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2. As lutas de Acari no contexto político da cidade

2.1. Biopolítica

A tradição dos oprimidos nos ensina que o 'estado de exceção' no qual vivemos é a regra. Precisamos chegar a um conceito de história que dê conta disso. Então surgirá, diante de nós, nossa tarefa, a de instaurar o real estado de exceção; e, graças a isso, nossa posição na luta contra o fascismo tornar-se-á melhor.

Walter Benjamin, Sobre o conceito de história (Löwy, 2005).

33 Pensamos aqui na empatia como um contraponto (protestante?) à moral (católica?) da salvação, fusão e

autossacrifício. A esta última, D. H Lawrence (2012), a partir da poesia de Whitman, opõe a simpatia:à “i patia.à Ele não diz amor. Diz simpatia. Sintonia de sentimentos. Sentir com eles como eles sentem consigo mesmos. Captando a vi aç oàdeàsuasàal asàeàdeàseusà o posàaoàseà uza e . à p.à . à

34 O compassio latino, deriva do termo grego sympatheia, correspondendo à "compaixão" e à "simpatia". Estes,

no entanto, recobrem somente uma parte do sentido grego, como "participação nos sofrimento dos outros". O sentido de interdependência universal das coisas, que também estava presente na antiga filosofia grega, mantém-se, no entanto, na ideia popular de simpatia como correspondência entre elementos diversos como produtora de efeitos mágios.à Co fo eà oà o uloà sympátheia: - 1 participação no sofrimento do outro, compaixão, simpatia, donde em geral comunidade de sentimentos ou de impressões, Aristóteles. Problemas, 7, título; Pol. [22, 11, 12 || termo estoico - relação de algumas coisas entre si, Plutarco, M. 906e || termo de música - o dasà ueà essoa àe àu ísso o,àTheo àdeà“ i a,à ,àp.à (Bailly, 2000).

Uma madrugada de setembro de 2014, meio da semana. Tendo chegado há algumas horas do trabalho de campo, na favela de Acari, estou em meu quarto de estudos, diante do

notebook, para escrever algumas notas. No silêncio da madrugada, ressoam tiros, explosões,

rajadas de metralhadoras. Vou para a janela, tentar localizar de onde vem o som, olhando para o morro em que fica o bairro de Santa Teresa, vizinho a onde moro, no Centro. Em vão. Também nenhuma notícia nos jornais online de plantão.

Em Acari, havia encontrado com Deley, ainda bastante abalado, pelo trabalho que vem fazendo como líder comunitário, em parceria com a ONG Justiça Global, de colher o depoimento dos familiares de pessoas mortas em operações policiais recentes, nas quais nove foram assassinadas em menos de vinte dias.35 Ele me conta que um destes jovens

assassinados, era trabalhado àdoàCEá“áàeàatua aà aà o e s o àdosà e i os à36– daà idaà

doà i e àpa aàaà idaàdeàt a alhado à37 – trabalho que fazia como parte de sua prática

religiosa numa igreja evangélica. Pois este rapaz foi assassinado pela polícia justamente no momento e à ueà o e sa aà o àu à e i o ,àa ti ula doàsuaàsaídaàdoà o i e to 38,

através de uma vaga de trabalho no CEASA. Ambos engrossariam as estatísticas dos autos de

resistência39,à te oà usadoà pa aà o tesà du a teà ope aç esà poli iaisà eà o f o tos à o à aà

polícia.

35 (Anistia Internacional, 2014)

36 Termo alusivo aos jovens que pertencem ao tráfico local.

37 Remeto aqui ao trabalho de Gabriel Feltran (2007) para nos ajudar a desnaturalizar tais categorias. O autor em questão analisa a expansão – e a plasticidade – daà atego iaà idaàdoà i e à asàfa elas,àe àde o iaàdaà crise do mundo do trabalho. Através de um estudo etnográfico, em que acompanha uma família moradora de uma favela em São Paulo, cujos irmãos dividem-seà e à t a alhado es à eà a didos ,à eleà efleteà so eà oà embaralhar-se destas tradicionais categorias morais. A vida do crime seria, assim, num sentido local, mais um odoàdeà ida ,àu aàopç oà ueàseàap ese taàaosàsujeitos,à ue,à oàe ta to,à oàs oà e à íti asài g uasàaoà optarem ingressar nesta carreira; nem tampouco sujeitos de todo moralmente condenáveis. É importante ressaltar que, tal expansão não implica, segundo Feltran, na propalada banalização do sofrimento envolvido na iol iaà ueàaàso ia ilidadeàdesteà odoàdeà idaà a dida ài pli a.àJ àaà atego iaà a dido ,à ua doàutilizadaà no discurso público, parece recobrir toda uma população suspeita de envolvimento com atividades ilícitas, justifi a doàaà iol iaàestatalà ilegal,à asàlegiti adaà o oà e ess iaà à o de àp ese teà asàespeta ulosasà ope aç esà poli iais.àPa aà u àestudoàet og fi oàdesseà odoà deà idaàdoà u doàdoà i e ,à e ete osàaoà t a alho:à Osà Ba didosà daà Cidade:à formas de criminalidade da pobreza e processo de criminalização dos po es à Lopes,à .

38 Outro termo já bastante difundido na literatura e que se refere ao movimento do tráfico de drogas local. 39 Com a pressão dos movimentos e entidades defensoras de direitos humanos, foi aprovada a resolução número oito de 21 de dezembro de 2012, do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, que dispõe sobre o uso deste termo, dentre outras recomendações, como por exemplo, a proibição de que os policiais retirem oà o poàdaàpessoaà o taàdoàlo al,àa tesàdaàpe í ia.à ásàauto idadesàpoli iaisàde e àdei a àdeàusa àe à

No ponto de ônibus na Avenida Brasil, onde Deley me acompanhou para que pegasse o transporte até minha casa no centro do Rio, testemunhamos uma cena de abuso policial, onde um carro da PM parou e revistou, inclusive dentro da bermuda, dois meninos negros, levando o dinheiro que um deles tinha na carteira. Há algumas semanas atrás, um amigo, branco, advogado, durante uma conversa, contara de uma extorsão40 semelhante, que

sofrera ao voltar de uma noitada na Lapa, em direção à Praça Quinze, próximo ao consulado americano no centro do Rio, por parte de um policial. No entanto o policial deixara, a seu

pedido ,àoàdi hei oàdaàpassage àdeà olta.

De manhã, saio para comprar pão e na manchete dos jornais, está estampada a foto deàu àho e àjo e ,àfa dado:à Co andante da UPP41doàále oà à o toàpeloàT fi o à42.

Vou olhar na internet a notícia e leio que este comandante tinha apenas 34 anos. A matéria lembra outro subcomandante, também do Complexo do Alemão, morto aos 27 anos. Jovens, estesà o a da tes à ueàfo a à o tosàe à o ate .

registros policiais, boletins de ocorrência, inquéritos policiais e notícias de crimes designações genéricas como autosàdeà esist ia ,à esist iaàseguidaàdeà o te ,àp o o e doàoà egist o,à o àoà o eàt i oàdeà les oà o po alà de o e teà deà i te e ç oà poli ial à ouà ho i ídioà de o e teà deà i te e ç oà poli ial ,à o fo eà oà aso .à “e eta iaàdeàDi eitosàHu a os,à .àNoàe ta to,àapesa àdoàdo u e to,àa situação não melhorou. Co fo eàaàpes uisado aàJulia aàFa ias,àe àe t e istaàdadaàaà dioàCBNà oài í ioàdeàagostoàdeà :à Hou eà um aumento de 69% [dos autos de resistência] quando comparado a junho de 2013, segundo os próprios dados oficiais. A situação se torna ainda mais preocupante se observarmos também as denúncias que chegam à Justiça Global, como por exemplo, cinco registros de autos de resistência numa mesma semana na favela de á a i,ào deàhou eàope aç esàdoàBopeàeàdoàCho ue. àVe à JustiçaàGlo al, 2014).

40áà p opi a à o oàfo aàdeàe to s oà u o atizada,àpo àassi àdize à àout aà odalidadeàp ati adaàpelaàPM.à Oà a ego àouà i ei age às oàosàte osàutilizadosàpa aàaà otaàse a alàe t egue,àpelosà a dosàe ol idosà em atividades de comércio ilícito, aosàpoli iais.àáàJustiçaàdoà‘ioàp e deuàe àoutu oàdeà à àPM sàa usadosà de extorsões entre 2013 e 2014, contra comerciantes ou motoristas de vans na área do Batalhão de Bangu, na zona oeste da cidade (Folha de São Paulo, 2014). Saiu também uma matéria no jornal O Dia, com denúncias sobre o comandante Fontenelle, que ocupava o cargo de chefe do Comando de Operações Especiais (COE) da PM, que é o terceiro mais importante na hierarquia da PM. Fontenelle (que agora está preso) já esteve à frente do 41º BPM (Irajá), um dos dois que atuam na região de Acari. A matéria diz que, nesta época, em Acari, o tráfico entregava semanalmente 20 mil reais (valor abaixo do estimado por pesquisadores do tráfico com que conversei) à polícia (Jornal O Dia, 2014).

41 Unidade de Polícia Pacificadora. Criadas em 2009 pelo governo de Sérgio Cabral, as unidades fazem parte de uma política que privilegia a ocupação militar de favelas com tráfico fortemente armado, mormente daquelas situadas em bairros valorizados da cidade. Trazem co oà ideologiaà u aà etaà i ilizat ia :à aà ideiaà deà e o uista à doà te it ioà peloà Estado.à Pa aà u aà a liseà dosà se tidosà daà pa ifi aç o à e à Bi a à ,à Alves & Evanson (2013) e Leite (2014). Para a socióloga Maria Helena Moreira Alves, o conceito tem origem durante a Guerra do Vietnã, com a doutrina de segurança interna, aplicada também na ditadura civil-militar asilei a.àO deàoà i i igoài te o àhojeàse ia àp i ipal e teàasàpopulaç esàfa eladas,àpo esàeàpe if i as,à e a adoà aàfigu aàdoà t afi a te à ál es,àUPP'sàs oàestadoàdeàe eç oàeàa eaça àde o a ia,àdizàso i loga,à 2013).

42 Disponível em: <http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-09-12/coordenador-das-upps-anuncia- curso-para-capacitacao-de-comandantes.html>

Mas, voltando ao tiroteio que escutei de meu apartamento, procuro nos jornais na internet, algo que esclareça o ocorrido. Encontro apenas uma pequena nota, no Globo

Online,à so eà oà iste iosoà ti oteio,à i titulada:à Mo ado esà elata à terem ouvido tiros na

Gl ia,àCateteàeàe à“a taàTe esa .àDeài í io,àdesta oà oàtítuloàaàdú idaà ueàpai aàso eàoà a o te ido,àaoàafi a àseàt ata e àdeà elatos àeà oàdeàu àa o te i e to.

2h31min RIO – Moradores da Glória, Catete e da região de Santa Teresa relatam terem escutado rajadas de tiros na região no fim da noite desta quarta-feira e madrugada desta quinta-feira. Apesar dos relatos, a base da UPP Escondidinho/Prazeres informou que nenhum tiroteio foi realizado na região. Policiais do 2º BPM (Botafogo) chegaram a circular na região do Morro Santo Amaro, no Catete, mas também não registraram o incidente43.

Somente acessando as páginas nas redes sociais, através da página da AMAST – Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa - é que descubro não se tratar de mais u aà gue a àe t eàfa ç es,àe t eà a didosàeàpolí iaàouà es oàu àg upoàdeàe te í ioàe à ação. Tratava-se, isto sim, de um treinamento do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar – oàBOPE,à o he idoà o oàaà t opaàdeàelite àdaàPolí ia Militar. O mesmo BOPE que invade as favelas com o Caveirão, o sinistro veículo blindado que ecoa mensagens tais como: Oà Ca ei oà eioà us a à aà suaà al a à eà N oà adia taà o e ,à oà Ca ei oà aià pega à o . à (Rocha L. d., 2013; Alves & Evanson, 2013). 44

No texto da Associação, na página do Facebook, o esclarecimento:

Confirmado que os tiros e explosões de ontem à noite, que assustaram tantos moradores de Santa Teresa (bem como do Catete, Glória e Laranjeiras), partiram do stand de tiros do BOPE, - localizado no alto do Morro de Nova Cintra. A luz isolada que se vê na foto é de uma estrutura nova instalada no alto do Morro de Nova Cintra e que parece ser de apoio aos treinamentos noturnos. Esclarecemos que, em novembro passado, a AMAST já havia reclamado com o comando daquela unidade. Vamos insistir junto ao novo comandante do Bope: tenente-coronel Luis Claudio Laviano Sugerimos que os moradores incomodados também se manifestem: Comunicação Social (21) 2334-3976, e/ou, comsoc_bope@pmerj.rj.gov.br 45.

Nos comentários na página, um morador diz que ligou para lá

… e o policial confirmou o treinamento, e me perguntou se eu não tinha mais o que fazer além de

reclamar da polícia. Me mandou também, se eu fosse "homem", ligar pro Alemão, onde "a chapa tá

43 Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/moradores-relatam-terem-ouvido-tiros-na-gloria-catete-em- santa-teresa-13912244>

44 Tal prática institucionalizada nestes batalhões, que ostentam como símbolo uma caveira (com cara de

malvada) transpassada por uma faca, tendo ao fundo duas garruchas cruzadas. Ela também é proibida pela resolução acima citada, a respeito do auto de resistência.

45 Ver:

<https://www.facebook.com/amast.santateresa/photos/a.103900716328844.1678.101290543256528/809688 329083409/?type=1&permPage=1>

quente, parceiro". Quando perguntei seu nome, disse que era o "Volte", e depois completou "Vou te pegar no asfalto". Não satisfeito, começou a me xingar e disse que eu só podia ser "corno" ou "veado" pra estar acordadoàdeà ad ugada.à ...

Ao narrar esta sequência de acontecimentos que contabilizam poucas horas entre eles, num contínuo, como a rajada do fuzil automático que escutei horas atrás, tento compor uma imagem do aspecto sufocante (Farias, 2008) do estado policial em que vivemos. Poderia narrar ainda mais uma miríade deles, como o homem que eu vi, no dia seguinte, fingir portar uma arma debaixo da camisa, ao passar ao lado de um rapaz negro durante uma caminhada no Aterro do Flamengo (já não tão ostensivamente policiado quanto por ocasião da Copa do Mundo) ao que o rapaz negro prontamente reagiu i dig ado:à Não vou te assaltar não! Não precisa fingir que tem arma! .à

Masà i haài te ç oà oà àse àe austi a e teàdes iti aàeàsi àpassa à e toà li a à da cidade que nos leve a olhar de forma diferente para algumas fronteiras que podem parecer bem demarcadas. Falo das fronteiras entre a favela e a cidade. Mas com qual intenção? Talvez não apenas com uma intenção iconoclasta, mas sim com a intenção de questionar alguns pressupostos que tornam exótica a favela, como lócus da violência e da falta de direitos, em contraposição à cidade, no caso, o centro da cidade do Rio de Janeiro,

lócus su etidoàaà eg asàeào deàseàe o t aà aà idada ia ,à o à istasàaàpe sa àoà a poà

com o qual trabalho (Machado da Silva [org.], 2008; Valladares, 2005).

Sendo assim, prosseguiremos nesta direção, na companhia de alguns autores que nos ajuda àaàp o le atiza àesseàluga à atu alizadoàdaà iol iaàu a a .àNossoài tuitoàa uià à situá-la no painel que descreve o estado penal e militarizado (Wacquant, 2008). Portanto, não nos importa tanto determinar se as armas que oprimem e atingem as pessoas estão efetivamente, no poder de instituições do Estado, ou não, mas sim que elas fazem parte de um dispositivo que podemos chamar de governamental46, no sentido de atuarem numa

forma de gestão das populações (Das & Poole, 2004) e que as inscreve num regime da vida

matável47. Se a granada que atinge os corpos de duas crianças em Acari é de fabricação

46 A ideia provém do trabalho de Das e Poole (2004) onde a biopolítica é investigada de maneira etnográfica, asà a ge s àdoàestado.àásàauto asàusa à p opositada e te,àestadoà o à e à i ús ulo,àpa aà pe s -lo na dimensão da micropolítica, onde ele nem é estático ou homogêneo, mas imanente aos movimentos e forças da sociedade civil.

47 Termo proveniente das reflexões do trabalho de Giorgio Agamben (que exploraremos a seguir) sobre a figura do Homo Sacer e que faz parte do estado exceção. Grosso modo, para o filósofo italiano, significa situações

caseira, local, ou se foi feita em Israel, Rússia ou nos Estados Unidos, certamente importa saber. No entanto, para os fins da nossa análise, talvez não importe tanto assim. Pois, tendo ela sido lançada pelo bando de traficantes locais ou pela polícia, o foi durante uma ope aç o àpoli ial,àlidaà aà ha eàdeàu à o ate ,àu aà ofe si a àdaàpolí ia48. Trata-se,

portanto, de um artefato que funciona dentro de um dispositivo de poder da gestão da populaç oà asà a ge s,à ueà seà aleà daà et fo aà daà gue aà aoà t fi o ,à pa a justificar a opressão e o terror com os quais os moradores são obrigados a conviver49.

Obviamente que as armas não estão apenas com a polícia (e podemos pensar ainda na participação de polícia/judiciário e políticos no negócio do comércio ilegal de armas como complexificando esta trama), no entanto, não podemos comparar o poderio bélico do Estado ao dos bandidos, tampouco colocá-los em pé de igualdade, como na metáfora da guerra. Não podemos deixar de sublinhar que crimes cometidos por policiais no exercício de sua função, como as execuções sumárias que ocorrem nas favelas em nome da segurança da sociedade, além de crimes, são violações aos direitos humanos. Sobretudo como política de Estado voltada a uma população considerada matável, a quem, portanto, é negado o direito à vida. Portanto, não deveriam ser postas em pé de igualdade aos homicídios perpetrados por integrantes do tráfico. Neste sentido, é interessante a decisão do juiz Afonso Henrique Ferreira, da Primeira Vara da Fazenda Pública, sobre um caso que ocorreu em setembro de 2012, em que uma mulher de 33 anos, Claudia de Souza, comerciante, foi morta dentro de

onde as fronteiras entre a lei e a não lei são incertas, zonas de indeterminação, portanto, onde a figura do

homo sacer remete à ideia de uma idaà at el àouà idaài dig aàdeàse à i ida .à ága e ,àHo oà“a e :àoà

poder soberano e a vida nua I, 2002)

48 Para relatos de moradores de favelas cariocas, a respeito de granadas lançadas pela polícia em, tanto em suas casas, como em escolas durante o turno letivo, ver o livro Vivendo no Fogo Cruzado: moradores de favela,

traficantes de drogas e violência policial no Rio de Janeiro (Moreira Alves & Evanson, 2013).

49 Em visita à cidade de Rosário, na Argentina, para um congresso de Antropologia Social em julho de 2014 idadeà ueà à o he idaà o oàaà Chi agoàá ge ti a àde idoàaosàele adosàí di esàdeàho i ídiosàdeàjo e sà asà periferias) chama atenção um termo usado: narcopolicía. Interessante para pensarmos na ideia de que o tráfico também se caracteriza como um dispositivo policial. Além disso, tal termo vai além da dicotomia entre poli iaisà ho estos àouà o o pidos ,à e à o oàe t eàEstado-legalismo e narcotráfico-ilegalismo, apontando para o negócio da droga como algo que envolve, necessariamente, a polícia, os políticos e o judiciário. Como acompanhamos nas análises do livro que relata a luta por justiça com relação ao assassinato de três pibes (jovens) moradores de um bairro popular e que eram também militantes e cuja morte foi imputada e atu alizadaà o oà u à a e toà deà o tas .à Co oà diziaà u aà deà suasà a dei as:à Las barriadas populares

seguimos poniendo los muertos, la narcopolicía [sublinhado nosso] sigue poniendo las balas. Los movimentos Sociales luchamos em soledad. Y el Gobierno? Parálisis + Inaccción = Complicidad .à Puñoà àLet a:àedito ialis oà

de base, 2013, p. 76). Para um estudo a respeito do Rio de Janeiro, onde conclusões semelhantes se impõem, ver as entrevistas no livro de Alves e Evanson, especialmente a de um pesquisador (que teve o anonimato mantido) e consultor de Segurança Pública do Congresso (2013, pp. 239-254).

um Posto de Assistência Médica (PAM), em Coelho Neto (bairro ao lado de Acari), atingida po à u à ti oà oà a d e .à Oà juizà disseà se à des e essário se mostrar a comprovação da procedência dos disparos que ocasionaram a morte da vítima, se dos policiais ou dos bandidos, que a fizeram de refém. (...) Afinal, em uma perseguição com troca de tiros, não há dúvida de que a atuação estatal contribuiu de forma decisiva e determinante no evento o te .à Jornal O Dia,à Estado indeniza família de mulher morta em tiroteio ,à . . .àOà juiz determinou indenizações à família, além de determinar que o marido e o filho de 12 anos recebam atendimento psicológico na rede pública de saúde. O advogado da família, João Tancredo, vai tentar ainda uma indenização maior, alegando que foi um tiro de fuzil: N oàpode osàte àpoli iaisàa adosàe à easàu a asà o àfuzis.àáài de izaç oàte à ueàse à alta para impedir que estaàp ti aà o ti ue à ibid.).

A ideia de biopolítica, portanto, faz todo o sentido aqui, se a pensarmos conforme a definição de Michel Foucault (1999), em seu curso no Collège de France, ministrado entre 1975 e 1976, que foi publicado em português sob o título Em Defesa da Sociedade. Pois é como se, em nome da defesa da sociedade e da proteção à vida da população (esta última, categoria fundamental à biopolítica, pois abrange um aspecto biológico, tanto quanto de poder), certas políticas de extermínio fossem justificadas. A ideia de guerra, que antes era algo que compunha uma certa historicidade das forças e povos em luta, em contraposição à fixação de um Estado, surgirá como um paradigma de combate a um inimigo interno ao p p ioàEstado:à o oàdefesaàdaàso iedade contra os perigos que nascem em seu próprio