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1. O crédito bancário

O financiamento bancário é uma das formas pelas quais as empresas podem aumentar os seus recursos financeiros através da obtenção de capital alheio. A empresa que envereda por esta modalidade de financiamento, apoia-se na concessão de crédito pelas instituições financeiras para colmatar as suas necessidades económicas e financeiras.

De facto, o crédito tem assumido grande importância para a dinamização das actividades económicas e das empresas287. O conceito de crédito tem sido alvo de descrição quer por parte de economistas quer de juristas, o que lhe confere características económico- jurídicas.

Na literatura, existe consenso relativamente aos elementos que compõe o crédito. O tempo é um dos seus componentes, sendo apontado por grande parte dos autores como essencial288, “na medida em que se trocam bens presentes por bens futuros”289

. A confiança, é outro elemento do crédito. O credor deposita a sua confiança quer na capacidade de solvabilidade do devedor, quer no cumprimento do pagamento. Para além destes dois elementos, que têm presença frequente na literatura, o crédito reveste-se de outros, como por exemplo, a promessa de restituir, a renumeração, o juro, o risco, aos quais é dado maior ou menor ênfase, dependendo dos autores. José Simões Patrício290

, acrescenta ao tempo e à confiança, a promessa de restituir e a renumeração291

. Segundo este autor, a promessa de restituir traduz-se no “compromisso de pagar em certo prazo” 292

e a renumeração consubstancia-se no pagamento que o devedor se encontra adstrito pelo custo do adiantamento do crédito, pelo serviço concedido e pelo risco que assume correr. Outros

287 PATRÍCIO, José Simões, Direito Bancário Privado, Lisboa, Quid Juris-Sociedade Editora, 2004, pp. 279-

281.

288 PIRES, José Maria, Direito Bancário, vol. II, Lisboa, Rei dos Livros, 1997, p. 82. Veja-se ainda PATRÍCIO,

José Simões, Direito Bancário Privado…, p. 278.

289

PATRÍCIO, José Simões, Direito Bancário Privado…, p. 279.

290 PATRÍCIO, José Simões, Direito de Crédito – Introdução, Lisboa, Lex Edições Jurídicas, 1994, p. 43. 291 O autor realça estes quatro elementos, no entanto, revela que o risco, frequentemente, faz parte da definição

de crédito.

292

autores salientam o juro e o risco293,294, como elementos. O primeiro vai de encontro ao que agora se mencionou sobre a renumeração do crédito. O risco está associado à própria concessão de crédito, visto que o credor assume o risco de não ver cumprida a promessa de pagar em determinado prazo. O risco revela-se como contraponto à confiança, pois, se por um lado, ao conceder crédito, o credor confia na solvabilidade do devedor, por outro, assume o risco de este não vir a tê-la, frustrando-se a promessa de restituir295.

Para além de conter todas as especificidades supracitadas, o crédito bancário, de acordo com José Maria Pires, tem a particularidade de ser “um crédito monetário, ou seja, tem por objecto o dinheiro (moeda escritural ou legal) ”296

. Outro traço característico é o facto de ser concedido pelas instituições bancárias com o intuito de financiarem as actividades económicas dos seus clientes. Ainda segundo o mesmo autor, “o crédito bancário baseia-se num conjunto de contratos que têm como objecto prestações em dinheiro, tanto por parte do banco como por parte do cliente”. A confiança também se destaca na concessão de crédito bancário, na medida em que os contratos serão ou não celebrados com determinado cliente, dependendo do grau de confiança que uma parte nutre pela outra, mesmo que exiba garantias sólidas297

. A relação de confiança surge, também, para colmatar as falhas de informação entre as partes, atenuando “o clima de incerteza” e a incompletude subjacente aos contratos298.

O crédito bancário pode ser qualificado segundo diversos critérios299. A classificação feita segundo o prazo é relevante, na medida em que, este deve ser ajustado ao tipo de financiamento que se pretende realizar como também deve obviar as necessidades do beneficiário do crédito. O Decreto-lei n.º 344/78, de 17 de Novembro300, no n.º1 do artigo 2º, classifica os prazos de vencimento dos créditos bancários nas seguintes formas: crédito a curto, a médio e a longo prazo.

No que toca ao crédito de curto prazo, o seu vencimento não pode exceder um ano, visto que se destina ao financiamento do consumo ou, ainda, da produção. Neste último o que se pretende é, por exemplo, satisfazer as necessidades de tesouraria, através do reforço do

293 DEKEUWER-DÉFOSSEZ, Françoise, Droit bancaire, 7ª ed., Paris, Mémentos Dalloz, 2001, p.85. 294

PIRES, José Maria, Direito Bancário…, p. 182.

295 PATRÍCIO, José Simões, Direito Bancário Privado…, p. 279. 296 PIRES, José Maria, Direito Bancário…, p. 183.

297 PIRES, José Maria, Direito Bancário…, p. 182.

298 COSTA, Carlos Arriaga, Métodos qualitativos na análise de risco de crédito – Confiança e credibilidade na relação entre bancos e empresas, Universidade do Minho, p. 6. [consult. 13 Fev. 2011]. Disponível em

WWW:<URL:http://www1.eeg.uminho.pt/economia/caac/pagina%20pessoal/papers/WPC2A-QUALIT.PDF>.

299 PIRES, José Maria, Direito Bancário…, p. 185.

300 Com as alterações introduzidas pelo DL n.º 429/79, de 25 de Outubro, DL n.º 83/86, de 6 de Maio e DL n.º

fundo de maneio, o que possibilitará uma melhor gestão e flexibilização da caixa301. O crédito a curto prazo tem, também, como finalidade, o financiamento do ciclo de produção e venda, permitindo que as empresas adquiriram matérias-primas, e que tenham capacidade de “conceder prazos de pagamento aos seus clientes, o que contribui para o aumento das vendas”302

.

Relativamente ao crédito a médio prazo, a sua duração vai desde um ano até cinco anos. Este crédito visa financiar o ciclo comercial e de fabrico, e também os investimentos com amortizações, em prazo inferior a cinco anos. Consubstancia-se, assim, num alargamento do prazo de vencimento do crédito a curto prazo e num encurtamento do crédito a longo prazo.

O crédito a longo prazo é aquele cujo vencimento excede cinco anos. Destina-se a investimentos cujos efeitos só se verificarão tardiamente e só aí é que poderão ser reembolsados. Trata-se do financiamento do capital fixo de uma empresa, isto é, dos seus valores imobilizados (por exemplo, terrenos, máquinas, patentes, entre outros). Também o crédito a longo prazo pode ser concedido com o fim de o beneficiário adquirir “prédios de rendimento e de habitação”303

.

A classificação de acordo com critério da afectação distingue o crédito à produção do crédito ao consumo. Este último tem como função estimular o consumo e aumentar o poder de compra dos consumidores. O crédito ao consumo permite que estes beneficiários adquiram bens (automóveis, electrodomésticos, …) e serviços (viagens, formação, …). Para financiar e promover o desenvolvimento económico, surge o crédito à produção, o qual engloba outros tipos de créditos. Deste modo, podemos distinguir entre crédito de investimento, que tem como finalidade o financiamento do activo imobilizado, e crédito para financiamento de capitais circulantes, que se destina aos gastos correntes. O crédito ao funcionamento e o crédito de tesouraria também se encontram relacionados com o crédito à produção. O primeiro auxilia na actividade de exploração da empresa, sendo também chamado de crédito à exploração. O segundo tem por objectivo assegurar o bom funcionamento de tesouraria. Ainda no âmbito do crédito à produção, podemos encontrar o crédito de campanha, o crédito à transformação, à armazenagem, à exportação e à importação e, ainda, os créditos de pré- financiamento.

301 PIRES, José Maria, Direito Bancário…, p. 190. 302 PIRES, José Maria, Direito Bancário…, p. 190. 303

No critério da garantia deparamo-nos com o crédito pessoal e o crédito com garantia. Neste, o crédito é obtido por meio de uma garantia real (por exemplo, a hipoteca) ou pessoal (por exemplo, a fiança), que asseguram, a par do património do beneficiário (devedor), este mesmo crédito. Realça-se, aqui, as qualidades da pessoa devedora (p. ex. honestidade) e as suas capacidades, depositando-se confiança nela.

A concessão de crédito bancário pode realizar-se mediante diversas técnicas, como por exemplo, a abertura de crédito (linhas de crédito), o crédito por assinatura, o empréstimo, as operações de desconto, as garantias bancárias, o leasing, o factoring, entre outros. Abordaremos, de seguida e de forma sumária, algumas destas técnicas.