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REPETIR PARA APRENDER (“ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA ”)

No documento Voce Sabe Estudar_ - Claudio Moura Castro (páginas 188-193)

MANDAMENTOS DO ESTUDO ATIVO:

B. REPETIR PARA APRENDER (“ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA ”)

Ao longo deste m anual, você se confrontará, m uitas vezes, com a ideia da repetição. Estudar m uitas vezes, recordar m uitas vezes, fazer testes m uitas vezes, e assim por diante.

É isso m esm o. Nossa cabeça funciona assim . Sim plificando, tem os um a m em ória de curto prazo e outra de longo prazo. Tudo que cham a a atenção dos nossos sentidos é guardado na de curto prazo, sem qualquer esforço. Sentados em um restaurante, lem bram os do rosto do garçom que nos serve, para que possam os cham á-lo m ais adiante, se está dem orando. Mas, saindo dali, seu rosto é apagado de nossa m em ória, j ustam ente porque j á prestou o serviço esperado e não nos serve m ais. Contudo, não nos esquecem os de tudo. Nosso cérebro decide reter certas inform ações. Por exem plo, no cam inho vim os um a cam isa sim pática e barata, quem sabe voltam os lá m ais tarde? Essa inform ação fica guardada por m ais tem po.

O GRANDE DESAFIO DA APRENDIZAGEM É TRANSFERIR A INFORMAÇÃO IMPORTANTE QUE ESTÁ NA MEMÓRIA DE CURTO PRAZO PARA A DE LONGO PRAZO.

Pois, com o j á está na expressão, a m em ória de curto prazo tem vida curta. Boa parte das técnicas de estudo consiste nos truques e piruetas para conseguir a transposição do apreendido para a m em ória de longo prazo.

No lim ite, a m em ória de curto prazo precisa durar o suficiente para lem brar- se da prim eira letra da palavra que estam os lendo, antes de chegar à últim a. Sem isso, não entendem os a palavra. Inclui tam bém a fisionom ia do garçom . Mas essas lem branças são quase sem pre de curtíssim a duração. Em pouco tem po, j á nos esquecem os de seu rosto. Não leva m uito para esquecerm os tam bém as palavras lidas. Se sobra algum a coisa, é apenas a ideia contida na frase inteira.

Algo parecido existe no com putador. Tem os a m em ória viva, que está nos circuitos do processador central, m antida em existência pela corrente elétrica presente. E tem os tam bém a m em ória perm anente. Em dias pretéritos, estava nos disquetes, passou para o disco rígido e, hoj e, pode tam bém estar em um pendrive ou na “nuvem ”. Se desligarm os o com putador, o que estiver apenas na m em ória viva é instantaneam ente apagado, para sem pre. Portanto, se é algo que precisarem os no futuro, é necessário passar para um desses m eios m ais perm anentes. Para isso, há um a tecla ou algum lugar em que m arcam os save, para fazer essa m ágica de transform ar o efêm ero em eterno. Essa transferência é igual no com putador e no estudo.

Mas aqui term ina a analogia. O botão do save é fácil e definitivo. Ele não tem preguiça, nem ideias próprias. Assim é a natureza do cérebro do com putador.

COM OS HUMANOS, NÃO PASSA TUDO DE UMA SÓ VEZ PARA A MEMÓRIA DE LONGO PRAZO. NÃO PASSA LOGO NEM PARA SEMPRE.

Pelo contrário, passa aos poucos, por cam inhos tortuosos e com um a durabilidade m eio indefinida. Ou não passa de todo. De fato, algum as coisas nos esquecem os segundos depois, outras nos lem bram os m eia hora depois. Há as que ficam até a sem ana seguinte. E há o que não esquecerem os por m uitos anos ou pela vida toda.

Nosso cérebro é muito prático e brutalmente sem cerimônia. O “gerente de memória” está programado para “deletar” tudo, exceto aquilo que pode parecer-lhe útil no futuro. Ele tem a obsessão de deixar espaço para o que realmente vai necessitar. Mas erra muito no seu julgamento.

Então, o processo de aprender algum a coisa consiste em negociar com nosso “gerente de m em ória” a transferência da m em ória de curto para a de longo prazo aquilo que querem os aprender. Há m uitos truques para isso, m as o m ais im portante e o m ais com um é a repetição.

SEM REPETIÇÃO, SEM VOLTAR AO ASSUNTO, SEM INSISTIR, SÃO PEQUENAS AS CHANCES DE ENFIAR O NOVO CONHECIMENTO EM UM LOCAL DA MEMÓRIA MAIS ESTÁVEL.

Daí a Prim eira Regra de Ouro j á m encionada: bunda/cadeira/hora. É a regra da teim osia, da água m ole em pedra dura que tanto bate até que fura. Registram os um a sem elhança entre a nossa m em ória e a do com putador, constatando que há a de curto prazo, volátil, e a de longo prazo, durável. Mas há, em contraste, um a diferença brutal. Na m em ória do com putador, um a vez gravada a inform ação no disco, em m ilissegundos, lá fica indefinidam ente.

Nós, hum anos, tem os um a m em ória cheia de m anias. Da prim eira vez, não grava tudo de form a confiável. Pelo contrário, é preciso insistir, voltar ao assunto várias vezes. Nesse sentido, é m ais parecida com os vinhos que

precisam envelhecer para que fiquem m ais saborosos.

Para entender esses assuntos é necessário penetrar nos m eandros da nossa cabeça. Passa-se algum a coisa, m eio paradoxal: estudam os quando não acham os que estam os estudando.

Aprender alguma coisa é muito mais do que ler no livro, entender, guardar na memória e achar que está tudo

pronto.

Pelo contrário, nossa cabeça volta e rem exe o assunto, sem que nos dem os conta. Há m esm o boas razões para crer que, durante o sono, passam os a lim po o que vim os durante o dia.

Portanto, CONTINUAMOS A ESTUDAR SEM SABER QUE ISSO ACONTECE. E, para que realm ente o conteúdo aprendido não se perca em algum cantinho da m em ória, é preciso dar à nossa cabeça m uitas oportunidades de revê-lo, cada vez adquirindo um conhecim ento m ais sólido e durável. O m esm o tem po que nos faz esquecer é tam bém o segredo da longevidade do conhecim ento, pois sem esse vai e vem sucessivo o aprendido não se transform a em um conhecim ento perm anente. Assim , ao repetir, estam os fazendo m uito m ais do que dedicar m ais m eia hora ao assunto, alguns dias depois.

Ao falarm os de repetição, é fundam ental voltar às diferenças entre estudo ativo e passivo. Afinal, nem toda repetição é produtiva, levando a um aprendizado m ais perm anente. Ler, reler e voltar a reler não é um bom m étodo de insistir no aprendizado do que quer que sej a. É o m étodo passivo, hoj e considerado inferior.

O que adianta é tentar se lembrar do assunto, sem consultar as notas.

É responder perguntas, aplicar o conhecim ento em algum problem a prático. É, tam bém , redigir um a nota, reunindo o que nossa m em ória nos diz sobre o assunto. Mas é consultando m em ória, não funciona “colar” das notas! Tom em os um exem plo sim ples. Ouvim os um a piada. Se só rim os para não fazer desfeita ao nosso interlocutor, o m ais certo é que não pensarem os m ais nela e logo será esquecida. Mas, se é engraçada, chegam os em casa, contam os para um parente, na escola repetim os para um colega e, logo, para outro. Em um a roda de chope, na sem ana seguinte, voltam os a contá-la, m eses depois. É quase certo que essa piada foi transferida para a m em ória de longo prazo e lá ficará guardada por um longo tem po. A repetição é responsável por essa façanha.

No entanto, se não tiverm os oportunidade de contá-la para ninguém , pode até ser m uito engraçada, m as seu destino é o m esm o da piada sem graça e do que estava na m em ória viva do com putador antes de ser desligado: som e tudo.

O m esm o vai acontecer com eventos do nosso cotidiano. Presenciam os na rua um a cena inusitada ou ridícula. Se não contarm os para alguém , o m ais certo é que o incidente será esquecido. Se acharm os graça e contarm os para todos com quem nos encontram os, não vam os esquecê-la.

É um pouquinho m ais com plicado do que isso, pois, apesar das m anias do nosso cérebro, tem os m aneiras de transm itir a ele um sentido de im portância, o qual atribuím os a cada coisa que irá pousar na nossa m em ória de curto prazo.

Cruzam os com o am igo na rua e ele nos passa o endereço do lugar onde vam os j antar. Se não tem os papel para anotar, m andam os um a m ensagem ao cérebro: “Olha lá, não dá para esquecer esse núm ero. Sem ele, nada de j antar!”

Com ou sem instruções explícitas, nossa cabeça tende a se lem brar de certas coisas e não de outras. Presenciar um desastre dram ático é um a cena diferente de todas as outras e fica gravado na m em ória, sem qualquer esforço. O problem a é que nosso cérebro não fica m uito convencido de que é im portante lem brar-se de com o funciona o sistem a de reprodução dos pinheiros, exceto se tem os planos de iniciar um reflorestam ento com Pinus elliottii.

No geral, qualquer que sej a a negociação com o nosso “gerente de m em ória”, o princípio m ais robusto e de validade universal é: “água m ole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Ou sej a, repetir, repetir e repetir – m as pelo m étodo ativo.

Para entender m elhor, é preciso dar m ais nuances a tais explicações. Nossa m em ória de longo prazo tem diferentes níveis, ao contrário do com putador. Nele, não há hierarquias nem lem branças favorecidas. Se m igrou para o disco, fica lá até que sej a retirado, ou à força ou porque o com putador pegou fogo.

Já a m em ória hum ana é m ais hierárquica. Há o que lem bram os m eia hora depois, o que dura até três dias ou o que perm anece pela vida afora. São níveis de solidez diferentes. Novam ente, é nosso “gerente” tentando se livrar do entulho inútil para abrir espaço para novas inform ações. Precisam os, portanto, dizer a ele quais são as lem branças im portantes e instruir para que as abrigue em um lugar m ais seguro, ou sej a, onde não serão facilm ente apagadas pelo transcurso do tem po. Mas trata-se de um gerente teim oso e de audição deficiente.

Ainda assim , cada vez que voltam os a esses conhecim entos ou fatos que não querem os perder, nosso “gerente” os em purra para um arm azenam ento um pouquinho m ais seguro. Quando chega em certo nível, podem os dizer que aprendem os o que quer que sej a, im portante ou trivial.

PORTANTO, “ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA...”

É UMA REGRA PRECIOSA. É PRECISO REPETIR, REPETIR, REPETIR.

No documento Voce Sabe Estudar_ - Claudio Moura Castro (páginas 188-193)