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3. BANCO X: DOS ANOS 1990 AO INÍCIO DOS ANOS 2000

3.7 A Era Camurai

Em 1999, chega ao fim a “era Raposo”. Roberto Camurai, afilhado político do então vice-presidente da República Marco Maciel, foi nomeado presidente do Banco X (DESCONFIANÇA...,1999).

O lucro líquido de R$ 387 milhões, referente ao exercício de 1998, foi anunciado por Camurai ainda em fevereiro. Destacava-se, então, o fato de o Banco X poder repassar, pelo segundo ano consecutivo (“após 12 anos sem que isso ocorresse”), parte de seu lucro ao seu controlador, a União (BREVE, 1999). No entanto, advertia o presidente que a empresa ainda não se enquadrava nas regras do acordo de Basileia, “segundo as quais o patrimônio líquido deve ser de, pelo menos, 11% dos ativos totais ponderados pelo risco29.” (BREVE, 1999).

Como medida para melhorar o desempenho da empresa, anunciou-se a intensificação dos programas de recuperação de ativos, sobretudo por meio do combate à inadimplência. Além disso, anunciava-se, com vistas ao desempenho da empresa, “melhorar a comunicação interna e promover um programa de incentivo aos funcionários” (BREVE, 1999).

Castanheiras (1999) noticiava, em março de 1999, o reajuste salarial de 1% para os empregados somado ao abono de R$ 1.000,00. O reajuste foi considerado como um avanço por Ubiratan Campos do Amaral (diretor da Contec) por significar a quebra de um jejum de três anos sem reajustes (1996, 1997 e 1998). Tal acordo frustrava o intento da comissão de negociação dos empregados em discutir o reajuste de 17,7% mais R$ 3 mil de

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De acordo com Izaguirre, o fator de ponderação de risco variava conforme o tipo de ativo. “Para alguns ativos, o fator de risco é zero, o que equivale a dizer que não entram na base de cálculo. Para outros, o fator é 100% e, portanto, entram integralmente na base. A fórmula significa que, levada em conta a ponderação, para cada R$ 100 aplicados pelo banco, pelo menos, R$ 11 têm que ser em capital próprio. O resto pode ser captado do público.”

abono, então visados, além de não significar o fim da política de congelamento salarial para os bancários do X (vide anexo I).

No que diz respeito à atuação do Banco X, um fato digno de nota foi o crescimento em importância da área de varejo da empresa, isto é, da área responsável pela venda de produtos e serviços bancários aos clientes, a exemplo dos serviços prestados pelos demais bancos privados, tais como cartão de crédito, previdência complementar, apólices de seguro, título de capitalização, entre outros. A venda de produtos e serviços passa a figurar importante papel para a empresa.

Nos quatro primeiros meses do ano – o balanço semestral ainda está sendo fechado –, os ganhos com tarifas e vendas de produtos garantiram a cobertura dos prejuízos de cerca de R$ 500 milhões nas áreas de desenvolvimento urbano (habitação e saneamento básico) e de transferência de benefícios e ainda permitiram ao banco fechar o quadrimestre com lucro acumulado de R$ 249 milhões. (NUNES, 1999, p. B4)

A linha de atuação comercial do banco também incluía o atendimento à pessoa jurídica. Dentro dessa linha, pode-se destacar o lançamento de linhas de crédito para micro e pequenos empresários, cujo acesso podia ser feito via caixa eletrônico, por meio de cartão magnético (SCHETTINO, 1999).

Ronaldo Cordeiro, que havia saído da iniciativa privada para comandar a equipe comercial e de marketing do banco, afirmava que “queremos mostrar aos 3 milhões de clientes os produtos e serviços que o X tem que a maioria da (sic.) pessoas desconhece.” (CAIXA...,1999, p. B10). Previa-se, então, o investimento de R$ 400 milhões em desenvolvimento de produtos e tecnologia.

O grande diferencial do Banco X dentro dessa área de atuação era o seu foco: “a classe de baixa renda, aquela desprezada pelos bancos” (NUNES, 1999). Buscava-se, assim, equacionar o dilema em torno da atuação e do perfil esperados deste banco, já exposto anteriormente.

A ordem é ampliar a geração de receitas no banco comercial para que se possa financiar os dois braços do Banco X que executam tarefas na área social, mas ainda não estão com suas estruturas ajustadas a ponto de equilibrar as contas. (NUNES, 1999).

Apesar do esforço em torno dessas novas linhas de atuação, ainda em 1999, por não atingir os 11% de patrimônio líquido em relação aos ativos totais, conforme acordo da Basileia, o Banco X foi obrigado a negociar com o Banco Central do Brasil. Mário José, então diretor de finanças do X, reforçando a imagem de banco público, clamava por uma regra específica que levasse em conta “o papel de instrumento de políticas públicas de habitação, saneamento e infra-estrutura.” (IZAGUIRRE, 1999a).

O dilema em torno da função e do papel a ser desempenhado pelos bancos públicos federais ainda estava longe de ser definitivamente solucionado. Entre os anos de 1998 e 1999, o Plano Real e a economia brasileira eram colocados em questão. Como consequência, a questão acima voltava a ser o centro das atenções. Temos, assim, a seguinte tensão: por um lado, resgatava-se a imagem do velho, grande e lento paquiderme, cuja solução seria a privatização; em contrapartida, por outro lado, ressaltava-se o importante papel de agente do Estado na execução de políticas públicas, as quais não eram de interesse dos agentes privados. Vejamos alguns dos argumentos que foram levantados durante esse período:

• “O banco de investimentos Goldman Sachs, de Nova York, recomenda a privatização da Petrobrás, Banco X e do Banco do Brasil como uma ‘medida de grande impacto’ para o restabelecimento da confiança internacional no Brasil.” (GOLDMAN..., 1999). • “O governo não deve tampouco temer tabus na privatização. A Petrobrás, o Banco do

Brasil e o Banco X podem e devem ser privatizados. Acelerar o enxugamento da máquina pública, em todos os níveis, é crucial. País algum progride se o seu orçamento é excessivamente comprometido por salários e pensões.” (CORAGEM..., 1999).

• “O governo federal anunciou ontem [08 fev. 1999] a retomada de um programa de enxugamento dos bancos federais que deverá de resultar na fusão de algumas instituições e a transformação de outras em agências de fomento e desenvolvimento. Segundo nota divulgada pelo Ministério da Fazenda, as medidas terão como objetivo ‘racionalizar e tornar mais compatíveis as atividades do Banco do Brasil, do Banco X, do Banco do Nordeste do Brasil e do Banco da Amazônia.” (GOVERNO..., 1999). • “O debate em torno da privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil e do Banco X

provocou polêmica entre os economistas Roberto Campos e Aloizio Mercadante no melhor estilo da campanha ‘O Petróleo é Nosso’ ou das assembléias estudantis da década de 60.” (PRIVATIZAÇÃO..., 1999)

• “O ministro da Fazenda, Pedro Malan, admitiu ontem a privatização do Banco do Brasil e do Banco X em médio ou longo prazos, segundo relato de parlamentares do PFL.” (MADUEÑO; BRAMATTI, 1999)

• Michel Camdessus, diretor-gerente do FMI (Fundo monetário Internacional), acenou ontem com a privatização dos bancos federais brasileiros (o Banco do Brasil e o Banco X).” (ROSSI, 1999).

• “Existem distorções no sistema bancário que, eliminadas, tornam desnecessárias as duas instituições, Banco do Brasil e Banco X, numa economia de mercado aberta para o exterior.” (YOKOTA, 1999).

• “O governo não deve privatizar o Banco do Brasil e o Banco X. Embora essas

instituições tenham sido usadas com freqüência para financiar grupos econômicos privados, com base em critérios de favorecimento político, ainda assim, o balanço de suas ações indica que seria um sério erro vendê-las.” (SUPLICY, 1999)

Em julho de 1999, a revista da FENAE avaliava que algumas das políticas adotadas pelo banco como a venda de ações da empresa de seguros do X, a terceirização crescente dos serviços bancários e a criação de um novo plano de aposentadoria baseado na ideia de contribuições definidas em lugar de benefícios definidos podiam ser indícios de que o banco estava sendo preparado para a privatização (DIREÇÃO..., 1999).

Muito embora a privatização não tenha chegado às vias de fato no Banco X, a pressão exercida pelos seus defensores deixou suas marcas. Dentre elas, podemos destacar o RH 008, lançado em 2000, o qual demarcou uma importante alteração na relação entre capital e trabalho na instituição. De acordo com o Banco X (NEGOCIAÇÃO..., 2006), o RH 008 “foi um manual normativo que disciplinou a demissão sem justa causa no X.” Esse dispositivo foi criado em 2000, tendo sido extinto no ano de 2003, em atendimento a reivindicações da categoria.

Estima-se que, entre os anos de 1997 a 2003, cerca de 407 empregados foram demitidos, conforme Agência Câmara (PROJETO..., 2006):

Os deputados lembram que a década de 90, quando ocorreu a maior parte das demissões no Banco X, foi marcada por ações de um modelo de gestão político-administrativa cujos principais objetivos eram reduzir, de forma estrutural, a intervenção do Estado na economia, por meio de privatizações, demissões e flexibilização de leis trabalhistas.

A edição da RH008, segundo eles, foi feita a partir dos princípios desse modelo e provocou uma série de "ações arbitrárias, perseguições, coações, assédios morais", que, na maioria dos casos, acabaram em demissões. Segundo dados da Federação Nacional dos Economiários Federais (FENAE), de outubro de 1997 a abril de 2003, foram demitidos, de forma arbitrária, 407 empregados, sendo que só 78 foram reintegrados por força de decisão judicial.

No que concerne aos resultados empresariais, o caminho trilhado durante os anos 1990 sinalizava bons agouros ao Banco X. Segundo Izaguirre (1999b) e Jornal do Commercio (TERCEIRO..., 1999), o X contabilizava um lucro líquido acumulado de R$ 473 milhões referente ao período de janeiro a outubro de 1999. De forma geral, quando comparado ao ano de 1998, os números de 1999 pareciam promissores, conforme abaixo:

Tabela 11: Balanço patrimonial do X

Os números do Banco X

Itens Até out 99 Até out 98 Variação (%) Operações de crédito 82.220 78.244 5,08 Depósitos 62.469 57.406 8,81 Patrimônio Líq. 4.047 3.464 16,83 Res. Intermediação fin. 3.731 3.342 11,63 Ativos 123.302 111.100 10,98 Res. Operacional 745 213 249,76 Res. Liq. 473 214 121,02

Fonte: Jornal do Commercio, (TERCEIRO..., 1999, p. A17)