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Tipologias arquitectónicas caracterizadoras da malha urbana

3. Barreiro (1850-1925) – Nota histórica 1 A Vila do Barreiro

3.2 Localização dos imóveis na malha urbana

3.2.1 Tipologias arquitectónicas caracterizadoras da malha urbana

As tipologias arquitectónicas estudadas oscilam entre três categorias: (1) a casa com rés-do-chão e andar (um ou dois), (2) a casa térrea e, muito esporadicamente, (3) a casa de fachada larga, rés-do-chão e andar nobre, semelhante ao solar rural (Fig. 56, 57, 58). São predominantes, e como tal, caracterizadoras da malha urbana do Barreiro, as duas primeiras. O terceiro tipo de habitação, com rés-do-chão e andar nobre, numerosas portas e janelas, algumas das quais de sacada, desenvolvendo-se na horizontal, é mais raro. Todavia, os exemplares conhecidos encontram-se implantados de forma isolada ou formando gaveto, individualizados no meio das outras habitações e em contraste marcado com elas.

No caso da primeira tipologia enunciada, a casa estreita e alta constitui, por vezes, um modelo híbrido e funcional, conjugando a residência familiar com um estabelecimento comercial, uma loja, armazém ou oficina, no rés-do-chão. A segunda tipologia, a casa térrea, era destinada só ao comércio ou só a habitação189.

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Em relação ao nosso objecto de estudo, fachadas azulejadas de Barreiro, verificámos que predomina a habitação ou a casa de rés-do-chão e andar (um ou dois), a casa térrea e, muito esporadicamente, a casa de fachada larga, rés-do-chão e andar nobre, semelhante ao solar rural. Aquelas duas categorias sucedem-se umas às outras ininterruptamente, ao longo das ruas, com predomínio numérico decisivo e caracterizador do núcleo urbano. O outro tipo de habitação com rés-do-chão e andar nobre, numerosas portas e janelas, algumas com janelas de sacada, desenvolvendo-se na horizontal, é raro, por vezes surge isolado, ou formando gaveto, individualizado no meio das outras habitações e em contraste marcado com elas. No caso da habitação formada por rés-do-chão e andar (um ou dois), a casa estreita e alta constitui por vezes um tipo híbrido funcional de residência familiar e estabelecimento comercial, estritamente utilitário, de acordo com as necessidades profissionais e a mentalidade dos seus habitantes, que tinha, as suas lojas, armazéns

[Fig. 56 – Vista do imóvel [BA_B_CJAA_0270_01_01] sito na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar, enquadrando-se na tipologia (1) a casa com rés-do-chão e andar (um ou dois)]

[Fig. 57 – Vista do imóvel [BA_B_HS_0050_01_01] sito na Rua Heliodoro Salgado, enquadrando-se na tipologia (2) a casa térrea]

[Fig. 58 – Vista do imóvel [BA_B_MP_0109_01_01] sito na Rua Marquês de Pombal gaveto com Travessa da Praia, enquadrando-se na tipologia (3) casa de fachada larga, rés-do-chão e andar nobre, semelhante ao solar rural]

Os proprietários destes imóveis seriam aqueles, cujos chefes de família, exerciam cargos de direcção no Caminho-de-ferro, na administração pública e nas várias indústrias - os maiores proprietários, os empresários industriais, os comerciantes e armazenistas190. A casa deverá ser sempre entendida como o produto de uma multiplicidade de factores inter-relacionados, reflectindo condições naturais, históricas, técnicas, estrutura económica e social, profissões, conceitos de família, gostos, mentalidade e até certos sentimentos de grupo, das pessoas que as constroem e residem191. Em algumas destas construções destacava-se a proporcionalidade entre a altura e a largura, procurando-se alguma harmonia (Fig. 59), marcada pelos eixos das portas, janelas, eixos das pilastras divisórias, divisão horizontal em andares, proporcionalidade esta, todavia, nem sempre alcançada, fazendo com que as sucessivas habitações, dispostas em banda, se tornassem monótonas à vista. Algumas vezes as varandas procuravam aumentar a largura aparente, e outras vezes, as pilastras procuravam acentuar a verticalidade.

ou oficinas, no rés-do-chão. A casa de apenas rés-do-chão era destinada só ao comércio ou só a habitação.

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Vide Ana, REIS, Rosa, GAUTIER, O Barreiro na transição do século XIX para o século XX, Barreiro, Edição da Câmara Municipal do Barreiro, 2005, p. 145.

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A casa é sempre o produto de uma multiplicidade de factores inter-relacionados, reflectindo condições naturais, históricas, técnicas, estrutura económica e social, profissões, conceitos de família, gostos, mentalidade e até certos sentimentos de grupo, das pessoas que as constroem e habitam.

[Fig. 59 – Vista do imóvel [BA_B_CJAA_0248_01_01] sito na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar gaveto com Rua da Amoreira, revelando certa proporcionalidade entre altura e largura]

Este tipo de habitação, de cariz funcional e confundida com os chamados prédios de rendimento, resultou numa arquitectura vernacular “de construção corrente”, geralmente sem arquitecto, despojada de elementos formais únicos que permitissem individualizá-la na malha urbana. Esta individualização era alcançada, essencialmente, por via da decoração cerâmica. À semelhança do que aconteceu no resto do país, também no Barreiro veio a ser uma realidade, o azulejamento de extensas frentes urbanas, em edifícios projectados em banda, em locais considerados nobres ou em zonas de expansão urbana ou de renovação oitocentista.

Face ao volume de informação registada neste núcleo urbano, e do conjunto fachadas com revestimentos integrais, iremos destacar algumas, segundo critérios cronológicos de provável manufactura dos azulejos e respectivo centro de fabrico, não descurando outros factores, tais como, a tipologia do imóvel e hipotética data de construção, frequência de aplicação de determinado padrão, originalidade do desenho ou ainda, a sua permanência durante um largo período de tempo, bem como a sua relevância patrimonial, não deixando de referir os elementos complementares de integração do azulejo na arquitectura.

Destacamos, antes de prosseguir, as maiores dificuldades com que nos deparámos, neste estudo, no decorrer do inventário e posterior análise. Em relação à datação dos azulejos de padrão, uma vez que não se encontram datas, nem nos revestimentos azulejares, nem nos imóveis onde foram aplicados, pois habitualmente as datas, quando aparecem, reportam-se à construção do imóvel, não surgindo sequer explicitamente nos catálogos das fábricas. Todavia, este propósito de datar os azulejos, também não era nosso objectivo, e, como tal, as balizas cronológicas apontadas são aproximadas.

Outra dificuldade foi percebermos qual a unidade fabril que poderá ter concebido e produzido determinado padrão, qual foi o modelo ou a

cópia, já que a maioria das fábricas não marcava as peças, e outras, marcando-as, no caso concreto dos azulejos, só a observação do tardoz (face posterior do azulejo) nos permitiria percebê-lo. Graças ao desenvolvimento dos meios tecnológicos e ao incremento da produção industrial, por um lado, e, por outro, a necessidade de dar resposta a um mercado em crescimento, e à clientela ávida destes elementos cerâmicos produziram-se azulejos, que eram copiados e imitados, por outras fábricas a laborar à época. Como tal, não podemos afirmar com toda a segurança que determinada fábrica não produziu certo tipo de padrão, mas, apenas podemos referir alguns padrões que foram produzidos por determinada fábrica. Para tal, recorremos aos já supracitados catálogos destas unidades fabris, quando se conhece a sua existência.

Nesta tentativa de atribuição da produção azulejar a uma determinada fábrica, podemos ainda basear-nos na técnica utilizada, isto é, depois de apurarmos que certa fábrica ter-se-á “especializado” em determinada técnica, e era habitual produzir azulejos com aquelas características. No entanto, não podemos ser peremptórios e excluí-la do fabrico de outro tipo de azulejos, que não fossem tão usuais na sua produção.

Essa atribuição também pode ser feita por intermédio de comparações em termos de, paleta cromática, ou, por vezes, até dos motivos decorativos, entre exemplares idênticos.

Iniciámos esta análise seleccionando alguns imóveis, que apresentam padrões, complementados por frisos, barras e cercaduras, entendidos como uma referência na produção azulejar de determinada unidade fabril, neste caso Fábrica Roseira e Fábrica Viúva Lamego e identificados no item [4.1], tendo em conta, a data provável de manufactura, tentando estabelecer nesta análise, uma sequência cronológica, registando a sua aceitação local e valor patrimonial.

Pudemos constatar o predomínio da Fábrica Viúva Lamego, e da azulejaria estampilhada, e como tal comentaremos alguns imóveis, com este tipo de revestimento. Também a Fábrica de Sacavém e possivelmente Fábrica do Desterro, estão presentes nas fachadas azulejadas deste núcleo urbano, com alguns exemplos estampados e semi-relevados,

sobretudo da Fábrica de Sacavém, que iremos estudar, sem descurar sempre que oportuno, as influências estrangeiras sofridas, no ponto [4.2]. Também alguns exemplos mais significativos e sui generis de ornatos cerâmicos identificados serão objecto de análise, no ponto [4.3] Ornamentação Cerâmica Complementar.

Algumas apreciações estéticas que foram sendo feitas ao longo deste trabalho e, sobretudo, o significado e valor estético das aplicações cerâmicas, inscrito nas fichas de inventário, tiveram por base uma escala de valor patrimonial, já referida, e que já havia sido utilizada no projecto de Catalogação da azulejaria de fachada de Ovar192, promovido por aquele município. Não descurando as tipologias arquitectónias, tendo por base a referida escala e entendendo o edifício como um todo, fomos registando a singularidade das suas aplicações, com a adopção de soluções de decoração mais raras, pelo seu carácter ingénuo, mas, por isso, interessantes e únicas, neste núcleo urbano.