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COMO FAZER O TEMPO RENDER MAIS

No documento Voce Sabe Estudar_ - Claudio Moura Castro (páginas 52-66)

Passemos agora a um conjunto de princípios que norteiam o bom uso do tempo. São regras práticas, confirmadas pela experiência, mas também por pesquisas rigorosamente conduzidas.

PRIMEIRA REGRA DE OURO: BUNDA/CADEIRA/HORA

IgorIgorevich/iStock/Thinkstock

A = F ( B C H )

Pode-se dizer que esse é o princípio m ais básico e m ais óbvio da teoria da aprendizagem . Mas não podem os deixar de apresentá-lo com ênfase. Na verdade, é um princípio m uito sim ples, dizendo apenas que quanto mais estudamos mais aprendemos.

Claro, algum as pessoas aprendem m ais rápido. Mas, para um a m esm a pessoa, quanto m ais tem po dedicar ao estudo, m ais aprenderá.

O estudo com pete com outras atividades que acham os m ais agradáveis ou m ais atraentes. Portanto, há o diabinho nos tentando: “Por que gastar tanto tem po com os livros, se há coisas m ais interessantes para fazer?”. Tem os de ter a resposta pronta: porque querem os estudar e aprender m uito. E a razão é prática:

NOSSO FUTURO DEPENDE DA QUALIDADE DA NOSSA EDUCAÇÃO.

Centenas de estudos m ostram ganhos dram áticos nos níveis salariais de quem tem m ais educação. Por exem plo, alguém com ensino superior ganha quase três vezes m ais do que alguém que parou de estudar ao final do ensino m édio. E com o aprender é essencial para perm anecer na escola por m ais tem po – e até para passar no vestibular – não basta passar de ano.

Há um lim ite do que podem os fazer em um só dia. Quem sabe os coreanos estão tentando ir além desse lim ite? Se j á estudam 15 horas por dia, aum entar essas horas levará a m ais aprendizado? Provavelm ente não, pela im produtividade de estudar sob exaustão.

Mas isso é preocupação dos coreanos. Não é nosso problem a, pois não vem os ninguém ao nosso redor m orrendo por excesso de estudos. Pelo contrário, pesquisas m ostram que os alunos brasileiros, em m édia, estudam pouco – um a ou duas horas depois da aula, para os m ais dedicados.

Mas, se queremos aprender, é preciso estudar mais.

DISCIPLINA NOS ESTUDOS É UM HÁBITO A SER ADQUIRIDO

Tanto nos estudos quanto nos esportes, o hábito é tudo. Ninguém ganha o j ogo ou as m edalhas de ouro treinando só quando dá vontade. É preciso continuidade. Melhor dito, é preciso disciplina pessoal.

ALIÁS, UMA BOA DEFINIÇÃO DE DISCIPLINA É FAZER O QUE PRECISA SER FEITO QUANDO NÃO ESTAMOS COM VONTADE.

A m aioria das pessoas não nasce com predisposição para ter essa disciplina. Nosso im pulso m ais puj ante é fazer o que dá vontade. Contudo, essa disciplina se constrói, sej a para os esportes, sej a para os estudos. Ou m elhor, ela se conquista. É o resultado da vitória da vontade sobre o impulso espontâneo. A fórm ula para chegar lá é sim ples.

Sendo disciplinados é que aprendemos a ser disciplinados. Ou seja, aprende-se praticando. Quanto mais nos disciplinamos, mais ficamos disciplinados.

E, com isso, cai o esforço para fazer aquilo que precisa ser feito, m esm o quando falta vontade ou prazer.

Esportistas bem -sucedidos são disciplinados nos seus treinos. Não fosse isso, não teriam sucesso. Quando olham os as coxas de Pelé ou de Ronaldinho, podem os ter certeza de que não nasceram assim , com aquela m usculatura espantosa. Se estão assim é porque treinaram m uito.De fato, treinaram m ais do que os outros j ogadores. Talento sem treino produz, m al que m al, j ogadores para tim e de várzea. Para a Seleção Brasileira, nem pensar. É interessante que, quando atletas decidem estudar, transferem essa m esm a disciplina desenvolvida nos esportes para cum prir rotinas de estudo igualm ente árduas. Estudos dem onstram que desportistas conseguem trazer para os estudos seus hábitos disciplinados de treino e isso se traduz em m elhores resultados.

pairando nos ares, com o se fosse um presente de Deus a alguns poucos. Pelo contrário, é um hábito a ser adquirido. É um a conquista pessoal, m uito sem elhante ao condicionam ento físico dos esportistas.

SÓ GOSTAMOS DAQUILO QUE ENTENDEMOS

Com o em todos os hábitos, cada vez que falham os, dam os um passo atrás. E o que m ais nos faz tropeçar na escola é não entender o que o professor ensina na aula. Quando isso acontece, dam os m archa a ré. Com isso, adquirim os os m aus hábitos de deixar a com preensão se atrasar.

É bom lem brar um princípio básico da teoria do aprendizado.

QUASE SEMPRE, GOSTAMOS DAQUILO QUE ENTENDEMOS.

O CONHECIMENTO NOS DÁ PRAZER, DEPOIS QUE SUPERAMOS ALGUMAS BARREIRAS INICIAIS DE COMPREENSÃO DO ASSUNTO TRATADO.

De fato, quando não entendem os, não há qualquer prazer intelectual em lidar com o assunto. As letras e os sím bolos não nos dizem nada. Lem os a frase e não entendem os. Logaritm os de base neperiana? Créditos e débitos? Ativos e passivos? O que são essas coisas? Não são nada que nos faça felizes. Mas se forem entendidas, ficam os am igos delas.

Portanto, ao perder o fio da m eada, tudo se torna m ais árduo, m ais penoso. Daí que m alandrar ou m atar aula não é um a boa ideia. É aum entar o volum e de coisas que não entendem os, portanto, de que não gostam os. Se tiverm os que aprendê-las, será com m uito m ais sacrifício.

Em outras palavras,

ESTUDO EM BLOCO OU PICADINHO? E SE 1 + 1 + 1 NÃO FOR IGUAL A 3?

Im aginem os duas situações hipotéticas, m as nada irreais. Precisam os aprender um a lei da física, por exem plo, a Lei de Boy le-Mariotte. Um a alternativa é dedicar três horas seguidas para essa tarefa. A segunda alternativa é estudar um a hora, saltar dois dias, estudar m ais um a hora, saltar m ais dois dias e, depois, um a terceira hora.

A aritm ética nos diz: são três horas de estudo, em am bos os casos. A lógica nos diria: deve dar na m esm a. Em três horas, aprende-se o que dá para aprender em três horas. O que im porta se é “picadinho” ou em bloco?

Mas essa lógica está errada. Quem estudou em três “prestações” aprendeu m uito m ais nas m esm as três horas. Isso porque, nos intervalos, o cérebro “ferm entou” as ideias lidas anteriorm ente. A cada nova leitura, nos deparam os com um assunto que foi sedim entado nos intervalos.

Portanto, estam os diante de um princípio m uito potente da teoria do aprendizado.

APRENDEMOS NO ATO DE ESTUDAR, MAS O CÉREBRO NÃO FICA PARADO NOS INTERVALOS, NEM MESMO DORMINDO.

Por tudo que se sabe, durante a noite, o cérebro passa a lim po o que viu ao longo do dia.

Se o aprendizado for “à prestação”, estarem os dando tem po para a nossa cabeça m astigar as ideias nas horas vagas, com o fazem as vacas e outros rum inantes que regurgitam o capim à boca para que sej a novam ente m astigado. Curiosam ente, isso é feito de form a inconsciente, no piloto autom ático. Não nos dam os conta de que está acontecendo.

Se é assim , varar a noite na véspera da prova não é um a boa form a de aprender. Isso porque, dessa form a, não dam os tem po ao cérebro para am adurecer as ideias. Segundo pesquisas, na m anhã seguinte a esse esforço heroico, podem os nos lem brar de vários detalhes e inform ações soltas, m as nos falta a ideia do todo. Não foi construído na nossa cabeça o “chassi” ao qual se aparafusam os conhecim entos específicos.

DESCANSAR É UMA BOA TÉCNICA DE ESTUDO?

Durante séculos, o com portam ento hum ano vem sendo estudado pela observação casual das pessoas. Ouvim os dizer que Joãozinho passou a noite em claro estudando e olha a boa nota que tirou.

Com o desenvolvim ento de um a psicologia de base científica, apareceram experim entos controlados. Em alguns casos em que não é possível experim entar com hum anos, usam -se cobaias, produzindo tam bém resultados interessantes e úteis.

Mas, até pouco tem po, ninguém poderia im aginar que enfiar as pessoas em um aparelho de ressonância m agnética seria um a m aneira produtiva de entender o com portam ento hum ano e, até m esm o, derivar regras para aprender m elhor.

No entanto, é isso que está acontecendo. Descobriu-se que a m aioria das pessoas, após 20 ou 25 m inutos, perde a capacidade de m anter a atenção em assuntos que exigem raciocínio e esforço. Assistim os a um j ogo de futebol por 45 m inutos sem perder um só lance. Mas com os estudos é diferente. A atenção exigida é m uito m aior e a cabeça se cansa, se em baralha. Precisam os de alguns m inutos de descanso para depois retom ar os estudos, ou m esm o para acom panhar a aula.

Ilustrando o achado dos cientistas, a piadinha que o professor solta no m eio da aula é a últim a palavra em teoria do aprendizado. Perm ite ao aluno descansar sua cabeça.

Cada um tem seu tem po m áxim o de concentração. Esses 20 m inutos foram encontrados para a m édia. Alguns podem aguentar um a hora, outros, dez m inutos, dependendo do assunto.

Transposto para o estudo individual, depois dos 20 m inutos, ou o que for, vale a pena com er um pão de queij o, abrir um a revista, dar um a tuitada ou esticar as pernas. Faça isso, m esm o que sej a véspera de prova. Vale a paradinha. Nosso m etabolism o não m uda no dia anterior aos exam es.

DORMIR BEM PARA APRENDER MAIS?

Há algum tem po, quando os executivos se tornaram um a categoria endeusada pela m ídia, eram decantadas as virtudes daqueles que dorm iam pouquíssim as horas. Assim , sobrava-lhes m ais tem po para o trabalho produtivo. Repetia-se o refrão: fulaninho é form idável, só dorm e quatro horas por noite. Essa noção de que tem po dorm ido é tem po perdido persistiu por m uitos anos no folclore da adm inistração. Talvez por contágio, m igrou para o folclore dos estudantes. O grande desem penho seria daqueles que dorm em pouco e estudam m uito.

Porém , nos últim os anos, foram aparecendo pesquisas sobre o assunto. No caso, pesquisas bem -feitas, com m edidas confiáveis das variáveis pertinentes.

DESCOBRIU-SE QUE DORMIR POUCO É UMA GRANDE BESTEIRA. NÃO É UMA BOA ESTRATÉGIA PARA RENDER MAIS, SEJA NO TRABALHO, SEJA NOS ESTUDOS.

Verificou-se que o aluno m al dorm ido leva m ais tem po para entender o m esm o conteúdo. Em sum a, dorm ir m enos para estudar m ais não dá certo. Ainda pior é dorm ir m enos por culpa da balada. A aritm ética é sim ples: se a balada reduz as horas de sono, estará tam bém reduzindo o ritm o de aprendizado do aluno, m esm o que ele dedique o m esm o núm ero de horas por dia ao estudo. Ou sej a: m ais balada, m ais tem po de estudo necessário para o m esm o nível de aprendizado. Cabe a cada um decidir com o usar seu tem po, de acordo com o que quer para seu futuro.

CANSAÇO É ESTRATÉGIA DE APRENDIZAGEM?

Pesquisas recentes m ostraram um resultado m uito curioso. Nos parágrafos anteriores, falam os da im portância de descansar. Paradoxalm ente, para se concentrar nos estudos, tam bém é preciso cansar!

Com o assim ? Descobriu-se que exercícios aeróbicos aum entam a concentração e o foco no que estam os fazendo. Se o assunto é estudo, m elhoram nossa capacidade de aplicar energia de form a m ais eficaz nessas atividades. As explicações neurofisiológicas não interessam aqui. Vale o fato de que isso foi observado em pesquisas sérias.

Com o bem sabem os, os exercícios aeróbicos (corridas, cam inhadas rápidas, futebol, etc.) produzem a sensação de cansaço. E tam bém sabem os, hoj e, que o exercício pesado aj uda nos estudos. Ou seja, aprende mais quem se cansa mais fazendo exercícios.

IV. Bons hábitos de estudo

Neste capítulo, examinaremos alguns conselhos úteis para criar bons hábitos de estudo. Como é da natureza deste manual, falaremos de resultados de pesquisas metodologicamente sólidas, ou seja, não lidaremos com palpites ou opiniões de “autoridades”.

No documento Voce Sabe Estudar_ - Claudio Moura Castro (páginas 52-66)