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1. ÁGUA: UM BEM IMPRESCINDÍVEL À VIDA E UM RECURSO

1.6. Conceitos do reúso

1.6.1. O reúso da água nas indústrias brasileiras

[...] atualmente, no Brasil, devido ao fator custo x benefício, limitante para a implantação do reúso e para a adequação dos efluentes aos requisitos de qualidades exigidos, são três subsídios que comandam as pesquisas para redução do consumo de água bruta no setor industrial: a descarga de efluentes aquosos pela indústria, o custo crescente dos tratamentos e a crescente indisponibilidade de água.

A estes, acrescenta-se, a obrigação em cumprir as leis que regulamentam o uso dos recursos naturais, que estão adequando-se à nova realidade mundial, inclusive, com maior rigor e com fiscalizações mais efetivas. Não menos importante, são os motivos de ordem econômica e as políticas de gestão, haja vista que todo o processo de reúso deve ser institucional, regulamentado e amparado pela legislação vigente, para que, dessa maneira, criem-se estruturas organizadas de gestão. Tais estruturas, além de disseminar informações sobre o processo em si, possibilitam o surgimento de novas condições técnicas, no intuito de minimizar os impactos ambientais aos recursos hídricos.

De acordo com ECOPOLO (2003), os custos elevados da água industrial no Brasil, particularmente em regiões metropolitanas e em centros urbanos de representação regional, como é o caso de Uberlândia, têm estimulado o setor industrial a implantar sistemas de reúso de água que viabilizem a maximização da eficiência no uso dos recursos. Esse estímulo na criação de novos sistemas de gestão da água tende-se a ampliar-se ante as novas legislações ambientais associadas aos instrumentos de outorga, que a exemplo de Minas Gerais fica a cargo do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), e às cobranças pela utilização dos recursos hídricos, tanto na captação da água, como no despejo de efluentes, realizado, em Uberlândia, pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE).

Como contribuição direta do procedimento de reúso pelas indústrias tem-se a redução no uso da água recebida pelas agências municipais de tratamento e distribuição, bem como a diminuição no lançamento de efluentes na rede pública de esgoto, e, conseqüentemente, nos corpos d’água. Segundo (MIERZWA, 1996, p.123), diferente do que ocorre com os efluentes tratados em estações convencionais de tratamento de esgotos domésticos, nas indústrias,

[...] devido às técnicas de tratamento utilizadas, pode-se obter um efluente tratado com características físicas químicas e biológicas equivalentes ou, em certos casos, melhores que aquelas da água bruta utilizada. Nesta condição, a opção pelo reúso torna-se mais atrativa devido à possibilidade de redução da carga poluidora dos efluentes a serem gerados nos diversos sistemas produtivos e no consumo de insumos para adequação das características da água aos requisitos de qualidade estabelecidos e para a operação dos sistemas envolvidos.

O reúso não é uma simples alternativa na gestão da água na indústria. É uma opção perspicaz, posto que a qualidade da água esteja, diretamente, atrelada a maneira como esta é utilizada (usos domésticos, industriais, agropecuários, recreação, transporte, outros). Além de

reduzir a descarga de poluentes em corpos receptores, conservando os recursos hídricos para o abastecimento público e outros usos mais exigentes quanto à qualidade, ainda contribui para a proteção do meio ambiente e da saúde pública (HESPANHOL, 1993).

Assim, fatores como o aumento da produção agrícola, o crescimento demográfico e a ampliação da produção industrial acarretaram sérios problemas de degradação na qualidade da água, bem como suscitaram dúvidas quanto ao futuro desse recurso, e, não obstante, provocaram o surgimento de conflitos de uso e de déficits crônicos de abastecimento de água em várias regiões do mundo, bem como no Brasil. Como resultado, nas últimas duas décadas, o valor econômico da água adquiriu poder competitivo de mercado, surgindo, inclusive, o termo, definido por Telles e Costa (2007, p.95), como “água capital ecológico”.

Ademais, a necessidade do reúso industrial dá-se pelo próprio conceito de sustentabilidade40 dos recursos ambientais. Salati et al. (1999) nos lembram que, nos dias atuais, o uso de tecnologias para disponibilizar água, a partir de parâmetros de sustentabilidade, é fundamental, principalmente no uso agrícola e industrial. Tecnologias como autodepuração de rios, gestão do suprimento e demanda, técnicas de purificação de água em grande quantidades, reúso para finalidades específicas são ferramentas para as sociedades aplicarem de acordo com a necessidade.

Em função do aumento das poluições e das exigências pela qualidade ambiental, o setor industrial percebeu que seria muito mais vantajoso reutilizar efluentes, ao contrário, de lançá-los na rede pública, ou mesmo, nos cursos d’água sem tratamento. Segundo Telles e Costa (2007, p.93), além disso, “o reúso, a despeito de ser uma tecnologia sustentável, está também condicionado pela relação custo x benefício”.

No entanto, geograficamente, a análise deve ser mais ampla, uma vez que o meio ambiente não requer somente tecnologias sustentáveis para garantir equilíbrio na utilização dos seus recursos, mas, sim uma estreita relação entre a tecnologia e a vivência do espaço ocupado. Tal condição só será realidade por meio de uma conscientização ambiental, que ainda é bastante limitada, sobretudo, pelas práticas econômicas, políticas e culturais. Desse modo, entende-se que o reúso da água, como técnica e ferramenta na gestão hídrica, precisa conter, em seu processo, a conscientização mencionada.

40 Sustentabilidade ambiental: refere-se à manutenção da capacidade de sustentação dos ecossistemas, o que

implica a capacidade de absorção e recomposição dos ecossistemas em face das interferências antrópicas. Esse conceito foi criado em 1987, por representantes de 21 governos, líderes empresariais e representantes da sociedade, membros da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU. O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Em outras palavras, é o equilíbrio na convivência entre o homem e o meio ambiente. Isso significa cuidar dos aspectos ambientais, sociais e econômicos e buscar alternativas para sustentar a vida na Terra sem prejudicar a qualidade de vida no futuro.

1.6.2. O reúso conforme as possibilidades existentes no conjunto interno ou externo das