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Padrão com motivos enxaquetados

4. Azulejaria de fachada no Barreiro – Casos de Estudo

4.2 Centros de fabrico, técnicas decorativas e influências externas

4.2.1 Fábrica Viúva Lamego | padrões estampilhados

4.2.1.1 Padrão com motivos enxaquetados

O padrão com motivos enxaquetados, simulando os azulejos do século XVI e XVII, conjuga dois módulos de padrão, um em tons de amarelo e azul, catalogado como P-19-00001, e o outro em tons de verde e azul, catalogado como P-19-00002, ambos sobre fundo branco (Fig.123). Produzido certamente de cerca de 1870-1890, aparece aplicado em dois edifícios inseridos na tipologia 1 na Rua Almirante Reis n.º 80 gaveto com Travessa do Loureiro n.º 30 [BA_B_AR_0080] (Fig. 124, 125) e na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar, n.º 65 [BA_B_CJAA_0065] (Fig.126), ambos com a fachada ligeiramente mais larga que os imóveis desta categoria, sendo que no edifício que faz gaveto, o alçado lateral não apresenta qualquer tipo de azulejamento. A delimitar o revestimento surge um friso de “galão” azul e branco F-19-00001 que podemos observar no catálogo J. Lino, Lisboa, 1889, p. 104, com o n.º 556, delimitando e contornando os vãos, já referido no ponto [4.1.1] (Fig. 97, anexo fotográfico, p. 269) e uma barra nos mesmos tons, sem grande valor estético.

[Fig. 123 – Módulo de padrão (P- 19-00001)]

[Fig. 124, 125 – Imóvel [BA_B_AR_0080_01_01] sito na Rua Almirante Reis n.º 80 | alçado lateral formando gaveto com Travessa do Loureiro n.º 30] [Fig. 126 – Imóvel (BA_B_CJAA_0065_01_01)] sito na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 65]

No edifício localizado na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 65 é claramente visível o acrescento posterior, a partir do segundo piso, rebocado e pintado em tons de verde-claro. Sobre a cornija

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Vide J. M. dos Santos SIMÕES, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, 2.ª edição, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1990 [1969], p. 95, em que o autor refere: “ As composições decorativas de esquema mais simples foram as obtidas com o efeito do xadrezado. Derivam naturalmente das caraterísticas específicas do azulejo, de formato quadrado, prestando-se à criação de ritmos rectilíneos. (…) os ritmos lineares obtidos com estas composições orientavam-se diagonalmente na maioria dos casos. Na verdade, o efeito decorativo provocava uma mudança de direcção contrariando propositadamente as linhas horizontais e verticais da arquitectura: este esquema decorativo haveria de prevalecer como constante durante todo o século XVII”.

observa-se um friso F-20-00004 e uma cercadura C-20-00006, produzidos pela Fábrica de Sacavém (Fig. 127) encimados por platibanda rectangular revestida por azulejos de padrão estampados, castanhos P-20-00017 do mesmo centro de fabrico (Fig.128). Esta indicia que o acrescento e colocação do friso, cercadura e platibanda azulejada, em que foi utilizado um tipo de padrão de influência inglesa, constando do catálogo da fábrica234, terá ocorrido, após a primeira década do século XX. Este tipo de padrão será analisado quando abordarmos a produção azulejar, com recurso à técnica de estampagem, da Fábrica de Sacavém e as influências estrangeiras ocorridas na azulejaria portuguesa de inícios do século XX e adoptadas por aquela unidade fabril.

[Fig.127 – Modelo de friso idêntico produzido pela Fábrica de Sacavém] [Fig. 128 - Vista parcial da platibanda com azulejos de padrão [P-20-00017] |friso [F-20-00004] |cercadura (C-20-00006)]

O tipo de padrão enxaquetado P-19-00002 surge noutro imóvel de tipologia idêntica aos anteriormente descritos localizado, também, na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar, n.º 119 [BA_B_CJAA_0119] apresentando uma paleta de cor mais limitada, em tons de verde e azul sobre fundo branco (Fig.129, 130).

[Fig. 129, 130 – Imóvel [BA_B_CJAA_0119_01_01] na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 119 | módulo de padrão [P- 19-00002] [Fig. 131– Imóvel [BA_B_CJAA_0065_01_01] na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 65| pormenor do padrão e friso contornando os vãos [F-19-00004]]

Neste último edifício e no da Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar, n.º 65 [BA_B_CJAA_0065] o revestimento azulejar é delimitado por friso F-19-00004 formado por faixa ondulada branca delimitada a azul (Fig. 131). O canto resulta da adaptação do elemento central e, neste imóvel, apresenta uma ponta lanceolada, que se projecta na diagonal, no

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Vide Catálogo da Real Fabrica de Louça de Sacavem – Azulejo, Gilman & Commandita, Lisboa, 1910 – este modelo com o fundo branco com os n.º 400 – A; B; C; E.

ângulo externo. No imóvel da Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar, n.º 119 [BA_B_CJAA_0119] a faixa funde-se, no ângulo externo, originando uma ponta semicircular, com a mesma orientação, em diagonal (Fig.132). Em relação a este friso podemos considerá-lo uma inspiração em modelos nacionais do século XVII, nomeadamente na cercadura catalogada por Santos Simões como C-84235.

[Fig. 132 – Imóvel [BA_B_CJAA_0119_01_01] sito na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 119| Pormenor do padrão e friso, com o canto diferente do imóvel anterior]

O imóvel da Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar, n.º 119 [BA_B_CJAA_0119] é rematado por barra de arquitrave, em tons de azul e branco, com motivos vegetalistas, truncada inferiormente com o objectivo de se adaptar ao espaço disponível (Fig. 133). Uma variante deste modelo de barra, policromo, surge no imóvel que a seguir trataremos, na mesma artéria, em edifício com o número 141.

[Fig. 133 – Pormenor da barra de arquitrave (B-19-00019)]

Este tipo de padrão enxaquetado terá sido produzido pela Fábrica Roseira em data anterior a 1870236, em tons de azul e branco (Fig. 134). Todavia, com policromia, foi seguramente executado pela Fábrica Viúva Lamego, como podemos constatar pela imagem (Fig. 135) onde se observam padrões colocados no interior da fábrica, semi-caiados, e onde é visível uma variante do módulo de padrão enxaquetado, em tons de azul e amarelo sobre fundo branco, na parede do lado direito, em baixo.

Fig. 134 - Lisboa | Pormenor de uma fachada na Calçada do Cardeal | padrão enxaquetado em tons de azul e branco (esta imagem é a repetição da Fig. 109 – a propósito do friso com o motivo de fita enrolada sobre um eixo)]

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Vide J. M. dos Santos SIMÕES Azulejaria em Portugal no século XVII, Tomo I – Tipologia, 2.ª edição, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1997 [1971], p. 155.

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João Manuel MIMOSO, Sobre a degradação física dos azulejos em Lisboa, Lisboa, LNEC, Departamento de Materiais – Núcleo de Materiais Pétreos e Cerâmicos, Relatório 303/ 2011, p. 8.

[Fig. 135 - Fábrica Viúva Lamego | azulejos no interior da fábrica onde surgem alguns modelos aqui referidos]