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Reunir as palavras que escuta/ vozes menores/ atenção

3. Escrita da vida ordinária como exercício

3.1. Reunir as palavras que escuta/ vozes menores/ atenção

Uma ética da vida ordinária, tal como pensada por Veena Das (2014), é a de enxergar nas atitudes mais comuns do dia-a-dia,à oà e osà o po ta e tos à asà e e í iosà osà uaisà us a osà al a ça à dete i adasà fo as,à osà e o esà gestos à daà idaà otidia a.à Assim, como já dissemos, temos nas escritas um destes exercícios ou práticas de si. E aqui talvez sejaà elho àdei a osàoàp p ioàDele à fala ,àe àseusàes itosàdoàBlog,à u àte toàdeà julho de 2009, intitulado Acari Memória Mulher:

Quando finalmente decidi fazer meu blog minha intenção principal é registrar o que puder dessa memória já que várias dessas ulhe esàj àest oàseà i do àeàasà aisàjo e sàd oàsi aisàe ide tesàdeà amnésia cultural.

Não tenho nenhuma pretensão de substituir a mulherada.

Só estou fazendo a minha parte de fiel servo das suas mais públicas e mais íntimas vontades... políticas, sociais,à ultu ais,à se soais ,àse so iaisàeà es oàse suais.àOà ueà oàte àsidoàf ilàj à ueàaà violência dos homens insiste a me forçar mais a militância antiviolência e pelos direitos humanos que a poesia e a animação cultural de uma maneira geral e em especial a pró-feminista.

Há uma ética no não querer substituir, ou falar em nome de ninguém, mas no registrar uma memória-mulher com a qual se deixou marcar. Entendendo também os silêncios da mulher na favela, não apenas como opressão masculina, mas como sendo se soal ,à eologis oà iadoà peloà poetaà ueà e o aà ta toà osà i oà se tidosà ua toà oà se so ,à aà p ud iaà eà aà po de aç oà lassi a e teà at i uídasà à a io alidadeà eà oà aoà sensível. Tal como Deley evoca num outro texto, um poema seu, do qual transcrevo abaixo alguns versos, como uma memória corporal, viva:

Mas há que prestar atenção no que Elaà oàdiz àdaàfa ela.

Ao memorizar a favela, Éà esteà oàdize à ueàest A verdadeira memória da favela (Deley de Acari, 26.12.2012)

Elaà oà dizàda àfa ela.àN oàfalaà e à o eàde à o àsuasà e ias àa a adasàdeà arquivos. Sua memória é o próprio infinitivo, processual: memorizar... com todos os sentidos, tanto os sensórios, como os sensuais e os linguísticos... memoráveis e imemoriais. A memória-mulher, minoritária, j à ueàest oàseà i do ,à egist -la. Mas sem transformá-la

numa memória-museu, hegemônica ou dominante. Talvez num blog, onde as mais jovens e a si asàtal ezàpossa à a ess -la ?ààNaà e iaàdeàu àpoe a,à ueàseàap e deàdeà o àeà que está quase sempre disponível para ser dito em ocasião oportuna. Ou então, como um te toà ueà à a tidoà e à estudo à [e p ess oà olhidaà o à Dele à du a teà u aà ofi i aà deà produção textual que ele deu], ou seja, como texto ainda em processo de produção. Ou numa crônica, gênero por excelência de registro de pequenos e grandes acontecimentos do dia-a-dia.

Veena Das chama atenção para o fato de que, mesmo no terreno do hábito e da repetição que caracterizam o cotidiano, onde pode haver algum endurecimento dos sentidos, sempre há espaço para a criação e a delicadeza dos gestos de atenção ao outro. É assi à ueàpa ti ipeiàdeàa i e s ios,àalgu sà aisà ofi iosos ,à o oàosà a i e sa ia tesàdoà s àdaàes oli haàdeàfute olàdeàDele ;àout osàdeà su p esa ,à ueà ese oàpa aà o ta à asà otasà fi ais à da tese. Em que, contraposto ao estado de exceção, a vida teima em surpreender em suas co-memorações. Memorar com. Memorizar as datas de nascimento em festejos de renovação da vida. Com bolos lindamente decorados. Não dizê-las: para que o co-memorar seja uma grata surpresa, numa quarta-feira e não num sábado ou domingo, dias oficiais de festa. A questão que se faz de se comemorar no dia do nascimento. Apreciei estes acontecimentos. Assim como, em seu trabalho de campo, Das apreciou o gesto silencioso de uma de suas interlocutoras, que, no que há de mais cotidiano na vida indiana, o chá, sabe exatamente o jeito que cada um gosta dele: para a pesquisadora, sem açúcar; para um filho, muito açúcar; para outro, com creme por cima e não misturado; já para o marido, a preferência era que fosse servido num copo ao invés de numa xícara. Formas de expressar cuidado na materialidade da vida do dia-a-dia. (2012)

Biehl, Good e Kleinman (2009) iluminam o entendimento sobre o fazer etnográfico inspirado em Veena Das, dizendoà ueà elaà esta iaà e osà p eo upadaà o à aà ealidadeà estruturando condições psicológicas do que com a produção de verdades individuais e o poder da voz: Que chance a fala tem de ser ouvida? (...) Para ela estados internos e externos estão inescapavelmente costu ados. 105 (Tradução minha, 2009, p. 30). E o que significa aqui

esteà se à ou ida ?à Maisà doà ueà u à o he i e toà doà out o,à aà ideiaà à aà deà u à

105 Noào igi al:à I àhe à o kào à iole eàa dàsu je ti it ,àDasà àisàlessà o e edà ithà ealit sàst u tu i gà

of psychological conditions than with the production of individual truths and the power of voice: What chance doesà peaki gà ha eà ofà ei gà hea d?à ... à Fo à he ,à i e à a dà oute à statesà a eà i es apa l à sutu ed. à à àà Good,à Kleinman, & Biehl, 2009).

reconhecimento (acknowledging,à ueà oà seà d à deà u aà ezà po à todasà eà e ue à u aà repetida atenção ao mais ordinárioàdosào jetosàeàe e tos... .à i id.,àp. . à‘e o he e àa uià não é conhecer segundo um conhecimento prévio, representacional: neste caso, haveria um o i e toà as e de te ,àdoà otidia oà àteo ia,àaàu aàideiaàa st ata,àt a spa e te,à o oà e à e o he e àaliàu se àhu a o .àT ata-se de conhecer e re-conhecer, repetir, deixar-se envolver, movimento no qual, talvez, as falas tenham chance de adquirir voz e serem ouvidas.

Ainda segundo os autores acima, o papel da etnografia seria o de iluminar os materiais desta costura. O trabalho de Das nos lembra de que interno e externo, o sujeito e oà u do,à oàfaze àpa teàdeàu aàp o le ti aà pa te-todo ,à asàdeàu àete oàfaze àeà refazer dos limites, embebido na concretude das relações. (DAS, 2007, p.4.) No caso de Deley, pensamos aqui em como ele costura, em sua escrita, narrativas que poderíamos chamar de autobiográficas como públicas, de maneira singular e também implicada nos dilemas do contexto, mencionando personagens e acontecimentos do dia-a-dia de Acari, construindo assi àout aàfo aàdeà ilit iaàe àdi eitosàhu a os.àO deàoà pode àdaà oz à tem a ver com algo realmente verdadeiro, não enquanto verdade factual, mas enquanto afeto e afecções vividos no dia-a-dia, diante destes assassinatos todos, do sofrimento e da indiferença da "sociedade maior".

Os textos do blog, que Deley escreve desde 2009 e que estaremos lendo aqui como uma forma de escrita de si, são também escritas da compaixão, formas de cuidado. Ainda que Deley por vezes se exponha em seus textos, estamos compreendendo esta exposição não como tendo um tom confessional. Onde até pode haver um efeito terapêutico/catártico nos escritos, mas não no sentido de livrar-se das emoções, afetos e afecções evocadas, e sim, livrar-se do excesso de tensão que impede o corpo deàseàe p essa àe àsuaà e dade à (Jeanne Marie Gagnebin, comunicação em aula na PUC-SP, 2012). Talvez, antes de qualquer coisa, encontremos neste expor-se uma forma de parresia:

Etimologicamente parrhesía é o fato de tudo dizer (franqueza, abertura de coração, abertura de palavra, abertura de linguagem, liberdade de palavra). Os latinos traduzem geralmente parreshía por

libertas. É a abertura que faz com que se diga, com que se diga o que se tem a dizer, com que se diga o

que se tem vontade de dizer, com que se diga o que se pensa dever dizer porque é o necessário, porque é útil, porque é verdadeiro. Aparentemente, libertas ou parrhesía é uma qualidade moral que se requer, no fundo, de todo sujeito que fala. (Foucault, A hermenêutica do sujeito, 2010, p. 327)

A parresia seria assim, ao mesmo tempo uma techné, uma técnica, no sentido de arte, mas também uma ética e uma política (Lemos, Galindo, & Aguiar, 2014), onde as relações de si para consigo e com os outros passam por um arriscar-se. Arriscar-se no sentido de experimentar outros modos de ser e estar no mundo, onde o falar franco é um dos componentes dessa afirmação que não se dá apenas nas palavras, mas nos gestos da vida cotidiana. Assim, pensamos nos textos de Deley como um exercício de parresia cujos i te lo uto esà se ia à osà o i e tosà so iaisà e à suaà e te teà ilita teà aisà du a ,à po à assi àdize ;àe à ueàeleàt azà à aila,àdeàfo aàp o o ati a,àte asà o side adosà e o es ,à como a poesia, a vida afetiva, os sofrimentos, o feminismo e o machismo, o dia-a-dia na favela e assim por diante. E em que estas histórias comparecem na singularidade e polifonia de suas experiências e não como meras ilustrações das grandes narrativas teleológicas.

A coragem de dizer e a força de não dizer: com ambas se escrevem histórias incompletas, inacabadas, sempre editadas e revistas. No exercício ético do cotidiano de trazer em si um conhecimento/sofrimento com o qual se convive, não apenas porque faz parte de sua memória, mas porque ele perpassa, como uma atmosfera, a memória corporal de estar com os outros. Não apenas nos planos psíquico, mas no plano das relações sociais, o deàaà iol iaàpe pet adaà oà e e toà íti o à o tí uaàpe passa doàestaà es aàt a a.àáà violência que se repete de forma dramática, onde os assassinatos, as destituições e violações de direitos se repetem, pontuando o contínuo do tempo com perdas irreparáveis de vidas humanas.

Temos, então, o terror de estado, procurando destruir esta potência de calar para proteger outrem e destituir o sujeito de seus atributos morais, atuando por meio da tortura, como forma de fazer falar. Como no caso narrado por Deley, em uma de suas crônicas, que aconteceu com uma ex-aluna sua do futebol, de 23 anos:

Uma das mais doces criaturas humanas que conheço na favela, há cerca de dois dias, teve sua casa i adida...àFoiàespa adaàaàto tu adaàpo àPM sàdoàBOPE.àIssoà ua doàp epa a aàoà oloàdeàa i e s ioà da filha mais nova. Teve as faces queimadas de cigarro, as pernas bicadas de botina... Pra dizer o nome e onde estaria o pai de seus três filhos, seu ex-companheiro com quem não vive mais há dois ou três anos. Resistiu à tortura e à humilhação de ser esculachada na frente dos filhos e da própria mãe, mas não entregou o ex-companheiro. (Deley de Acari, 09 de março de 2014.)

Assim é que, inspirando-nos em Veena Das, pensamos no costurar destas palavras alheias às quais procuramos ouvir com atenção, e que aqui editamos, junto a reflexões e

leituras, como uma forma de ética. Mas não muito diferente ou mais especial do que a ética cotidiana das pessoas. Ou melhor, muito aquém da ética de certas pessoas que - corajosamente – mas não com uma coragem estrondosa, épica ou heroica (Baptista, 2013) reinventam a si e ao mundo, diante das condições mais adversas à vida. A antropóloga indiana considera este trabalho de reunir as palavras que escuta, em escrita, como sua fo aàdeà de oç oàaoà u do 106. Será que podemos fazer coro a ela e acrescentar que esta

seria ainda nossa forma de compaixão?

106 ... àCa ell sà[p i ipalàfil sofoà o àoà ualàaào aàde Veen Das dialoga] work shows us that there is no real

distance between the spiritual exercises she [Manjit – interlocutora de Veena Das na pesquisa] undertakes in her world and the spiritual exercises we can see in every word he has ever written. To hold these types of words together and to sense the connection of these lives has been my anthropological kind of devotion to the

3.2. [Dele :]à N oà às àest esseàp s-traumático, é também pré-traumático .

Deley e eu conversamos muitas vezes sobre Psicologia. Meu interlocutor, que já trabalhou como terapeuta ocupacional no hospital Pedro II, no Engenho de Dentro, com a Dra. Nise da Silveira (primeira psiquiatra brasileira, como sabemos, a desafiar o tratamento desumano tradicional, o confinamento, os eletrochoques), sempre traz à baila a dimensão emocional envolvida na luta em defesa dos direitos humanos , o que é amiúde tematizado em suas crônicas. E também do problema da violência de Estado como acarretando questões de saúde pública, não apenas as mortes e ferimentos físicos, mas as somatizações e o sofrimento psicossocial. Neste sentido, certa vez ele comentou que o fato de haver na USP um núcleo de atendimento a pessoas atingidas pela violência não deixava de ser importante como forma de reconhecimento deste problema como uma questão institucional, estatal. Em Acari, por exemplo, não há nenhum dispositivo da rede de saúde mental do SUS.107 Certo dia, falávamos sobre o atendimento psicológico e social a familiares

de atingidos pela violência do Estado e ele fez um comentário muito sagaz sobre a categoria de estresse pós-traumático: oà às àest esseàp s-traumático, é também pré-t au ti o .à

Pré-traumático é também uma expressão que aparece em suas crônicas, como na que ele escreve queixando-seà daà faltaà deà solida iedadeà de ost adaà pelasà militantes

feministas brancas e do asfalto ,àap sàsuaàde ú iaàdaà ulhe àto tu adaàeàa eaçadaàpo à

poli iais,à assi a do:à E t eà oà o o ido,à a comoção, a decepção e o estresse pré- t au ti o .à Dele àe à . . .

Gostaria então de trabalhar com esse fragmento da fala de Deley, como trazendo um importante lampejo de sentido a respeito do modo de sofrimento experimentado. Não se

107 O Centro de Atenção Psicossocial de Irajá fica a 5,2 km de distância, levando uns 50 minutos no transporte

público desde a região do Amarelinho, quando sem trânsito, o que é quase impossível na Avenida Brasil. Segundo a legislação, o CAPS II, que seria este tipo de Irajá, atenderia a municípios com população acima de 70.000 habitantes, muito aquém, portanto, da população incluída em sua área de abrangência (Irajá, Madureira, Vila da Penha e adjacências – a favela de Acari incluída nestas). O CAPS-ad III, que é especializado em problemas envolvendo o abuso de substâncias psicoativas, acabou de ser inaugurado em 2014 e fica em Madureira, com a mesma área de abrangência, fica a mais ou menos 8,4 km do Amarelinho e leva cerca de uma hora de transporte público. (O tempo da viagem foi fornecido pelo google maps.) Também fica muito aquém da população que deveria abranger <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/acoes-e- programas/conte-com-a-gente/leia-mais-conte-com-a-agente> e <http://www.rio.rj.gov.br/web/sms/caps >

trata aqui apenas de criticar o reducionismo de uma categoria psiquiátrica. Mas talvez seja interessante para nossa discussão nos debruçarmos brevemente sobre a construção desta categoria diagnóstica psiquiátrica, que vem sendo utilizada por alguns psicólogos engajados politicamente no reconhecimento do sofrimento de pessoas atingidas pela violência cometida por agentes do Estado no sentido de cobrar deste uma reparação psíquica ao dano sofrido.108

Assim, estamos tratando osà te asà t au a à eà est esse ,à daà es aà fo aà o o pontuamos, mais acima, oà usoà dosà te osà defe so à eà di eitosà hu a os .à Co oà categorias nativas e também como formas com as quais nosso interlocutor acerca-se de algu asà uest esà e o es ,à ueà oà est oà p ese tesà osà dis u sosà aisà g a diososà daà esist ia à o oà u aà lutaà he oi aà eà i a s el.à (Neste sentido, lembramo-nos de uma pesquisadora que tem como interlocutora uma das mães que teve o filho assassinado pela polícia, que o taàdeàu àpedidoàfeitoàpo àela,àpa aà ueàes e esseàu àli oà so eàaàsaúde dasà es ,à istoà é, sobre doenças que elas desenvolvem no processo de luta por justiça). Ainda que saibamos que a medicalização é um vetor importante a ser considerado neste caso, como um dos braços do biopoder, assim como a judicialização, podemos também pensar nestas falas como formas de trazer a público um sofrimento não reconhecido e que talvez não tenha espaço de escuta nas tradicionais arenas políticas. É neste sentido que esta osàle doà t au a àeà est esse nos discursos de Deley, que os utiliza num movimento de apropriação crítica, insistindo em algo que aponta às questões políticas que extravasam aquilo que cabe nos discursos oficiais da militância como mera agência. Questões que não cabem apenas no dizer discursivo, mas adensam-se em tramas que envolvem também a temporalidade, os sofrimentos, os gestos e os silêncios.

*** *** ***

108 Ve àpo àe e ploàaà Ca taàdosàPsi logosàaosàE ele tíssi osà“e ho esàMi ist osàdaà‘epú li a Federativa do

B asil à ,à a taàa e taàdeàu àg upoàdeàPsi logos,àjustifi a doàosà oti osàpelosà uaisà a e iaàaoàEstadoà providenciar tratamento psicológico aos familiares de vítimas de atos violentos cometidos pelas forças de segurança pública. (...) Com efeito, não há quem questione que situações de grave ameaça à vida são causadoras de intenso sofrimento psíquico às vítimas e seus parentes, quadro psicopatológico conhecido há tempos por campos teóricos como o da psicanálise e reconhecido pela psiquiatria moderna ao menos desde 1980 como Transtorno de Estresse Pós-T au ti oà TEPT à MÃE“àDEàMáIO,à ,àpp. -35).

Neste sentido, como uma matéria da qual Deley se apropria criticamente, façamos uma breve digressão sobre a história dessa categoria de Transtorno de Estresse Pós- Traumático .à Ela consta na Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10 o Código Internacional de Doenças, da Organização Mundial de Saúde (2008). Aparece pela primeira vez no DSM-III em 1980 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental

Disorders), que é produzido pela American Association of Psychiatry (Andreoli, Silva-Manel,

& Martin, 2013). O DSM-IV (1994) define o transtorno como decorrente da

exposição a um evento traumático no qual os seguintes quesitos estiveram presentes: 1. A pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolvem morte ou grave ferimento, reais ou ameaçadores, ou uma ameaça à integridade física própria ou a de outros; 2. A resposta da pessoa envolveu intenso medo, impotência ou horror. (Kapczinski & Margis, 2003)

Ele aà ai daà u aà s ieà deà out osà it ios,à o oà te à oà e e toà e i ido à e à

e o daç esà i t usivasà eà epetitivas ,à so hos à [ou seria melhor dizer pesadelos?], flash a ks ,à sof i e toàpsí ui oài te so ,à eatividadeàfisiol gi a ,à es uivaàdeàestí ulosà ela io adosàaoàeve to ,à e to pe i e toàdaà espo sividade ,àaoà es oàte poàe à ueàh à e ita ilidadeàau e tada .à Refere ainda a duração dos sintomas como sendo superior a

u à s,à e à o oàdizà ueàoàsof i e toàde eàse à li i amente significativo, com prejuízo so ial,ào upa io alàouàe àout asà easàdaà idaàdaàpessoa .àPe e e osà estaà a a te izaç oà do quadro, que o evento traumático é algo difuso, capaz de abranger vários acontecimentos da assim chamada vida urbana; sendo a tônica colocada na reação do indivíduo, sobressaindo, a nosso ver, a ideia de sentir-seà i pote te .

Schestatsky, Shansis, Ceitlin, Abreu, e Hauck (2003) mostram como nas sucessivas eediç esà doà D“Mà fo a à o o e doà uda çasà aà defi iç oà doà t a sto o ,à o deà na primeira definição, a do DSM-III, os eventos traumáticos eram restritos às situações de

a usoàse ual,àassaltos,àdesast esà atu aisàeàgue as .à i id.,àp.à . à

A maior modificação no DSM-IV está relacionada à definição de trauma. Enquanto o DSM-III-R enfatiza que o trauma é uma experiência fora da normalidade, um grande número de evidências sugeria que os desencadeantes típicos do TEPT eram eventos relativamente comuns na vida das pessoas. Sendo assim, o DSM-IV enfatiza o quão ameaçador e aterrorizante foi o trauma para aquele dete i adoài di íduo,àse à e io a àaà a o alidade àdoàe e toà I id. .

Estasào se aç esà osàsuge e àu aà la aàest at giaàdeà atu alizaç o àdosàe e tosà traumáticos, ao mesmo tempo em que a tônica irá recair na reação do indivíduo. Evidentemente, tal construção diagnóstica descaracteriza o quadro de um sofrimento psíquico eminentemente social. Isto fica ainda mais gritante se lembrarmos de que o

surgimento ou o ressurgimento109 do diagnóstico (já que ele não é novo e sim remontaria às