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Da escola para a universidade: a demonstração da desigualdade social e da exclusão 192

Abrimos este estudo apontando a disciplina que se dedica ao estudo da sociedade, as relações interpessoais e assim a inclusão ou exclusão de um ou outro individuo que certa comunidade vivencia: A sociologia. Tendo em vista princípios básicos do estudo da Sociologia, podemos migrar assim para a Sociologia da Educação, matéria que norteará nosso trabalho.

Podemos assim posicionarmos na discussão central, a exclusão do aluno nos ambientes escolares e universitários. Ou melhor, a exclusão se inicia nas politicas educacionais adotadas na nação e que passa a surtir efeitos na vida cotidiana de alunos e professores, que embora vivam na “pátria educadora” estão distantes dos bons rendimentos educacionais e dos louros de uma vida educacional privilegiada.

Por fim, colocamos alternativas à exclusão praticada pelo sistema: a atuação dos profissionais da educação de maneira consciente e visionada que não enxergue apenas alunos em sua frente, mas visualize futuros profissionais bem como cidadãos que sairão as ruas difundir os entendimentos que aderiram durante toda vida.

Precisamos iniciar traçando conceitos básicos e necessários para o estudo da matéria em foco, e para tal, adentramos no que compreendemos por Sociologia. Reinaldo Dias (2004, p. 3) a entende como a ciência que se dedica a estudar “a dimensão social da conduta humana, as relações sociais que a ela são associadas. ” Noutras palavras, estuda a ação humana e as consequências que traz na cultura e na sociedade em que o homem se relaciona.

DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS BÁSICOS

O estudo da Sociologia é importante para todas as atividades, pois torna o ser humano mais reflexivo e sensato em sua forma de agir e pensar, deixando de ser tão somente impulsivo ou maldoso por assim dizer. Ocorre, no entanto, que nem todos podem se dedicar ao estudo desta ciência social. Diferentemente do que se passa em outras disciplinas comuns - onde um saber teórico basta, na Sociologia, para

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ser um bom sociólogo, é preciso ser um agente social passível de atuação física na comunidade, não bastando atuar apenas no campo das ideias. Doutor Enio Waldir da Silva (2012, p. 15-6), assevera:

Dificilmente estudantes e pesquisadores da Sociologia deix- aram de se tornar militantes de causas sociais, pois não se contentam em entender as causas dos problemas humanos e não contribuir para a solução deles. Dados de estudos episte- mológicos mostram que quem procura estudar a Sociologia são indivíduos preocupados com a situação das vivências so- ciais (suas e as dos outros) e que estão procurando um mun- do mais justo. Podemos afirmar, então, que a Sociologia se tornou a ciência das populações e das instituições e foi criada justamente com a perspectiva de resolver seus problemas.

De fato, a sociologia permite um estudo da sociedade e da ação intersubjetiva nela. Para isso se ocupa de verificar cada variedade de sociedade existente, bem como a cultura nelas construída por seus agentes. E sobre cultura, entendemos que seja

uma das noções mais amplamente usadas em Sociologia. A cultura consiste nos valores de um dado grupo de pessoas, nas normas que seguem e nos bens materiais que criam. Os va- lores são ideias abstractas, enquanto as normas são princípios definidos ou regras que se espera que o povo cumpra. As nor- mas representam o “permitido” e o “interdito” da vida social. (ESA, 2015).

Neste quesito a Sociologia começa a ganhar voz e vez, pois a cultura que se transmite comumente é dotada de cargas ideológicas de dominação, segregação social, separação de classes e de valores econômicos. A separação de classes econômicas e sociais, especificamente no ambiente da sala de aula, demonstra a segregação entre alunos de uma mesma turma devido a filiação, ao grau de escolaridade dos pais e avós e também possibilidade que alguns privilegiados possuem de só estudar, em detrimento da grande maioria

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que precisa ocupar o tempo “livre” com outras atividades, em geral laborais (ALMEIDA, 2015).

Silva e Paulini (2007, p. 54), apontam três objetivos para a educação, dadas por: “a transmissão da cultura, a adaptação dos

indivíduos à sociedade, o desenvolvimento de suas potencialidades e, como consequência, o desenvolvimento da própria sociedade” (grifo nosso). Assim, de qualquer forma verificamos que uma das funções da educação também é transmitir a cultura. O problema, entendemos, é que essa cultura é dotada de princípios plenamente capitalistas e preconceituosos, isto é, a herança cultural passada de geração em geração é eivada de vícios preconceituosos, sejam eles das mais diversas origens.

Quando fazemos menção ao grau de escolaridade dos pais e avós dos que agora são educandos, precisamos mergulhar nesta realidade e entendermos com olhares dotados de empatia: ao compulsar dados de qualquer jornal, verificamos cotidianamente, o crescimento educacional de uma geração para outra, em especial das classes econômicas mais baixas. Um exemplo é a reportagem extraída do portal R7 (2015):

Uma pesquisa da Data Popular, consultoria voltada para o estudo sobre hábitos da classe média, mostra que, de cada cem jovens de famílias emergentes, a chamada classe C, 68 têm mais anos de estudo do que os pais. Ou seja, quase 70% dos jovens desta faixa de renda no Brasil passaram a ter um nível escolar mais alto que o familiar. O estudo foi feito com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), levantados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Neste sentido nos cumpre entender o motivo pelo qual os genitores destes jovens têm baixo grau de escolaridade. Não cremos que a maioria tenha desejado viver na classe C - utilizamos essa classificação social embora a julguemos plenamente ultrapassada, no entanto, para fins didáticos entendemos ser utilizável. No mesmo

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sentido, não ostentamos a bandeira de que os mesmos não tinham o desejo de estudar na idade que chamamos de escolar. As circunstancias da vida é que não os possibilitaram galgar postos e títulos educacionais maiores. Essa situação os impossibilitou de gastar mais tempo com seus filhos, ensinar-lhes caminhos novos ou lhes dar novas possibilidades.

Isso é o que vemos em relação a chamada nova classe média, que tem alterado os conceitos tradicionais, pois a

nova classe média é muito distinta, em imaginário, que a classe média tradicional de nosso país. Não têm hábito de leitura e são absolutamente pragmáticos. Assim, valores uni- versais e regras gerais são colocados sob suspeição com facil- idade, a não ser que vinculadas aos valores religiosos. Porque leem pouco, não são facilmente convencidos pelas manchetes de jornais. A grande imprensa ainda não desco- briu este filão e continua empregando editores oriundos – ou com ideário – da classe média tradicional, que hoje transita entre certo liberalismo comportamental e conservadorismo político. O inverso, obviamente, dos valores dos emergentes. Porque os emergentes são pragmáticos e religiosos, não nec- essariamente nesta ordem e nem mesmo mantendo coerência entre discurso e prática. O fato é que os formadores de opin- ião são outros. (ESCOLA DE GOVERNO, 2015).

Este fato se deve a extraordinária força do povo brasileiro de trabalhar e formar seu destino, também dos três últimos mandatos terminados e o atual da Presidência da Republica que tratou de retirar milhares da pobreza extrema, levar educação a tantas pessoas e possibilitar a ascensão social. Ora, não afirmamos que esteja correta a atuação dos mandatários maiores do país. Pelo contrário, em muito nos desencontramos. Mas precisamos citar o PROUNI, Bolsa Família, SISU, FIES, Ciência Sem Fronteiras e tantos programas socais, que vem colaborando para minimizar os baixos níveis de escolaridade até então existentes em nosso país.

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profissional da educação está mudando, frente a nova realidade sociológica do país. Estamos a superar os traumas sociais existentes, embora ainda não tenhamos políticas públicas que emancipem o cidadão, conforme muitas vezes afirmou o ex-presidenciável Eduardo Campos (POLÍTICA ESTADÃO, 2015). Por outro lado, as sequelas educacionais não se resolveram meramente com a criação de quotas raciais, ou bolsas de estudo.

A Sociologia da Educação entende que é preciso alterar a forma de avaliação, de acesso à universidade, as modalidades de ensino e muitos outros processos educacionais que expressam a cultura do capitalismo em sua principal propagação da desigualdade e da concorrência desenfreada (ALMEIDA, 2015). Isto é, para um primeiro momento as opções apresentadas pelos governantes demonstram-se satisfatórias, mas a longo prazo, é necessário esboçar novas sistemáticas, capazes de efetivamente erradicar com as desigualdades ainda percebidas no ambiente escolar e universitário.

Eis o problema: a cultura exposta pelas escolas é a da segregação, começando pela forma de proporcionar educação, visto que o Estado tomou para si a responsabilidade sobre a mesma. Porém, o que possui o status de melhor e desejável é a educação particular, e não a pública (ALMEIDA, 2015).

Após concluir o ensino médio, o futuro universitário passa a ser sabatinado em vestibulares que levam em conta principalmente formulas decoradas de estudo, que além de privilegiar aqueles que tiveram acesso a uma instituição de ensino mais capacitada, enriquecem os proprietários de cursinhos às custas de familiares dos vestibulandos. É que na verdade, os vestibulares não avaliam o aluno em suas generalidades, nem levam em conta contexto social em que estão envolvidos e as demais atividades que exercem. São, na verdade, eliminatórios e excludentes no lugar de promotores de educação (ALMEIDA, 2015).

Enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, o ingresso na Universidade leva em conta todas as notas obtidas pelo educando

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na escola, no Brasil as várias universidades ofertam os cursos a qualquer um que tenham conhecimentos, em sua maioria repetidos (ALMEIDA, 2015). Silva e Paulini (2007, p. 54) afirmam que “a Sociologia nos adverte que os sistemas educacionais, em algumas nações, asseguram a reprodução dos padrões de desigualdade social existente” e endossamos essa ideia frente à realidade que observamos dentre educadores, educandos e universitários da República Federativa do Brasil, afinal, por muitos anos o vestibular aqui era composto apenas de questões de múltipla escolha. Até então não se pensava na capacidade vivencial, inclusiva e reflexiva do futuro universitário.

Cremos que esta realidade começa a alterar-se quando as universidades passam a adotar o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, como critério para escolha de seus alunos (ALMEIDA, 2015). Ocorre que, na ultima prova do ENEM, em 2014, verificamos dados catastróficos, abaixo referidos:

Na edição de 2014, 529.373 candidatos tiraram a nota zero na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na outra ponta, 250 obtiveram a nota máxima [...] em 2014, entre os que zeraram a redação, 13.039 copiaram textos motivador- es da prova; 7.824 escreveram menos de sete linhas; 4.444 não atenderam ao tipo textual solicitado; 3.362 zeraram por parte desconectada e 955 por ferirem os direitos humanos. Outras 1.508, por outros motivos. (SITES UAI, 2015).

Embora a maioria dos estudantes não tenham zerado áreas de conhecimento avaliadas por questões de múltiplas escolhas, uma parcela significativa não conseguiu ordenar ideias e escrever um texto simples alcançando minimamente um ponto. Ou seja, a educação a que foram submetidos não foi capaz de lhes proporcionar raciocínio e pensamento crítico na elaboração de uma dissertação.

Assim, seguimos segregados na universidade, onde os que têm condições pagam por colégios particulares, cursinhos preparatórios, e migram para universidades federais ou de grande renome. Outros,

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por sua vez, e a contrario sensu estudam com sacrifício e dificuldade, resignados a uma vida mais severa, mas felizmente seguindo em busca do objetivo progredir na vida com dignidade.

A educação precisa de uma ruptura com esta passividade que tem feito seus resultados refletirem na luta de classes, as quais foram expostas por Marx e endossada por tantos outros. Silva e Paulini (2007, p. 54) ao referirem-se a sociologia da educação afirmam o verdadeiro sentido da educação: “é um importante instrumento do processo de socialização nas sociedades atuais”. Neste sentido, a Educação não pode ser geradora de segregação e exclusão, mas de crescimento e afloração do homem enquanto sujeito de direitos e cidadão.

Em uma das últimas entrevistas dadas por Eduardo Campos antes do acidente que tragou sua vida no ano de 2014, o então presidenciável e líder do Partido Socialista do Brasil - PSB, afirmou “Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde vamos criar nossos filhos, é aqui onde temos de criar uma sociedade mais justa” (grifo nosso). Em

outra oportunidade, Eduardo Campos declarou “no dia em que os filhos do pobre e do rico, do político e do cidadão, do empresário e do trabalhador estudarem na mesma escola… nesse dia o Brasil será o país que queremos” (VEJA ABRIL, 2015, grifo nosso).

As palavras de Eduardo são verdadeiras e devem ser perseguidas pelos novos educadores. Assim como Campos, percebemos que precisamos construir um novo Brasil, onde a educação seja a base, havendo a valorização dos profissionais que nela atuam, da extinção definitiva da separação por classes, escolas ou outros indicadores de repressão social. Essa visão é pregada pelos novos representantes do Marxismo, os quais apresentaram ideias de investir na educação como forma de propor uma revolução na educação brasileira.

Frente ao exposto,

é necessário discutir a relação entre educação como um ideal e os resultados do sistema educacional, refletir sobre as políti- cas governamentais atuais e as aspirações dos próprios estu- dantes e a questão do futuro da educação (SILVA e PAULINI,

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2007, p. 54).

Não é mais cabível ficarmos presos a velhos conceitos, faz- se necessário trazer novidades de inclusão e crescimento do povo brasileiro, bem como a emancipação de cada cidadão. Como não podemos de salto mudar a política adotada pelo Governo em relação a educação pública, precisamos de uma nova vivencia profissional para superarmos os traumas aqui expostos e passarmos a produção de educação inclusiva na universidade.

Tal educação nunca será possível, enquanto o acesso a acadêmica for exclusivista, colocando o rico e o pobre, trabalhador e empregador, eleitor e político em níveis educacionais diversos, os distribuindo não conforme suas capacidades de ensino, aprendizagem e crescimento, mas conforme sua renda (ALMEIDA, 2015).

Logo, verifica-se que:

inclusão consiste na garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, a qual deve estar ori- entada por relações de acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com qual- idade, em todas as dimensões da vida (MAIOLA, BOOS e FISCHER, 2015).

Esqueçamos por um momento a segregação do ingresso na vida universitária e passemos a ver cada um dos alunos que adentram os corredores escolares da academia. Cada qual possui um nome, uma identidade, uma família, história, doença, trauma, e mais uma infinidade de atos que não poderíamos elencar de forma exaustiva, mas que estão unidos por uma única semelhança, a escolha do curso de graduação.

Ora, em tese, durante a escola -educação infantil, ensino fundamental e médio- existe obrigatoriedade de estudo e conteúdos programáticos obrigatórios para que as instituições trabalhem. Porém,