escolar; - induzir processos de auto-avaliação; - contribuir para a regulação do sistema educativo”.

O Programa Plurianual de “Avaliação Integrada das Escolas” PAIE (1999-2002) é o exemplo mais paradigmático da reorientação da atividade da inspeção geral de educação

para a avaliação externa do desempenho organizacional. Segundo Azevedo (2007, p. 58), este organismo tem beneficiado diretamente da experiência recolhida do Observatório da Qualidade da Escola e do Projeto Qualidade XXI, bem como de programas desenvolvidos anteriormente pela própria IGE, atual IGEC. Significando para Lima (2008, p. 287) que o PAIE é “um sinal da mudança de funções e de atitude da administração central relativamente à avaliação das escolas”. Passando-se “de uma função fiscalizadora a uma função de ‘acompanhamento e avaliação’”.

Nunes (2007, p. 138) conclui que os aspetos mais relevantes da Avaliação Integrada das Escolas foram:

“- a importância da Avaliação Interna para a escola, como factor decisivo para o sucesso de processos de me lhoria; – avaliadores tiveram a preocupação de perceber o projecto educativo de cada escola e descobrir as suas particularidades; – alguma fa lta de uniformidade e rigor processuais, quer nas intervenções, quer na elaboração dos relatórios finais; - pouco espaço no processo de avaliação para as especificidades das escolas, nomeada mente ao nível dos seus modelos de gestão e das suas opções educativas; - necessidade de uniformização, a nível nacional, dos resultados das aprendizagens, nomeada mente no cálculo do valor acrescentado . Todas as escolas, públicas e privadas, faze m parte do mes mo sistema de ensino”;

Em suma, Lima (2008, p. 287) acrescenta que o

“programa p reconiza que o enfoque da avaliação externa passe a integrar o plano de auto -regulação de cada escola. Te m por objectivos declarados “melhorar a qualidade do ensino, induzindo a práticas de auto-avaliação e centrando a análise do desempenho das escolas nos resultados dos alunos e nas condições de organização e funciona mento criadas para os me lhorar”.

Mais tarde surge o programa “Efetividade da autoavaliação das Escolas” (2005 - ....), atualmente a decorrer e que segundo J. M. Azevedo (2007, pp. 62-63) assenta “numa adaptação dos instrumentos usados no ESSE21, projecto europeu das inspecções de educação”, e que “é uma actividade de avaliação externa, sob a modalidade de meta- avaliação”, para identificar que práticas de AA, as escolas dos diversos níveis de ensino do pré-escolar ao secundário, têm vindo efetivamente a desenvolver, ou seja, pretende responder à pergunta: “qual é a efectividade da auto-avaliação que a escola faz da qualidade do seu funcionamento e dos serviços que presta, por forma a desenvolver acções que contribuam para reforçar os seus pontos fortes e superar os pontos fracos?” (IGE, 2005, p.4). Os seus objetivos são (IGE, 2005, p. 4):

- “contribuir pa ra o desenvolvimento de uma cultura de aperfeiçoa mento institucional focalizado e estratégico;

- aco mpanhar o desenvolvimento de dispositivos externos de suporte à auto -avaliação nas escolas; - desenvolver u ma metodologia inspectiva de meta-avaliação (...);

- identificar aspectos-chave a partir da aferição da auto-avaliação, recolhendo experiências de avaliação interna (…) enquanto actividade promotora do desenvolvimento das escolas;

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- pro mover nos estabelecimentos de educação e ensino uma cultura de qualidade, e xigência e responsabilidade, mediante uma atitude crítica e de autoquestionamento, tendo em vista a qualidade dos processos e dos resultados”.

Já no decorrer da escrita da nossa tese, foi desenvolvido um novo modelo de avaliação externa para o biénio 2012/2013, na sequência do relatório final produzido pelo Grupo de Trabalho criado pelo Despacho n.º 4150/2011, de 4 de março22. Este modelo tem por objetivos

“promover o progresso das aprendizagens e dos resultados dos alunos, identificando pontos fortes e áreas prioritárias para a melhoria do trabalho das escolas; incre mentar a responsabilização a todos os níveis, validando as práticas de autoavaliação das escolas; fomentar a part icipação na escola da comunidade educativa e da sociedade local, oferecendo um melhor conhecimento público da qualidade do trabalho das escolas; contribuir para a regulação da educação, dotando os responsáveis pelas políticas educativas e pela administração das escolas de informação pertinente” (IGEC, 2012a)23.

O quadro de referência deste modelo estrutura-se em três domínios – Resultados24

, Prestação do serviço educativo, Liderança e gestão – abrangendo um total de nove campos de análise. Este modelo preconiza que “no prazo de dois meses após a publicação do relatório na página da IGEC, a escola deverá elaborar um plano de melhoria, ouvidos os diferentes órgãos de direção, administração e gestão”, que “deve ser publicado na página da escola ou do agrupamento de escolas e dado conhecimento, desta publicação, à Direção- Geral competente e à Inspeção-Geral da Educação e Ciência” (IGEC, 2012b).