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3.5. As Iniciativas Nacionais de Formação e Qualificação na

3.5.2. Modelos Instrucionais

Alguns modelos instrucionais também foram desenvolvidos em universidades, empresas consultoras e por pesquisadores brasileiros, com o objetivo de reduzir os índices de informalidade na qualificação dos trabalhadores da construção civil. Alguns dos modelos serão resumidamente apresentados a seguir.

Entre as experiências de maior abrangência no Brasil, aconteceram os Projetos Prisma, Qualificar e Oásis, realizados, respectivamente, nas cidades de Cascavel/PR, Vitória/ES e Fortaleza/CE (FREITAS e RACHID, 1998; LIMA e MAIA, 1997). Tais projetos tornaram-se mais abrangentes, pois envolveram um número maior de entidades e empresas de construção e trabalhadores. Foram desenvolvidos sob a orientação da empresa NEOLABOR, em diversas cidades brasileiras, com o objetivo de conduzir o aluno ao aprendizado na formação da polivalência. O método utilizado nos projetos, para ser usado nos treinamentos, foi o SEMEAR, que, através de aulas expositivas e dinâmicas de grupo, orientava os instrutores para o desenvolvimento dos cursos operacionais e, ainda, como avaliar a aprendizagem.

Nóbrega e Melo (1998) desenvolveram um estudo onde focaram o treinamento técnico dos operários do setor da construção civil. No estudo, as autoras ressaltam que o treinamento é de grande importância, pois proporciona as seguintes vantagens: melhoria dos padrões profissionais, maior estabilidade dos operários, aprimoramento dos produtos e serviços produzidos, maiores condições de adaptação aos progressos da tecnologia, economia de custos pela eliminação de erros na execução do trabalho, condições de competitividade mais vantajosas, dada à capacidade de oferecer melhores produtos e serviços e diminuição acentuada dos acidentes de trabalho e do desperdício. Destacam, ainda, que tal treinamento é fundamental, principalmente quando se observa o perfil dessa classe trabalhadora, formada, em sua grande maioria, por adultos com baixos níveis de alfabetização e de escolaridade.

No caso de treinamentos mais específicos, Abiko e Granato (1993) desenvolveram um programa de treinamento nas indústrias de cerâmica vermelha do Estado do Paraná. O programa tinha como objetivo capacitar os operários das empresas associadas ao SINCEPAR - Sindicato das Indústrias de Olarias e Cerâmicas para Construção. Segundo os autores, o programa de treinamento utilizou a metodologia PSI – Personal System of Instruction (Curso Programado

Individualizado), que procura, através de um material instrucional adequado, transferir os conhecimentos, de forma individual, a cada aluno. Afirmam ainda que essa metodologia respeita o nível de conhecimento de cada aluno, sua disponibilidade de tempo e torna o processo de treinamento mais dinâmico.

Um modelo de treinamento foi desenvolvido por Mutti e Heineck (1996b), com o objetivo de identificar as condições de aceitação do treinamento por parte dos operários, através da elaboração de um material didático específico, para facilitar a aplicação na construção civil. Nesse modelo, o foco principal foi o desenvolvimento participativo do treinamento, contando com os operários em todas as etapas do treinamento. Para os autores, a importância da realização do treinamento está diretamente ligada à necessidade do operário conhecer a técnica, para realizar o serviço com qualidade, e que o treinamento possa servir como instrumento para estimular a motivação e a realização do trabalhador.

Amaral et al. (2003) desenvolveram um modelo de treinamento para capacitar pedreiros em alvenaria estrutural. O objetivo do treinamento era implantar um processo construtivo em duas empresas construtoras, utilizando a mesma metodologia. O modelo utilizado baseou-se no método de ensinar-aprender, desenvolvido pela empresa Neolabor, buscando, assim, considerar e valorizar os conhecimentos pré-existentes, dos participantes, construídos ao longo dos anos de experiência. Segundo os autores, qualquer modelo instrucional a ser adaptado na construção civil requer participação e comprometimento da gerência, principalmente em situações onde a qualificação é imposta por agentes externos.

Outro exemplo é o programa desenvolvido por Jobim et al. (2003), realizado com um grupo de serventes de obras. O programa foi desenvolvido especificamente para ser aplicado para a citada categoria e abordava aspectos comportamentais, relacionados com as atividades diárias. O modelo proposto foi aplicado em uma obra, com sete funcionários da referida categoria e era composto de oito módulos semanais aplicados durante o período de uma hora. Segundo os autores, após a aplicação do treinamento, foi possível verificar a evolução dos participantes no que se refere à valorização dos seus serviços, melhoria da autoestima e, consequentemente, do trabalho executado.

Podem-se citar, também, as iniciativas por parte dos fabricantes e fornecedores de materiais e componentes para a construção civil. É o caso da Tigre, maior empresa brasileira fabricante de tubos e conexões hidráulicas. Esse fabricante oferece cursos de capacitação para

encanadores, nas diversas cidades brasileiras revendedoras de seus produtos, aproximando-se dos profissionais de modo a orientá-los para a melhor execução dos serviços. Em contrapartida, visa a garantir que os trabalhadores capacitados deem preferência para a utilização de seus produtos.

De maneira geral, os modelos instrucionais visam apenas à aplicação e ao desenvolvimento de programas de treinamento. Não consideram a efetiva aprendizagem, a forma correta de treinar e, principalmente, o uso do conteúdo treinado nos ambientes das obras.

Para Cattani (2001), em que pese a existência de cursos de formação profissional, mantidos por instituições e iniciativas de universidades e consultorias, a formação profissional de operários se dá predominantemente no canteiro de obras. Para o autor, serão seus companheiros e os técnicos responsáveis pelo canteiro de obras que os orientarão na execução de uma tarefa, sempre de um modo informal e sem método de ensino, contribuindo, assim, para uma formação sem qualidade.

O estabelecimento de estratégias, para superar ou contornar problemas dessa natureza, pede uma abordagem mais abrangente, com contribuições de outras áreas, como educação, administração e psicologia, além da utilização de recursos oferecidos atualmente por diversas tecnologias.

3.6. Pesquisas Nacionais sobre Treinamento e Formação de