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Uma Avaliação da Política Ambiental Transversal do Amapá: Da Gestão Capiberibe aos dias de Hoje, e em

COMITÊ ESTRATÉGICO

4.8. Uma Avaliação da Política Ambiental Transversal do Amapá: Da Gestão Capiberibe aos dias de Hoje, e em

Comparação com o Acre

A experiência do Amapá é bem semelhante à do Acre nos seus aspectos filosóficos e em algumas diretrizes. Ambas são experiências em que o Estado procura tomar as rédeas do desenvolvimento econômico, e o faz segundo critérios sócio-ambientais, ou do “desenvolvimento sustentável”. A exemplo do Acre, foi a primeira vez que se formulou, no Amapá, uma política ambiental, a qual apresentou um forte caráter transversal. No entanto, houve substanciais diferenças entre as experiências dos dois estados, como será analisado.

O PDSA é avaliado positivamente na literatura (CABRAL, 1998; RUELLAN, 2002) e por todos os entrevistados, tendo vencido prêmios em quesitos variados de políticas públicas (CHELALA, 2003). No entanto, há considerações em relação ao seu baixo índice de sucessos na prática (déficits de implementação), e há diferentes justificativas para isso.

A Tese de Claudia Chelala (2003) se dedica à análise do PDSA, e ela justifica os déficits de implementação com sete fatores, dos quais destacam-se três (com outra redação): 1) Oposição da velha classe dominante, por exemplo através de ações judiciais, golpes e negligências de parlamentares e tentativa de impeachment do ex-governador; 2) Baixa adesão da população, pela sua fraca aderência aos ideais sócio-ambientais. Diferentemente do Acre, considerou-se que, no Amapá, “a questão ambiental não era uma demanda popular” (p. 117). O ideário desenvolvimentista é mais forte na população, segundo o apelo do desemprego; 3) Baixa capacitação dos servidores públicos estaduais na temática sócio-ambiental (apesar do substancial esforço feito pelo CEFORH). Esses três fatores também explicam a dificuldade da continuidade administrativa do Programa nos dias de hoje.

De qualquer forma, como no Acre, enfrentam-se numerosos problemas, como ausência de desenvolvimento econômico básico, baixa autonomia econômica, fraco desempenho da educação e da saúde e imensos déficits de moradia, saneamento básico e infra-estrutura. Estes problemas, associados às más condutas de governantes anteriores que em muito endividaram os Estados, dificultam qualquer programa pró-ativo. No Amapá e no Acre, primeiro foi importante “colocar ordem na casa”, além de buscar algumas fontes rápidas de desenvolvimento econômico para desafogar o Estado da dependência pública. O PDSA do Amapá e os projetos do “Governo da Floresta” do Acre só conseguiram resultados concretos em termos de sustentabilidade ambiental em virtude de se manter por duas gestões de governo – senão, dado o cenário desfavorável descrito acima, seria praticamente inviável.

No Amapá, a unanimidade dos entrevistados atribui os déficits de implementação do PDSA à sua baixa sustentabilidade política interna e externa, na pessoa do Governador Capiberibe. Interna, porque ele não conseguiu efetuar satisfatoriamente a transversalização da política ambiental no setor produtivo – este ainda seguiu, em boa parte, “desgovernado, atirando pra todo lado”. Houve também muitos conflitos inter-institucionais não resolvidos. Externa, porque ele não conseguiu negociar satisfatoriamente com os arraigados setores de elite, representantes de grandes conglomerados econômicos. Além disso, políticas ambientais no Amapá tendem a ser mais frágeis do que no Acre por uma relativa ausência, historicamente, de movimentos sócio-ambientais significativos. A questão ambiental não está internalizada na população em geral, ao contrário do que já ocorre, de certa forma, Acre. O próprio ex-Governador admitia ser esta a maior dificuldade do PDSA, e dizia pretender “que a sociedade tome as rédeas do PDSA garantindo sua continuidade” (SILVEIRA, 2000, p. 17). Embora esta consciência tenha aumentado durante o processo, talvez isso não tenha sido o suficiente.

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Além disso, membros do Governo afirmam que faltou uma metodologia de implementação do PDSA. Havia apenas reuniões conjuntas, o que não é suficiente, e prevaleceu a fragmentação entre os órgãos.

Quanto ao Governo atual, os entrevistados são unânimes em dizer que há uma política “explícita” de desmonte do PDSA do Governo anterior, pelo fato de que o governador Waldez é adversário de Capiberibe. Diz-se que os servidores são “proibidos” de dizer o termo “desenvolvimento sustentável”. Trata-se do conhecido entrave da descontinuidade administrativa das políticas públicas, fruto da alta influência política (political) em nosso país, que transcendem o nível racional para incluir questões pessoais, vaidades e disputas às vezes desleais pelo poder.

Neste cenário, a política ambiental e sua transversalidade vêm sendo enfraquecidas. Os orçamentos para meio ambiente e C&T diminuíram sensivelmente, com respectivo enfraquecimento dos seus órgãos gestores. O Governo vem substituindo os programas ambientais vigentes por uma nova “Agenda Ambiental do Amapá” construída em outros fóruns, como se “re- inventasse a roda”, segundo um entrevistado da SEMA.

Por outro lado, existem iniciativas de transversalidade observadas pela autora. Uma é a própria Reforma Administrativa, e outra é o Projeto Corredor da Biodiversidade. Esse fato pode ser um sintoma muito interessante de que governos em geral têm procurado pensar sistemicamente, talvez pelo reconhecimento de que este novo paradigma seja necessário para lidar com os desafios atuais.

Além disso, permanece certa cultura de sustentabilidade ambiental herdada da gestão Capiberibe, uma espécie de “atmosfera” que se percebe enraizada em muitos servidores – hoje mais comprometidos com a questão sócio-ambiental. Na pesquisa de campo, notou-se o uso freqüente do termo “política transversal” com relação à educação ambiental pelos diversos órgãos. Portanto, ao que parece, a “guinada” que foi dada no “leme” das políticas públicas amapaenses foi sólida, e a sustentabilidade ambiental permanece com

alguma força nas agendas políticas. Note-se que a pesquisa se deu no começo da gestão da nova equipe de Governo, e que muitos servidores avistam o desmonte da área ambiental pública no curto prazo.

O Estado do Amapá tem três vantagens em comparação com o Acre para a viabilização de políticas ambientais transversais: