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2 O PAPEL DO ESTADO AVALIADOR NA ELABORAÇÃO E

3.3 Avaliação em larga escala na produção cientifica: o estado da questão

3.3.2 Avaliação em larga escala em periódicos

Em cenário de sociedade do conhecimento e da informação e de maior expansão da comunicação e produtividade científica, o acesso a periódicos através dos meios eletrônicos está sendo cada vez mais utilizado para contribuir com o progresso da ciência, sendo entendido como um dos principais meios de divulgação de novos conhecimentos.

Nessa perspectiva, para a construção desse EQ nos debruçamos sobre artigos publicados em periódicos através do portal de periódicos da CAPES, Revista Brasileira de Educação; Revista de Política e Administração da Educação; Estudos em Avaliação Educacional. Via Portal de Periódicos da CAPES15 iniciamos a busca utilizando o termo avaliação em larga escala e encontramos 8 artigos. Desses, a partir da leitura de seu resumo, tem-se que apenas 3 têm aproximação direta com a questão de pesquisa desse trabalho.

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Quadro 3- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta CAPES

Autor Ano Trabalho

WERLE 2011 Políticas de avaliação em larga escala

na educação básica: do controle de resultados à intervenção nos processos

de operacionalização do ensino SANTOS,

CARBONERA

2010 Gestão democrática da educação e avaliação em larga escala: implicações

para o contexto escolar

VIEIRA 2007 Gestão, avaliação e sucesso escolar:

recortes da trajetória cearense Fonte: elaboração da autora

Destacamos entre esses achados, o trabalho de Vieira (2007), uma vez que, entre os resultados da busca esse estudo se materializa como um dos pioneiros no que se refere ao trato dessa questão. Em seguida acessamos o site da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa na Educação com o intuito de consultar sua Revista16. Encontramos 28 volumes entre os anos de 2007-2015 (v.35 ao v.63), onde a busca foi realizada levando em consideração primeiro o título e em seguida o resumo. Obtivemos como resultado 9 trabalhos, destes, apenas 3 apresentavam relação com a questão central desse estudo:

Quadro 4- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta ANPED

Autor Ano Trabalho

BARRERE 2013 Controlar ou avaliar o trabalho docente? Estratégias

dos diretores numa organização escolar híbrida

CORREIA 2010 Paradigmas e cognições no campo da administração

educacional: das políticas de avaliação à avaliação

PARO 2010 Progressão continuada, supervisão escolar e

avaliação externa: implicações para a qualidade do ensino

Fonte: elaboração da autora

Entre os artigos encontrados, chamamos atenção para o estudo de Barrere (2013) que trás uma discussão interessante sobre o hibridismo das propostas de gestão presente no cotidiano escolar hoje e que repercutem na relação com a comunidade escolar, especialmente o professor. Se é verdade que as escolas estão mais democráticas a partir da inserção em seu cotidiano da ampliação da oferta, da atuação dos conselhos escolares, da construção coletiva do Projeto Político Pedagógico e da descentralização da figura do diretor, é verdade também que, a partir das reformas da década de 1990, a lógica gerencialista também ganhou espaço no

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chão da escola, principalmente com as políticas de avaliação em larga escala e seus desdobramentos a partir da bonificação e responsabilização. Nesse cenário, é importante destacar a questão de Barrere (2013) ―Controlar ou avaliar o trabalho docente?‖ O que temos encontrado nas escolas públicas brasileiras? Essa é uma questão a ser aprofundada no decorrer da presente dissertação.

O mesmo procedimento foi utilizado para mapeamento na Revista Brasileira de Política e Administração da Educação17. Observa-se que do ano de 2007 a 2015, foram publicados 27 volumes. A busca pelo título nos levou ao encontro de 15 trabalhos sobre a temática, porém, destes, apenas 6 apresentaram alguma associação com nossa questão de pesquisa:

Quadro 5- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta ANPAE

Autor Ano Trabalho

MACHADO, ALAVARSE

2014 Avaliação interna no contexto das avaliações externas: desafios para a gestão escolar

PRESTES, FARIAS

2014 Face(s) da avaliação da educação em tempos de incertezas

SALGADO JUNIOR, NOVI

2014 Proposta metodológica: avaliação externa e desempenho dos alunos

ASSUNÇÃO, CARNEIRO

2012 O papel do estado e as políticas públicas de educação: uma análise das avaliações externas no ensino fundamental

RICHIT 2010 Avaliação da educação e a formação continuada docente:

horizontes e contradições nas políticas públicas

MORAIS et al 2009 ―Provinha Brasil‖: monitoramento da aprendizagem e

formulação de políticas educacionais

Fonte: elaboração da autora

O artigo de Machado e Alavarse (2014) é interessante porque nos remete a uma problemática presente no chão da escola hoje: a descaracterização da avaliação interna em detrimento das avaliações externas, sendo a primeira, em alguns casos, transformadas em simulados para a segunda. Fato que compromete a autonomia docente e a construção da aprendizagem do aluno. Freitas et al (2011a) chama atenção para o fato de que, uma vez irreversível no momento a prática da avaliação externa, é necessário dialogo entre os três níveis de avaliação: avaliação da sala de aula, avaliação institucional e avaliação em larga escala.

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Figura 1-Níveis de avaliação

Fonte: Freitas et al (2011a, p. 66)

Os autores em questão explicam que não é possível para a avaliação em larga escala fazer o papel dos outros níveis de avaliação, isso porque a explicação para um determinado desempenho exige aproximação e familiaridade com o cotidiano das instituições escolares. Assim, é preciso que os níveis de avaliação trabalhem articuladamente e de acordo com sua área de abrangência.

Por fim, o último periódico consultado foi Estudos em Avaliação Educacional18 que apresenta 27 volumes entre os anos de 2007 a 2015. Assim como nas buscas anteriores, iniciamos o filtro pelo título, buscando pela expressão avaliação em larga escala, o quantitativo encontrado foi de 24, desses, apenas 3 tem associação direta com a questão central dessa pesquisa.

Quadro 6- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escola: consulta Estudos em Avaliação Educacional

Autor Ano Trabalho

SANTOS, SABIA 2015 Percurso histórico do Saresp e as implicações para o trabalho pedagógico em sala de aula

ROSISTOLATO et al

2014 Cobranças, estratégias e ―jeitinhos‖: avaliações em larga escala no Rio de Janeiro

FERNANDES et al 2010 O conhecimento do professor em avaliação educacional e a proficiência do aluno

Fonte: elaboração da autora

18 Conferir: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/eae/issue/archive?issuesPage=1#issues Avaliação de redes Avaliação institucional da escola Avaliação em sala deaula

O trabalho de Rosistolato et al (2014) põe em relevo uma questão ainda pouco explorada nos trabalhos sobre o tema: o ―jeitinho‖ ou fraude na aplicação das avaliações de caráter externo. Os autores mapeiam, nesse estudo, estratégias com vistas a ampliar o desempenho das escolas, que se configuram como ―jeitinhos‖ e estratagemas orientados pela expectativa exclusiva de aumentar os índices das escolas. Freitas (2012) explica que ao permitir que estas avaliações sejam realizadas e os dados obtidos tratados tal qual vem acontecendo, estamos forçando as escolas a desprender todo seu esforço na produção da nota do exame, ao invés de preocupar-se com a real aprendizagem dos alunos, como se nota alta no IDEB fosse sinônimo de boa educação. O autor chama atenção para o fato de que diante desse cenário, o sistema pode estar entrando em exaustão, colocando as escolas e os sujeitos que nela atuam sob suspeita permanente, incentivando fraudes e treinando para responder a testes, inclusive porque o dado da nota em um exame está longe de conseguir explicar a realidade das instituições educativas.

Ainda sobre os ―jeitinhos‖ que são construídos com o intuito de alcançar os resultados desejados em Português e Matemática e se destacar no ranking das escolas brasileiras, é importante destacar a redução curricular como uma estratégia que tem sido utilizada por diversas escolas. Essa é uma categoria que o presente estudo pretende aprofundar.

Pauta nos principais fóruns de educação, as avaliações em larga escala dividem opiniões entre os especialistas. Por um lado, são compreendidas como ferramentas capazes de auxiliar a formulação de políticas educacionais de melhoria da educação básica e superior, além de mobilizarem a realização de diagnóstico das dificuldades e das melhorias necessárias para superá-las.

Um sistema nacional de avaliação em larga escala pode prover informações indispensáveis para aprofundar o debate sobre a situação educacional de um país e mostrar o que os alunos estão aprendendo, ou o que deveriam ter aprendido, em relação aos conteúdos e habilidades básicas estabelecidos no currículo. (CASTRO, 2007, p. 9)

Por outro lado, os gestores escolares e professores acabam por pensar a sua prática pedagógica e o currículo da instituição com base nas avaliações em larga escala. De acordo com as características apontadas, Sousa (2003) afirma que a avaliação estimula à competição, que é refletida na forma de gestão e no currículo.

A avaliação, pautada por tais características, tende a imprimir uma lógica e dinâmica organizacional nos sistemas de ensino, que se expressam no estímulo à competição entre as instituições educacionais e no interior delas, refletindo-se na forma de gestão e no currículo. Quanto ao currículo,

destaca-se sua possível conformação aos testes de rendimento aplicados aos alunos, que tendem a ser vistos como os delimitadores do conhecimento que ―tem valor‖, entendido o conhecimento como o conjunto de informações a serem assimiladas pelos alunos e passíveis de testagem. Quanto à gestão, a perspectiva é o fortalecimento dos mecanismos discriminatórios. (p. 188- 189)

Nesse cenário, o tema currículo passou a fazer parte cada vez mais fortemente das temáticas envoltas à avaliação e à prática escolar. Para Schneider (2013), ―o currículo é um campo de lutas, forças e tensões de grupos que tentam assegurar certos conhecimentos para que estes passem a ser considerados válidos nos textos e nas salas de aula‖ (p.25). Assim, trabalhar a avaliação envolve estudar o currículo.

A política educacional também passou a olhar com outros olhos a avaliação. Ainda de acordo com Schneider (2013) embora, por parte do Estado, as determinações curriculares estejam formalmente mais democratizadas, há forças agindo sobre a escola que podem tornar tais escolhas praticamente sem significado. A autora infere que mesmo os profissionais tendo algum controle sobre o currículo, políticas como as avaliações externas são capazes de direcioná-lo.

Bonamino e Sousa (2012), em estudo pertinente ao tema, traçaram três gerações de avaliação da Educação Básica no Brasil. A primeira enfatiza a avaliação com caráter diagnóstico, ―[...] sem atribuição de consequências diretas para as escolas e para o currículo‖ (p. 375). A segunda geração contempla a divulgação pública dos resultados para as escolas e comunidade em geral. E a terceira, são aquelas que referenciam políticas de responsabilização, e, com base em seus resultados, impulsionam punições ou recompensas aos que dela fazem parte. As autoras analisam que o desenho introduzido a partir da segunda geração ―[...] produzem indicadores capazes de fornecer informações a respeito dos componentes do currículo que estão chegando aos alunos‖ (p. 386).

As avaliações pertencentes à segunda geração assim, ―[...] parecem estar reforçando o alinhamento, nas escolas e secretarias de educação, entre o currículo ensinado e o currículo avaliado‖ (Op. Cit., p. 386). A redução curricular pode ser observada ainda em estudos como o de Machado (2012), que retrata a relação entre a avaliação externa e a gestão escolar no que se refere ao uso dos resultados. Nesse estudo, também é possível perceber a relação que se faz entre os resultados adquiridos e as iniciativas que sugerem a redução do currículo, favorecendo as disciplinas e conteúdos pertinentes às avaliações externas, ou seja, prioriza-se o trabalho em sala de aula das disciplinas e conteúdos que costumam estarem presentes nas avaliações.

Outro ponto observado pela autora são os rankings promovidos pela mídia, quando da divulgação dos resultados. Colocar situações diversas no mesmo patamar é para a autora mascarar históricos de desigualdade. São realidades singulares, que geram resultados distintos e precisam ser analisadas sob a ótica do seu próprio histórico, e não em comparações simplistas e midiáticas, que nada acrescentam ao objetivo da escola: a garantia do processo de ensino e aprendizagem.

Ainda sobre o tema, Vieira (2014, p.11) discorre que a ―[...] parafernália gerencial e política em torno das provas, aí incluindo o ranqueamento (ranking) entre sistemas e instituições‖ tem promovido impasses que se situam na contramão de uma cultura democrática nas escolas (VIEIRA; VIDAL, 2015). A partir dessa lógica o trabalho passa a ser direcionado em prol dos resultados, esquecendo-se de como estes foram produzidos, o que implica o trabalho sobre o uso dos resultados, etapa valiosa no processo avaliativo muitas vezes esquecida ou dispensada.

Ainda sobre essa questão, Coutinho (2012) afirma que:

O modelo de avaliação em larga escala que foi implementado no sistema educacional brasileiro possui as seguintes características: ênfase nos resultados, ranqueamento das instituições, desarticulação com a auto- avaliação da instituição escolar e, quanto ao currículo, uma conformação ou homogeneização do processo pedagógico, escolha das atividades, preparação de material didático e a seleção dos conteúdos que passam a ser vistos como delimitadores do conhecimento oficial, ou seja, o conjunto de informações que os alunos precisam assimilar, pois são passíveis de testagem. O professor condiciona a sua prática pedagógica às avaliações externas (p. 22).

Assim, o currículo materializado na escola está orientado pelas matrizes de referência das avaliações externas a partir de descritores que dão ênfase aos saberes a serem avaliados, mais conhecidos como habilidades e competências das áreas de Língua Portuguesa e Matemática. Os estudos realizados por Coutinho (2012) apontam que

O Currículo Mínimo surge com uma proposição de uma reforma curricular que pode ser interpretada como uma resposta pragmática às pressões que as avaliações externas exercem sobre as instituições. Isto evidencia que o objetivo principal das bases curriculares das instituições escolares não é garantir o aprendizado do aluno, mas sim apresentar os conteúdos que foram selecionados a partir de uma matriz avaliativa (p. 27).

A avaliação externa tem se configurado como instrumento impulsionador do redimensionamento dos parâmetros de qualidade da educação brasileira. Por isso, Coutinho (2012) menciona o processo de reformulação do currículo escolar na perspectiva da cultura da

avaliação, cuja ênfase é o produto, o resultado e não os processos que culminaram nesse índice.

Tem-se percebido uma tendência em associar o planejamento e o currículo aos resultados das avaliações, fato que tem impulsionado o processo de uniformização e hegemonização das práticas curriculares, levando a redução da autonomia dos professores e gestores. Compreende-se que a escola está envolvida nesse emaranhado de números e pressões, porém, é necessário que os gestores e professores estejam atentos para o compromisso social da instituição.

A competição que se instala com o processo de busca dos bons resultados torna-se evidente quando se encontra nas escolas brasileiras a redução do currículo das disciplinas de História, Geografia e Ciências em detrimento das disciplinas de Português e Matemática com o objetivo de alcançar os resultados esperados nas avaliações externas como demonstra resultados dos estudos realizados por Vieira et al (2011a). Porém, ―não se deve, pois, pensar a escola como um mero reprodutor passivo nas mãos e a serviço do Estado, do capital ou de qualquer outro poder externo‖ (ENGUITA, 1989, p. 218). É papel da escola e dos profissionais que a compõem, percebendo as necessidades de aprendizagem, investir em estratégias que contemplem as demais disciplinas. É preciso refletir sobre como essas avaliações tem interferido nas práticas pedagógicas, nas relações interescolares e no currículo e identidade das instituições.

É importante ressaltar a contribuição significativa desse periódico para a discussão do processo de criação e implantação da política de avaliação em larga escala no Brasil. Por seu caráter específico, regularidade de publicações e quantitativo de trabalhos, presta contribuição essencial para a elaboração de novos trabalhos sobre o tema. Embora o resultado de nossa busca tenha nos levado ao encontro de apenas três trabalhos relacionados à nossa questão central, é importante mencionar que outros trabalhos encontrados na plataforma, colaboraram para a construção da base desse estudo.