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Padrão com motivos florais e circulares

4. Azulejaria de fachada no Barreiro – Casos de Estudo

4.2 Centros de fabrico, técnicas decorativas e influências externas

4.2.2 Fábrica de Sacavém | padrões estampados e semi relevados

4.2.2.4 Padrão com motivos florais e circulares

Este padrão catalogado como P-20-00006 de módulo 2x2/1, em tons de verde sobre fundo branco, é facilmente associado à produção da Fábrica de Sacavém, pelo facto de se identificarem alguns exemplares, com variante de cor no catálogo284. O módulo é constituído por três circunferências de diferentes dimensões, que se intersectam, e finas ramagens entrecruzadas. As circunferências apresentam molduras, decoradas por elementos geométricos e enrolamentos vegetalistas, inscrevendo florão de pétalas brancas e verdes. A circunferência de menores dimensões inscreve um motivo floral, nos mesmos tons (Fig. 247, 248). Produzido e utilizado durante largo período de tempo, até cerca de 1980, este padrão surge no Barreiro em locais distintos e distantes entre si, em edifícios tipologicamente diferentes. Um deles devoluto e bastante degradado, enquadra-se na tipologia 1 situando-se na Avenida Bento Gonçalves n.º 96 [BA_B_BG_0096], formando gaveto com a Travessa do Loureiro n.º 2. Outro imóvel, da tipologia 2, localiza-se na Rua Combatentes da Grande Guerra n.º 63 [BA_B_CGG_0063] formando gaveto com a Avenida Alfredo da Silva n.º 64 [antiga Avenida da Bélgica].

Começamos por analisar este último edifício, actualmente com duas entradas distintas, o que não se verificava no início do século XX. Nesta data apresentava as duas frentes totalmente azulejadas, como podemos comprovar pela foto a preto e branco, demonstrando ser um edifício com algum impacto na imagem urbana (Fig. 249). Em 5 de Abril de 1955 o proprietário, Sr. José Coelho, requereu uma licença à Câmara Municipal do Barreiro, no sentido de o Sr. José Tiago Rodrigues, comerciante e

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Vide Catálogo da Real Fabrica de Louça de Sacavem – Azulejo, Gilman & Commandita, Lisboa, 1910 – este modelo surge no catálogo da Fábrica com o n.º 407 – A; B; C; D; E; H.

residente nesta cidade do Barreiro285, poder efectuar modificações no prédio que tinha arrendado. É possível que remonte a esta época a intervenção na fachada voltada para a Avenida Alfredo da Silva [antiga Avenida da Bélgica] perdendo-se então o revestimento azulejar. A montra foi substituída, na mesma intervenção, por uma porta de entrada, colocada ao centro e ladeada por duas montras, em vez das anteriores portas. O alçado voltado para a Rua dos Combatentes da Grande Guerra manteve a mesma estrutura arquitectónica, embora a grande maioria do seu revestimento azulejar tenha desaparecido. Actualmente conserva apenas parte do revestimento, colocado na zona superior do alçado, por debaixo da platibanda (Fig. 250). É encimado por dois frisos similares F-20-00001, nos mesmos tons do padrão e de temática idêntica, possivelmente concebido para serem aplicados em conjunto. Intercala ainda uma cercadura com motivos florais semelhantes a túlipas, em tons de azul sobre fundo branco, simulando uma barra de arquitrave C-20-00002 (Fig. 251).

O outro imóvel da tipologia 1, situado na Avenida Bento Gonçalves n.º 96 e formando gaveto com a Travessa do Loureiro n.º 2, apresenta apenas a fachada principal azulejada (Fig. 252, 253). O alçado principal foi revestido com este tipo de padrão P-20-00023, estampado, em tons de azul sobre fundo branco (Fig. 254, 255) apenas ao nível do segundo registo e nas laterais do primeiro, apresentando sob a varanda do primeiro piso, azulejos de padrão mais tardios, certamente dos anos 70/80 do século XX, em tons de cinza, sem grande interesse patrimonial. Entre as mísulas da varanda surge um par de ornatos cerâmicos, duas gárgulas Gg-20-00002, em forma de pássaro, pouco comuns. Nos edifícios inventariados neste aglomerado urbano são as únicas deste género, encontrando-se, no entanto, bastante danificadas, ambas sem a cabeça, não permitindo como tal, identificar positivamente a ave (Fig. 256, 257).

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A.M.B., CS 9/55, o proprietário requereu autorização para fazer modificações no seu prédio arrendado,“(…) pretendendo mandar concluir a alteração da fachada do prédio situado na Avenida da Bélgica nº 64 e 66 tornejando para a rua dos Combatentes da Grande Guerra. A obra que pretende consta da remodelação de toda a frente da Avenida da Bélgica e parte da rua dos Combatentes da Grande Guerra e destina-se a um estabelecimento de fanqueiro. Procurou-se dar ao prédio existente o melhor arranjo possível às fachadas. As cores a aplicar nas fachadas serão de acordo com a repartição técnica da Câmara Municipal”.

[Fig. 247, 248 – Módulo de padrão [P-20-00006] | aplicação do módulo de padrão]]

[Fig. 249 – Imóvel [BA_B_CGG_0063_01_01] na Rua Combatentes da Grande Guerra n.º 63 formando gaveto com a Avenida Alfredo da Silva n.º 64 [antiga Avenida da Bélgica] | vista geral do edifício totalmente azulejado com platibanda ornamentada por pinhas]

[Fig. 250 – Imóvel [BA_B_CGG_0063_01_01] na Rua Combatentes da Grande Guerra n.º 63 formando gaveto com a Avenida Alfredo da Silva n.º 64 [aspecto actual – Agosto 2012]]

[Fig. 251 – Pormenor do friso [F-20-00001] intercalando a cercadura com túlipas [C-20-00002] a azul e branco]

[Fig. 252, 253 – Imóvel [BA_B_BG_0096_01_01] na Avenida Bento Gonçalves n.º 96 formando gaveto com a Travessa do Loureiro n.º 2 | vista da fachada principal]

[Fig. 254, 255 – Módulo de padrão [P-20-00023] | aplicação do módulo de padrão]

[Fig. 256, 257 – Par de gárgulas cerâmicas em forma de ave [Gg-20-00002]] 4.2.2.5 Padrão com motivos geométricos e florais estilizados –

exemplo de um padrão reaproveitado

O padrão P-20-00024 estampilhado com aerógrafo, em tons de verde, laranja e preto, constituído por motivo floral estilizado, formado por quatro pétalas fusiformes, sobreposto a um quadrado sobre o vértice, determina um reticulado diagonal sobre a superfície onde é aplicado (Fig. 258, 259). Está presente num imóvel da tipologia 3, com um só piso e águas-furtadas, no início de uma das principais artérias do Barreiro, a Rua Miguel Bombarda n.º 1 [BA_B_MB_0001], que se desenvolveu com o crescimento da população para vias periféricas ao antigo núcleo urbano. É um edifício devoluto, de fachada larga com implantação horizontal face à via pública, que possuía a fachada totalmente revestida com azulejos de padrão, de módulo único, perceptível pelas marcas do tardoz dos azulejos, ainda visíveis no reboco, subsistindo apenas actualmente, na parte superior do frontão curvo (Fig. 260, 261). Sobre a cornija observa-se parte de uma barra com motivos florais Arte Nova B-20-00014, executada pela Fábrica de Sacavém286 e uma balaustrada dividida em quatro secções,

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Vide Ana Paula ASSUNÇÃO, Fábrica de Louça de Sacavém. Contribuições para o estudo da indústria cerâmica em Portugal – 1856-1974, Lisboa, Edições Inapa, 1997, surge na contracapa uma barra similar, identificada como “Modelo n.º

com balaústres periformes, ladeando as águas-furtadas, rematadas em frontão curvo (Fig. 262, 263, 264).

Outros artefactos cerâmicos, tais como um vaso e globo, existiram, em tempos, aplicados nas pilastras que dividem a balaustrada, ainda aí se encontrando, em Janeiro / Fevereiro de 2000287.

Segundo informação recolhida no Arquivo Municipal do Barreiro, uma parte dos azulejos foi reaproveitada e aplicada num edifício de construção recente, na Rua Dr. Eusébio Leão, n.º 22 [BA_B_DEL_0022] (Fig. 265, 266). É um prédio de rendimento de quatro pisos, destinado a habitação, em que os azulejos foram dispostos em dois painéis verticais, a ladear a porta de entrada, em composições meramente decorativas, e passando quase desapercebidas, perante a volumetria do edifício, e pelo facto de a entrada ser recuada, formando um alpendre.

Este tipo de azulejos foi produzido entre cerca de 1905-1940 pela fábrica de Sacavém288. Existe um modelo idêntico no catálogo da Fábrica Aleluia - Aveiro289, com o n.º 44, estampilhado e com cercadura concebida para ser aplicada em conjunto, com cores e motivos semelhantes (Fig. 267, 268).

[Fig.258, 259 – Módulo de padrão [P-20-00024] | aplicação do padrão] [Fig. 260 – Imóvel [BA_B_MB_0001_01_01] sito na Rua Miguel Bombarda n.º 01]

[Fig.261 - Pormenor das águas-furtadas com a aplicação dos azulejos de padrão [P-20-00024]]

[Fig.262 – Barra de arquitrave [B-20-00014] e balaustrada [Bl-20-00003]] [Fig. 263, 264 - Modelos de barra semelhantes]

[Fig. 265, 266 – Imóvel [BA_B_MB_0001_01_01] na Rua Dr. Eusébio Leão n.º 22 | aplicação dos painéis a emoldurar a porta de entrada, com azulejos provenientes do imóvel [BA_B_MB_0001_01_01] sito na Rua Miguel

Bombarda n.º 01]

1”. Vide A Arte Nova nos Azulejos em Portugal, Colecção Feliciano David e Graciete Rodrigues, Aveiro, 2011, p. 95, n.º 41, tem representado um modelo idêntico.

287

A.M.B., G.T.L., Dossier 12/20, 1997.

288

Vide Ana Paula ASSUNÇÃO, Fábrica de Louça de Sacavém. Contribuições para o estudo da indústria cerâmica em Portugal – 1856-1974, Lisboa, Edições Inapa, 1997, p. 73, “Modelo n.º 521”.

289

Vide Catálogo da Fábrica Aleluia de João Pinho das Neves Aleluia, Aveiro, [s.d].

[Fig.267, 268 - Desenho do padrão da Fábrica de Sacavém e modelo idêntico da Fábrica Aleluia – Aveiro]]