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Municipalização Critérios para beneficiar municípios com recursos:

CONCEITOS E APLICAÇÃO NA AMAZÔNIA 1.1 A Questão Ambiental e o Conceito de Sustentabilidade

Lei 1.359 de 29/12/2000 – Incentivos de infra-estrutura para a

6) Municipalização Critérios para beneficiar municípios com recursos:

Priorizar mão-de-obra e matéria-prima local

Gastar um máximo de 60% do orçamento com folha de pagamento Adotar critérios ambientais na economia

Implementar conselhos de governo deliberativos

O PDSA objetivou, antes de mais nada, reduzir a dependência externa da Amapá e valorizar sua auto-sustentabilidade (self-reliance):

“Antes do PDSA as políticas públicas consistiam em copiar os modismos dos grandes centros urbanos do país. Os projetos valorizavam muito mais o concreto das edificações do que o verde da arborização. As potencialidades locais não eram consideradas, a riqueza cultural existente não era respeitada e não havia preocupação em proteger o meio ambiente. Faltava condução às políticas públicas

amapaenses” [grifos da autora] (SEMA, 2001, p. 9).

85 A este respeito, o Governo promulgou a Lei Estadual sobre Biodiversidade e acesso aos recursos genéticos, em 1997, anunciando a intenção de fazer contratos empresariais de bio-prospecção e de fazer o Mapeamento Etno-botânico dos Conhecimentos Associados à Biodiversidade (AMAPÁ, 1999).

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Nas palavras do Governador Capiberibe:

“Mudar o rumo do desenvolvimento é, antes de tudo, uma

decisão política. (...) A decisão de adotar o desenvolvimento

sustentável como política de governo para o Amapá representou um marco na história recente da Amazônia. (...) Demonstrou que a

sustentabilidade é um processo cumulativo, construído em projetos inovadores em todas as áreas que, aos poucos, modificam

as estruturas tradicionais da economia e da sociedade” [grifos da autora] (AMAPÁ, 1999, p. 10).

Pelas duas citações acima, encontra-se grande coerência entre o PDSA e a concepção de política ambiental transversal desta Tese; é grande a coincidência desses textos com os trabalhos da literatura analisados no item 2.4.

Além dessas diretrizes propositivas, no PDSA procurou-se desestimular os projetos predadores ao meio ambiente, com iniciativas de bloqueio a entrada de empresas externas (dos setores de papel e celulose, da soja e madeireiro - empresas asiáticas) (CHELALA, 2003, p. 105). Esses bloqueios são exemplos interessantes de como o Estado pode e deve interferir na atividade econômica se esta não for adequada social e ambientalmente.

4.2. Arranjo Institucional Governamental

Na gestão Capiberibe foram criados diversos órgãos relacionados diretamente com a transversalidade da política ambiental, os quais são descritos a seguir.

a) SEMA – Secretaria do Meio Ambiente

Antes, a gestão ambiental era tratada numa coordenadoria. A partir do PDSA, a gestão ambiental deixou de ser tratada numa coordenadoria para ser tratada pela Secretaria do Meio Ambiente. A exemplo do que ocorreu no Acre, esta Secretaria passou a sediar o PGAI, importante fonte de

estruturação da gestão ambiental estadual. Na segunda gestão, a partir de 1999, o Secretário Antônio Filocreão implantou na SEMA duas prioridades: o planejamento e o monitoramento ambiental. Para ele, o monitoramento era o “corpo central”, ou “os olhos do sistema” (SEMA, 2001, p. 27). Tais iniciativas foram elogiadas pelos servidores entrevistados e revelam visões sistêmicas do meio ambiente. O monitoramento ambiental é uma área ainda marginalizada, pois o setor público costuma funcionar mais com atitudes pontuais do que processuais (ao longo do tempo), e mais remediatistas do que preventivas.

Quanto às funções da SEMA, uma diferença positiva com relação ao Acre é possuir uma Diretoria de Unidades de Conservação, que gerencia as UCs estaduais e faz a interface com as demais UCs federais e municipais. O Pacto Federativo do licenciamento começou apenas em 2004, em que a SEMA passou a licenciar o desmate e queima em áreas de até 3 hectares. Nesse ponto também ocorre um diferencial positivo. Ao invés de começar a se instrumentalizar na área de geoprocessamento durante o licenciamento de desmate e queima, como acontece no Acre, a SEMA do Amapá construiu este setor antes de adquirir qualquer atribuição de licenciamento.

Entrevistados internos e externos ao órgão se preocupam com o futuro da SEMA, pois ela vem sendo enfraquecida no Governo atual por vários motivos, a começar pelo corte orçamentário.

b) CIE – Centro de Incubação de Empresas e Museu Sacaca

do IEPA – Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá

O IEPA é um instituto estadual de pesquisas, existente desde 1981. Contém estrutura física formada por laboratórios, prédios equipados, biblioteca e a Farmácia Viva. Possui seis centros de pesquisa em variados temas científicos (vide o Anexo 7). Desde 1995 o IEPA foi fortalecido, ganhando ampliações físicas, orçamentárias e a contratação de novos pesquisadores.

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Em 1997 foi criado o Centro de Incubação de Empresas, visando auxiliar micro-empresas e cooperativas, técnica e administrativamente, a lançar produtos de base florestal, agro-florestal e pesqueira no mercado. Até hoje foram incubadas 10 cooperativas e 8 micro-empresas. Os produtos apoiados são diversos, como sorvetes e doces, fitoterápicos e artesanatos.

O Museu Sacaca do Desenvolvimento Sustentável, criado também em 1997, é um parque de Macapá com instalações para atividades e exposições na área ambiental, como casas de madeira típicas da floresta, trapiches86

suspensos para circulação, auditórios e praça de alimentação típica.

Ao nosso ver, a ciência e a tecnologia foram os alicerces do PDSA do Amapá, e são até hoje o carro-chefe das políticas ambientais transversais e do desenvolvimento econômico do Estado (CABRAL, 1998; CHELALA, 2003; MELLO, 2002). O Amapá é bem superior aos outros Estados amazônicos nos investimentos governamentais em C&T, como mostra a Tabela a seguir:

TABELA 4.1.

Investimentos Governamentais Estaduais com C&T em 1999

Estado da Amazônia Gasto Estadual

com C&T (em R$ mil)

AMAPÁ 2.734 PARÁ 1.787 RORÂIMA 1.218

AMAZONAS 681

ACRE 223

FONTE: Dados do Ministério de Ciência e Tecnologia in CHELALA, 2003, p. 110.

Os dados acima são significativos, pois o Amapá é um Estado muito menor do que o Pará e o Amazonas, e investe muito mais em C&T em números absolutos. O Amapá investe 12,26 vezes mais em C&T do que o Acre. De fato, é baixa a capacidade instalada de C&T no Acre, que torna-se evidente quando comparada ao Amapá. Esse fato compromete diretamente a agregação

de valor à produção, ou seja, o próprio desenvolvimento ambientalmente sustentável do Acre.

O investimento amapaense em C&T e P&D é liderado pelo IEPA, que hoje constitui-se numa instituição de pesquisa com destaque no país, principalmente na área de produtos naturais. Ao mesmo tempo em que coopera com outros países nos seus projetos, o IEPA procura trabalhar junto às demandas sociais, particularmente através do Centro de Incubação de Empresas. O IEPA adota prioridades sócio-ambientais (em nossa palavras, a linha das eco-técnicas) ao desenvolver a cadeia produtiva e os derivados de produtos florestais, o controle da poluição ambiental e o ordenamento territorial do Amapá.

Um destaque do IEPA é o Programa Farmácia Viva de produção e comércio de fitoterápicos. Foram desenvolvidos pelo menos 65 compostos aprovados pela ANVISA, na forma de pílulas, pomadas e outros, à base de plantas medicinais de uso tradicional local. Este Programa inclui assessoria técnica para organizações sociais no cultivo de plantas medicinais, bem como a produção e difusão de material didático a respeito. Pretende-se implantar hortas medicinais nas escolas e inserir os compostos fitoterápicos no sistema de saúde pública do Estado (AMAPÁ, 1999).

c) CEFORH – Centro de Formação de Recursos Humanos

O CEFORH é uma autarquia criada em 1996 para ser o centro de capacitação permanente de servidores do Estado, principalmente na temática ambiental.87 Atua também na capacitação de organizações da sociedade civil.

Até 2003, 51 mil pessoas foram capacitadas pelo CEFORH, das quais 9,3 mil eram da sociedade organizada (CHELALA, 2003). Boa parte das capacitações ocorreu em cooperação com o IEPA (CABRAL, 1998), outra parte com a Universidade Federal do Amapá.

87 O CEFORH executou o Programa Estadual de Capacitação Ambiental do Amapá (atual PECA, ex-PCA, o mesmo que foi anunciado no Acre). Este Programa é componente do PGAI, e a partir de 2005 será ampliado, segundo uma diretriz nacional do PPG-7.

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Nos dias de hoje o CEFORH permanece fortalecido, e o Governo pretende transforma-lo na Escola de Administração Pública do Amapá, à semelhança da ENAP federal. Escolas desse tipo, também chamadas de “Escolas de Governo”, são vitais para o aprimoramento do processo de elaboração de políticas públicas, e há enorme demanda por elas no Brasil.

d) ADAP – Agência de Desenvolvimento do Amapá

A ADAP foi uma agência criada para ser o principal órgão formulador das políticas do PDSA, mas, em virtude de dificuldades políticas, o ex-governador não conseguiu implementa-la desta forma. Hoje, ela gerencia os projetos do Estado que passam por alguma cooperação internacional.

4.2.1. Reforma Administrativa de 2004 (Governo Atual): Novo Arranjo Institucional

Em fevereiro de 2004, foi aprovada uma Reforma Administrativa de vulto no arranjo institucional do Governo do Amapá. Trata-se de algo semelhante ao que ocorreu no Acre.

Com a Reforma, as secretarias e órgãos de Governo foram agrupadas em seis áreas temáticas, e para cada uma delas foi criada uma Secretaria Especial de Desenvolvimento Setorial, que coordena a área e formula as políticas públicas estaduais. As Secretarias Especiais são as seguintes:

1) Sec. Esp. da Governadoria e da Coordenação Política e Institucional