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Em Busca da Sustentabilidade Ambiental

CONCEITOS E APLICAÇÃO NA AMAZÔNIA 1.1 A Questão Ambiental e o Conceito de Sustentabilidade

2) Um aspecto negativo é o poder que alguns países podem adquirir sobre

1.1.6. Em Busca da Sustentabilidade Ambiental

Se há discordâncias conceituais no ambientalismo, fruto de diferentes visões políticas, sociais e econômicas, há também certa busca de consenso em torno do conceito da sustentabilidade ambiental. É certo que o enfoque é o ser humano e suas atividades em sociedade, mas as referências teóricas encontram-se na Ecologia, no estudo da sustentabilidade dos ecossistemas. A seguir, este esforço será analisado.

Na busca de estados ambientalmente mais sustentáveis, que é, talvez, a face mais desafiadora e importante da questão ambiental, não há como definir “pontos de chegada”, do tipo, “pronto; de agora em diante somos ambientalmente sustentáveis,

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e não temos mais com o que nos preocupar”. A sustentabilidade é um conceito relativo, que envolve a construção de cenários cada vez mais adequados às prioridades sócio- ambientais (O’RIORDAN, 1995). A construção depende dos meios disponíveis, desde tecnológicos até educacionais e de mudança de valores éticos nas sociedades.

Desse modo, é central o planejamento, onde se pode exercer, passo a passo, a construção e busca dos cenários desejados. E é no âmbito das políticas públicas que este planejamento se materializa. Assim, pode-se abordar qualquer interface da questão ambiental (C&T, Economia, Ética) no interior das políticas públicas. “Os sintomas dos problemas ambientais podem ser medidos biologicamente, mas a doença em si está nas nossas organizações sócio-econômicas, e as soluções são, em última instância, políticas” (tradução própria de PAEHLKE, 1989, p. 36).

Assim como não há sustentabilidade sócio-ambiental definitiva, também não há uma definição rígida para este conceito. Ele é construído na prática da política ambiental. Examinemos, porém, algumas definições da literatura:

* Da ONU / PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente):

“Se uma atividade é sustentável, para todos os fins práticos ela pode continuar indefinidamente. Contudo, não pode haver garantia de sustentabilidade porque muitos fatores são desconhecidos ou imprevisíveis” (PNUMA, 1991).

Sustentabilidade ecológica é “limitar a capacidade das atividades antrópicas a um nível compatível com a capacidade de suporte da biosfera” (IUCN et al, 1999, p. 10).

* De Robert Constanza (1998), autor da Economia Ecológica:

“Sustentabilidade é o relacionamento entre os sistemas ecológicos e seus sub-sistemas econômicos, de forma dinâmica, em que: a) a vida humana pode perpetuar-se indefinidamente; b) os indivíduos podem prosperar; c) as culturas humanas podem desenvolver-se; d) as atividades humanas obedecem a limites para não destruir a diversidade, complexidade e funções ecológicas de sustento à vida” (CONSTANZA, apud CABRAL, 1998, p. 14).

* Do filósofo Leonardo Boff (1999b):

“Sustentável é a sociedade ou o planeta que produz o suficiente para si e para os seres dos ecossistemas onde ela se situa; que toma da natureza somente o que ela pode repor; que mostra um sentido de solidariedade geracional, ao preservar para as

sociedades futuras os recursos naturais de que elas precisarão. Na prática a sociedade deve mostrar-se capaz de assumir novos hábitos e de projetar um tipo de desenvolvimento que cultive o cuidado com os equilíbrios ecológicos e funcione dentro dos limites impostos pela natureza” (p. 137).

* Do Dicionário Aurélio:

Sustentar é “conservar, manter” / “impedir a ruína ou queda de” / “proteger” / “defender”.

O elemento comum nas definições de sustentabilidade é a permanência de algo no tempo – no caso, das dinâmicas ecológicas que sustentam a vida. Também aparecem as noções de proteção e defesa da natureza, comuns no ambientalismo. O conceito central, porém, talvez seja o dos limites da natureza em suportar intervenções humanas, pois a Ecologia demonstra a fragilidade das posições de equilíbrio ecológico que sustentam a vida. Estes limites não são mensuráveis com exatidão, embora a ciência esteja sempre trabalhando para enriquecer as estimativas. Uma vez rompidos os limites, as conseqüências poderão ser irreversíveis e gerar condições avessas à vida. Outros conceitos importantes relacionados com a sustentabilidade são a capacidade de suporte, a resiliência e a diversidade.

A capacidade de suporte de uma região ou ecossistema refere-se ao limite de população que este possa sustentar, dadas os meios de vida dessa população (como consumo de matérias-primas e emissão de poluentes), para que a região e seus elementos possam subsistir no tempo, sem que haja danos graves ou irreversíveis à dinâmica natural (ARROW et al, 1995; ODUM, 1997). Embora este limite seja de complexa medida, insiste-se neste esforço. Há quem diga que a capacidade de suporte é o conceito mais importante da sustentabilidade ambiental, e que, em muitos locais urbanizados e industrializados, a capacidade de suporte já foi rompida, estando suas populações vivendo em situações de risco, e os ecossistemas totalmente degradados e praticamente irrecuperáveis.

A resiliência refere-se à habilidade do sistema (ou ecossistema) em absorver perturbações ou choques sem que sofra alterações significativas. As perturbações podem

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ser impactos ambientais antropogênicos. A resiliência representa a estabilidade (ainda que dinâmica) ou o “efeito-tampão” do ecossistema (BERKES & FOLKE, 1998). Arrow et al (1995) explicam que, quando a resiliência é rompida, o ecossistema “salta” de uma posição de equilíbrio à outra. Este salto pode ser abrupto, gerando condições muito diferentes e possivelmente desfavoráveis à vida humana, como queda de produtividade biológica, desertificação e diminuição de água doce. Algumas mudanças podem ser irreversíveis. As políticas ambientais e econômicas devem considerar a resiliência dos respectivos ecossistemas, pois a não-familiaridade de novos estados ecológicos gera incertezas com as quais a humanidade não pode lidar. Dada a dificuldade de se medir a resiliência, os autores recomendam a via da precaução.

A Teoria de Sistemas e a Ecologia demonstram que, quanto maior a diversidade de elementos de um sistema, maior sua resiliência. Isso porque, com a diversidade, estabelece-se uma grande densidade de relações entre os elementos, permitindo boa elasticidade ou adaptabilidade de todo o sistema às condições adversas. É como se a teia ou rede dos elementos inter-relacionados, fosse um amortecedor do sistema, absorvendo e diluindo as perturbações. Daí decorre um motivo básico para preservar a biodiversidade: existe uma relação direta entre ela e a sustentabilidade ecológica do planeta (BARBIER et al, 1994). Isso explica, em parte, porque práticas humanas extremamente homogeneizantes, como a monocultura agrícola e o desmatamento raso, caracterizam-se como práticas anti-ecológicas. A resiliência é um conceito-chave e cada vez mais estudado na busca da sustentabilidade (BERKES & FOLKE, 1998; NOBRE & AMAZONAS, 2002).

A sustentabilidade sócio-ambiental traz certos aspectos normativos relativamente novos em nossas sociedades: