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POR QUE É BOM ESQUECER?

No documento Voce Sabe Estudar_ - Claudio Moura Castro (páginas 184-188)

MANDAMENTOS DO ESTUDO ATIVO:

A. POR QUE É BOM ESQUECER?

Alguns fatos são sem pre lem brados, enquanto outros são esquecidos. Ao term inar de ler um capítulo, j á nos esquecem os do que diziam m uitos de seus parágrafos. Assim é a m ente hum ana, seletiva no que guarda. Gostem os ou não, isso é norm al.

De fato, nosso intelecto está program ado para separar o que interessa do que não interessa. É com o se tivéssem os dentro do crânio um “gerente de m em ória”, decidindo o que j ogar fora. Graças a ele, evitam os congestionar o cérebro com inform ações de nula ou pouca utilidade.

Ao atravessar a rua, notam os a cor e a m arca do carro que a cruza. Mas, alguns segundos depois, o “gerente de m em ória” terá j ogado essa inform ação no lixo, pois de nada servirá. Mas nem sem pre. Por exem plo, para os am antes de autom óveis clássicos, se um Lam borghini ou um a Ferrari passam , sua im agem não será apagada da m em ória, pois é um assunto em que o “gerente de m em ória” dá um tratam ento especial.

Durante um a cam inhada na estrada entre Ouro Branco e Ouro Preto, um am igo descobriu duas espécies de brom élias que não eram conhecidas nem catalogadas. Milhares de pessoas passaram por esse cam inho. Mas som ente ele as encontrou. Não um a, m as duas brom élias raras. E não foi por acaso. A explicação é sim ples: o seu “gerente de m em ória” não deixa escapar do crivo técnico sequer um a planta dessa fam ília. Sua cabeça está program ada para consultar o catálogo que m ora em sua cabeça e para com parar com todas as que entram em seu cam po visual.

O m esm o acontece nos estudos.

JOGAMOS FORA O QUE NÃO ESTÁ NA LISTA PRIVILEGIADA DO QUE NOSSO GERENTE DE MEMÓRIA DECIDE RETER.

Sem qualquer cerim ônia ou consulta, apaga o nom e da m ãe da figura histórica m encionado no livro, a não ser que sej a um personagem im portante no desenrolar dos eventos. Por exem plo, a m ãe de Winston Churchill era am ericana. Sua nacionalidade facilitou a aproxim ação do político britânico com os Estados Unidos, decisiva para a entrada desse país na Segunda Guerra

Mundial. Essa inform ação, se foi “deletada” antes, é pescada de volta ao lerm os sobre esse m om ento histórico.

Nos bons livros de história, o autor apresenta algum as ideias centrais. E m ostra, tam bém , os fatos e os exem plos que ilustram essas ideias, oferecendo inform ações que aj udam a descrever o contexto em torno do qual se desenrola a narrativa. Podem ser detalhes da vida cotidiana, aj udando a criar um cenário da época. Descrevendo um a viagem a pé, pode falar no tipo de sapato usado. Tais inform ações são úteis e prestam seus serviços para facilitar o entendim ento do texto. Mas nosso “gerente de m em ória” chega logo à conclusão de que j á cum priram seu papel e não servirão m ais no futuro. São apagadas, sem m isericórdia.

Portanto, em nossos estudos, estarem os sem pre diante de algum as ideias e fatos que precisam ser retidos na m em ória. Mas tam bém , de outros que podem ser descartados, sej a porque contribuem pouco para um a real com preensão do que precisam os aprender, sej a porque j á prestaram esse serviço e deixaram de ter utilidade. Tam bém ocorre que nosso “gerente de m em ória” se equivoca redondam ente, esquecendo o que não podia esquecer.

DIANTE DISSO, O DESAFIO DA LEITURA É:

(1) identificar os pontos verdadeiramente importantes

(2) prestar mais atenção neles, para obter uma compreensão profunda do que dizem.

Se essas duas operações forem bem feitas, asseguram o-nos de que os pontos fundam entais serão espontaneam ente lem brados, m esm o que o resto sej a esquecido ou sem iesquecido.

Mas não é só isso. Essas ideias centrais form am a arquitetura m ental do capítulo, com o se fossem o esqueleto de concreto arm ado de um edifício. Consolidado o aprendizado, alguns detalhes serão m antidos na m em ória, se forem úteis. Mas isso acontece sem esforço e sem intenção deliberada. É com o as paredes e as portas que se encaixam sem dificuldades na estrutura do edifício.

Assim aprendemos. Precisamos do esqueleto e também dos músculos. Precisamos do grande cenário e dos detalhes que dão vida ao que aprendemos.

Estudando a Inconfidência Mineira, aprendem os que um bando de poetas e um m ilitar (Tiradentes) preparavam um levante, visando tornar independente o Brasil ou a Província de Minas Gerais. Esse é o sum ário. Podem os até decorar essa frase. Mas isso não nos perm ite entender o ocorrido. Para que grude em nossa m em ória esse capítulo da história, precisam os dos detalhes. Quem eram os Inconfidentes? Que m udança na tributação gerou o desagrado que os levou a conspirar? E por aí afora. Som ente quando recheam os nossa m em ória com esses detalhes, e m uitos outros, é que com eçam os a construir um a im agem real do evento.

Sabem os que o processo de entender algum a coisa é facilitado pelas narrativas, pelo contexto, pelos detalhes, pelos incidentes. É essa “carne” que nos perm ite entender o “osso” do assunto.

EM TERMOS DE TEORIA DA APRENDIZAGEM, DIZEMOS QUE É O CONTEXTO QUE NOS AJUDA NA COMPREENSÃO.

Mais adiante, podem os até esquecer a abundância de detalhes, m as, sem eles, não penetram os a fundo no assunto. Solto no espaço, aquele conhecim ento não é realm ente incorporado em nosso repertório.

Um a consequência interessante desse raciocínio é que, depois da aula, lendo um resum o, nossa m em ória recupera tudo ou quase tudo o que aprendem os. No entanto, não aprendem os lendo o m esm o resum o – no caso, a frase do parágrafo anterior – se não conhecem os o texto ou assistim os à aula original. Essa taquigrafia das anotações não funciona para quem não viu os detalhes. Um a boa apresentação da teoria da gravitação universal pode com eçar descrevendo as tentativas de Galileu de m edir quanto tem po levava para chegar ao solo um obj eto lançado do alto da Torre de Pisa. Será que um a bola de chum bo cairia m ais rápido do que um a de m adeira? Essa é a “historinha”, o contexto. Em seguida, o bom professor vai trazendo os alunos m ais perto da equação da gravitação, da constante e de todo o resto.

A historinha aj uda a entender. Mas, depois de com preender do m odo sólido a aceleração da gravidade, Galileu e suas experim entações saem de cena, deixam de ser úteis. Basta a fórm ula m atem ática. Nem precisam os saber que Galileu existiu. Assim funciona nossa cabeça.

No documento Voce Sabe Estudar_ - Claudio Moura Castro (páginas 184-188)