• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II Enquadramento da actividade do capital de risco no ordenamento jurídico

3. Balanço do enquadramento jurídico do capital de risco em Portugal

Ao nível do regime fiscal, os benefícios fiscais e as isenções revelam-se importantes no apoio e na dinamização da actividade de capital de risco. No que concerne ao regime legal,

276

O n.º4 do artigo 23º do EBF

277 DL n.º 193/2005, de 7 de Novembro, publicado em Diário da Republica, série I, aprova o regime especial de

tributação dos rendimentos de valores mobiliários representativos de dívida, Alterado pelo DL n.º 25/2006, de 8 Fevereiro

278

como tivemos oportunidade de observar, o DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro trouxe significativas alterações e inovações ao regime jurídico do capital de risco.

As melhorias introduzidas tanto a nível legal como fiscal, conduziram a que, em 2008, de acordo com o estudo realizado pela European Private Equity and Venture Capital (EVCA)279

, Portugal ocupasse o 8º lugar na tabela dos países europeus com envolvente legal e fiscal mais favorável ao desenvolvimento da actividade de capital de risco, encontrando-se acima da média europeia. O estudo considerou esta posição bastante positiva, já que Portugal não é um país com uma longa tradição na actividade de capital de risco. No entanto, revelou que a maior discrepância com a média europeia encontrava-se nos incentivos fiscais à actividade de I&D. Outros dos problemas apresentados ao nível do tratamento fiscal, foram a falta de incentivos suficientes para empresas em fase inicial e a falta de benefícios que possibilitassem “manter talentos, devido ao enquadramento fiscal e à forma como os rendimentos de um profissional de capital de risco é vista em sede de IRS” 280

.

No que toca ao regime legal, o DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro apresenta melhorias face ao regime pretérito. Francisco Banha considera que a legislação nacional, “ao nível legal (…) não apresenta significativos obstáculos à actividade de capital de risco”281

. De um modo geral, o presente diploma adopta medidas de desburocratização e simplificação que facilitam a constituição dos FCR e o início da actividade das SCR e dos ICR, promovendo, assim, a actividade de capital de risco. Como oportunamente se observou, vários são os aspectos que contribuem para este incremento. Entre eles:

a) A eliminação da delimitação dos FCR com base no tipo de investidor;

b) A fixação de um mínimo de subscrição em 50.000€ para o investimento em FCR; c) A consagração do regime de subscrição faseada (closing) dos FCR;

d) A flexibilização das alterações a efectuar ao regulamento de gestão;

e) A possibilidade de se criarem SCR com objecto principal circunscrito à gestão de FCR;

f) A redução do capital social mínimo para estas sociedades, fixado em 250.000€; g) As alterações aos limites de investimento e às operações autorizadas;

279 EVCA, Benchmarking European Tax and Legal Environments, Outubro de 2008. [consult Junho 2011]

Disponível em WWW:<URL:http://www.evca.eu/publicandregulatoryaffairs/default.aspx?id=2414>.

280 CAETANO, Paulo, Portugal integra o top 10 europeu na envolvente legal e fiscal das SCR, Jornal de

Negócios, 21 Abril 2009. [consult. Junho 2011] Disponível em WWW: <URL:http://www.apcri.pt/sites/default/files/Opinião_JNeg_21042009.pdf>.

281

h) O registo prévio simplificado na CMVM, enquanto único acto administrativo para a constituição de FCR e início de actividade das SCR e ICR;

i) A mera comunicação prévia à CMVM das constituição de FCR e início de actividade das SCR e ICR, em determinados casos e

j) O reconhecimento dos business angels enquanto figura jurídica, denominada de Investidores em Capital de Risco.

O reconhecimento dos investidores individuais no nosso ordenamento jurídico foi, sem dúvida, uma das grandes novidades contempladas neste DL. No entanto e apesar desta constatação, os ICR são os que mais carecem de um melhor tratamento jurídico, nomeadamente, em matéria fiscal. Como referimos, o regime dos benefícios fiscais dos

business angels sofreram alterações com o OE de 2011, verificando-se um “significativo

retrocesso”282

face ao regime que anteriormente beneficiavam. Assim, seria importante rever o actual regime fiscal dos ICR, mantendo as condições dos benefícios fiscais concedidos previamente às alterações de 2011 ou mesmo aumentando os valores da dedução à colecta, seguindo-se, assim, a tendência de outros países, como é o caso do Reino Unido283

. A aplicação de benefícios fiscais, no entender de Francisco Banha, é “uma forma de compensar o risco e nunca o substitui”284

. Assim, é importante que o regime fiscal seja suficientemente incentivador, de modo a que os business angels se sintam motivados para “canalizar a poupança privada para o investimento produtivo em novas empresas”285

, evitando-se a estagnação dos investimentos por parte destes indivíduos e a diminuição de meios de financiamento para as empresas portuguesas.

De um modo geral, e seguindo a linha de pensamento de Glória Teixeira, ainda há que “proceder a um maior e melhor coordenação entre os diferentes impostos, para garantir uma correcta e eficiente aplicação dos benefícios fiscais”286

. Esta harmonização possibilitará não só resolver alguns dos problemas apontados, mas também permitirá que a actividade de capital de risco se torne mais atractiva para os investidores. Em consequência, possibilitará

282 BANHA, Francisco, Entrevista à Jornalista do Diário Económico…

283GOMES, Ana, Entrevista a Francisco Banha, presidente da Direcção da FNABA - “Espero que os business angels tenham condições para serem mais atrevidos”, O Jornal Económico - OJE, 1.Fev2011. [consult. Junho

2011] Disponível em WWW: <URL:http://www.gesventure.pt/blogs/OJE_01-02-2011.pdf>.

284

BANHA, Francisco, Entrevista à Jornalista do Diário Económico…

285 ROMEIRA, Almerinda, “Em ocasiões de crise podem aparecer grandes oportunidades”, PME News –

Edição de Junho, Suplemento do Jornal Económico – OJE, (4. Julho, 2011), p.5. [consult. Julho 2011] Disponível em WWW: <URL:http://www.oje.pt/pme-news/pme-news---edicao-de-junho>.

286

que esta se desenvolva, tornando o capital de risco num instrumento cada vez mais acessível e atractivo para as empresas e para os empresários que procuram alternativas ao financiamento tradicional.

Na parte que se segue, contextualiza-se o financiamento bancário, nomeadamente, a concessão de crédito.

Parte III