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A BIBLIOTECA E A INTERNET: COMO SOBREVIVER NA SELVA DA DESINFORMAÇÃO

No documento Voce Sabe Estudar_ - Claudio Moura Castro (páginas 124-130)

H. A INTELIGÊNCIA DAS MÃOS

I. A BIBLIOTECA E A INTERNET: COMO SOBREVIVER NA SELVA DA DESINFORMAÇÃO

Parte da nossa vida escolar consiste em ler e tentar entender o que está nos livros e nos m anuais indicados pelos professores. Mas, no m undo real, não há um “m anual da vida” que podem os abrir em qualquer m om ento para encontrar respostas para as dúvidas que aparecem . De fato, tem os que aprender com o encontrar a inform ação, onde quer que ela estej a. É função da escola preparar você para o futuro. Para isso, deve propor questões e problem as que não estão respondidos nos livros do curso que você faz.

Buscar respostas que não foram previamente empacotadas é uma das atividades mais úteis para nossa vida após sairmos da escola.

Na verdade, m esm o na escola, algum as respostas não existem prontas, bastando achá-las. Pelo contrário, tem os que observar, contar, m edir, pesar, coletar dados ou entrevistar pessoas. O processo de encontrar essas respostas nos prepara para o futuro, quando não haverá m ais um professor para nos socorrer.

Na escola, quando o livro adotado não responde às nossas perguntas, a prim eira providência costum ava ser ir à biblioteca. Hoj e, boa parte das fontes m igrou para a internet. Muitas vezes, em decorrência das crônicas deficiências das bibliotecas brasileiras, o Google passa a ser a m elhor fonte de inform ações.

Pela nossa vida afora, estam os condenados a buscar inform ações onde quer que estej am . Portanto, essa é um a das com petências m ais úteis para a vida. Mas não é só isso.

SEJA NA BIBLIOTECA, SEJA NA INTERNET, APRENDER A BUSCAR É TAMBÉM APRENDER A PROTEGER-SE DA INFORMAÇÃO ERRADA E DA DESINFORMAÇÃO.

Não aprender a separar o seguro do falso é quase tão sério quanto não saber buscar a inform ação de que precisam os. É necessário avançar bastante nesse

aprendizado. Pelo m enos, erros grosseiros podem ser evitados com certa facilidade.

Podem os pensar em dois tipos relativam ente independentes de “vacinas” contra a inform ação errada. Na prim eira, não nos deterem os, pois foge dos obj etivos deste m anual. Trata-se de entender m inim am ente o assunto tratado, com seus princípios e seus fatos. Se não sabem os com o funciona um m otor elétrico, estam os m al equipados para decidir de qual tipo precisam os. Se não entendem os a lógica de um governo com três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), não podem os entender boa parte das discussões em Brasília, noticiadas nos j ornais. Em particular, ficam os perdidos quando se discute quem cassa um deputado condenado por este ou aquele crim e. Nesse caso, não chegam os ainda na fase de duvidar sistem aticam ente da inform ação recebida. Estam os, sim plesm ente, despreparados para lidar com o assunto. A segunda “vacina” está na análise das fontes usadas. Precisam os aprender a separar a inform ação confiável do entulho sem credibilidade.

Para dar os prim eiros passos, façam os as seguintes perguntas: Que origem têm os m ateriais que vam os usar?

O que sabem os sobre aqueles que nos oferecem a inform ação? São autores conhecidos e respeitados?

Estão disponíveis para ser questionados e m ostrar de onde e com o obtiveram os dados ou com o chegaram a esta ou àquela conclusão?

Existem , de fato, ou são personagens inventados? No caso da internet, essa é um a pergunta essencial.

Quem disse?

Quem é essa pessoa? Para quem trabalha?

Que interesse tem em divulgar essa inform ação?

Que m otivação teria para deixar em branco ou distorcer certos aspectos do assunto?

Quem garante a seriedade da inform ação?

Se não conseguim os um a resposta satisfatória para essas perguntas, há boas razões para desconfiar. Se não há autores com um currículo identificável, o que está dito pode até ser verdade, m as com eçam os m al. Minim am ente, fiquem os com um pé atrás.

Um a estratégia convencional é ouvir o outro lado. Quem tem interesses opostos vai m ostrar o lado ruim ou frágil.

O vendedor da Harley -Davidson dificilm ente vai dizer que essa m oto costum a pingar óleo no chão. Mas o vendedor da Honda, falando das Harley s, dificilm ente deixaria de m encionar essa fragilidade do concorrente. É útil indagar acerca dos interesses de cada um em m ostrar, ou não, as deficiências de um produto ou de um a ideia.

A revista que avalia a qualidade dos autom óveis aceita publicidade dos fabricantes? Não é pecado m ortal ganhar dinheiro com tais anúncios, m as é razoável supor que tenha relutância em ser excessivam ente crítica com os produtos que garantem seu sustento econôm ico. Essa vulnerabilidade não com prom ete fatalm ente as avaliações, em bora reduza sua confiabilidade. Entrevistas com redatores de um a revista am ericana de fotografia revelaram que a sua política editorial é não falsificar resultados e não om itir falhas. Mas, se o produto é ruim , sim plesm ente não será m encionado em suas páginas. A lição, no caso, é desconfiar do que não é avaliado ou seriam ente m encionado pelas publicações m ais respeitadas.

Quando um político de um partido adm ite um erro de seus correligionários, podem os acreditar que, realm ente, algo não foi bem . Mas, quando denuncia seu adversário político, isso não m erece um crédito autom ático. Pode ser certo, errado ou, ainda, exagerado.

Há um critério essencial na avaliação da confiança que m erece um a notícia:

QUE REPUTAÇÃO O AUTOR DO ARTIGO TEM A OFERECER?

Não basta ser um a pessoa de bem , respeitada pelas suas virtudes. Quando econom istas de boa form ação e currículo, com o Delfim Netto ou Edm ar Bacha, falam de dívida externa, é diferente de um padre falando do FMI ou de um bispo falando de um tratado de com ércio. Uns entendem , outros não. É tolo acreditar autom aticam ente nos deuses da econom ia. Mas devem os dar ínfim o crédito à opinião de quem não se subm eteu à disciplina de estudar econom ia por m uitos anos.

Sem pre que possível, prefira as revistas de cunho acadêm ico, pois têm um corpo editorial com gente conhecida na área, cuj o nom e em presta confiança ao periódico. Com o são pessoas com um a reputação a defender, não querem ver seu nom e em revistas que publicam tolices ou irrelevâncias. Em m uitos casos, am eaçam sair, ou saem , se a revista não m elhorar.

Outra razão é que, no caso de revistas profissionais, os leitores típicos são m ais exigentes e m ais educados. De fato, seu m aior nível de educação é um fator de confiabilidade. Portanto, revistas para um público-alvo com m aior nível de escolaridade têm que ser m ais cuidadosas. Além de m ais críticos, os leitores circulam m ais am plam ente suas denúncias caso falte qualidade às m atérias. Outro fator relevante é a presença de ombudsman nos m elhores j ornais. As figuras com esse apelido sueco são pessoas de reputação estabelecida e cuj o papel explícito é encontrar fragilidades ou erros no j ornalism o da própria

publicação. Por exem plo, não é incom um um artigo na Folha de São Paulo, assinado por seu ombudsman, denunciar incorreções em algum a m atéria do próprio j ornal.

A vida útil de um a notícia depende tam bém da periodicidade da publicação. Matérias em sem anários têm vida útil m ais longa do que as dos j ornais diários. Os leitores as exam inam com vagar e com m ais chances de achar erros. Daí que a redação precisa ser m ais atenta. Além disso, têm m ais tem po para conferir o que foi escrito.

Os grandes jornais forjaram sua reputação ao longo de décadas. Eles mantém os seus leitores pela confiabilidade que projetam. Portanto, pensam mais no futuro, antes de se embrenhar em notícias sensacionalistas ou mal documentadas.

Wavebreakmedia Ltd/Wabebreak Media/Thinkstock Além disso, podem ser alvos de processos legais por aqueles que se sentem inj ustam ente tratados em suas reportagens. Esse perigo de perder um processo faz com que tenham m ais cuidado antes de denunciar aquilo que não podem provar ou fazer algum a declaração leviana sobre qualquer assunto. É verdade, grandes j ornais tam bém erram . Tom em os o exem plo do New York Times. Em algum as ocasiões, equivocou-se redondam ente. Mas isso é tão pouco com um que os poucos erros, de décadas atrás, são ainda lem brados, com o em um caso célebre durante a guerra do Vietnã.

Um j ornalista de um sem anário am ericano de prim eira linha forj ou um vídeo que m ostrava a explosão no tanque de gasolina de um a cam inhonete. Quando o fato se tornou conhecido, o próprio presidente da em presa foi despedido.

Em contraste, a internet é o veículo eletrônico para tudo, inclusive para o boato. Aliás, é um veículo ideal para o boato, pois perm ite total im punidade para o autor. A internet é catastrófica por esse ponto de vista.

Em m uitos sites, não há responsáveis, não há autores, não há reputações construídas por décadas de trabalho sério. Não há a quem reclam ar.

A INTERNET NÃO TEM DONO. É A INFORMAÇÃO INSTANTÂNEA

E A IMPUNIDADE ETERNA.

ELA PERMITE AFIRMAR SEM PROVA E DIZER O QUE NÃO É VERDADE.

Ou os frequentadores da internet aprendem a questionar o que leem ou aum entará cada vez m ais a volatilidade das inform ações. A desinform ação pode ser pior do que a falta de inform ação.

Obviam ente, há um extraordinário acervo de m ateriais confiáveis na internet. Mas é preciso saber triar. Os sites do IBGE, do INEP, da National Science Foundation ou dos j ornais e revistas sérios (Folha de S. Paulo, Estado de São Paulo, Globo, Valor Econômico, Veja, Época, para citar alguns exem plos nacionais) são aceitavelm ente confiáveis. Neles, há sem pre form as de checar os conteúdos. E, tam bém , estão citados os nom es dos responsáveis, cuj o prestígio está sem pre am eaçado por deslizes. Há reputações em j ogo. Um editorial leviano é responsabilidade do redator, cuj o nom e está m encionado explicitam ente.

Um primeiro teste de confiabilidade consiste em perguntar:

SE FOR MENTIRA, QUEM PAGA O PREÇO, CASO SEJA DESMASCARADO?

Se não há cabeças a prêm io, cuidado! Se o e-mail circula em listas enorm es, não sabem os quem postou inicialm ente e, portanto, im pera a im punidade. Cuidado!

Portanto, no caso da internet, a regra é simples. Quem assina e se torna responsável pela notícia:

COM ESSAS PERGUNTINHAS, ELIMINAMOS MAIS DE 99% DOS BOATOS DIGITAIS.

Há m ilhões de sites com inform ações úteis e interessantes. Mas sua confiabilidade não fica evidente, pelo m enos à prim eira vista. A internet traz um a extraordinária riqueza de inform ações, bastando apenas pressionar algum as teclas no Google. Porém , tam bém traz novos níveis de risco na qualidade da inform ação.

Para os trabalhos de cunho acadêm ico, as exigências de confiabilidade são m ais rigorosas. Portanto, os autores sentem -se obrigados a serem m ais criteriosos.

winterling/iStock/Thinkstock

No documento Voce Sabe Estudar_ - Claudio Moura Castro (páginas 124-130)