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Barra “Flor de Liz” e “Papoulas”

4. Azulejaria de fachada no Barreiro – Casos de Estudo

4.2 Centros de fabrico, técnicas decorativas e influências externas

4.2.1 Fábrica Viúva Lamego | padrões estampilhados

4.2.1.13 Barra “Flor de Liz” e “Papoulas”

A barra de arquitrave B-19-00007 designada por “Flor de Liz” de utilização tardia267, coincidindo com o período Arte Nova, em alguns casos, patente no imóvel na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 200 [BA_B_CJAA_0200] é constituída por festões de flores policromas e folhas de videira, alternando com flores-de-lis estilizadas em tons de azul, verde e

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A.M.B., G.T.L., Dossier 4/20 de Maio de 2000.

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Vide Ana Margarida Portela DOMINGUES, A ornamentação cerâmica na arquitectura do Romantismo em Portugal. (…), 2009, vol. I, pp. 349-350, situando- a cronologicamente e referindo o desenho avulso, existente no Museu Nacional do Azulejo atribuindo, a sua execução, também, à Fábrica Viúva Lamego.

laranja sobre fundo branco (Fig. 220). Encontra-se atribuída à Fábrica Viúva Lamego, apesar de alguns investigadores afirmarem que esta unidade fabril, nunca terá produzido qualquer tipo de barra Arte Nova268. No entanto, podemos comprovar existirem três desenhos avulsos de barras para arquitrave no Museu Nacional do Azulejo269, sendo a terceira designada de “Jarros” com a representação destas flores. Em relação à barra com o motivo “Flor-de-lis” foi aplicado neste edifício, ao contrário daquilo que o desenho indica (Fig. 221) com o festão a formar arcos não sabemos se intencionalmente ou se por ingenuidade ou ignorância.

A Fábrica Cerâmica das Devesas também produziu este tipo de barra, mas com diferenças cromáticas, utilizando mais cores nas flores que compõem o festão, como o amarelo e o rosa. Por sua vez, as parras verdes são mais largas e não tão recortadas, e o núcleo da flor de pétalas lanceoladas usa o vermelho, como é possível verificar no desenho reproduzido no catálogo com o n.º 67270(Fig. 222).

Uma variante desta barra surge num imóvel da tipologia 1 na Vila da Moita na Rua Machado Santos, n.º 39. Este edifício de gosto eclético apresenta a fachada revestida por azulejos de padrão, com motivos geométricos e vegetalistas em tons de amarelo, castanho e azul-claro sobre fundo branco, possivelmente da Fábrica Roseira271(Fig. 223, 224).

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Vide Catálogo A Arte Nova nos Azulejos em Portugal, Colecção Feliciano David e Graciete Rodrigues, Câmara Municipal de Aveiro, Museu da Cidade de Aveiro, 16 de Julho a 2 de Setembro de 2011, p. 31, em que é referido: “Como curiosidade, note-se que a Fábrica Viúva Lamego, grande fornecedora de azulejos para as fachadas de Lisboa, na transição do século XIX para o XX, nunca produziu que se saiba, qualquer exemplar Arte Nova”. Vide A. J. Barros VELOSO, Isabel ALMASQUÉ, O azulejo português e a Arte Nova, Lisboa, Colecções História da Arte, Edições Inapa, 2000, p. 63, os autores referem que a Fábrica Viúva Lamego “em nada contribuiu para a produção de azulejaria Arte Nova”.

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Vide Catálogo da Fábrica Viúva Lamego, Dossier n.º 9 – Fábricas, Lisboa, Museu Nacional do Azulejo, [s.d.], em que os três desenhos referidos foram arquivados juntamente com o catálogo de Ornamentação Cerâmica referente à Fábrica, e como tal deduzimos que foram identificados, como fazendo parte da produção daquela unidade fabril.

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Vide Catalogo da Fabrica Ceramica e de Fundição das Devesas - Antonio Almeida da Costa e C.ª - Villa Nova de Gaya – Portugal, Porto, 1910.

271

Vide Paulo HENRIQUES (coord.), Museu Nacional do Azulejo - Roteiro, Lisboa, Instituto Português de Museus, Edições Asa, 2003, p. 152, proveniente do depósito da Fábrica [MNAz inv. n.º 7266-az]

A barra foi aplicada formando uma composição completamente diferente da do desenho proposto pela Fábrica Viúva Lamego e diferente da do imóvel, localizado no Barreiro. Foram utilizados os mesmos tons e motivos, mas agrupados de modo diverso, ou seja, os festões de flores e folhagem que pendiam formam, agora, uma grinalda colocada ao centro, enquanto outros, formam grupos de coroas intercaladas por folhas de videira. As coroas alternam com elementos lanceolados, sobrepostos por grade, azuis, em vez das flores-de-lis (Fig. 225, 226). São ainda ladeadas por formas geométricas azuis, enlaçadas por folhas de videira, alternando, com pares de flores azuis e amarelas que, no desenho original, surgem sobre o festão e no imóvel do Barreiro, sob este. A barra é rematada por elementos elípticos vazados, intercalados por outros alongados e arredondados, azuis (Fig. 227).

Possui uma balaustrada bastante invulgar, formada por uma série de arabescos, certamente produzida pela Fábrica Cerâmica das Devesas, como consta no catálogo com o n.º 609272. As duas urnas que rematam a balaustrada são produção da Fábrica Viúva Lamego, como podemos ver no catálogo com o n.º 571273, e, ao centro, é visível uma estátua alegórica, em terracota, posteriormente caiada, possivelmente produção desta fábrica.

[Fig. 220 – Pormenor da barra de arquitrave aplicada ao contrário com o festão a formar arcos [B-19-00007] | Imóvel [BA_B_CJAA_0200_01_01] na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 200]

[Fig. 221 – Desenho para barra de arquitrave da Fábrica Viúva Lamego] [Fig. 222 – Desenho para barra de arquitrave da Fábrica Cerâmica das Devesas]

[Fig. 223, 224 – Moita | Imóvel na Rua Machado Santos n.º 39 |módulo de padrão]

[Fig. 225 – Moita | aplicação da barra com o motivo “Flor-de-Lis”]

[Fig. 226 – Moita | pormenor da aplicação da barra com o motivo “Flor-de- Lis”]

[Fig. 227– Moita | pormenor do remate da barra com o motivo “Flor-de- Lis”]

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Vide Catalogo da Fabrica Ceramica e de Fundição das Devesas - Antonio Almeida da Costa e C.ª - Villa Nova de Gaya – Portugal, Porto, 1910, p. 42, Secção de Olarias – Arabescos para Platibandas.

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Vide Catálogo da Fábrica Viúva Lamego, Dossier n.º 9 – Fábricas, Lisboa, Museu Nacional do Azulejo, [s.d.]

Outro modelo de barra B-20-00005 atribuído a Fábrica Viúva Lamego, seguindo a estética Arte Nova, surge num imóvel da tipologia 1 situada na Rua da Amoreira n.º 91 [BA_B_A_0091_01] (Fig. 228, 229). Normalmente, neste tipo de barra os elementos florais são dos mais representados, como as túlipas, malmequeres, papoilas, amores-perfeitos, lírios, jarros, girassóis, entre outros, dispostos habitualmente ao longo de linhas ondulantes e contracurvadas. As flores surgem, por vezes, vistas por detrás, de modo a que a ligação entre o caule e o cálice fique virada para o observador274, o que é visível nesta barra, formada por uma sequência de flores viradas, umas abertas alternando com outras de perfil e botões pendendo, ao longo de um caule contracurvado, onde é notória essa ligação do caule ao cálice. Este modelo é muito semelhante ao desenho publicitário do Museu Nacional do Azulejo275(Fig. 230, 231). Existem outros exemplares no Barreiro, de barras e cercaduras Arte Nova, com motivos florais e com as flores viradas, que abordaremos a seguir, porque, na sua maioria, são produção da Fábrica de Sacavém, havendo no entanto, também, algumas da Fábrica do Desterro.

[Fig. 228– Imóvel [BA_B_A_0091_01_01] na Rua da Amoreira n.º 91] [Fig. 229– Pormenor da barra de arquitrave [B-20-00005]]

[Fig. 230 – Desenho para barra de arquitrave da Fábrica Viúva Lamego] [Fig. 231 – Modelo idêntico patente no catálogo de azulejaria sobre Arte Nova]

4.2.2 Fábrica de Sacavém | padrões estampados e semi-