• Nenhum resultado encontrado

2. PRINCIPAIS ELEMENTOS E ETAPAS DA ANÁLISE DOS ATOS DE

2.5. BARREIRAS À ENTRADA

Viscusi (2000, p. 64) estabelece que as barreiras à entrada podem ser entendidas (como a própria nomenclatura dá a entender) como a(s) dificuldade(s) encontrada(s) por uma dada empresa que pretende ingressar em um determinado mercado.

Salomão Filho (2007, p. 184-185) investiga as barreiras à entrada, quando analisadas no contexto de um ato de concentração apresentado a autoridade antitruste, (também) sob uma perspectiva temporal, estabelecendo que devem ser verificadas as barreiras à entrada não somente existentes, como, também, as que possivelmente podem ser levantadas pelos agentes econômicos após a realização da concentração.

Pinheiro e Saddi (2005, p. 365) sublinham a importância dos influxos existentes entre as barreiras à entrada e a determinação do poder de mercado das empresas, além da sua importância na previsão do potencial de competição de um determinado nicho mercadológico. Bork (1993, p. 310-311) destaca a importância do estudo afeto as barreiras à entrada como um dos principais elementos da análise antitruste, mas não sob uma perspectiva de expansão do conceito, muito pelo contrário: traz uma visão crítica as diversas alegações de existência de “barreiras à entrada" pelas autoridades antitruste para justificar, muitas vezes, intervenções em agentes mercadológicos que são apenas mais eficientes que os demais.

Motta (2004, p. 120-121) pontua que se a possibilidade de entrada em um dado mercado é fácil, rápida e de baixo custo, as demais firmas desse mercado relevante não serão capazes de praticar preços muito acima do custo marginal – uma vez que uma elevada taxa de lucro atrairia muitos competidores para esse mercado relevante.

Stigler (1983, p. 67) relaciona barreiras à entrada e os custos de produção com os quais deve arcar um pretenso novo player, ao ingressar em um dado mercado relevante, mas que não é mais suportado por aqueles que já se encontram estabelecidos nesse mesmo mercado.

Grimes e Sullivan (2006, p. 68) afirmam que barreiras à entradas são todos os fatores de um dado mercado que permitem que os agentes já estabelecidos pratiquem preços acima do custo marginal sem estimular (ou tornar o mercado atrativo a) entrada de novos players.

Por fim, Areeda, Hovenkamp e Solow (2006, p. 189) definem as barreiras à entrada como aqueles elementos que bloqueiam a entrada ou aumentam os custos dos novos players para além do que é experenciado pelas firmas eficientes já instaladas no mesmo mercado relevante.

As barreiras à entrada podem ser definidas, através de conceituação própria, como aqueles fatores que impedem ou desencorajam a entrada de novos players em determinado do setor industrial ou do mercado de serviços.

São, portanto, em última instância, importante elemento utilizado pelos órgãos de defesa da concorrência quando da análise de um ato de concentração e seu respectivo impacto líquido sobre o bem estar social

Os trabalhos teóricos acerca desse importante elemento das estruturas do mercado identificam inúmeras espécies e hipóteses de barreiras, as quais podem ser suscintamente reduzidas na seguinte tabela:

Tabela 5 - Principais Barreiras à Entrada (Visão Doutrinária)

TIPO EXEMPLO

Legais Patentes, proibição de entrada, regras e custos de licenciamento.

Financeiras Dificuldade acesso ao crédito. Fidelidade a Marca Elevados gastos com marketing.

Sunk-Costs Custos irrecuperáveis para ingresso em novo

mercado.

Tecnológica Economias de escala e escopo. Vantagens Absolutas de Custos Controle de fontes de matéria-prima

Fonte: PINHEIRO; SADDI, 2005.

Seguindo essa mesma esteira, a International Competition Network (ICN), ao compilar as melhores práticas recomendadas as agências antitruste espalhadas pelo mundo, categoriza as barreiras à entrada da seguinte maneira:

Tabela 6 - Principais Barreiras à Entrada (Visão ICN)

TIPO EXEMPLO

Barreiras Absolutas Regulamentações governamentais. Barreiras Estruturais Sunk-Costs elevados.

Economias de Escala Elevada escala mínima viável. Vantagens Estratégicas First mover advantage.

Fonte: INTERNATIONAL COMPETITION NETWORK, 2006.

Independentemente da classificação (doutrinária ou da ICN), o órgão máximo de defesa da concorrência no Brasil considera como inexistente determinadas barreiras (ou todas

elas), quando a entrada de novos players no mercado for provável, tempestiva e suficiente. [...] A possibilidade de entrada de novos competidores no mercado é outro fator que inibe o exercício de poder de mercado. O exercício do poder de mercado será considerado improvável quando a entrada for “provável”, “tempestiva” e “suficiente”. Para a análise das condições de entrada, a SEAE e a SDE levarão em conta as atitudes que uma empresa hipotética que deseje entrar no mercado deverá adotar. Nesta etapa, não é necessário que seja identificada uma empresa que tenha intenção real de entrar no mercado. Entretanto, as Secretarias não se basearão em uma empresa hipotética que não guarde similaridade com os potenciais entrantes. Exemplos de novas empresas entrando no mercado nos últimos 5 anos podem ser utilizados como evidência sobre as condições de entrada, desde que não existam indícios de que o exemplo já não seja representativo das condições de entrada no momento em que a análise esteja sendo realizada. (CADE, 2001, p. 12-13)

A entrada é tida como provável do ponto de vista econômico se for lucrativa, levando em conta os preços praticados pelas empresas no mercado antes da consumação da concentração.

A tempestividade levará em conta, enquanto critério cronológico, o tempo total necessário para um agente econômico in the wings ingressar no mercado. Estabelece, portanto, que a entrada será tempestiva se os agentes entrantes forem capazes de em até 02

(dois) anos, concluir todas as etapas necessárias ao efetivo ingresso no mercado –

planejamento, desenho do produto, estudo de mercado, dentre outras etapas.

Por fim, a entrada será suficiente desde que os novos players possam usufruir de todas as oportunidades de venda existentes no mercado, ou seja, possam capturar uma parcela significativa (market share) do mercado relevante, sem sofrer (ou ser afetados) sanções das empresas já instaladas.

É importante ressaltar, conforme elucida Pinheiro e Saddi (2005) e Bork (1993), que a existência (ou não) de determinada barreira à entrada não pode ser confundida com a mera desvantagem de eficiência do entrante (novo player).

Em outras palavras: a simples eliminação por completo de uma barreira à entrada não implica, ipso facto, em uma melhoria para os consumidores (a curto, médio ou longo prazo). Um grande exemplo, nesse sentido, são as patentes. O desrespeito ou eliminação delas são, por vezes, fatores não incentivadores de investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) o que, necessariamente, implica em menores índices de avanço tecnológico e

científico.

Desta forma, é papel da autoridade antitruste, definir: (01) se existem ou não barreiras à entrada; (02) em caso positivo, quais são essas barreiras; e (03) quais efetivamente impedem os ganhos de eficiência e de bem estar social, e que devem, necessariamente, serem eliminadas.

2.6. CONCLUSÕES PARCIAIS DO CAPÍTULO

Conforme visto no capítulo, pode-se afirmar que o Direito Concorrencial encontra um recorte doutrinário, trabalhando, em uma vertente, com condutas dos agentes mercadológicos e, em outra linha, com as estruturas da economia.

Dentro dessa conceituação estabelecida pela doutrina, nunca é demais ressaltar que a presente pesquisa trabalha com o Direito Concorrencial das Estruturas, com enfoque especial na legislação antitruste brasileira.

Ademais, importa frisar que para além de trabalhar especificamente com o Direito Concorrencial das Estruturas, essa investigação científica também se propõe a, dentro desse campo temático, trabalhar especificamente com a análise dos atos de concentração.

As autoridades antitruste espalhadas pelo mundo e, no Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, avaliam uma série de elementos (critérios) durante o processo de análise e julgamento dos atos de concentração.

Desta feita, as agências de defesa da concorrência precisam investigar a existência de poder de mercado (market power) que, em geral, é definida pela capacidade de um agente impor um SSNIP, sem que o desvio de demanda lhe traga prejuízos no cômputo final.

Também é necessário que se determine as parcelas do mercado que são pertencentes aos interessados (market share) em realizar o ato de concentração, tanto em sua dimensão de produtos, como em sua dimensão geográfica (mercado relevante).

Por fim, ainda nessa análise estrutural, também é avaliado a existência de barreiras à entrada, determinando-se sua extensão, bem como o custo-benefício (as consequências) de qualquer intervenção no sentido de extirpá-las daquele mercado específico.

No capítulo seguinte, investigaremos onde (alocação topográfica no ordenamento jurídico) e como (atuação da autoridade antitruste) esses elementos são utilizados nos processos de análise e julgamento dos atos de concentração.

3. O SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA (SBDC) E A