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Exemplo de barra e cercadura da Fábrica Lusitânia

4. Azulejaria de fachada no Barreiro – Casos de Estudo

4.2 Centros de fabrico, técnicas decorativas e influências externas

4.2.3 Outras fábricas

4.2.3.2. Exemplo de barra e cercadura da Fábrica Lusitânia

Neste conjunto habitacional inventariámos uma barra e uma cercadura, possivelmente produzidas pela Fábrica Lusitânia. São bastante diferentes em termos temáticos e cromáticos, uma estilizada a outra mais naturalista, e aplicadas em edifícios de tipologias e localizações distintas.

A barra surge num imóvel da tipologia 1, ou seja, um edifício com dois pisos e águas-furtadas323, implantado na Rua Almirante Reis n.º 123 [BA_B_AR_0123], apresentando a fachada revestida por azulejos de padrão catalogados como P-20-00014, excepto do lado esquerdo, ao nível do primeiro registo. O módulo de padrão é constituído por uma malha de motivos fusiformes, amarelos, com interior delineado a azul, inscrevendo alternadamente uma flor de pétalas amarelas e azul-claro e amarelas e azul-escuro (Fig. 353, 354, 355).

Sobre a cornija surge uma barra de arquitrave B-20-00008 com os mesmos tons do padrão, formada por enrolamentos de folhagem em dois tons de azul, unida por quatro anéis amarelos, determinando um elemento cruciforme de braços recortados, no mesmo tom. A partir dos dois anéis colocados lateralmente projecta-se, para o interior da forma, um motivo trifoliado amarelo. Da união do elemento central resulta uma cruz em aspa, ornada superior e inferiormente por festão amarelo. Este exemplar de barra para arquitrave consta do catálogo324 da fábrica, designado como “friso ou arquitrave” (Fig. 356, 357). A frontaria é rematada por platibanda rectangular seccionada em almofadas, rematada por cinco urnas com tampa. As águas-furtadas são recortadas em arco de volta perfeita, simulando frontão curvo, assente sobre um par de pilastras, ornado por cordão perlado, em cantaria.

A cercadura C-20-00009 surge num imóvel da tipologia 2, isto é, uma casa térrea destinada a habitação325, localizada no Largo Luís de

323

A.M.B., CS 672/32, as águas-furtadas foram ampliadas em 17 de Maio de 1932, pelo seu proprietário Manuel Duarte.

324

Vide Catálogo da Comp.ª das Fabricas Cerâmica Lusitânia [Série C – fundo n.º 168 - friso ou arquitrave de 0,30 de alto].

325

A.M.B., CT 598/30 de 2 de Dezembro de 1930, em que o proprietário Sr. Daciano dos Santos apresenta à Câmara do Barreiro, “projecto para construção de

Camões n.º 45 [BA_B_LC_0045] (Fig. 358, 359). Apresenta a fachada decorada por cercadura Arte Nova simulando uma barra de arquitrave, constituída por uma sucessão de flores castanhas, erguidas ou pendendo, dispostas alternadamente ao longo de caule contracurvado, com folhas e bagas (Fig. 360). Este exemplar de barra para arquitrave consta do catálogo326da fábrica, designado como “friso artístico” (Fig. 361).

O edifício é rematado por três frontões, um triangular e alto, ao centro, ladeado por outros dois, de menores dimensões, curvos e escalonados. Toda a fachada, seccionada em três panos, por meio de pilastras fingidas, ornadas por flores e festões pendendo, apresenta outros elementos decorativos Arte Nova. Sobre as janelas exibe remates pontiagudos. Os dois frontões menores ostentam mascarões envoltos em grinaldas e, o central, um mascarão com festões, pendendo lateralmente.

Fig. 353, 354, 355 – Imóvel [BA_B_AR_0123_01_01] sito na Rua Almirante Reis n.º 123 |alçado constante do projecto de ampliação das águas- furtadas |módulo padrão [P-20-00014]]

[Fig. 356, 357 - Barra [B-20-00008] | modelo idêntico produzido pela Fábrica Lusitânia]

[Fig. 358, 359 – Imóvel [BA_B_LC_0045_01_01] sito no Largo Luís de Camões n.º 45 |alçado constante do projecto de construção do edifício | fachada principal]

[Fig. 360 - Cercadura [C-20-00009]]

[Fig. 361 – Modelo idêntico produzido pela Fábrica Lusitânia] 4.2.3.3 Painel figurativo da Fábrica do Desterro

Este painel figurativo Pf-20-00007 foi aplicado num imóvel da tipologia 2, na Rua Vasco da Gama n.º 17 [BA_B_VG_0017] (Fig. 362, 363). O edifício apresenta a fachada totalmente revestida por azulejos de padrão catalogados com o número P-20-00021, estampados, de módulo único, em tons de verde sobre fundo branco. Estes azulejos são, no

um prédio urbano para habitação no largo Luiz de Camões, freguesia de Santa Cruz, conforme planta junta”. Na memória descritiva pode ler-se: “(…) A cobertura forma três aguas ligadas entre si por telhões de espigão. (…) Os vãos das portas e janelas guarnecidos, soleiras, socos e vergas em cantaria”.

326Vide Catálogo da Comp.ª das Fabricas Cerâmica Lusitânia [Série H – fundo n.º

entanto, recentes, constituindo possivelmente uma réplica dos azulejos primitivos. Este tipo de azulejos de padrão terá sido produzido pela Fábrica do Desterro e pela Fábrica de Sacavém327, pois ambas produziram modelos muito semelhantes. Sobre a cornija observa-se uma barra de arquitrave, com elementos florais e vegetalistas, delineados a preto, em tons de roxo e branco, dois tons de verde, sobre fundo amarelo-torrado, que foi executada pela Fábrica de Sacavém328(Fig. 364, 365).

A rematar o edifício é visível uma balaustrada dividida em duas secções, ladeando um frontão recortado onde foi integrado um painel figurativo, em tons de azul e branco, assinado, datado e com a identificação do centro de fabrico, no canto inferior direito: “J. (?) Luiz Cardozo / 1927 (?) / Fabrica Desterro”. É possível que o apelido do proprietário do imóvel se encontre, ao centro, sobre cartela oval, em maiúsculas, a azul: “VIVENDA / MIRANDA” (Fig. 366, 367). Este painel foi efectuado segundo a técnica de pintura à mão livre, e a composição recorda uma fotografia. Tem representado ao centro três crianças de tenra idade, sentadas, com fatos domingueiros, em ambiente campestre, com pequenos ramos de flores brancas, nas mãos. A menina, com grande laço branco na cabeça, tem uma bola a seus pés, olhando o espectador e o menino, um pouco mais velho encontra-se também, sentado num pequeno muro lateral. A outra criança, ao meio, mais pequena observa as flores (Fig. 368).

A coroar cada um dos extremos da balaustrada, surgem quatro estátuas alegóricas, executadas pela Fábrica Cerâmica das Devesas e que serão objecto de análise mais adiante, no capítulo sobre Ornamentação Cerâmica Complementar.

[Fig. 362, 363 – Imóvel [BA_B_VG_0017_01_01] sito na Rua Vasco da Gama n.º 17 | módulo de padrão [P-20-00021]]

[Fig. 364 -Pormenor da barra de arquitrave [B-20-00006]]

327 Vide Catálogo da Real Fabrica de Louça de Sacavem – Azulejo, Gilman &

Commandita, Lisboa, 1910 – modelo de padrão com o n.º 421 – E.

328

Vide Ana Paula ASSUNÇÃO, Fábrica de Louça de Sacavém. Contribuições para o estudo da indústria cerâmica em Portugal – 1856-1974, Lisboa, Edições Inapa, 1997, apresentando um modelo idêntico com variante de cor na contracapa “Modelo n.º 3”.

[Fig. 365 – Modelo idêntico produzido pela Fábrica de Sacavém [variante de cor]]

[Fig. 366, 367- Pormenor da assinatura, data e fábrica | identificação do possível proprietário do imóvel]

[Fig. 368 - Painel figurativo [Pf-20-00007]]

4.2.3.4 Exemplo de um padrão das Devesas e outro da Fábrica