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4. A PERCEPÇÃO DE ESCRITURÁRIOS SOBRE O EMPREGO BANCÁRIO E

4.6 Nem tudo foi negativo

Interessante destacar que, em alguns sentidos, as mudanças apresentam aspectos positivos no ponto de vista dos entrevistados, sendo, entre esses, a tecnologia o ponto mais destacado. Por exemplo, Vagner, ao ser questionado sobre as mudanças no trabalho, afirma: “eu tenho para mim que houve muita melhora”. Pedro também destaca ter havido melhoras advindas da informatização e da consequente maior precisão e confiabilidade dos dados. Destaca que acredita ter havido progresso no sentido de que as oportunidades no trabalho passaram a ser melhores e, em certo sentido, mais democráticas, isso porque, a partir do uso da intranet, o empregado passou a ter a

38 Nesta fala, o termo bacuá tem o sentido de bagunça, confusão. 39

Ao longo da pesquisa, procurou-se obter acesso a dados referentes à evolução histórica dos cargos comissionados na empresa; no entanto, tanto os contatos feitos na empresa quanto via sindicato foram infrutíferos.

oportunidade de verificar os processos seletivos em nível nacional40, além das informações divulgadas por meio do e-mail:

A informação chega todos os dias para você, pelo sistema. Pelo Outlook. Naquela época, nós não tínhamos Outlook. Não existia o computador. A gente não tinha esses jornais. Quer dizer, olha tá tendo um concurso, tá tendo vaga em todo o Brasil, quer dizer, você não sabia, então... eu acho assim, que, para o empregado, na época atual, ele tem mais condições de crescer na empresa do que antes... [mas] antigamente ele ganhava mais. (Pedro)

Maria, por sua vez, destacou que, embora a competição seja um ponto negativo em relação às mudanças que vêm ocorrendo, “um ponto positivo para a empresa é, assim, ela tem a preocupação de investir no conhecimento do empregado. Dentre os investimentos destacados, temos o Programa de Incentivo à Graduação41.

Já Rosa, após relatar a experiência da reestruturação de sua unidade, afirma acreditar que: “hoje eu acho que há um pouco mais de respeito.”. Essa entrevistada acredita que o fato de uma mulher ocupar a posição de presidente da empresa pode ser relevante em relação à melhora no tratamento dos funcionários, porque “a gente vê que a política dela é um pouco diferente. É, assim, ela manda presentinho no dia das mães, no dia dos pais.”.

Érika, dessa mesma forma, aponta para a existência de uma tendência favorável em relação à valorização do empregado, que impacta positivamente nas relações de trabalho e que é fruto das novas políticas organizacionais:

É, com essa valorização aí, a tendência é melhorar a relação chefe e empregado e entre empregados entre si. Sempre tem uma ou outra coisinha que é muito pessoal. Mas quando vem a cobrança de cima, assim, a tendência é sempre melhorar. A valorização. Hoje em dia, tem código de ética. Você pode ver que de uns anos para cá a gente teve até que assinar o código de ética, que você tem ciência do código. Então, querendo ou não, todo mundo tem que ter ciência do que diz o código e estar trabalhando em relação aquilo. Daí tem a ver com relacionamento, a gente com os colegas de serviço e também em relação com os clientes.

40

Há um sítio na intranet da empresa onde todos os empregados concursados podem visualizar os Processos Seletivos Internos (PSI) abertos, em andamento ou encerrados. As inscrições para os PSIs são realizadas via intranet.

41 Todos os anos, o X oferece um certo número de bolsas, negociado em acordo coletivo, como uma forma de incentivar os empregados a se graduarem.

Nessa mesma direção, Vagner acredita ter havido uma melhora na relação entre chefia e empregado, uma vez que esta “antigamente era mais truculenta”. Mas, “devido à conscientização geral, melhorou”, sendo o relacionamento na empresa hoje “mais social”, “sociável”.

Já João, vale destacar, apresenta uma opinião contrária no que concerne ao aumento do respeito aos empregados, destacando, até mesmo, a existência de perseguições aos empregados, conforme abaixo:

Com vinte e cinco anos de empresa, comparando a condição nossa de trabalho, desse tempo todo, para hoje, eu entendo que a condição de trabalho... as ferramentas melhoraram, mas a condição de

trabalho do empregado piorou. Ou seja, as ferramentas

melhoraram, mas não o suficiente para dar uma condição melhor de trabalho. E mesmo assim na condição de respeito ao empregado, a gente perdeu bastante. Tanto na área trabalhista, como na condução, como na escolha dos gestores piorou. Recentemente, a perseguição que o X está fazendo aos funcionários que não migraram para o novo plano Fundo de Previdência do X. Então, eu estou achando que há uma coisa muito maior por trás disso. Talvez um pensamento do Banco X de privatizar ou vender ou extinguir. Porque, por que essa perseguição aos direitos dos empregados, adquiridos lá atrás? Por que estão querendo tirar esse direito que ele tem hoje? Então eu estou vendo por parte do Banco X uma incoerência. Naquilo que ele fala.

Mário, a exemplo de João, parece também discordar das hipóteses de Érika, Rosa e Vagner acerca da existência de uma tendência positiva em termos de relações de trabalho. Opinião essa revelada quando este, por exemplo, defende a existência de um processo de bradescalização do relacionamento, já apresentado anteriormente. Essa posição é reforçada também pelos depoimentos de Adão, Isaac e João quando estes destacam o aumento da pressão no trabalho trazido pela atual política de metas. Nesse sentido, Isaac destaca que, após a década de 1990, período em que os bancários foram sendo “sucateados”, a pressão “devido ao cumprimento de metas” configura um grave problema para os bancários, “porque as pessoas não tem um tempo ideal para se alimentar, não tem um tempo para sentar, entendeu? É tudo para ontem. Você não tem respaldo seja de chefia ou da direção do banco, não tem!”. De modo semelhando a uma das afirmações de Rosa acima apresentada, Issac conclui que: “Você é tratado como um número”.

Esse entrevistado ressalta ainda que entre o PSDB e o governo atual não houve muitas mudanças positivas, embora houvesse muita esperança por parte dos bancários, mas “houve pelo menos, assim, vamos colocar aspas, reposição de inflação, que nem isso tinha”. De outra parte, ele pondera que: “fora isso, continuou a mesma coisa, ou até pior, porque o duro é quando você está andando na rua e pelo menos você sabe de que lado vem o trânsito para você atravessar (...). Agora, o duro é quando vem carro da contra- mão, de onde você não está esperando.”

4.7 SER OU NÃO SER UM BANCÁRIO DO X?: IMPRESSÕES DE ONTEM E