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1. ÁGUA: UM BEM IMPRESCINDÍVEL À VIDA E UM RECURSO

1.7. Os avanços obtidos pela gestão dos recursos hídricos no Brasil a exemplo

Para efeito de compreensão, e observando o princípio 1 de Dublin, que diz que a gestão dos recursos hídricos, para ser efetiva, deve ser integrada e considerar os aspectos físicos e sócio-econômicos, partiremos da premissa de que para que esse gerenciamento aconteça, a adoção das bacias hidrográficas como unidade gestora do meio hídrico no Brasil é sugerida e fundamental (WMO, 1992). Paralelamente, a essa linha de pensamento, há a análise de que os instrumentos idealizados pela Lei 9.433/97 são essenciais para assegurar o conhecimento sobre as águas brasileiras e a sua efetiva gestão.

Nesse contexto, após 12 anos da promulgação da referida lei, registraram-se avanços observados:

• Na instituição do Plano Nacional de Recursos Hídricos e dos planos estaduais de gerenciamento hídricos;

• Na criação de Comitês de Bacia Hidrográfica por todo o país, não fugindo à regra o Triângulo Mineiro busca, atualmente, a criação Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Araguari;

• Na outorga dos direitos de uso de recursos hídricos e seus órgãos fiscalizadores, a exemplo do Instituto Mineiro de Gestão da águas (IGAM)43;

• No avanço da cobrança pelo uso da água, no caso de Uberlândia a cargo do DMAE;

• No Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, significativo quanto à gestão das águas no Brasil.

Nessa perspectiva panorâmica e considerando a juventude da nossa legislação de águas, o déficit de gestão pré-existente a ela, o passivo ambiental herdado das gerações passadas e a complexa engenharia política necessária para a construção de um Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, num país federativo e de dimensões

43 “O IGAM é responsável pela concessão de direito de uso dos recursos hídricos estaduais, pelo planejamento e

administração de todas as ações voltadas para a preservação da quantidade e da qualidade de águas em Minas Gerais. Coordena, orienta e incentiva a criação dos comitês de bacias hidrográficas, entidades que, de forma descentralizada, integrada e participativa, gerenciam o desenvolvimento sustentável da região onde atuam” (IGAM, 2008, s/p.).

continentais, é lícito, sim, comemorar, como sugere Machado (2008), os avanços alcançados até este momento na PNRH.

Salienta-se que a adoção da bacia hidrográfica como unidade gestora das águas brasileiras, em 1977, embora importante como marco na gestão hídrica brasileira apresenta limitações, dificuldades44 e inconvenientes45 que suscitam divergências, segundo conclusões de Alcântara (2008). Seguindo os pensamentos do referido autor, a adoção da bacia hidrográfica como unidade de gestão pode ser considerada um avanço na gestão da água no Brasil, pois os segmentos agrícolas e industriais, maiores usuários de água, respectivamente, podem ser analisados em um contexto social, político, econômico e físico mais amplo, posto que a relação com a água mantém-se e a tomada de decisão, devido à implantação da PNRH em 1997, torna-se mais ampla em relação à participação da sociedade, possibilitando maior significado nas cobranças por posturas ambientais das indústrias, bem como de qualquer outro usuário da água.

Ressalta-se que os avanços poderiam ser maiores se não esbarrassem na burocracia do Estado brasileiro, que vem dificultando a implementação de novas tecnologias, elevando os custos na implantação de um sistema gestor e inibindo o aperfeiçoamento dos Comitês de Bacia Hidrográfica, no que tange o seu papel quanto ao uso agrícola e industrial, que, como dito anteriormente, são grandes usuários da água e demandantes de grande quantidade de investimentos para manter a sua produção. Ressaltam-se, também, as dificuldades desses segmentos em se adequarem às normas legais do meio ambiente.

Deste modo, é correto afirmar que ocorreram avanços na gestão hídrica brasileira, mas, também, é fundamental salientar que a matriz industrial brasileira apóia-se, amplamente, no uso intensivo dos recursos hídricos, e esta condição está na base do nosso método de desenvolvimento, tornando-se imprescindível, pois, que a gestão integrada desses recursos esteja inserida entre as prioridades nacionais. Tal afirmação é justificada por Machado (2008, p.2), que nos ensina que temos sido governados pelas urgências,

[...] a necessidade de uma gestão hídrica apoiada nos avanços da produção, acaba ficando relativamente secundarizada na agenda, pelo menos em algumas esferas governamentais, e só não está na berlinda em razão do espírito público, da garra e da

44 De acordo com um dos autores do artigo, Rubem La Laina Porto, professor do Departamento de Engenharia

Hidráulica e Sanitária da EP, uma das principais dificuldades é que os limites administrativos entre municípios, estados e países não coincidem obrigatoriamente com os limites das bacias hidrográficas. Isso pode, segundo ele, criar dificuldades técnicas e legais ao planejamento e à gestão do aproveitamento dos recursos hídricos de uma bacia (ALCÂNTARA, 2008).

45 Uma inconveniência e mesmo dificuldade de adoção do conceito de bacia ocorre no semi-árido brasileiro

porque o aproveitamento dos seus recursos hídricos ocorre de forma muito concentrada em torno dos açudes, que pode ser alterados com construções de açudes e transposições. (ALCÂNTARA, 2008).

militância de milhares de pessoas, entre técnicos, ambientalistas e gestores dessa área, seja na esfera pública seja na esfera privada, na esteira das preocupações ambientais planetárias dos dias de hoje.

Em Uberlândia, mesmo com agências reguladoras, com campanhas de preservação do meio ambiente, com políticas públicas amparadas por leis, as condições de desequílibrio, principalmente quanto aos recursos hidricos, são evidentes e fazem parte de uma realidade que não difere de grande maioria das cidades brasileiras, que também passa por aumento de sua densidade populacional, diminuição da capacidade e tolerância da natureza, originadas pela pressão que o homem impõe de forma incessante sobre o meio, causando uma diversidade de impactos ambientais.

No caso de Uberlândia, os avanços acontecem não diferentemente das outras cidades brasileiras, mas, deveriam ser revistos no sentido de integrar os órgãos gestores e regulamentadores da água como o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), a Prefeitura Municipal de Uberlândia (PMU) e outros segmentos organizados da sociedade, como é o caso da União das Empresas do Distrito Industrial de Uberlândia (UNEDI).