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Diversas são as barreiras encontradas para a efetiva aplicação de treinamento na construção civil. É bastante difundido pelos pesquisadores da área que a construção possui características que a diferenciam das demais e que, de fato, dificultam a implantação de programas de treinamento. Glover et al. (1999) destacam que, além de todas as barreiras que existem nas indústrias em geral, a construção civil possui barreiras que são específicas dela e que não só dificultam a aplicação de treinamento para seus empregados, mas levam as empresas a não aplicá-lo.

Autores como Lima (1995); Mutti (1995); Silva (1995); Barone (1997); Agapiou (1998); Nóbrega (1998); Holanda (2003); Amaral (2004); Campos Filho (2004) e Villar (2004) observam que o treinamento dos operários na construção civil é pouco incentivado pelas empresas do setor e que a carência de programas adequados ao treinamento desses operários é uma realidade. Ao referir-se a esse assunto, Mutti (1995) acrescenta ainda que, infelizmente, a aplicação de

treinamento restringe-se a um número limitado de empresas, em face do grande envolvimento necessário do setor de recursos humanos.

Sobre isso, Paiva e Salgado (2003) mencionam que o desinteresse por programas de capacitação e treinamento é justificado pelas empresas, imputando a culpa sempre aos operários. Consideram ainda que a inconsistência seja outro fator condicionante da permanência dos operários, uma vez que a quantidade de obras em uma empresa está relacionada a vários fatores e, por isso, muitas vezes não é possível manter estes trabalhadores por muito tempo.

Outro aspecto, levantado por Agapiou (1998), diz respeito ao fato de os trabalhadores serem livres para vender sua força de trabalho para qualquer empresa. Embora os trabalhadores sejam treinados por uma empresa, o autor aponta que os mesmos podem optar por trabalhar em outro lugar, assim que o treinamento tenha acabado. Segue afirmando que, em função disso, o custo do treinamento é distribuído desigualmente entre as empresas.

Bibby, Bouchlanghem e Austin (2003) argumentam que as iniciativas de treinamento devem ser capazes de motivar os profissionais a adotarem novas práticas e ferramentas, senão os desejos requeridos no treinamento nunca serão implementados com sucesso.

De modo geral, a construção civil caracteriza-se por condições de trabalho ruins e por indicadores sociais negativos (OHNUMA e CARDOSO, 2006), se comparados diretamente com outras indústrias, o que, certamente, gera dificuldades e barreiras para a implantação efetiva de programas de treinamento e capacitação.

Para se conseguir evoluir em qualquer processo de modernização na construção civil, é importante reconhecer a necessidade de entender os entraves que dificultam o desenvolvimento do setor, tanto no que diz respeito à organização das empresas, quanto aos trabalhadores que dela fazem parte. É necessário, ainda, quebrar os paradigmas existentes, que no caso da construção civil ainda são muitos.

Diante disso, verifica-se que essas condições, as quais estão submetidos os trabalhadores da construção, constituem-se em um entrave natural ao comprometimento dos mesmos com a empresa e acarretam, assim, um baixo compromisso com os programas de qualificação e treinamento.

A esse respeito, Cattani (2001) afirma que as circunstâncias em que se estabelecem as relações entre operário versus trabalho são altamente impeditivas de se conseguir, em curto prazo, reverter tal defasagem técnico-profissional que os operários da construção civil têm em seu cotidiano. Enquanto a maioria dos empregadores/empresários do

ramo da construção civil entender qualificação profissional de operários como despesa e não como investimento, em suas planilhas de custo, continuará muito distante o objetivo maior, que é o de garantir crescimento profissional a esse segmento da sociedade.

O que se refere às barreiras e entraves à qualificação e treinamento na construção, observa-se, no Quadro 3.1, que muitos autores, em seus estudos, refletiram sobre esta questão.

Quadro 3.1 – Pesquisas representativas das barreiras e entraves ao treinamento na Construção Civil

BARREIRAS/ENTRAVES PESQUISAS/AUTOR

Elevada rotatividade dos trabalhadores

SILVA, 1994; SILVA, 1995; MUTTI, 1995; KRUGER, 1997; AMARAL, 1999; GLOVER et al. 1999; OLIVEIRA, 1999a; TMCIT, 2001; FERRÃO e PAVONI, 2001;

HOLANDA, 2003; PAIVA e SALGADO, 2003; CAMPOS FILHO e SANTOS, 2005; SROUR, HASS e BORCHERDING, 2006;

CASTELO BRANCO, 2007 Utilização crescente de

subcontratação

SILVA, 1994; SILVA, 1995; BARONE, 1997; PEREIRA FILHO, 1999; HAGER, CROWLEY e MELVILLE, 2001; PAIVA e

SALGADO, 2003; HOLANDA, 2003; CAMPOS FILHO e SANTOS, 2005 Origem e escolaridade dos

operários

SILVA, 1994; SILVA, 1995; MUTTI, 1995; BARONE, 1997; KRUGER, 1997; OLIVEIRA, 1999a; HOLANDA, 2003;

CAMPOS FILHO e SANTOS, 2005; MOREIRA, SOARES e LONGO, 2006;

CASTELO BRANCO, 2007 Carências de programas de

treinamentos institucionais e nas próprias empresas

SILVA, 1994; SILVA, 1995; GANN e SENKER, 1998; AMARAL, 1999; HAGER,

CROWLEY e MELVILLE, 2001; PAIVA e SALGADO, 2003; VILLAR, 2004 Baixa remuneração AMARAL, 1999; GLOVER et al. 1999;

OLIVEIRA, 1999a; TMCIT, 2001; SROUR, HASS e BORCHERDING, 2006 Precárias técnicas de

contratação

BARONE, 1997; GANN e SENKER, 1998; HOLANDA, 2003

Conteúdo e formato do treinamento

MUTTI, 1995; GANN e SENKER, 1998; FERRÃO e PAVONI, 2001; HOLANDA, 2003; BIBBY, BOUCHLANGHEM e

AUSTIN, 2003 Operários autônomos sem

responsabilidade com treinamento

MUTTI, 1995; AMARAL, 1999; SROUR, HASS e BORCHERDING, 2006 Falta de recursos financeiros

para investir em treinamento e qualificação

AMARAL, 1999; PAIVA e SALGADO, 2003; HOLANDA, 2003 Precárias condições de vida dos

trabalhadores

BARONE, 1997; KRUGER, 1997; THOMAS e HORMAN, 2006 Falta de incentivos à melhoria

da qualidade de vida

MUTTI, 1995; KRUGER, 1997; PAIVA e SALGADO, 2003; THOMAS e HORMAN,

2006 Falta de tempo para o

treinamento

GLOVER et al. 1999; HOLANDA, 2003; SROUR, HASS e BORCHERDING, 2006 Ausência de incentivos para

fixação dos operários

BARONE, 1997; AMARAL, 1999; HOLANDA, 2003; PAIVA e SALGADO,

2003 Esforços anteriores com poucos

resultados

BARONE, 1997; AMARAL, 1999; GANN e SENKER, 1998; GLOVER et al. 1999;

HOLANDA, 2003 Falta de interesse e de vontade

dos trabalhadores

MUTTI, 1995; KRUGER, 1997; GLOVER

et al. 1999; PEREIRA FILHO, 1999;

HAGER, CROWLEY e MELVILLE, 2001 Entendimento do treinamento e

capacitação como custo e não como investimento por parte

dos empresários

MUTTI, 1995; AMARAL, 1999; TMCIT, 2001; BIBBY, BOUCHLANGHEM e AUSTIN, 2003; HOLANDA, 2003; PAIVA

e SALGADO, 2003 Vulnerabilidade frente à

política econômica do governo

BARONE, 1997; BIBBY, BOUCHLANGHEM e AUSTIN, 2003;

PAIVA e SALGADO, 2003

Melhorar as condições de trabalho, assumir novas formas de gestão e satisfazer, na medida do possível, as necessidades dos trabalhadores formam o caminho que possibilitará manter profissionais com maior qualidade, entendidas aqui como sinônimo de comprometimento, integração e participação. Isso justificará o esforço conjunto das empresas, com relação ao resgate da qualificação do setor da construção civil em geral (AMARAL, 1999).

3.4. Razões para Investir em Treinamento na Construção Civil: