• Nenhum resultado encontrado

3. BANCO X: DOS ANOS 1990 AO INÍCIO DOS ANOS 2000

3.12 Balanço da década de 1990 e início dos anos 2000 no X

Buscamos retratar, ao longo desse capítulo, os principais fatos e acontecimentos que marcaram a década de 1990 e primeira metade da década de 2000 no Banco X, listados sinteticamente no quadro abaixo.

Quadro 13: Resumo dos fatos e acontecimentos relacionados ao Banco X: dos anos 1990 à metade dos anos 2000.

1990 Demissão de 2.500 empregados que cumpriam estágio probatório

1992 Prejuízo estimado de U$ 3,5 milhões

Anúncio de um Pacote de ajuste econômico e financeiro 1994 Plano de fechamento de 149 agências

Dispensa de estagiários e de funcionários terceirizados X é classificado como a instituição oficial em pior situação Fim da receita inflacionária

Redução das despesas administrativas em R$ 70 milhões 1995 Demissão de 7 mil estagiários

Proposta de reforma prevendo a extinção de 32 mil cargos de confiança, 25 mil prestadores de serviços e 17 mil estagiários Denúncias em relação ao custo burocrático do banco

O presidente do banco anuncia plano para remanejar

trabalhadores alocados nas superintendências e assina portaria cortando duzentos cargos comissionados

36 trabalhadores são depostos dos cargos comissionados em represália à greve (quadro posteriormente revertido)

Anúncio do primeiro PADV

Nova estrutura de cargos com 13.600 funções a menos

Anunciado Plano de Racionalização com o fechamento de 500 agências em três anos.

Balanço de 1995 apresenta lucro líquido de R$ 221,3 milhões Banco cobra dívidas da União

PROER: Compra de carteiras de crédito dos bancos: Econômico; Bamerindus; Banorte.

1997 Balanço de 1996 apresenta lucro de R$ 275 milhões Uso de lotéricas como canal alternativo de atendimento Anúncio do plano de modernização da rede de atendimento bancário

Plano de migração incentivada visando a transferir 3.000 funcionários das regiões Norte e Nordeste para São Paulo. 1998 Criação do cargo de Técnico Bancário e de um novo Plano de

Cargos e Salários

Terceirização da cobrança imobiliária Repasse de 25% dos lucros à União

Representantes dos trabalhadores denunciam a existência de 2 milhões de horas-extras pendentes

1999 Necessidade de adequação ao Acordo da Basileia

Reajuste salarial de 1% mais abono salarial de R$ 1.000,00 Crescimento da importância da área de varejo para o banco A possibilidade de privatização do banco passa a ser aventada na/pela mídia

2000 Criação do RH 008, o qual permitia a demissão sem justa causa de bancários do X

Classificação dos créditos e a necessidade de adequação às regras do Banco Central e as novas regras da Basileia, o que implicava em um aporte financeiro estimado em 14 bilhões devido à existência de um grande número de créditos de alto risco.

Relatório da Bozz Allen & Hamilton comparando os bancos públicos aos privados, realimentando a discussão acerca da ineficiência do modelo público

Abertura de concurso público, estimando a contratação de 2.000 Técnicos Bancários

Anúncio de novo PADV

2001 Política de ampliação da rede de atendimento bancária à população de baixa renda por meio de correspondentes bancários

Venda do controle acionário da empresa de seguros do X para um grupo francês

Anúncio da reestruturação patrimonial do banco

Ação civil proposta pelo Ministério do Trabalho, visando a suspender a contração de prestadores e serviços no banco, que compunha 42% da força de trabalho do banco

2002 Fim do congelamento salarial

Constatação de prejuízo de R$ 4,687 bilhões referente ao exercício de 2001

Crescimento da receita com prestação de serviços e do crédito comercial

2003 Intensificação do processo de bancarização Fortalecimento da política de microcrédito

Anúncio da contratação de 4.800 novos funcionários, sendo 3.000 para substituição de terceirizados, e a abertura de 500 novas agências.

Anúncio da intenção de substituir os 17 mil terceirizados que atuavam no banco em virtude de termo de ajuste de conduta

2004 Recuperação dos lucros

Denúncias contra altos funcionários do banco por gestão

temerária e fraudulenta, corrupção ativa e passiva e concussão. Divulgação de resultado de concurso para Técnico Bancário Superior, prevendo a contratação de 146 funcionários Assinatura de acordo com o Ministério Público prevendo a substituição de 25 mil funcionários terceirizados até o ano de 2007

2005 Fortalecimento do papel do banco como operador de programas sociais do governo

Política de compartilhamento de terminais de autoatendimento com o Banco do Brasil

O banco é classificado como a terceira maior instituição financeira Latino-Americana pela Federação Latino-Americana de Bancos

Em síntese, podemos concluir que a década de 1990 foi um momento bastante controverso para o Banco X e seus bancários, no qual a imagem do banco público, grande, lento, pesado e ultrapassado passa a ser constantemente atribuída ao banco. Por vezes, a culpa por essa situação foi atribuída ao próprio corpo funcional, por este ter criado e alimentado uma estrutura organizacional – bem como relações de emprego e salário – não condizentes com o tempo então presente. Todavia, também foi lembrado que o uso político da instituição, bem como as decisões políticas no Banco, figuravam entre os fatores responsáveis por aquela situação. Como foco central dessa e de outras discussões, temos sempre como pano de fundo a comparação entre o modelo de empresa pública e privada. Comparação essa cujo impacto fez-se sentir, inclusive, no perfil do banco.

É nesse cenário que uma série de mudanças são iniciadas, dentre as quais: demissão de estagiários, terceirizados e, inclusive, de

empregados concursados; novas políticas de vendas de produtos e de atendimento ao público – impactando, também, na (re)definição do público-alvo do banco; reestruturação da estrutura organizacional e também dos cargos; busca por novos canais de atendimento, tais como o uso dos agentes lotéricos (o que, no limite, também representa uma maneira de precarização do trabalho no setor); entre outras. Frente a esses fenômenos, temos também recuperação dos lucros e do fortalecimento do perfil social do banco via disponibilização de acesso a serviços bancários à população mais pobre e também via operacionalização de políticas sociais.

Em meio a esse cenário, um novo Plano de Cargos e Salários é instituído, estabelecendo a diferenciação entre os Escriturários e Técnicos Bancários. Tal diferenciação se acentua devido à diminuição do primeiro grupo e crescimento do segundo, decorrentes, respectivamente, dos Planos de Demissão Voluntária e dos processos de substituição de funcionários terceirizados via contratação de novos concursados que se intensificam a partir dos anos 2000. No ano de 2008, conforme dados da Proposta do X para o Plano de Cargos e Salários, o número de Escriturários e Técnicos Bancários alcançara equivalência (aproximadamente, 37 mil funcionários em cada um dos grupos) (PROPOSTA...., 2008). A criação do cargo de Técnico Bancário é, a nosso ver, o marco (simbólico e institucional) fundamental de um processo que representa o nascimento de uma nova geração de bancários, cuja identidade profissional é forjada em meio a um novo padrão de relações de trabalho.

4. A percepção de Escriturários sobre o emprego