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Capítulo I – Estudo: custos e benefícios jurídico-económicos para as empresas portuguesas

1. Aspectos metodológicos

1.3. Caracterização da amostra

Antes de procedermos à caracterização da amostra e do processo de amostragem, elucidaremos, os conceitos de população e amostra. Define-se população ou universo como o “conjunto total dos casos sobre os quais se pretende retirar conclusões”386

. A amostra, por sua vez, é o “subconjunto da população em estudo”387

. Veremos, então, qual a população e qual amostra presente no nosso estudo.

Tendo em conta que os empréstimos bancários representam uma das principais fontes de financiamento a que as empresas portuguesas recorrem, considerou-se importante assegurar, no nosso estudo, que os questionários seriam enviados a empresas que recorreram ao capital de risco388

. Deste modo, a população do presente estudo é composto por:

a) Empresas que recorreram ao capital de risco, nomeadamente: as empresas constantes da lista/portfólio/referências/casos de sucesso disponibilizados na página

web de SCR e de FCR (registados na CMVM)389

e da lista/portfólio/referências/casos de sucesso disponibilizados na página web das associações regionais de business

angels, representadas, a nível nacional, pela Federação Nacional de Associações de Business Angels390;

b) As Pequenas e Médias Empresas constantes da lista fornecida pela revista Exame que elege as “1000 Melhores PME em Portugal”391

e

386 HILL, Manuela Magalhães; HILL, Andrew, Investigação…, p. 41. 387

APPOLINÁRIO, Fabio, Dicionário de metodologia científica: um guia para a produção do conhecimento

científico, São Paulo, Atlas, 2007, p. 23.

388 De acordo com as estatísticas do INE, entre o último trimestre de 2005 e o primeiro de 2006, 26,0% das

empresas recorreram aos empréstimos bancários (10% a empréstimos sem garantia bancária e 16,1% com garantia bancária). Esta fonte de financiamento encontra-se em segundo lugar, sendo precedida do recurso a fundos próprios (87,2%). Apenas 0,2% das empresas utilizaram, como recurso de financiamento, o capital de risco. Cfr. INE, Factores de sucesso das Iniciativas empresariais 2002-2005. [consult. Junho 2011] Disponível

em WWW:<

URL:http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_estudos&ESTUDOSest_boui=6188890&ESTUD OSmodo=2>.

389 O registo das SCR e dos FCR encontra-se disponibilizado em WWW: <

URL:http://web3.cmvm.pt/sdi2004/capitalrisco/index.cfm>.

390 Note-se que a recolha das listas das empresas que recorreram ao capital de risco estava dependente de: a

entidade investidora em capital de risco possuir página web e nela disponibilizar a lista, portfólio, referências ou casos de sucesso das empresas participadas.

391 EXAME, n.º 320, Dezembro de 2010, Dossiê especial: As melhores PME, pp. 150 a 167. Os critérios

utilizados pela revista Exame, na selecção das empresas candidatas, são os seguintes: “dimensão, forma jurídica, propriedade e organização empresarial”. Especificamente, as empresas têm de “ter menos de 250 empregados; vendas iguais ou inferiores a 50 milhões de euros; e activo líquido igual ou inferior a 43 milhões”. O critério da forma jurídica é restringido às seguintes formas: sociedade por quotas; sociedade unipessoal por quotas; sociedade anónima; sociedade em comandita; e estabelecimento individual de responsabilidade limitada. Os

c) As grandes empresas constantes de uma listagem também publicada pela revista Exame, em edição especial, que elege as “500 Maiores&Melhores”392

empresas portuguesas.

Dadas as limitações de tempo, não foi possível utilizar todas as empresas portuguesas como população. No nosso estudo, é difícil conhecer todos os casos da população, uma vez que o registo dos ICR não é público, pelo que são desconhecidos, publicamente, todos investidores individuais existentes em Portugal e as empresas em que aplicaram o capital de risco393. Assim, e devido à dificuldade de determinar todos os casos das empresas portuguesas

que recorreram ao capital de risco, utilizámos o método de amostragem estratificada. De acordo com Manuela Magalhães Hill [et al], este método de amostragem “é especialmente útil quando o Universo é grande e o investigador pretende obter uma amostra representativa segundo várias variáveis pré-identificadas” 394. Porém, a amostra seleccionada possui o

enviesamento de não ser conhecida a lista de toda a população, pois como supra referimos não estava disponível informação para todas as empresas portuguesas. Deste modo, pode-se dizer que não se trata de uma amostra claramente representativa.

Para o nosso estudo, concebeu-se uma amostra teórica correspondente a 500 casos. Da referida amostra constavam 250 empresas portuguesas que recorreram ao capital de risco. Para completá-la, foram seleccionadas 250 empresas portuguesas (PME e grandes empresas), das quais não possuíamos informação acerca de que instrumentos de financiamento tinham recorrido. O facto de não se ter a certeza de que estas empresas não recorreram ao capital de risco, embora com uma grande probabilidade de tal ter acontecido, constitui outro enviesamento à amostragem estratificada. A razão para a selecção, em separado, das empresas que recorreram ao capital de risco surgiu da necessidade de afastar o problema de não se receber respostas relativas a este financiamento. Como inicialmente elucidámos, as empresas

critérios respeitantes à detenção do capital e da organização compreendem as seguintes características: “uma empresa candidata a PME não pode ser maioritariamente (>50%) detida por outra empresa (empresa-mãe), salvo se esta também cumprir os critérios de PME”. No caso de a empresa-mãe ser uma sociedade gestora de participações sociais, a empresa candidata a PME é excluída. Acresce que, “depois de aplicados todos os critérios anteriores, caso a empresa candidata a PME tenha alguma subsidiária em que participe em mais de 50%, esta última terá também que cumprir os critérios de PME (…) estabelecidos, para que a empresa se mantenha como candidata a PME. Estão automaticamente excluídas as empresas da área financeira”. Cfr. EXAME,

Dossiê…p. 165.

392 EXAME, 500 Maiores&Melhores, Especial 2010 .

393 No entanto, como já referimos, existem associações de business angels com página web e

lista/portfólio/referências/casos de sucesso de empresas.

394

que recorrem a este instrumento representam uma percentagem diminuta, face ao financiamento bancário, pelo que se entende que a opção tomada é fundada e justificada.

As empresas constantes da amostra, que recorreram ao capital de risco, foram distribuídas por distritos e sectores de actividade. As restantes empresas encontravam-se distribuídas, igualmente, por distritos, sectores de actividade e, ainda, pela dimensão. A introdução do critério da dimensão prendeu-se com o facto de se ter integrado na amostra quer as micro, pequenas e média empresas, quer as grandes empresas. Na aferição deste critério, utilizámos as linhas orientadoras do conceito de PME propugnado na Recomendação de 6 de Maio de 2003 da Comissão das Comunidades Europeias395

. Relativamente à distribuição por sectores de actividades, a classificação utilizada foi a Classificação Portuguesa de Actividades Económicas (CAE)396

A amostra real foi obtida após o encerramento do período de recebimento das respostas (25 de Março de 2011), não tendo sido possível aguardar por mais respostas, devido aos prazos apertados para a realização do trabalho. Salienta-se que se eliminaram sete questionários em

virtude da sua devolução pelos serviços postais397. A nossa amostra real é, então, composta por 30 casos que perfazem uma taxa de resposta de 6%. Perante estas condições, ressalva-se que as conclusões estão limitadas pela reduzida dimensão da amostra obtida, merecendo, no futuro, aprofundar o estudo com uma amostra superior.

No quadro 2, apresentamos o número de respostas recolhidas segundo os dois tipos de financiamento em análise. As empresas que apenas recorreram ao financiamento bancário estão em maior número, representando 33,3% do total de respostas recebidas. As respostas obtidas por parte de empresas que recorreram apenas ao capital de risco, representam 26,7% do total das recolhidas. Assumem igual percentagem, as empresas que recorreram simultaneamente ao capital de risco e ao financiamento bancário. Por fim, apenas quatro empresas não recorreram nem ao capital de risco nem ao financiamento bancário, representando somente 13,3% do total de respostas obtidas.

395 Recorde-se que, para a definição de PME, o critério principal é o número de pessoas empregues e o critério

complementar é o volume de negócios.

396

Cfr. CAE - Revisão 3, precedida pelo Decreto-lei n.º 381/2007, de 14 de Novembro, publicado em Diário da República 1ª série, de acordo com o Regulamento (CE) nº 1893/2006, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro de 2006.

397 Os motivos para a devolução das cartas, assinalados pelos serviços postais (correios), foram os seguintes:

Quadro 2- Número de respostas obtidas

Tipo de financiamento Nº de respostas Percentagem

(%)

Capital de risco 8 26,7

Financiamento bancário 10 33,3

Capital de risco e financiamento bancário 8 26,7

Nenhum dos anteriores 4 13,3

Total 30 100

A figura 6 mostra a distribuição das empresas que participaram no nosso estudo, por sectores de actividade. Constatamos que a amostra real não abrange todos os sectores. No entanto, é relevante considerar a classificação “outra”, já que representa 23,3% do total das empresas. Os inquiridos que assinalaram esta opção, indicaram as seguintes actividades económicas: “tecnologias de informação”; “diapositivos médicos”; “projectos electrónicos”, “engenharia e técnica afins”; “bioindústria”; “biotecnologia”; “locação de propriedade intelectual”. Note-se que a maioria destas actividades foi apontada por empresas que recorreram ao capital de risco, o que revela o carácter inovador e tecnológico destas empresas.

Figura 6 – Distribuição das empresas da amostra real por sectores de actividade, segundo a

classificação portuguesas de Actividades Económicas (CAE)

O quadro seguinte, caracteriza as empresas da amostra real segundo o distrito a que pertencem. Este quadro revela-nos que um número considerável dos inquiridos (43,3%) está sedeado no distrito de Lisboa. O segundo distrito, onde se situam mais empresas da nossa amostra real, é o Porto (13,3%). A concentração das empresas nestes distritos não é surpreendente, dado que a estrutura empresarial portuguesa se situa, tradicionalmente, nas regiões de Lisboa e do

3,3% 6,7% 13,3% 26,7% 6,7% 6,7% 3,3% 23,3% 10% 0 5 10 15 20 25 30

Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca Indústrias extractivas Indústrias transformadoras Comércio por grosso e retalho; reparação de …

Alojamento, restauração e similares Actividades de informação e comunicação Actividades financeiras e de seguros Outra Respostas em falta

Norte398. Apesar de, na amostra teórica, se terem incluído empresas sediadas em distritos da região Sul e das Regiões Autónomas, a amostra real não comporta empresas constituídas nestas regiões.

Quadro 3 – Distribuição das empresas da amostra real por distritos

Distritos Nº de empresas da amostra real Percentagem (%) Lisboa 13 43,3 Porto 4 13,3 Coimbra 2 6,7 Aveiro 1 3,3 Leiria 3 10 Santarém 2 6,7 Guarda 1 3,3 Braga 3 10 Respostas em falta 1 3,3 Total 30 100

O critério principal utilizado na definição de PME é o número de pessoas empregues. De acordo com o quadro 4, a nossa amostra real é composta maioritariamente por PME, estando em harmonia com a estrutura empresarial de Portugal.

Quadro 4 – Distribuição das empresas da amostra real por número de pessoas empregues

Nº de pessoas empregues Nº de empresas da

amostra real Percentagem (%) Inferior a 10 17 56,7 Entre 10 a 50 9 30 Entre 50 a 250 3 10 Superior a 250 1 3,3 Respostas em falta - - Total 30 100

No quadro 5, apresenta-se a distribuição das empresas da amostra real em função do volume de negócios. As empresas que possuem um volume de negócios até 50 milhões de euros

representam a grande maioria (89,9%) dos inquiridos. Embora o critério principal para a definição de PME não seja o volume de negócios, este dado não é alheio à composição do tecido empresarial português, em que 99,6% das empresas são PME, responsáveis por realizarem cerca de 56,4% dos negócios em Portugal399.

Quadro 5 – Distribuição das empresas da amostra real por volume de negócios

Volume de negócios (em milhões de euros)

Nº de empresas da amostra real Percentagem (%) Inferior a 2 16 53,3 Entre 2 a 10 4 13,3 Entre 10 a 50 7 23,3 Superior a 50 3 10 Total 30 100

Na definição de PME é necessário utilizar o critério principal e o complementar. Assim, na nossa amostra, pertencem à categoria das grandes empresas apenas três, sendo as restantes empresas classificadas como PME.

Em suma, apesar de a amostra real do presente estudo ser de dimensão reduzida, as características das empresas que a compõem, reflectem alguns traços do tecido empresarial nacional.