• Nenhum resultado encontrado

2 ESTADO DA ARTE

2.3 Biblioteca virtual da Educação do Campo

A consulta a este endereço virtual propiciou o levantamento das temáticas envolvendo a Educação do Campo e despertou a necessidade de um estudo exploratório com a breve descrição dos estudos do último decênio a partir da leitura dos resumos nos artigos selecionados conforme critérios já indicados, e que vêm ao encontro da revisão de literatura que fundamenta esta pesquisa. As buscas foram norteadas a partir dos questionamentos sobre a contextualização, a historicidade, a conceituação e a concepção da Educação do Campo; as políticas públicas e o papel dos movimentos sociais; a formação dos professores e suas representações sociais; e por fim, as práticas pedagógicas neste cenário. Tais questões delinearam a revisão da literatura deste estudo.

Santos (2006) resgata a Educação do Campo como movimento de direito, acesso, qualidade e a vincula às problemáticas sociais vividas pelos sujeitos do campo. Destaca a ótica urbana das políticas educacionais, e a exclusão dos pequenos agricultores mediante o avanço tecnológico e a produção capitalista. O estudo propõe a dialeticidade entre campo/cidade.

Nota-se a partir desse mapeamento que as pesquisas sobre a Educação do Campo evidenciam-se em maior quantidade nas regiões Norte, Nordeste e Sul do Brasil.

Sobrinho; Fidélis; Paz (2011) objetivaram em sua pesquisa o levantamento da abrangência territorial do Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (PROCAMPO) em alguns municípios do Estado do Pará que contemplam tal projeto, concomitante à análise das políticas que o viabilizaram.

Rotta; Onofre (2010), ao definirem educação como a sistematização de valores, princípios, ideologias e conhecimentos baseada numa cultura em uma sociedade, levantam a questão da diferenciação da Educação do Campo e do processo de ensino-aprendizagem deste contexto. Listam a alta rotatividade de professores e a ausência de políticas educacionais diferenciadas que visem o incentivo e que primem pelas necessidades efetivas do homem do campo. Ao estudarem o perfil da Educação do Campo em uma escola do município do Paraná, os autores enumeram alguns fatores para seu desenvolvimento, dentre eles, estão a alteração da grade curricular, a capacitação dos docentes, o investimento na estrutura funcional e tecnológica das escolas, a melhoria no transporte de alunos e professores e as políticas macroeconômicas.

Também, no estado do Paraná, foi desenvolvido o estudo de Kimiko Noma; Carmo Lima (2010), que buscam demonstrar a questão da coletividade campesina na efetivação das políticas sociais de educação ao seu contexto, e abrangem a construção de centros/escolas oriundas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e as práticas pedagógicas específicas à agroecologia.

Na região Sudeste, foi localizada a pesquisa de Martins; Coelho (2009) que desenvolveram um estudo junto ao Curso de Formação de Professores do Campo – Pedagogia da Terra. A pesquisa foi desenvolvida num período de cinco anos com alunos e agricultores, nas quais as reflexões foram promovidas a partir de observações in loco em determinado município do estado de Minas Gerais. A partir desta inserção das pesquisadoras na qual foi possibilitado o acompanhamento, o desenvolvimento, o andamento e a consolidação do processo de formação e dos saberes do professor do campo. Abordou-se duas áreas no currículo do curso citado, as Ciências Sociais e Humanidades, analisando os elementos necessários para um trabalho interdisciplinar.

No outro eixo mais explorado nas pesquisas, os movimentos sociais, em especial o MST, Caldart (2003) traz uma reflexão sobre a educação e a Educação do Campo a partir das vivências desses movimentos, e formula propostas para articular os princípios da reforma agrária a uma Educação no Campo. Caldart (2007) ao abordar “Sobre Educação do Campo” objetivou promover reflexões acerca das contribuições do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) na trajetória da Educação do Campo. Integra o estudo, a definição e o conceito que vem sendo construído, sobre qual o papel da educação para a Educação do Campo. A interpretação do percurso e da situação mais atualizada da Educação do Campo constitui outro estudo de Caldart (2009). Neste artigo, a autora analisa a origem da Educação do Campo, e identifica os sujeitos e as práticas deste contexto. Discute também as contradições e tensões existentes entre Estado e movimentos sociais, evidenciando a busca de uma pedagogia emancipatória e a garantia de políticas públicas que garantam acesso à educação à população campesina em seu território. As crises do capitalismo também são temas debatidos quanto à sua materialização nas questões relacionadas ao trabalho do campo.

Nascimento (2007) promove debates a partir dos movimentos sociais do campo, para discutir e reverter o quadro de calamidade do meio rural brasileiro, e a luta social dos movimentos e dos educadores para uma educação específica aos camponeses. Destaca nova proposição política dos movimentos a partir de várias matrizes pedagógicas como Escolas Famílias Agrícolas (EFAS), Casas Familiares Rurais (CFRs) baseadas na Pedagogia da Alternância. Neste estudo, a Educação do Campo é vista como direito de cidadania.

Em seu artigo, Farain (2009), traz a educação na questão de emancipação social da criança acampada em movimentos sociais, e as tentativas do MST na inclusão da escola em sua dinâmica aspirando ampliações no processo pedagógico, pois tal movimento reconhece os assentamentos como lugar de formação humana.

Santana (2006) em “A LDB e a educação do campo”, faz uma análise dos passos a serem dados objetivando uma Educação do Campo, e sugere uma pedagogia da escuta: valorizando educandos, funcionários, professores e comunidade do campo. Neste estudo, são considerados os sujeitos e não os objetos do processo, o que propõe uma descentralização política, favorecendo as decisões da própria escola em seu contexto. Evidencia-se nesta pesquisa o cuidado especial à formação dos professores e a valorização desses, a necessidade de uma política específica à Educação do Campo e, os avanços na LDB, nas Diretrizes, no Fundo Nacional de Desenvolvimento do ensino Fundamental (FUNDEF) e da academia, ou seja, em estudos e pesquisas.

Silva; Oliveira; Eugenio (2008) desenvolveram uma investigação numa escola localizada em assentamento no estado da Bahia, com o propósito de compreender a prática pedagógica e a construção da docência numa escola do movimento social do MST.

A prática pedagógica nas escolas do campo foi o foco da pesquisa de Cunha; Machado (2009). As autoras reúnem dois trabalhos de mestrado para problematizar a prática educativa de um professor atuante numa escola de assentamento no estado do Paraná. O cerne da discussão está na oscilação entre os paradigmas da educação rural e da educação do campo. Discutem também a formação continuada, a relação trabalho e educação, a educação problematizadora e aspirações futuras mediante o processo educativo. É relevante neste estudo, a perspectiva socialista ao abarcar as práticas para a educação emancipatória.

O estudo de Cunha; Machado (2009) promoveu a leitura aprofundada ao aproximar dos objetivos desta pesquisa, por tratar o papel do educador como um exercício de reflexão, uma prática educativa além do ensinamento de conteúdos, mas voltada à formação humana. As autoras enfatizam a escola do campo como espaço de formação de agentes de transformação da sociedade. Ressaltam que o papel do educador da escola do campo é, além dos conteúdos, entender a realidade dos sujeitos de direitos, desenvolver a consciência de interesses comuns existentes valorizando a coletividade.

Para tais pressupostos, as autoras supracitadas destacam a proposta pedagógica para o campo que propicia a intencionalidade do planejamento do professor. Por isso, a formação docente assume papel importante nas pesquisas em educação.

A abordagem dada ao papel da formação na pesquisa citada é consonante aos objetivos e resultados encontrados no presente estudo, pois ambas atribuem relevância ao processo de formação para a compreensão da singularidade da educação do campo. Formação esta que deve promover a necessidade de inclusão de temas e conteúdos que visem atender as diversidades dos contextos, bem como as particularidades existentes.

A ótica do estudo de Martins (2008) está na organização do trabalho pedagógico, tendo como premissa a natureza da Educação do Campo. O artigo estende-se à inserção da Educação do Campo nos documentos educacionais legais. Salienta-se nesta pesquisa que as práticas educativas devem perpassar a identidade camponesa, para práticas coletivas, um projeto de sociedade. O autor conclui que a Educação do Campo deve ser sustentada pelos sujeitos sociais que a constitui.

A busca com o descritor “Representações Sociais de professores do Campo” ou “da Educação do Campo”, nas bases de dados supracitadas, ofereceu resultados tendo como sujeito alunos da Educação do Campo.

A Teoria da Representação Social sobre Educação do Campo foi objeto de estudo de Guimarães; Silva; Bezerra (2011) na perspectiva dos alunos de uma rede municipal no estado do Pará. Além da representação social dos sujeitos participantes do processo, o trabalho constituiu-se de reflexões sobre a oferta da educação básica à população provinda das áreas rurais, sobre os elementos que baseiam e configuram esse nível de ensino.

Neste estudo, os questionamentos aos alunos foram sobre as metodologias utilizadas, o ensino multisseriado (opiniões e dificuldades), o que ocasiona a evasão escolar, adequação dos conteúdos à realidade do campo, as preferências profissionais, as expectativas em relação à educação, e as expectativas da escola à comunidade. Com os resultados, as pesquisadoras enfatizam que a especificidade do espaço do campo deve ser considerada para que não permaneça o transplante da cultura escolar urbana no contexto rural. Ao listarem os prejuízos de tais práticas, propõem a valorização e reconhecimento das particularidades deste meio para, segundo as autoras, ocorrer a exigência de uma educação de qualidade e para todos.

Diálogos são estabelecidos entre o presente estudo e a pesquisa de Guimarães; Silva; Bezerra (2011) no que se refere à reflexão sobre a predominância da cultura urbanocêntrica em detrimento da rural e seu reconhecimento na prática educativa, porém, diferenciam-se quanto aos sujeitos pesquisados, sendo que os professores são sujeitos desta pesquisa e os alunos, sujeitos da pesquisa de Guimarães; Silva; Bezerra (2011). No entanto, vale ressaltar que essa compreensão está respaldada na análise que os sujeitos fazem da prática educativa vivenciada, seja docente ou discente, considerando os aspectos curriculares, os materiais e

recursos didáticos-pedagógicos, nos quais não veem diálogo com a realidade à qual se inserem. Entretanto, ambas pesquisas indicaram a importância da relação campo/cidade tendo como desafio a promoção da formação integral dos alunos.

A partir da realização deste estado da arte, foi possível verificar a singularidade da problemática levantada para esta pesquisa, o que contribuiu na ampliação dos conhecimentos sobre a realidade da Educação do Campo na perspectiva dos professores atuantes neste contexto.