• Nenhum resultado encontrado

Padrão “Palácio da Pena” e Friso das “Esferas”

4. Azulejaria de fachada no Barreiro – Casos de Estudo

4.1 Padrões, frisos e barras

4.1.1 Padrão “Palácio da Pena” e Friso das “Esferas”

Nesta análise começamos por destacar três imóveis que, apesar de ligeiramente diferentes em termos tipológicos, utilizam o mesmo tipo de composição azulejar. Os três imóveis identificados foram revestidos com o mesmo padrão, uma variante de cor, do padrão designado “Palácio da Pena” ou padrão da “Pena”, aqui identificado como P-19-00017 e P-19- 00018 de cerca de 1865195 fabricado pela fábrica da Calçada dos Cesteiros196 [Fábrica Roseira], com variante de cor entre o P-19-00017 e o P-19-00018. A Fábrica Roseira tem sido referenciada por alguns investigadores197, como das primeiras em Lisboa, a especializar-se na azulejaria de fachada.

194

IDEM, Ibidem, p. 39.

195

Vide Luísa ARRUDA, Caminho do Oriente: Guia do Azulejo, Lisboa, Livros Horizonte, 1998, p. 19.

196

IDEM, Ibidem, p. 20, em que a autora refere: “Foi um padrão certamente da produção inicial da fábrica e provavelmente, dos primeiros padrões de temática naturalista, próximo do desenho têxtil, utilizando uma paleta aberta e franca que lhe é atribuída”,

197

Vide Ana Margarida Portela DOMINGUES, A ornamentação cerâmica na arquitectura do Romantismo em Portugal. (...), 2009, p. 286, a fábrica situava-se no local da antiga oficina cerâmica da Bica do Sapato, adquirida em 1832 por Victor Rosenbaum. Também conhecida como fábrica da Calçada dos Cesteiros, é geralmente tida como das primeiras em Lisboa a especializar-se na produção de azulejaria de fachada. Os painéis de azulejo que existiam no depósito desta fábrica foram recolhidos pelo Museu Nacional do Azulejo [MNAZ inv. 7266 a-z] vide Paulo HENRIQUES (coord.), Museu Nacional do Azulejo - Roteiro, Lisboa, Instituto Português de Museus, Edições Asa, 2003, p. 152.

O primeiro edifício situado na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 248 [BA_B_CJAA_0248] (Fig. 60, 61) formando gaveto com a Rua da Amoreira, desenvolve-se em três pisos apresentando apenas a fachada principal azulejada. Um outro imóvel localiza-se na Rua Marquês de Pombal n.º 108 [BA_B_MPb_0108] (Fig. 61) posicionado em banda, desenvolvendo dois pisos rematados por balaustrada e pináculo. Por fim, o terceiro imóvel situa-se na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 249 contornando para a Travessa do Loureiro n.º 8 [BA_B_CJAA_0249] (Fig. 62). Este edifício idêntico ao anterior, mas com a fachada mais estreita tem dois pisos e águas-furtadas, sendo rematado por balaustrada e pinhas.

[Fig. 60, 61 – Imóvel [BA_B_CJAA_0248_01_02] na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 248 gaveto com Rua da Amoreira |pormenor do padrão [P-19-00017] e friso [F-19-00010]]

[Fig. 62 – Imóvel [BA_B_MPb_0108_01_01] na Rua Marquês de Pombal n.º 108 |aplicação do padrão e friso idênticos ao do imóvel anterior]

[Fig. 63 – Imóvel [BA_B_CJAA_0249_01_01] sito na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 249 | pormenor do padrão [P-19-00018] e friso [F-19-00018]]

O último imóvel referido, na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 249, possui a particularidade de apresentar, em cada um dos registos, composições de padrão com temática e cores diferentes, mas técnica idêntica, a estampilha. Ao nível do primeiro registo observam-se azulejos de padrão estampilhados de módulo 2x2/1, designado por padrão de “Colchete”198, ou padrão “Constância”199 P-19-00006 composto por motivo geométrico e vegetalista, em tons de amarelo, azul e verde sobre fundo branco, com friso de “galão”200 F-19-00001 que podemos observar no catálogo J. Lino, Lisboa, 1889, p. 104, com o n.º 556 em tons de azul e branco, delimitando e contornando os vãos e que será referido mais adiante (Fig. 97). Este senhor J. Lino era distribuidor apresentando no seu

198

Vide Ana de Jesus Rui L ALMEIDA, O Azulejo: Técnicas e Padrões, 1ªedição, Viseu, 2006, pp. 76-77.

199

Vide Luísa ARRUDA, Caminho do Oriente: Guia do Azulejo, Lisboa, Livros Horizonte, 1998, p. 21.

200

Op. Cit. Assim designado por lembrar os galões de passamanaria, as fitas de debruar, utilizados nos têxteis.

catálogo produtos de outras fábricas, entre eles, os da Fábrica Viúva Lamego. Tal não bem referenciado no catálogo de forma explícita, mas deduz-se pelos produtos apresentados.

Ao nível do segundo registo foi aplicado o dito padrão “Palácio da Pena” P-19-00018 com variante de cor, empregando os tons de amarelo, azul e castanho, tal como aparece, também, no Palácio Beau Séjour (Fig. 64). É complementado por friso F-19-00018, em tons de azul e branco, com motivos florais e vegetalistas, que delimita o revestimento.

[Fig. 64 – Lisboa – Benfica | Palácio Beau Séjour | aspecto geral da fachada |padrão e friso]

Os outros dois imóveis referidos, na Rua Conselheiro Joaquim António de Aguiar n.º 248 e na Rua Marquês de Pombal n.º 108, apresentam friso semelhante F-19-00010, em tons de azul e branco, formado por motivos circulares brancos, sombreados a azul mais claro, criando a ilusão de volume, e que poderá ter sido produzido na Fábrica Roseira. Esta possibilidade encontra justificação no padrão das “esferas”, cujo motivo, análogo ao do friso, é visível no do edifício situado no Beco do Belo n.º 6 em Lisboa (Fig. 61) onde morou João Roseira, um dos proprietários da fábrica201.

[Fig. 65, 66 – Lisboa | Imóvel no Beco do Belo n.º 6 | padrão das “Esferas” no piso térreo - pormenor (datados 1872)]

A designação deste padrão tem origem na encomenda, por parte de D. Fernando II, de uma grande quantidade de azulejos, para o referido Palácio em Sintra, tendo sido este padrão aplicado no interior da escadaria da Torre do Relógio202, nas paredes e cúpula, mas com uma paleta de

201

Vide Luísa ARRUDA, Caminho do Oriente: Guia do Azulejo, Lisboa, Livros Horizonte, 1998, p. 35.

202

IDEM, Ibidem, p. 33, a autora menciona o Museu Nacional do Azulejo, em relação à publicação de documentos que confirmam a data de fundação [1832] e o nome do fundador da fábrica, Vicente Roseira bem como a sua localização, o Palácio da Cova, referindo ainda um trabalho de Alexandre Pais, que dá a conhecer os Roseira como fornecedores do Palácio da Pena. Ainda segundo a autora, p. 20,

cores mais contida, apenas em tons de verde e amarelo. Outro padrão semelhante foi produzido para a fachada do Palacete Beau Séjour em Benfica203, este com variantes de cor, mais próximas dos azulejos que encontramos nestes três imóveis do Barreiro (Fig. 67, 68).

[Fig. 67, 68 - Sintra: Palácio da Pena - escadaria de acesso à Torre do Relógio| Lisboa: Palácio Beau Séjour |aplicação dos módulos de padrão com variantes de cor]

Este padrão de temática vegetalista, utilizando quatro folhas em diagonais cruzadas, determina uma malha dinâmica de ritmos diagonais na superfície do edifício, de grande impacto visual. A simplicidade do módulo, recorrendo a uma folha recortada, facilitava a sua produção em série. Este padrão inventado para o Palácio Nacional da Pena204 perdurará passando, após ornamentar os palácios acima referidos, a ser utilizado em vários prédios de Lisboa, sobretudo entre o Campo das Cebolas e Largo do Caminho-de-ferro205(Fig. 69) assim como nos arredores da capital, como é o caso do Barreiro. A fortuna da sua aplicação encontra-se certamente relacionada com os revestimentos dos palácios mencionados, que constituíram, com certeza, modelos a copiar pela burguesia endinheirada da época.

[Fig. 69 – Lisboa – Santa Apolónia – Largo do Caminho – de – ferro | padrão]

os azulejos produzidos para este local correspondem a facturas de 1854 ou de 1867, pagas a Eugénio Roseira, o segundo dono da fábrica, falecido em 1879.

203

Vide Ana Margarida Portela DOMINGUES, A ornamentação cerâmica na arquitectura do Romantismo em Portugal. (…), 2009, vol. I, p. 288 e vol. II, pp. 162 e 246, que refere a presença deste padrão no Palácio da Pena e no Palácio Beau Séjour em Benfica.

204

Vide Luísa ARRUDA, Caminho do Oriente: Guia do Azulejo, Lisboa, Livros Horizonte, 1998, p. 37.

205

IDEM, Ibidem, p. 38, a autora refere cerca de 10 prédios nesse eixo, que ostentam o padrão de folhas, em variantes de cor, entre outros, na zona da Rua da Madalena e outros pontos do Chiado. Sendo que no primeiro caso, tratava-se de uma verdadeira área geográfica, de influência da fábrica.