• Nenhum resultado encontrado

1. ÁGUA: UM BEM IMPRESCINDÍVEL À VIDA E UM RECURSO

1.8. A Geografia e a gestão ambiental dos recursos hídricos

A presente dissertação analisa a gestão dos recursos hídricos do Distrito Industrial de Uberlândia, MG, por meio do reúso da água implementado pela Souza Cruz S/A. Essa dissertação relaciona a análise geográfica dos recursos naturais, com os aparatos legais ambientais e a realidade sócio-espacial da área do DI. Os estudos ambientais dentro da ciência Geográfica como nos ensina Gonçalves (1995), devido à crescente conscientização acerca da questão ambiental vem possibilitando ressurgimento da velha utopia dos geógrafos de promover a tão propalada abordagem de síntese da relação homem/meio, que no caso do estudo agora dissertado, especificamente, traz a relação homem versus os recursos hídricos.

A Geografia em relação ao meio ambiente, durante muito tempo, foi tomada como uma espécie de prima bastarda de saberem mais nobres, conforme Gonçalves (1995, p. 309), nos relata: “[...] a geografia carece, como qualquer outro conhecimento fiel a esse padrão dicotômico, dos fundamentos teórico-metodológicos que lhe permitam tratar da questão ambiental com a profundidade por ela requerida”. Ou seja, os problemas ambientais não são

exclusivamente de ordem natural ou cultural-histórica, mas sim, um conjunto de ações oriundos da conseqüente ocupação e desenvolvimento do espaço geográfico.

No caso específico dos recursos hídricos e seu uso, a Geografia possibilita e expõe uma reflexão crítica como precondição a análises e soluções. Ademais elege novos paradigmas que, no mínimo sejam capazes de não tomar Homem e Natureza como pólos excludentes (GONÇALVES, 1995). Assim, ao estudarmos os recursos hídricos e suas derivações por meio de um olhar geográfico, devemos levar em consideração as adequações da escala de análise a ser adotada para cada particularidade de estudo, seja ocasionado por processos sócio-históricos (escala temporal), seja ocasionado por contextos especulativos e não conservacionistas do meio hídrico que compõem determinado lugar, território ou região.

O estudo geográfico trata, de maneira direta, as relações de determinada apropriação da natureza. Especificamente, abordando a temática industrial do estudo agora analisado e exposto, é importante salientar, que a concentração industrial obedece a uma lógica de diminuição de custos de produção (indústria atrai indústria). Na verdade, o olhar geográfico sobre o uso industrial sobre os meios e recursos naturais engendra problemas diversos como a poluição do ar e da água, gerando situações de graves riscos para o desenvolvimento e equilíbrio ambiental de uma sociedade. Ou seja, as classes mais baixas passam a residir justamente em lugares com maiores possibilidades a problemas ambientais (vertentes, áreas próximas a aterros, e mesmo áreas sem controle ou mesmo saneamento ambiental), e menos valorizados. Assim de acordo, com Gonçalves (1995, p. 322) “os efeitos da degradação ambiental não são distribuídos igualmente pelo conjunto da população”.

Ao se delinear o contexto sócio-ambiental-geográfico dos modelos de gerenciamento hídrico, a exemplo do brasileiro, podemos considerar o segmento industrial, um dos principais causadores dos problemas ambientais que afligem não somente a sociedade brasileira, mas também a mundial, seguidos dos urbanos, agrários e demográficos. Assim o estudo do uso da água em Distritos Industriais, atualmente trata-se de um objeto de análise geográfico, pois as mudanças ambientais causadas por este setor de atividade estão mesmo que de maneira indireta abrangidos das transformações hidrológicas, que vão se mesclando em processos e interações com as diversas atividades humanas.

Todavia, como nos ensina Silva (1995), o estudo, a pesquisa e análise ambiental são entrecruzadas por diversos campos científicos e mesmo específicas (Biologia, Geologia, etc.) e não somente pela ciência Geográfica. É preciso lembrar, que o conhecimento e o estudo do espaço geográfico vão muito mais além de uma valorização excessiva de conhecimento estritamente técnico. O estudo e a investigação ambiental não podem ser apenas descritivos,

mas sim precedido de embasamento teórico, domínio de uma metodologia de pesquisa que permita apontar e trabalhar diferentes concepções para que não apenas levante questões, mas apresente soluções.

A Geografia, por definição é a ciência integradora das análises espaciais aos seus elementos constituídores por meio de pesquisas especificas, permitindo quase sempre varreduras inequívocas e completas de dados dos objetos de estudos, garantindo a validade geográfica da interpretação ambiental do espaço geográfico.

Ainda de acordo com os ensinamentos de Silva (1995, p.369), a inserção das pesquisas ambientais brasileiras em nosso quadro geográfico é...

[...] a tarefa premente e inarredável... No presente mundo em transformação acelerada é suicídio cultural não estudar sua realidade ambiental e não tentar adquirir a capacidade de previsão quanto aos possíveis eventos futuros relativos ao ambiente, que é, afinal de contas, nossa maior herança para gerações futuras.

A crescente preocupação com uso e aproveitamento dos recursos hídricos de forma equilibrada por alguns setores de atividade produtivo-econômica, como é o caso da Souza Cruz em Uberlândia, e de outras como foram apresentadas em trabalhos acadêmicos como o estudo da KODAK em São Paulo, de autoria de Carlos Mierwza e Ivanildo Hespanhol, e de algumas administrações públicas e suas concessionárias de água a exemplo do DMAE- Uberlândia nos últimos dez anos refletiu-se na consolidação de processos mais descentralizados e participativos de gestão das águas. No que concerne à questão da água utilizada no DI de Uberlândia, apesar de apontar na direção do mercado de diretos do uso como situação ideal de eficiência alocativa do recurso ambiental, chama atenção para o fato de que cenários de desigualdades entre o “mercado da água” deixam de lado a questão fundamental no uso da água.

Sob um olhar geográfico, na realidade, o mercado institucional no fornecimento da água esquece-se de salientar o “real valor” da água. Se faz necessário a adoção dos instrumentos econômicos incorporando valores intrínsecos ao bem água, ressaltando muito mais do que seus valores de uso direto e indireto. É neste sentido que a seguir, apresenta-se uma análise do contexto do fornecimento de água ao referido DI, ao descarte final da água após o seu uso, bem como a gestão ambiental sob uma perspectiva geográfica.