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Banquete: o caminho e os líderes da jornada filosófica

No documento O AMOR E A CURA DA ALMA EM PLATÃO E JUNG (páginas 30-37)

Capítulo 1- Platão e a Filosofia dos Amantes

2. O Amor no Banquete

2.1. Banquete: o caminho e os líderes da jornada filosófica

Alguns diálogos platônicos, como A República14, começam com uma caminhada em direção à pólis ou para fora dela. Isso acontece de algum modo no Banquete, mas a cena inicial se dá no meio de uma conversa em andamento, em algum lugar não revelado. Vê-se Apolodoro respondendo a um amigo, ficando claro que a pergunta havia sido sobre a festa de Agaton, na qual erigiram-se discursos sobre o amor. Apolodoro diz estar preparado para narrar a história, pois, dois dias antes, quando saía de Falero a caminho de Atenas, Gláucon o saudou por trás e pediu-lhe que contasse essa mesma história (172a-b).

A partir disso, Platão cria uma espécie de labirinto antes de dar acesso aos discursos em questão. Esta etapa do texto consiste em uma comunicação incerta, indireta ou ameaçada

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A República 327a: “Desci ontem ao Pireu juntamente com Glauco, filho de Aristão, para fazer minhas orações à deusa e também porque desejava ver como haviam organizado o festival, que pela primeira vez era celebrado. (...) Depois de terminarmos as orações e de assistirmos às cerimônias, retomamos o caminho da cidade. Porém, ao perceber, de longe, Polemarco, filho de Céfalo, que voltávamos para casa, mandou a correr um seu escravozinho, com recado para que o esperássemos. Puxando-me o manto por detrás, disse o menino: Polemarco pede que o espereis. Virei-me e perguntei onde ele se encontrava. Vem já; está ali atrás, foi a sua resposta. Nesse caso, esperemo-lo, disse Glauco.”

pelo tempo e a mémória. Visto que, o caminho do conhecimento é árduo, como bem explica Abel Jeannière (1995, p. 152), em que o acesso à filosofia nunca é dado imediatamente, mas se adquire difícil e lentamente, torna-se natural que Platão a introduza assim.

Essa dificuldade começa com Gláucon explicando a Apolodoro que ouviu uma versão baseada no relato de Fênix, porém a comunicação não foi nada clara. O filho de Felipe o informa que Apolodoro conhece a história. Gláucon procura-o e considera-o, então, o correto comunicador, já que ele é amigo e admirador de Sócrates. Diante da pergunta de Gláucon sobre ele estar ou não presente naquele evento, Apolodoro percebe que tal relato foi mesmo muito impreciso. Então, ele explica que o banquete aconteceu há muitos anos, quando os dois não passavam de crianças. No momento desse diálogo entre Gláucon e Apolodoro, o poeta Agaton já estava a longo tempo fora do país, enquanto que a festa em questão aconteceu em virtude do prêmio que ele ganhara por sua primeira tragédia (173a).

No entanto, Apolodoro revela que quem lhe contou a história, foi o mesmo que a contou a Fênix, ou seja, Aristodemo de Cidateneum. Este sim esteve presente na reunião e era àquela época um dos principais amantes de Sócrates. Embora Gláucon esperasse ouvir a história em primeira mão, se dá por satisfeito e diz que a caminhada até a cidade é propícia para ouvi-la (173b). O caminho está dado, desta vez em direção à cidade, caminho no qual Apolodoro instrui Gláucon e que ele deixa agora. Dois dias à frente, o amigo, cujo nome não foi revelado, bem como o lugar em que se encontram, aguarda a história de Apolodoro, colhida de Aristodemo.

Catherine Osborne (1994, p. 86, tradução nossa)15 observa que o desenrolar da história evidencia, que o exercício filosófico configura-se como uma jornada ao longo de uma estrada. Mas, os amigos de Apolodoro não compartilham essa estrada com ele. Por certo, Apolodoro resalta que os discursos filosóficos feitos por ele ou ouvidos de outros, lhe dão imenso prazer (173c). De acordo com o texto do Banquete, ele desfruta da companhia diária de Sócrates há três anos, acompanha com cuidado todos seus atos e discursos. Considera que antes disso, sua vida não tinha direção e pensava realizar algo importante quando, na verdade, era um homem infeliz (173a). Essa direção implica um trajeto, o qual, para a autora, denota que seguir Sócrates é o mesmo que fazer uma jornada na estrada da filosofia.

A diferença de caminhos entre Apolodoro e seus amigos, apontada por Catherine, pode ser conferida ao longo dos trechos 173a e 173c-d, em que a mesma crítica lançada a Gláucon é dirigida ao amigo que o ouve agora. Percebendo que ambos se interessam mais

15 Todas as citações diretas e indiretas da autora inglesa Catherine Osborne, Eros Unveiled. Plato and the

pelo aspecto social do evento, Apolodoro julga-os infelizes, como ele mesmo foi um dia, por pensarem que a filosofia não lhes diz respeito. Confessa, também, que outros tipos de discursos o entediam, como os de homens ricos que falam sobre dinheiro ou negócios. Eles pensam tratar de algo tão importante quando, efetivamente, não passa de coisa insignificante. Apolodoro lamenta a situação dos amigos e sabe que da parte deles, desconfiam que seja ele o infeliz, todavia, a infelicidade dos amigos é para ele um fato.

Provavelmente, a condição de Gláucon se sobreponha em relação à do amigo ouvinte. Conquanto sua posição atrás de Apolodoro simbolize um atraso quanto à busca do conhecimento, fica clara sua tentativa de aproximar-se da verdade. Apolodoro, por sua vez, já em marcha, deixa sua casa em Falero partindo de seu antigo estilo de vida não-filosófico, para seguir a nova vida no reduto socrático. Ao levar Glauco até Atenas, é ao mesmo tempo guia e seguidor. Esta situação se repete quando Apolodoro busca pelo relato de Aristodemo sobre a festa e enfatiza que este, à época do banquete, já era devotado seguidor de Sócrates (OSBORNE, 1995, p. 87,88).

Diante do contexto, pode-se supor que Aristodemo estivesse vivo à época do relato de Apolodoro. Ou, pelo menos, esteve vivo até recentemente, pois fazem apenas três anos que Apolodoro se engajara no percurso filosófico. Aristodemo deve ter iniciado sua peregrinação a pelo menos dez ou vinte anos, contando, de qualquer forma, muito mais anos de serviço que Apolodoro. Isso estabelece certa hierarquia de guias neste caminho, que será encabeçado por Diotima. Para mais, delineia-se desde já, uma via de ascensão erótica com seguidores e líderes (OSBORNE, 1995, pag 88, 90).

Quanto ao amigo que aguarda o relato do evento, reage com protestos e acusa Apolodoro de louco, diante do lamento deste por sua condição de simples curioso. Pois, segundo o tal amigo, Apolodoro critica a todos exceto o Sócrates. No entanto, a análise é acatada por Apolodoro: “Ó caro amigo, é evidente que a razão de eu sustentar essa opinião de mim mesmo e de todos vós é simplesmente a presença de uma loucura16 em mim!” (173e). Nesse caso, ele prefere não discutir e pede que Apolodoro lhe atenda ao pedido de narrar os discursos.

Este é o quadro dentro do qual Apolodoro conta sua história, embora tal quadro seja sempre esquecido no final. Apolodoro, a partir de agora, dá voz a Aristodemo e vai se transformando em um narrador não observado. Aristodemo terá o mesmo destino, em breve será esquecido pelo leitor, pois ainda que estivesse presente no banquete, não mencionou

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discurso próprio. Ademais, tão logo Sócrates adentra a casa, a festa se torna presente e todos como que falam por si.

Surge mais uma vez no diálogo um caminho, já dentro da cidade, aquele no qual Aristodemo encontra Sócrates e que os conduzirá à casa de Agaton. Um caminho inundado pelos pensamentos de Sócrates, cujos conteúdos não são explicitados. Platão apenas menciona que Sócrates estava submerso neles. Essas omissões são, no texto, o que mais expõem a presença de Platão, pois somente ele poderia omitir essas informações. Mesmo assim, ele ainda se mantém reservado, dado que, mesmo quando ele emite o texto, o faz imerso na sombra de Sócrates ou de qualquer outro personagem. Como consta na introdução desta dissertação, Monique Dixsaut (2001, p. 127), diz que é impossível citar o evasivo Platão.

Antes de adentrar esse caminho com Sócrates, Aristodemo inicialmente, não sabia da festa de Agaton, que ocorria desde o dia anterior. Estava descalço como lhe era habitual e encontrou Sócrates banhado, calçando sandálias. Visto que os dois acontecimentos eram raros em se tratando de Sócrates, Aristodemo perguntou o motivo da boa aparência. Sócrates o informa do banquete e explica que a bela aparência, é para concordar com a beleza de seu anfitrião. Justifica sua ausência no primeiro dia da festa, alegando evitar multidões e euforias (174a). Emendando um adágio de Homero, ele convoca Aristodemo para acompanhá-lo ao jantar. A despeito de que este não havia sido convidado por Agaton, ele aceita ir junto desde que Sócrates assumisse o motivo de sua presença (174d).

Postos a caminhar, Sócrates fica para trás por estar sobremaneira pensativo e pede que Aristodemo prossiga. Assim, ele teve que enfrentar, a contragosto, o vexame de chegar sozinho. Mas passado isso, um servo lava-lhe os pés, enquanto outro sai em busca de Sócrates (174e). Este foi encontrado ainda absorto em pensamentos, ali no pórtico vizinho, e se recusava a entrar. Depois de idas e vindas do servo insistindo que ele entrasse, quando o jantar já estava pela metade, ele finalmente entrou (175c).

Na visão de Catherine (1995, p. 91), Sócrates está levando Aristodemo para a festa e se torna seu guia, como já proposto. No entanto, há uma inversão em que guia e seguidor mudam de lugar, já que Sócrates fica para trás e pára na varanda de alguém. O objetivo de Platão não se restringe somente a ilustrar a excentricidade de Sócrates. Mas marcar o fato de que, nesta ocasião em particular, Aristodemo se revela mais socrático do que Sócrates por causa da simbologia de sua aparência, principalmente dos pés desnudos.

Pois que Aristodemo, como um verdadeiro amante, adota o estilo de vida ascético de Sócrates, está descalço. Ainda que fosse raríssimo encontrar Sócrates banhado, em suas melhores vestes e de pés cobertos, nesse átimmo, ele se professa amante de Agaton, seguindo

seu estilo de vida. Só por agora, Sócrates está em conformidade com o Eros desse poeta. Mas quando se passa ao discurso de Sócrates, que será o último a louvar Eros, descobre-se que essa imagem de amor não leva à verdade. Porque o verdadeiro guia na filosofia, ou seja, Eros, tem uma aparência rústica, que se aproxima melhor àquela apresentada por Aristodemo (OSBORNE, 1995, p. 91).

O belo anfitrião convida o recém-chegado para que reclinasse ao seu lado, de modo que em contato ele pudesse absorver aquela sabedoria concebida no pórtico. Sócrates alega que se isso fosse possível, seria ele o agraciado.

“Sócrates, vem reclinar-te perto de mim, para que te tocando, possa eu beneficiar-me desse bocado de sabedoria que a ti ocorreu naquele pórtico. É evidente que fizeste uma descoberta e te apoderaste dela, pois se assim não fosse, ainda estarias lá.” Ouvindo-o Sócrates sentou-se e disse: “Que bom seria, Agaton, se a sabedoria fosse o tipo de coisa que pudesse fluir daquele entre nós que dela estivesse mais repleto, para aquele que dela estivesse mais vazio mediante nosso mero contato mútuo, como a água que flui através da lã da taça mais cheia para a mais vazia. Se assim sucedesse de fato com a sabedoria, seria um sumo prêmio sentar ao teu lado; não demoraria a sentir-me repleto da admirável sabedoria copiosamente aurida de ti. A minha é ínfima e tão contestável quanto um sonho, enquanto a tua é resplandencente e irradiante, como a assistimos outro dia emanando de tua juventude, vigorosa e estupenda, ante os olhos de mais de trinta mil gregos.”

“Tu te excedeste, Sócrates”, disse Agaton. “Um pouco mais de tempo para ti e não tardará para que Dionísio seja o juíz de nossas pretensões quanto à sabedoria. Por enquanto, ocupa-te apenas de teu jantar.” (175d,e)

Em seguida à chegada de Sócrates, o ponto que chama bastante atenção, especialmente por tratarmos do vínculo “amor e saúde”, é o fato de Platão introduzir o tema através das orientações de um médico17. Inclusive, Erixímaco fará seu próprio louvor a Eros pelo viés da arte médica. Frias (2004, p. 11), constata que Platão teria sido ávido leitor dos textos médicos de seu tempo. Uma vez que é possível perceber um nexo entre o método de “observação clínica” (criação da medicina Hipocrática), e o método da arte retórica presente no Fedro. No trecho 270 c-d do referido diálogo, ele transpõe a tékhne18 de Hipócrates para a filosofia. A

17 Algo semelhante ocorre no diálogo Fedro (227a), em que o primeiro parágrafo traz o médico

Acumeno (pai de Erixímaco do Banquete), indicando como muito benéfico e saudável o passeio para fora dos muros da cidade. Tanto no Fedro quanto no Banquete, o personagem Fedro mostra total concordância e obediência aos preceitos médicos. É ele que em ambos os textos, devido a seu contato com os médicos, acaba se tornando o responsável pelo tema do amor. Já que no Fedro, embora a sugestão médica não tenha sido, explicitamente, a de discursar sobre o amor, ela permeia o encontro de Fedro com Sócrates e justifica o local onde os discursos são concebidos.

18 Τζχνη (Tékhne) – Ténica; arte manual, ofício; habilidade (manual, em coisas de espírito);

partir do modelo médico, o filósofo fala pela primeira vez da diaíresis19, ou método da divisão, que estará presente nos diálogos considerados como da última fase.

É verdade que a medicina e a erótica estão constantemente próximas uma à outra, contudo, a medicina serve de paradigma para diversos fins, quais seja a política, a justiça e outros. Além disso, Platão utiliza outros modelos médicos em sua obra como é caso do diálogo Cármides, no qual trataremos de especificar, as novidades que o filosófo introduz nessa área. Assim, não há dúvidas de que sua atenção aos conhecimentos da arte médica seja constante.

Na introdução do Banquete percebemos a elevada consideração que os convidados dispensam às palavras de Erixímaco. Por causa da ressaca do dia anterior, Pausânias sugere que deixem de lado a embriaguez, dispensando também as flautistas. É reprezsentação da transformação do rito Dionísiaco em rito Apolíneo, do mito em lógos, reflete Macedo (2001, p. 16).

Mesmo diante do conscentimento geral, Erixímaco acautelou que a embriaguez é nociva ao ser humano e não a indica. Sugere em vez disso, que a bebida seja limitada ao ponto do prazer e que se façam discursos para os quais ele pode sugerir o tema (176d,e). Foi então, que ele revelou uma extensa queixa que Fedro lhe fizera sobre a escassez de louvores a Eros, enquanto que até o sal era louvado constantemente por sua prazerosa utilidade (177c).

Estando o médico de pleno acordo com o protesto de Fedro, indica, então, que os discursos contemplem o deus do amor. A começar pelo próprio Fedro, pai do tema, e, assim, sucessivamente da esquerda para a direita (177d). Novamente todos concordaram, tal como Sócrates, que inteiramente satisfeito diz que a única coisa de que entende é sobre a arte do amor. Acrescenta, ainda que todos os presentes, sobretudo os poetas que vivem entre Dionísio e Afrodite têm condições de elaborarem discursos admiráveis (178e).

Os últimos portais desse labirinto inicial que Platão coloca como entrada para os discursos são, na verdade, duplos vãos, referentes à memória de Apolodoro e Aristodemo. De todos os convivas que discursaram sobre o amor no banquete, apenas alguns serão recordados por Aristodemo e menos ainda os retidos por Apolodoro.

É claro que Aristodemo não pôde recordar-se de cada discurso individual na sua totalidade, bem como eu próprio recordar-me de absolutamente tudo que ele me contou. Contudo, as partes (dos discursos) que considerei mais memorizáveis, até

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διαιρεςισ (diérese) – distribuição; distinção. A diérese é a divisão de ideias metodologicamente efetuada. O precursos da diérese platônica é a sinonímica de Pródico de Ceos, que pretendia diferenciar duas palavras aparentemente iguais. Só com Platão ela se torna um método científico e até mesmo o cerne da própria dialética nos escritos posteriores (PEREIRA, 1998, pág. 130; SCHÄFER, 2012, pág 90, 91).

em função dos discursadores, eu as relatarei a ti, inclusive na sequência em que tais discursos foram feitos (178a)

Esses vãos da memória parecem remeter a um conteúdo que Platão menciona, mas não revela, deixando a impressão de que esses discursos revelam o tema apenas parcialmente. O que não significa que a narração seja defeituosa, como no caso daquela mencionada por Gláucon, ou seja, a primeira narração baseado no relato de Fênix. Aquela não merece créditos, por ser imprecisa, vaga e faz com que a compreensão da mensagem não seja apropriada. Em vez disso, Platão talvez, retira do texto aquilo que só seria alcançável pelo exercício filosófico particular de cada alma. Ainda assim, prevalece a dúvida: qual seria o resultado, caso os meios de transmissão desses discursos, não estivessem tão limitados pela memória?

Macedo (2001, p. 16), distingue a boa narração de Apolodoro, que conduz à reflexão e à argumentação. O fato de ele repetir a narração duas vezes, em um intervalo de dois dias, é o sinal de que ele dá continuação ao lógos acolhido. O que corrobora com o pensamento de Macedo é o passo 173b, no qual Apolodoro busca por explicações mais precisas, procurando Sócrates para confirmar seu próprio discurso. É isso, que a princípio, já difere o discurso de Sócrates de todos os outros, é o único que teve seu conteúdo confirmado e sua nitidez garantida.

A primeira ordem do diálogo, a dos discursos de Fedro, Pausânias, Erixímaco, Aristófanes e Agaton, mostram uma multiplicidade de opiniões sobre Eros. São todos personagens bem instruídos e que compuseram discursos dotados de variegada beleza e conteúdo. Cada qual expressa os efeitos de Eros pela perspectiva de suas ocupações e à altura delas. Eles são fundamentais na composição do diálogo como um todo, bem como ao discurso de Sócrates. Pois é desenhada uma transição do elogio à verdade essencial do amor.

Nesse jogo de meias-verdades, Platão tem espaço para trafegar entre Hesíodo, Parmênides, mas, sobretudo, de estabelecer o processo de depuração da doxa, em busca da verdade. Este princípio é imprescindível no modo socrático de fazer filosofia. Promove, igualmente, a definição do discurso filosófico e do papel do filósofo. Jaeger (1989, p. 499), entende que a união das tendências a ideias universalmente válidas desvendam-se, nas figuras poéticas caracterizadas por Platão. Esse coro de vozes reais da época, do qual se ergue no fim a de Sócrates, corresponde a uma situação espiritual e moral, em que todos buscam uma solução comum, que abarque todas as tendências discrepantes.

Longe de ser uma introdução retórica ou uma montagem aleatória, constitui para Dixsaut (2001, p. 136, 142, 143), um inventário de ilusões sobre Eros. Todavia, todos que

falam são, no mínimo, amantes de seus discursos e acrescentam ao precedente aquilo que neles faltam. Nesse ínterim, algumas verdades são alcançadas e outras não.

Já para Macedo (2001, pág. 16, 17, 18), os cinco primeiros discursos concernem mais ao elemento dramático que ao elemento filosófico. Em razão de atender apenas aparentemente, à exigência filosófica de tratar, com prioridade, da natureza de Eros e, depois, de seus efeitos. Assim, segundo ele, podem-se considerar tais discursos como “as máscaras de Eros”, um “teatro de sombras” no qual os convivas o moldam a seus campos de atuações. É o primeiro vislumbre que Platão concede, da capacidade de cada um em defini-lo o melhor e mais belo possível, na tentativa de agregar beleza ao próprio discurso.

Este é o segundo ponto que difere o discurso de Sócrates, dos demais, o fato de ele especificar a natureza de Eros. O primeiro ponto, como dito acima, se refere à nitidez e, o próximo será o uso do caminho dialógico, primeiro com Agaton e depois com Diotima. Mas o seu destaque não pára por aí. Veremos que Platão resgata esse tema da situação fatídica do mito, da opinião e da ignorância e o transporta para um caminho, do qual ele é um dos precursores, o caminho filosófico.

No documento O AMOR E A CURA DA ALMA EM PLATÃO E JUNG (páginas 30-37)