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Pedagoga pela Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Linha de Pesquisa Educação Especial. mariane.carloto@gmail.com

Educação inclusiva: uma responsabilidade compartilhada na universidade 132

A Educação Especial constitui-se a partir de movimentos sociais, políticos, culturais, ideológicos, pedagógicos, pautada na defesa da Educação como direito de todos, com iguais acessos ao saber sem nenhuma forma de discriminação. Com isso, torna-se necessário uma (re) organização estrutural curricular e pedagógica dos espaços educativos para que todos os alunos sejam atendidos.

Nesta perspectiva a Educação Especial torna-se uma modalidade transversal de ensino, como consta na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008):

[...] acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transver- salidade da modalidade de educação especial desde a edu- cação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da co- munidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas, (p. 14).

Destaca-se que a existência da acessibilidade em todas as classes de ensino é fundamental, na qual possibilita mais acesso de estudantes com deficiência na universidade. Dessa forma, entende-se que a acessibilidade é garantida como o conjunto de “[...] condições presentes nas estruturas física e administrativa das instituições” (MANZINI, 2005, p. 31).

A Educação Inclusiva vem sendo discutida no que tange a qualidade dos processos e estratégias de ensino-aprendizagem oferecidas no Ensino Superior. O movimento de inclusão torna-se um desafio para a Universidade, pois exigem que ocorram mudanças em sua infraestrutura, recursos materiais e humanos para atender os estudantes e assim ofertar uma prática educacional voltada ao atendimento à diversidade, bem como apoio legal a fim de construir uma sociedade na qual a individualidade seja respeitada visando o

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coletivo.

A concretização da inclusão no Ensino Superior faz com que ocorram muitas mudanças por parte dos docentes em suas práticas, em suas formas de interagir com os estudantes, em suas dinâmicas de ministrar as aulas. A aprendizagem não ocorre pela transmissão dos conhecimentos, mas sim pela relação dialógica, afetuosa e horizontal entre docente provocando a mobilização e o interesse, como refere Rios (2003, p.32), “desafios colocados contemporaneamente a um esforço de compreensão com a busca dos sentidos e a preocupação com o ensino, com socialização, criação recriação de conhecimentos e valores”.

O tema proposto nos remete a entender que a Educação Especial no Ensino Superior é direito fundamental dos estudantes com deficiência. Dessa forma, a acessibilidade a partir da adaptação arquitetônica das instituições de Ensino Superior, aquisição de equipamentos específicos e a ampliação do número de professores especializados são ferramentas necessárias para atingir o apoio previsto em Lei, para que a educação seja, de fato, inclusiva, adequando-se o público-alvo da Educação Especial ao espaço universitário.

A educação brasileira esta desafiada frente a importantes mudanças, tais como a qualidade da educação básica, o acesso à Educação Superior e a formação de seus professores. Surge então a pergunta: O que é necessário fazer para vencer qualquer entrave que possa impedir o acesso dos estudantes com deficiência na universidade?

Nesse sentido, objetiva-se mostrar que alunos público-alvo da Educação Especial estão ingressando no nível superior e faz- se necessário repensar as metodologias e as condições dos espaços físicos para que se proporcione um ensino de qualidade. A partir das ideias iniciais acredita-se na importância de se discutir sobre técnicas, estratégias de ensino mais adequadas para promover o acesso, permanência, aprendizagem e conclusão do ensino pelos estudantes.

Para embasar as discussões que constituem este trabalho foram referenciados autores como Pereira (2002) Siluk (2012); Siluk (2013)

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e Silva; Polenz (2008). E para a realização deste estudo a metodologia utilizada foi à pesquisa bibliográfica.

MUDANÇAS NECESSÁRIAS PARA O ATENDIMENTO AO PÚBLICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ENSINO SUPERIOR

A sociedade estabelece normas, padrões universais de homem, e a universidade, imersa nesta sociedade, estrutura suas práticas na transmissão dos conhecimentos científicos para formar especialistas, ocasionando, muitas vezes, dificuldades na aprendizagem e permanência dos estudantes com deficiência nos cursos de graduação, gerando desistências nos estudos e evasão.

Morin (2010, p.13) afirma que:

Há a inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave en- tre os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas, e por outro lado, realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimension- ais, transnacionais, globais, planetários.

Com base nestas ideias reflete-se sobre como vem sendo constituída a prática docente na universidade e como o movimento da Educação Inclusiva vem se estruturando nestes espaços.

O crescente número de estudantes público-alvo da Educação Especial ingressantes nas universidades constata o amadurecimento da necessidade de revisão crítica do saber produzido e das práticas correntes da educação para essas pessoas. Essas estratégias de mudanças dinamizam as relações estabelecidas no ambiente de aprendizagem.

Nessa perspectiva, o sistema de Ensino Superior do Brasil é complexo devido à diversidade de sua estrutura e organização. O que torna uma tarefa árdua e que tais mudanças, para um ensino adaptativo, precisam ser inseridas no cotidiano da universidade,

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Pacheco; Costas (2006) sugerem a utilização diversificada de métodos de aprendizagem, experiências e atividades, organização do espaço da sala de aula, procedimentos de avaliação, bem como clareza de exposição dos critérios de avaliação visando à coerência com os princípios pedagógicos.

Os profissionais da educação, na função de caracterizadores e facilitadores do processo ensino-aprendizagem devem contribuir para que todos os alunos tenham acesso ao currículo global e a todas as possibilidades de experiências oferecidas pela instituição formadora.

Formação continuada de professores, produção e adequação de recursos pedagógicos; assessoria psicopedagógica; adap- tação do currículo bem como a reflexão de todos os envolvi- dos no processo educativo torna-se necessário a criação de comissões ou núcleos na própria instituição responsáveis pelo desenvolvimento de ações que propiciem a inclusão.

(PACHECO; COSTAS, 2006, p 158).

Conforme exposto, é relevante considerar que ainda há muito que se fazer para que a Educação Inclusiva se concretize pautada nos moldes Legais da educação.

A legislação

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) dedica poucos artigos referentes ao Ensino Superior, porém as Universidades devem se pautar no princípio da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. Tal exigência não existe para outras formas institucionais de Ensino Superior, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996).

[...] as Universidades são instituições pluridisciplinares de formação de quadros de profissionais de Nível Superior, de pesquisa e investigação, extensão, domínio e cultivo do saber humano. Devem possuir I. Produção intelectual instituciona-

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lizada, mediante o estudo sistemático dos temas e problemas relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto às necessidades de nível regional e nacional; II. Um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de me- strado e doutorado; III. Um terço do corpo docente em regime de tempo integral. A universidade tem autonomia didática e cientifica, bem como autonomia administrativa de gerencia- mento de recursos financeiros e do patrimônio institucional.

A Constituição Federal (BRASIL, 1988) assegura como objetivo “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (Art. 3º, Inciso IV). Em seu Artigo 205 (BRASIL, 1988) garante que “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família”. Em seguida no Artigo 26, estabelece a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. (BRASIL, 1988).

A Declaração Mundial de Educação Para Todos (1990) objetiva garantir o atendimento as necessidades básicas de aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos. Em seu artigo 3º, a Declaração trata da universalização do acesso à educação e princípio de equidade. No contexto do Ensino Superior ainda é um desafio e que aos poucos vem se constituindo, porém há muito que fazer para melhor atender os alunos público-alvo da Educação Especial nas Instituições de Ensino Superior.

Pereira (2002) afirma que não se pode mais entender o professor como detentor do saber, nem o ensino como transmissão de um conhecimento pronto e acabado. O modelo pelo qual se pautava a organização do ensino superior não dá mais conta da complexidade do momento que vivenciamos e é constantemente impulsionado a mudanças. Neste contexto, “professores e alunos passam a construir conjunta e continuamente o conhecimento, embasados nas teorias e na revisão constante destas, nos questionamentos e nas leituras da realidade e do presente histórico” (PEREIRA, 2002, p.42).

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que promovam o acesso, a permanência, aprendizagem e conclusão dos estudantes com deficiência nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Portanto, os docentes do Ensino Superior estão frente à complexidade do campo em que atuam, visando não apenas a profissionalização dos estudantes em questão e sim formar cidadãos críticos e conscientes.

DISCUSSÕES E PROJEÇÕES A RESPEITO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA UNIVERSIDADE

Ao longo do tempo no cenário educacional, procurou projetar uma visão otimista da situação dos estudantes com deficiência. Atualmente, o assunto em questão exige posturas críticas e múltiplas habilidades por parte dos docentes para acompanhar a atual demanda estudantil.

Tratar da cidadania dos estudantes com deficiência significa ter no horizonte a ampliação de seus espaços de participação cultural, política e econômica, significa mobilizar suas possibilidades intelectuais, e isso parece difícil de concretizar nos ambientes segregados das instituições. Embora considerando a seriedade e as boas intenções de seus profissionais, a existência do espaço institucional especial é contraditoriamente uma espécie de negação da cidadania desses indivíduos. O sujeito constrói-se nas relações sociais e de produção mais amplas e não à margem delas.

Indicar caminhos para a mudança organizacional da universidade e (re) organização na prática dos docentes que atuam no Ensino Superior torna-se necessário para promover a inclusão dos estudantes e a concretização do que as Políticas preconizam. Para Freire (1996, p.76)

O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade cu- riosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dia- leticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre mas também o de quem intervém

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como sujeito de ocorrências, o educador não pode abrir mão do exercício da autonomia, pedagogia centrada na ética, res- peito a dignidade aos educandos.

Muitas lacunas ainda existem, porém, a vontade de sanar tais necessidades possibilita a busca por novas alternativas e por uma educação de qualidade.

Os resultados apresentados são relevantes, pois, apresentam que a Educação Inclusiva vem sendo discutida no que tange a qualidade dos processos e estratégias de ensino-aprendizagem oferecidas no Ensino Superior. Portanto, o trabalho na perspectiva inclusiva exige que a IES tenha planejamento e recursos em termos físicos e humanos que sustentem uma prática educacional voltada ao atendimento à diversidade, necessitando de mudanças para o atendimento a esse público.

CONCLUSÃO

A realização desta pesquisa bibliográfica acerca do que permeia a Universidade e a Educação Inclusiva nos leva a diversas reflexões. Sendo que contribuiu para uma melhor compreensão sobre os processos de inclusão nas universidades.

Considera-se que as transformações estão ocorrendo na educação superior brasileira, mas ainda é preciso avançar no que diz respeito às condições de oferecer uma educação em nível superior aos alunos da Educação Especial. Isso gera a necessidade constante de reflexão sobre a sistematização do Ensino Superior Brasileiro para que a oferta esteja de acordo com as necessidades apresentadas pela população.

Acredita-se que as mudanças a serem feitas nas práticas dos docentes não dependem apenas das Políticas, mas de articulações com ações formativas e de capacitações, a valorização do saber de cada estudante, diminuindo a ênfase do ensino fragmentado e focado na especialização.

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De todas as constatações, conclui-se que o Ensino Superior atravessa um momento repleto de desafios e ainda cabe as universidades repensarem seus objetivos para que o currículo possibilite a formação profissional articulada com preocupações morais e éticas dos estudantes com deficiência.

REFERÊNCIAS

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