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Quando se fala em treinamento na construção civil, a primeira pergunta que vem à mente é:

Quem é o responsável pelo treinamento e capacitação dos operários da construção civil?

Diante do que se verifica nas obras, é uma questão difícil de ser respondida. Por um lado, as empresas não têm muito controle no recrutamento e seleção dos operários e acabam absorvendo trabalhadores com pouca ou nenhuma qualificação. Por outro, os órgãos responsáveis por essa categoria de trabalhadores se eximem dessa responsabilidade e deixam isso sempre por conta do empregador.

É importante ressaltar que a responsabilidade deve ser compartilhada. Todos os envolvidos dentro desta grande cadeia produtiva, que é a construção civil, devem ser responsáveis por uma melhor qualificação dos trabalhadores, pois todos, de certa forma, acabam sendo prejudicados.

Sobre esse assunto, Holanda (2003) afirma que a responsabilidade pelo treinamento na construção ainda é mal resolvida. Segundo a autora, os agentes que atuam no setor, sejam as construtoras, fabricantes de materiais e componentes, subempreiteiros, órgãos formadores e entidades de classe, acabam não tomando para si a responsabilidade da capacitação e treinamento dos operários. Os operários, por sua vez, acabam por não receber nenhum treinamento formal, senão aquele do próprio canteiro de obras, quando atuam na frente de trabalho.

Para Barone (1998), a tarefa da formação, quer a de caráter profissional quer a de caráter geral, deve ser produto de um conjunto de esforços dos diferentes segmentos da sociedade. A autora enfatiza ainda que a responsabilidade é da iniciativa privada, com o envolvimento de setores empresariais comprometidos com as mudanças, através de seus sindicatos e centros de formação e/ou treinamento. É tarefa dos governos, através de políticas públicas de formação, com vistas a garantir emprego para um maior número de trabalhadores e minimizar os riscos da inadequação da formação de trabalhadores para as novas demandas. Ainda é tarefa dos sindicatos de trabalhadores, através da proposição de estratégias de formação que permitam, a partir de sua prática e saber profissional, a manutenção de postos de trabalho.

Diante disso, não se pode negar que as empresas construtoras são as primeiras a serem cobradas pela falta de qualificação desse operário. Essa cobrança é verificada não só na qualidade da execução dos serviços, mas também na qualidade final da obra.

Para Pereira Filho (1999), as empresas construtoras devem ser responsáveis por valorizar, desenvolver e qualificar os seus operários, para o bem de sua organização e para sua própria evolução. Ainda, segundo o autor, as empresas que fornecem programas de desenvolvimento e treinamento a seus operários geram retorno em várias ordens: pessoal, administrativa, funcional e econômica.

Ainda sobre esse assunto, Amaral (1999) enfatiza que o treinamento de pessoal, por parte das empresas, pode ser visto como um conjunto de estratégias que objetiva responder ao processo de mudanças que as mesmas vêm passando. O mesmo permite que as empresas se tornem mais competitivas e empreguem mais pessoas.

Outro aspecto a ser considerado na responsabilidade pelo processo de treinamento envolve fabricantes e fornecedores. É importante reconhecer a necessidade dos mesmos em terem um envolvimento mais direto com as atividades da construção civil, incluindo o desenvolvimento de treinamentos. Isso é necessário, algumas vezes, quando fabricantes e fornecedores querem introduzir novos produtos no mercado, mas se preocupam, porque as habilidades dos operários da construção são inadequadas. Nesses casos, a responsabilidade pelo treinamento deveria ser dos fabricantes e fornecedores dos novos materiais (GANN e SENKER, 1998).

Com relação a isso, Holanda (2003) aponta que deveria ser de grande interesse dos fabricantes e fornecedores de materiais manterem a tecnologia ativa no mercado. Portanto, deveriam se preocupar em formar pessoas capacitadas para executar seus produtos. Completa afirmando que os mesmos deveriam ser participantes ativos desse processo de formação.

As empresas de construção civil, obviamente, se beneficiam de programas de treinamento ministrados aos seus operários, na medida em que seus trabalhadores tornam-se mais qualificados. Para Krüger (1997), não é esse o pensamento das empresas. O autor destaca que, de maneira geral, as empresas não investem em programas de treinamento de pessoal e consideram que o treinamento origina custos elevados, não levando em consideração o investimento que estaria sendo feito no crescimento desses profissionais.

Ao referir-se a esse assunto, Mutti (1995) destaca que no setor da construção civil, em nível de operário, a maior fração ainda é formada de modo assistemático e aleatório, sendo que o aprendizado se processa por imitação. Quanto a isso, as empresas são as maiores responsáveis, em face do desinteresse e da omissão que caracterizam suas posturas frente ao problema.

Diante disso, as empresas repassam a responsabilidade do treinamento para as empresas subempreiteiras que, por sua vez, não realizam o investimento necessário. Essa responsabilidade, em parte, se justifica pela tendência das empresas construtoras em terceirizar seus trabalhadores. Para justificar o baixo investimento na formação dos operários, há ainda construtoras que insistem em dizer que não vale à pena treinar uma mão-de-obra que apresenta grande rotatividade e que atua em várias construtoras do mercado.

Observa-se que, em meio à variedade de empresas existentes, identificam-se, de modo genérico, dois padrões de comportamento em relação ao treinamento de operários. As subempreiteiras especialistas e

fornecedoras de sistemas, geralmente, acreditam ser o treinamento uma responsabilidade sua e não esperam que as construtoras o façam, assumindo assim a tarefa de promovê-lo. Enquanto isso, aquelas mais tradicionais apresentam um comportamento dependente de paternalismo. Ainda esperam que as construtoras se responsabilizem pelo treinamento (PEREIRA E CARDOSO, 2004).

Os referidos autores afirmam ainda que as evidências fazem-nos acreditar que o ideal seria essa responsabilidade recaír realmente sobre as subempreiteiras, visto que as mesmas estão mais próximas dos trabalhadores. Nelas, os operários também atuam por mais tempo, o que contribui para que se identifique com maior acerto suas necessidades e deficiências. Para os autores, é das construtoras a tarefa complementar de indicar também quais são as suas necessidades. Acredita-se que é com base nessa diretriz que as novas contratações devem ser conduzidas.

O treinamento deveria ser de responsabilidade de quem o contrata diretamente, seja a construtora, a subempreiteira ou a empresa que fornece o sistema construtivo completo (HOLANDA, 2003). Mas não é isso o que ocorre. Muitas vezes, as empresas não possuem condições e nem organização necessária para proporcionar treinamento e acabam utilizando, durante muitos anos, o trabalhador que se qualifica no próprio canteiro de obras, vendo os companheiros desenvolverem suas atividades.

A falta de qualificação dos trabalhadores dentro da indústria da construção civil vem sendo discutida há muito tempo. De fato, empresários e pesquisadores da área reconhecem que a qualificação desses trabalhadores muitas vezes é responsabilidade do mestre. Kruger (1997) afirma que, na falta de oferta de programas de treinamento por parte das empresas, o desejo de melhoria individual é suprido informalmente, por meio de observação do outro, que está executando a tarefa e sob supervisão do mestre de obras.

Em função disso, e tentando minimizar os problemas oriundos dessa qualificação no ofício, algumas empresas construtoras têm desenvolvido seus próprios programas de treinamento informais.

Para Alwi (2004), tanto as empresas quanto o governo devem ter uma parte da responsabilidade. O autor enfatiza que programas de treinamento são identificados como a chave do sucesso das empresas e devem ser organizados pelo governo. Cita também algumas razões pelas quais o governo não investe em treinamento. Em primeiro lugar, porque não há regulamentação para que os trabalhadores se comprometam com programas de treinamento, depois de entrarem na construção civil. Em

segundo lugar, a remuneração dos programas de treinamento e dos treinadores é muito cara e o governo não dispõe de recursos para investir. Em terceiro lugar, as empresas não se preocupam em buscar operários com certificado de participação em programas de treinamento. Nesse sentido, os trabalhadores enfatizam que experiência e treinamento são úteis, mas não são fundamentais para se conseguir um emprego.

Sobre a responsabilidade do governo, Agapiou (1998) afirma que a intervenção deste pode ser entendida como uma tentativa de resolver todos os problemas oriundos da falta de treinamento na indústria da construção. Mesmo com dificuldades para envolver todas as empresas neste processo, fica claro que isso terá que acontecer num futuro próximo. Completa afirmando que isso irá requerer não somente investimentos financeiros do governo, mas também o desenvolvimento de programas de treinamento específicos para as novas habilidades exigidas na construção civil.

Porém, o que se verifica é a real necessidade de realização de treinamento e capacitação, com programas de treinamento mais eficazes, para preparar melhor o trabalhador. O setor não pode continuar sendo conhecido por absorver operários pouco qualificados e que não são admitidos por nenhuma outra indústria.

3.3. Barreiras para Implantação do Treinamento na Construção