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Capítulo II Enquadramento da actividade do capital de risco no ordenamento jurídico

1. Aspectos legais

1.3. Fundos de Capital de Risco

1.3.3. Capital e unidades de participação

O capital subscrito mínimo é de €1.000.000, podendo ser aumentado ou reduzido190,191 . A subscrição de um FCR, como já se referiu, tem um valor mínimo de €50.000 por cada investidor, com excepção dos membros do órgão de administração da entidade gestora192. Esta disposição veio consagrar o regime da subscrição faseada do FCR (closing). Segundo o n.º 1 do artigo 19º, cada subscritor tem de realizar, obrigatoriamente, a sua entrada com dinheiro ou com alguma classe de activos identificadas na alínea a) do n.º1 do artigo 6º. Neste último caso, as entradas estão sujeitas a relatório elaborado por auditor registado na CMVM, isento de quaisquer interesses relacionados com os subscritores em causa193

.

O património de um FCR é representado por partes sem valor nominal, denominadas unidades de participação, as quais devem ser nominativas194

. As unidades de participação podem ser emitidas com direitos ou condições especiais195

, pelo mesmo fundo e se assim estiver previsto. Estas unidades constituem uma categoria, ao passo que as unidades de participação que confiram direitos e obrigações iguais aos seus titulares formam outra categoria196.

No que respeita ao valor atribuído à participação de cada subscritor, decorre do n.º 3 do artigo 19º, que esse valor não pode ser superior ao da respectiva contribuição para o fundo. Para o efeito, considera-se a contribuição em dinheiro ou o valor atribuído, pelo auditor, aos activos. António Soares esboça o seu entendimento acerca do disposto no n.º 3 do artigo 20º do anterior DL n.º 319/2002, de 28 de Dezembro cuja redacção é idêntica à do actual n.º 3 do artigo 19º, pelo que as considerações proferidas pelo autor a este propósito, poderão ser aplicáveis. O autor considera que o n.º3 do artigo 20º do anterior DL consagrava o “princípio de intangibilidade das contribuições para capital do fundo”. No entender de António Soares,

189 Cfr. N.º3 do artigo 10º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro. 190

Cfr. Nº1 e 2 do artigo 16º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro.

191 O aumento de capital ocorre por virtude de novas entradas ou por deliberação da assembleia de participantes,

quando não esteja previsto no regulamento de gestão. A redução do capital do FCR opera-se para libertar excesso de capital, para cobertura de perdas ou para anular unidades de participação, em conformidade com o previsto no n.º 2 do artigo 23º. Cfr. Artigos 31º e 32º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro.

192 Cfr. O artigo 16º, nº1 e artigo 17º, n.º 2 do DL 375/2007 de 8 de Novembro

193 Cumpre referir que a entidade gestora do FCR deve designar o auditor. Cfr. Nº 2 do artigo 19º do DL n.º

375/2007, de 8 de Novembro.

194

Cfr. N.º1 e 6 do artigo 17º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro.

195 Nomeadamente no que concerne à atribuição de rendimentos, à ordem pela qual são reembolsadas ou á

partilha do património resultante do saldo de liquidação. Cfr. N.º 3 do artigo 17º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro.

196

os FCR estavam sujeitos a este princípio com a finalidade de “garantir a realização efectiva” do capital mínimo subscrito e a de “assegurar que as contribuições de cada um dos participantes para o fundo” fossem “pelo menos, de valor igual ou superior ao valor da participação que lhes será, nesse momento, atribuída como contrapartida pela respectiva entrada”197

.

Ainda de acordo com o mesmo autor, o n.º 4 do artigo 20º do DL 319/2002, de 28 de Dezembro – que se assemelha ao actual n.º 4º do artigo 19º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro198

- configurava um complemento a este princípio, dado que nos “casos de sobreavaliação dos bens objecto de contribuição para um fundo”, o subscritor era “obrigado a apurar a diferença realizada”199

. O n.º 4 do artigo 19º do recente DL prevê também que o subscritor seja responsável por prestar a referida diferença. Estipula, ainda, que caso não realize a prestação do montante, o número de unidades de participação detidas pelo subscritor é sujeita a redução, por anulação, até que perfaça a diferença, cabendo tal tarefa à entidade gestora.

No momento em que os subscritores efectuem a sua primeira contribuição para efeitos de realização do seu capital, o FCR considera-se constituído200

. O n.º2 do artigo 20º prevê a possibilidade de diferimento da realização das entradas relativas a cada categoria de unidades de participação. O período de tempo em que podem ser diferidas será o constante no regulamento de gestão do FCR.

As unidades de participação acarretam a obrigação de realizar as entradas, uma vez que se transmitem com aquelas201.

Quanto à aquisição das unidades de participação pela entidade gestora que administra os FCR, só é permitida até ao limite de 50% das unidades emitidas por cada um dos ditos fundos202. Face ao regime anterior, em que a aquisição limitava-se em 30%, verifica-se que houve um aumento com o actual DL. No limite de 30% estabelecido anteriormente residia,

197 SOARES, Breves notas sobre… p. 238 198

A redacção do nº4 do artigo 19º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro é mais alargada e foi redigida com outros termos. Vejamos: o n.º 4 do artigo 20º do DL n.º 319/2002, de 28 de Dezembro dispunha o seguinte: “Verificada a existência de uma sobreavaliação do bem que um subscritor prestou ao FCR, fica o subscritor responsável por prestar ao FCR o montante da diferença apurada”. O n.º 4 do artigo 19º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro estipula o seguinte: “Verificada a existência de uma sobreavaliação do activo entregue pelo subscritor ao FCR, fica o subscritor responsável pela prestação a este da diferença apurada, dentro do prazo a que se referem os n.os 1 e 2 do artigo 21.º, findo o qual, não tendo aquele montante sido prestado, a entidade gestora deve proceder à redução, por anulação, do número de unidades de participação detidas pelo subscritor em causa até perfazer aquela diferença”.

199 SOARES, Breves notas sobre… p. 238.

200 Cfr. N.º1 do artigo 19º do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro. 201 Cfr. N.º 3 do artigo 20º, do DL n.º 375/2007, de 8 de Novembro. 202

segundo António Soares, dois interesses contraditórios: por um lado, o interesse de possibilitar que as “entidades gestoras de FCR” se tornassem ““sponsors” dos fundos por si geridos” e por outro, o de obstar que a entidade gestora pudesse “atingir um nível de participação num fundo de capital de risco que lhe” permitisse, “de forma independente da vontade dos outros participantes, determinar alterações de aspectos essenciais da vida do fundo”203

. Com o aumento de 30% para 50%, parece que o legislador reforçou o primeiro interesse, flexibilizando a aquisição de FCR e colocou em causa o segundo interesse, ao permitir que a entidade gestora detenha metade das unidades de participação. A intenção do segundo interesse parece desvanecer-se perante o primeiro.

Se às entidades gestoras é admissível a aquisição de unidades de participação dos fundos que administrem, o mesmo já não acontece com os FCR, os quais não podem adquirir unidades de participação por si emitidas, salvo se resultar da aquisição de um património a título universal ou se for o caso configurado no n.º5 do artigo 21º204

. Contudo, ao abrigo do disposto no n.º2 do artigo 22º, as unidades de participação adquiridas na sequência destas excepções, devem ser alienadas no prazo máximo de um ano a contar da data de aquisição sob pena de anulação no final deste prazo, com a consequente redução do capital do FCR. A propósito desta proibição de aquisição, António Soares evoca, novamente, o princípio por ele designado. O autor considera que “esta proibição visa impedir a descapitalização dos fundos em benefício de algum ou alguns dos respectivos participantes”, encontrando aqui a manifestação do “princípio de intangibilidade das contribuições para capital do fundo”205

.