• Nenhum resultado encontrado

Lidiene Jaqueline de Souza Costa Marchesan

Pós-Graduada em Gestão de Organização Pública em Saúde pela Universidade Federal de Santa Maria. Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Franciscano.

Psicologia no contexto universitário 80

Tratar das emoções, manter-se seguro e bem resolvido nos diversos contextos da vida é um desafio, na atualidade temos variáveis importantes como: as Tecnologias, as Redes Sociais entre outras que ao mesmo tempo em que nos informa, nos conecta com o mundo, desenvolvendo em nós um pensamento acelerado por tantas informações, também em frações de segundos nos colocam frente a realidades que levam tempo a serem digeridas.

Toda esta capacidade das Redes Sociais de nos ligarem a milhares de pessoas tem sido contraditória na atualidade, pois na vida real, podemos observar o quão solitário são a maiorias das pessoas. Para Buber (1977) cada vez mais o homem contemporâneo enfrenta a realidade autêntica de sua solidão. Este pensamento de Buber corrobora com Bauman (2004) quando este menciona que, tudo se torna tão descartável até mesmo as relações humanas. E ao discorrermos sobre as relações, podemos refletir sobre o contexto Universitário, onde as relações precisam ser estabelecidas e criadas entre os acadêmicos.

Alguns sentimentos vividos por alunos precisam ser analisados, pois, no universo acadêmico um deles é o de sentir-se só, este sentimento toma proporções muito maiores e desafiantes quando estes alunos saem de casa.

Geralmente, os sintomas de solidão são advindos de jovens de outras cidades do Estado do Rio Grande do Sul ou de diversas regiões do País, onde ainda trazem consigo culturas e valores diferentes e longe de seus familiares, precisam enfrentar a distância, a saudade, a aprenderem serem administradores de suas vidas e acima de tudo ter sucesso na Universidade.

Para Taille (1992) o homem é guiado pela busca do equilíbrio entre as necessidades biológicas fundamentais de sobrevivência e as agressões ou restrições colocadas pelo meio para a satisfação destas necessidades, nesta relação, a organização enquanto capacidade do indivíduo de condutas seletivas, é o mecanismo que permite ao homem ter condutas eficientes para atender suas necessidades e demandas de

Aprendizagem e acessibilidade: travessias do aprender na universidade 81

adaptação. A interação deste indivíduo com o ambiente permitirá a organização dos significados, marcando assim, as diferentes estruturas cognitivas.

Para Horney (1959) a educação não pode deixar de lado a tentativa de preparar o indivíduo para esse aspecto de sua vida, sua autonomia. O termo autonomia, segundo o dicionário Michaelis, consiste na qualidade de o sujeito tomar suas próprias decisões, com base na razão (MICHAELIS, 2004). Dessa maneira, espera-se que o sujeito autônomo, tenha condições de realizar suas atividades com plenos poderes de decisão, organização e mudanças se forem necessárias.

Em contrapartida, quando o estudante não consegue lidar com estas variáveis, principalmente em se enxergar como um ser autônomo começam a surgir problemas com a prospecção de contribuir para o baixo desempenho acadêmico, tristeza e desmotivação.

No entanto, inicialmente o universitário não consegue perceber o porquê do baixo índice de desempenho, não consegue perceber a causa, mas sente a sintomatologia no corpo e sem saber o que fazer, começa a incutir vários pensamentos, entre eles, trocar o curso ou até mesmo abandonar a Universidade.

Morin (1999) incita-nos a refletir que, na vida contemporânea têm-se a necessidade de se adotar novas posturas e comportamentos que são influenciados pelo modo de pensar. Os pensamentos determinam as práticas que se estabelecem e se desenvolvem nas sociedades. Diante deste quadro, vem a importância do Psicólogo e de seu suporte no contexto Educacional.

Ao pensar sobre a problematização das dificuldades no processo de ensino-aprendizagem, e nos atendimentos realizados ao longo de dois anos no Núcleo de Apoio à Aprendizagem na Educação (Ânima) setor vinculado ao Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria e em parceria com o Núcleo de Acessibilidade também desta Instituição, justificou-se o interesse de compartilhar este artigo.

Psicologia no contexto universitário 82

extensão, a partir de uma abordagem interdisciplinar, com ênfase na aprendizagem. Para tanto, oferece avaliação e acompanhamento Pedagógico, Psicológico e Psicopedagógico por meio de sessões individuais ou em grupo; programas, oficinas e seminários, orientação profissional e formação continuada. Todas estas ações proporcionam ao acadêmico uma oportunidade de repensar sobre sua atuação na academia e sua desenvoltura dentro do processo frente às queixas trazidas para o atendimento.

ASPECTOS RELACIONAIS DO APRENDER

Willian James (2004) na teoria das emoções, trás que à medida que ocorrem alterações no corpo, o indivíduo fica sabendo de sua existência e pode acompanhar continuamente sua evolução. Este acompanhamento contínuo, a experiência do que o corpo está fazendo, o desenrolar–se dos pensamentos é a essência daquilo que o autor chama de sentimentos.

Se uma emoção é o conjunto de alterações no estado do corpo associados a certas imagens mentais que ativaram o sistema cerebral específico, a essência do sentir de uma emoção é a experiência dessas alterações em justaposição com as imagens mentais que iniciaram o ciclo.

Nesse sentido, a teoria nos leva a refletir que a essência da tristeza ou da felicidade é a percepção combinada de determinados estados corporais e de pensamentos. Esta essência quando não está bem clara para o indivíduo começa a compor uma alteração em seu estilo de vida, que justapostos complementados começam a modificar os pensamentos, sentimentos e na eficácia acadêmica.

Desta forma, Bauman em sua obra Modernidade Líquida (2004) apresenta um dos problemas da atualidade, onde viver em um mundo cheio de oportunidades, cada uma mais apetitosa e atraente que a anterior, apresenta a facilidade e praticidade dos dias de hoje, poucas coisas são predeterminadas e menos ainda interrogáveis e isto coloca

Aprendizagem e acessibilidade: travessias do aprender na universidade 83

o acadêmico na condição de estar em uma zona de conforto, onde a oferta de oportunidades são enormes, mas muitas vezes carregada de superficialidades.

Esta banalidade trazida por Bauman (2004) mostra-nos de forma bem sutil que a liberdade está no alcance de qualquer indivíduo, viver em meio a chances aparentemente infinitas de realização parece ser tão óbvio, que nos remete a um vazio onde esta liberdade reflete-se em um ser inacabado, principalmente quando lidar com sentimentos e emoções precisa de uma estabilidade e segurança do sujeito como ser. Ainda, Bauman relata que o mundo cheio de possibilidades é como uma mesa de Buffet com tantos pratos deliciosos e as escolhas são o quiz de todas as questões, a necessidade de estabelecer prioridades, a necessidade de dispensar algumas opções inexploradas e abandoná-las, são condições extremamente importantes para o jovem universitário.

E como articular sentimentos, liberdade e educação? Quando estes ingredientes se misturam na vida Acadêmica, tem como separá- los?

Em resposta a esta reflexão Morin (1999) vai trazer que a Universidade tem um duplo papel paradoxal de adaptar-se à modernidade e integrá-la a responder às necessidades fundamentais de formação.

Assim, a Universidade defende, ilustra e promove ao mundo social e político, valores intrínsecos à cultura universitária, tais como a autonomia da consciência e a problematização que tem como consequências o fato de que a investigação deve manter-se aberta e plural e que a ética do conhecimento seja mantida.

No entanto, conforme Ardoino (1998) ninguém é autor apenas de si mesmo, somos na maioria dos casos co-autores, porque há autores anteriores a nós que nos autorizam e a partir desta relação do autorizar há a implicação de responsabilizar-se por si mesmo e este processo leva o outro a autonomia que se inscreve na ordem da educação em um conjunto de alvos e finalidades.

Psicologia no contexto universitário 84

Cabe salientar, no entanto que o jovem universitário quando não gerencia a liberdade que lhe é apresentada e não consegue ser protagonista de seu desenvolvimento acadêmico gera uma complexidade refletida não só nos processos cognitivos da aprendizagem, como também no corpo o levando a muitas vezes a adoecer.

Martins (2002) corrobora com Ardoino (1998) quando aborda que quando os estudantes não se sentem implicados nem responsáveis por suas trajetórias acadêmicas, estas são assumidas pelos docentes, principalmente quando estes alunos apresentam baixo desempenho acadêmico ou problemas comportamentais.

Esta problemática nos leva a mais uma reflexão de uma dualidade real onde muitas vezes o acadêmico vem com o discurso do fracasso, de impotência ou indecisão do curso, onde este aluno acaba estabelecendo o vínculo de descomprometimento, onde o que é ressaltado nesta relação é a desqualificação do outro e não uma isenção de sua responsabilidade dentro do processo de desenvolvimento ensino- aprendizagem.

Ausubel (1982) diz que a aprendizagem é um elemento que provém da comunicação com o mundo e se acumula sob a forma de uma riqueza de conteúdos cognitivos. É importante salientarmos, que os desafios de saber lidar com os conflitos que surgem, assim como as mudanças sejam elas emocionais ou comportamentais vai estar intrinsecamente ligada aos processos motivacionais do indivíduo.

A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação. Isso significa que a base da motivação, está sempre um organismo, que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade ou uma predisposição a atingir.

Quando apresentadas estas demandas, o psicólogo intervém com o resgate da disciplina, do contato e ressignificação da relação do sujeito e consigo mesmo, com o outro e o mundo. O fazer Psicológico dentro das universidades vem ao encontro de uma necessidade do

Aprendizagem e acessibilidade: travessias do aprender na universidade 85

acolhimento, conforme a definição da cartilha Planejamento Nacional de Humanização (PNH) (BRASIL, 2001).

Acolhimento significa a humanização dos atendimentos, ele deve garantir e resolver os problemas do usuário que vai além do atendimento, está atrelado ao vínculo que será estabelecido.

Assim, diante do cotidiano e as mais diversas queixas que são trazidas pelos acadêmicos, o papel do Psicólogo está pautado na heterogeneidade própria das relações. Poder localizar nossas ações nas relações nos permite ocupar outro lugar no contexto educacional, que é muito importante, a escuta clínica.

CONCLUSÃO

O crescimento e amadurecimento dos indivíduos fazem parte do ciclo da vida. E este crescer, não está somente atrelado ao desenvolvimento, mas no crescimento como ser humano.

Na medida em que nos comprometemos como sujeitos, vamos nos deparando com diversas realidades e situações e estar preparados para o gerenciamento destas questões nem sempre está a nível consciente.

No contexto Universitário este amadurecimento vem carregado de emoções e sentimentos e é justamente nesta ocasião que surge a importância do suporte do profissional da área de Psicologia.

Poder trabalhar com a significação e ressignificação de todas as demandas trazidas vai contribuir para uma nova construção de um ser que vai se permitir potencializar-se.

Os atendimentos do serviço da psicologia no contexto Universitário pretendem fazer com que o domínio da consulta psicológica seja fecunda e o acompanhamento psicológico vêm com as boas intenções e o desejo de prestar assistência ao estudante.

A adesão dos atendimentos aceitos apresenta uma conquista para o serviço, em poder contribuir e servir, em uma proposta implicada e voltadas aos cuidados, onde a conscientização do acadêmico desta

Psicologia no contexto universitário 86

necessidade do suporte, o permitirá e o levará ao crescimento pessoal e profissional no presente e futuramente.

A ação do suporte psicológico aos acadêmicos, juntamente com a eficácia e aplicabilidade dentro do processo para a demanda de suas cognições permite, estabelecer o vínculo paciente- psicólogo, que se dá por meio de uma relação permissiva e estruturada. Este envolvimento permissivo propicia ao paciente alcançar uma compreensão de si mesmo em um grau que o capacita a progredir à luz da sua nova orientação.

É importante salientar que o objetivo do suporte psicológico não é estabelecer a dependência do paciente ao psicólogo e sim que o sujeito possa resolver os seus problemas, desenvolvendo-se para poder enfrentar os problemas de uma maneira mais equilibrada e harmoniosa, Rogers (1973). Podendo resolver os problemas de maneira mais independente, responsável, menos confuso e mais organizado.

No processo de intervenção, existe um esforço da parte do psicólogo em obter resultados, principalmente quando se diz em converter situações de repressões, inseguranças desafios em transformações positivas.

Dessa forma, podemos pensar que o atendimento psicológico faz-se necessário nas Instituições. Valendo lembrar que o fazer psicológico, não é uma forma de induzir o sujeito a fazer algo, mas que ele possa fazer algo para si mesmo. É um processo de libertá- lo para um amadurecimento e desenvolvimento para a remoção dos obstáculos que o impeçam de avançar.

Nesse sentido a compreensão dos sentimentos, pensamentos e emoções, a apreensão e aceitação dos mesmos, são aspectos fundamentais para a autonomia e autoconhecimento do sujeito e no processo das cognições.

Aprendizagem e acessibilidade: travessias do aprender na universidade 87

REFERÊNCIAS

ARDOINO, J. Abordagem Multirreferencial (plural) das situações

educativas e formativas. In: Barbosa, J. G. (Cord.) Multirreferencialidade

na ciência e educação, São Carlos: EDUFSCAR, 1998.

AUSUBEL, D. Aprendizagem significativa: A teoria de David Ausubel.

Tradução:Marco A. Moreira, Elcie F. S. Masini. Ed Moraes. São Paulo, 1982.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde.

Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar/

Ministério da Saúde, secretaria de Assistência à Saúde- Brasília: Ministério da Saúde, 2001.

BUBER, Martin. EU E Tu. Introdução e tradução de Newton Aquiles Von

Zuben. 2. ed. São Paulo: Civilização Brasileiro, 1959.

HORNEY, K. A Personalidade Neurótica do nosso Tempo. Trad. Octávio

Alves Velho. São Paulo: Civilização Brasileiro, 1959.

JAMES, William. Sentimentos e Emoção. 5.ed. Porto Alegre: Artmed,

2004.

MARTINS, João Batista (Org.). Psicologia e educação: Tecendo caminhos.

São Carlos: Rima, 2002.

MCHAELIS. Dicionário Escolar de Língua Portuguesa. São Paulo:

Melhoramento, 2009.

MORIN, Edgar. Complexidade e Transdiciplinaridade: a reforma da

Universidade e do ensino Fundamental. Natal: EDUFRN, 1999.

PATTO, M.H.S. Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: Casa do

Psicólogo, 1996.

TAILLE, Yves de La. Piaget, Wygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas

em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

Psicologia no contexto universitário 88

Fontes, 1973.

UNIVERSIDADE FERDERAL DE SANTA MARIA. Núcleo de Apoio à

Aprendizagem na Educação. Ânima. Disponível em: <http://site.ufsm.br/

servicos/anima> Acesso em: 21 abr. 2015.

Atendimento psicológico a