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Brasil: distribuição espacial das outorgas de direito de uso da água (2001-2015)

dimensões normativas e institucionais

Mapa 17. Brasil: distribuição espacial das outorgas de direito de uso da água (2001-2015)

Dentre as outorgas emitidas em todas as unidades da federação há um predomínio das emitidas nominalmente a pessoas físicas, ainda que existam as fornecidas para empresas de diversos setores. No estado da Bahia foram outorgados pontos de exploração de água para as empresas: Frutvalle Export Ltda. – ME, Carnaiba Agropecuária Ltda., Santa Colomba Agropecuária Ltda, C. S. Líder Agrícola Importadora e Exportadora Ltda., Agrodan Agropecuária Roriz Dantas Ltda. e SpecialFruit Importação e Exportação Ltda. (ANA, 2016e).

Contexto similar dar-se no estado de Minas Gerais onde as empresas CROS AGRO- INDUSTRIAL Ltda., Carvovale Indústria e Comércio de Produtos Agroindustriais e Florestais Ltda., GT Agro Carbo Industrial Ltda., Monsanto do Brasil Ltda., Cantagalo General Grains S.A, Sipet Participações Ltda., Agropastoril MoriahLtda – ME, JJKW Empreendimentos Agricolas Ltda., Forte Grãos Agropecuária Ltda., Porto Azul Veredas do Urucuia Agropecuária Ltda., Agropira - Agropecuária Pirapora Ltda. e Agropecuária Lemos Galvão Ltda. (ANA, 2016e).

Ainda com relação às outorgas emitidas no estado de Minas Gerais para prática da irrigação, cabe destacar àquelas emitidas para empresas do setor de agrocombustíveis, dentre elas a Santa Vitória Açúcar e Álcool Ltda. e a Usina Frutal Açúcar e Álcool Ltda., e que destinam-se sobremaneira a irrigação da cana-de-açúcar (ANA, 2016e). Conforme apontado por Locatel e Azevedo (2008), o setor sucroenergético para além de sua elevada capacidade de exploração e degradação do ambiente é causador de outras problemáticas, tais como a precarização das relações de trabalho, acirramento das desigualdades sociais e redução das áreas destinadas a produção de culturas alimentícias frente à expansão das monoculturas da cana.

O estado de Pernambuco apresenta uma singularidade que diz respeito à emissão de outorgas para associações de trabalhadores rurais ou de assentamentos rurais com o intuito de viabilizar o desenvolvimento da agricultura irrigada. Nesse sentido merece destaque a Associação dos Produtores Rurais do Assentamento Safra, Associação dos Agricultores Familiares Rurais do PA Edmilson Araújo, Associação dos Parceleiros do Assentamento Vitória, Associação Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais do Assentamento Aquários, Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Boqueirão, Associação dos Agricultores do Assentamento Safra Gleba 1, Associação de Agricultores do Assentamento Senador Mansueto de Lavor, Associação dos Produtores do Assentamento Jatobá (ANA, 2016e).

Cabe destacar que o número de outorgas expedidas no ano de 2014, permitindo o uso da água para prática da irrigação nos estados da Bahia e Minas Gerais, que totalizaram, respectivamente, 430 e 515 concessões, são superiores ao total de outorgas emitidas no Rio Grande do Norte que dentre o período entre 2001 a 2015 e englobando todos os ramos e setores demandantes por água totalizam 396 outorgas, das quais 274 deliberam especificamente sobre o uso da água para agricultura irrigada (ANA, 2016e).

As principais culturas irrigadas beneficiadas com as outorgas emitidas para captação da água no leito do Rio Parnaíba são arroz, cana de açúcar, soja, manga e feijão. Uma particularidade das outorgas emitidas tendo como foco o leito do referido rio, refere-se as que autorizam a emissão de rejeitos industriais e lançamento de efluentes provenientes do esgotamento sanitário (ANA, 2011). Ao longo da Bacia do Rio Parnaíba estão outorgadas o uso da água para irrigação por parte das empresas: ARB Construções e Agropecuária Ltda., COMVAP Açúcar e Álcool Ltda., Rio Bonito Agricultura Irrigada S/A e Sementes do Vale do Parnaíba S/A (ANA, 2016e).

Nos Rios Tocantins, Araguaia e em seus afluentes, há um grande número de pontos outorgados para retirada de água para uso na atividade mineradora, “sobressaindo-se a extração de ouro, bauxita, minério de ferro, amianto, níquel, manganês, estanho, granito, calcário, materiais para a construção civil e gemas” (MMA, 2006, p. 37). Quanto às outorgas para irrigação, estas contemplam prioritariamente as lavouras de cana de açúcar, feijão, abacaxi, milho, grama e girassol (MMA, 2006; ANA, 2016e).

Dentre as empresas do agronegócio detentoras de outorgas para irrigação no Rio Parnaíba destaca-se a Agropecuária Vale do Tocantins, AGROAÇAI - Pesquisa, Agricultura, Indústria e Comércio de Açai Ltda., DU PONT do Brasil S/A, Agropecuária Indústria e Comércio Barreira da Cruz Ltda., Imperador Agroindustrial de Cereais S.A, Agropecuária Indústria e Comércio Barreira da Cruz Ltda., AGRODIAMANTE - Pecuária e Agroflorestal Ltda., Companhia Brasileira de Agropecuária – COBRAPE e Agropecuária Água Branca S/A (ANA, 2016e).

Uma particularidade quanto aos agentes e empresas possuidoras de outorgas permitindo o uso de água para a prática da irrigação, diz respeito à permissão concedida a Associação Atlética Banco do Brasil e a Associação dos Servidores da Justiça Federal de Tocantins para a irrigação de grama por meio de aspersores, assim como a conferida a Diocese de Porto Nacional possibilitando assim a produção de feijão irrigado por meio de pivôs centrais (ANA, 2016e).

A bacia hidrográfica do Paraná-Tietê é marcada pela existência de outorgas com múltiplas finalidades, dentre as quais destacam-se as que autorizam a coleta e descarte da água utilizada na mineração e na atividade industrial, bem como as que permitem o uso da água para prática da irrigação, favorecendo o desenvolvimento de culturas como a cana de açúcar, soja e milho. Dentre as outorgas emitidas no período de 2001 a 2015, há também aquelas em que a água se destina uso nas lavouras de hortaliças e frutas, especialmente a uva e a laranja (ANA, 2016e).

Dentre as empresas titulares de outorgas que autorizam o uso da água para abastecimento de sistemas de irrigação com ponto de coleta na bacia hidrográfica do Paraná- Tietê, menciona-se a Agro-Pecuária Barro Grande Ltda., Agropecuária Barreiro Grande Ltda., Sociedade Agropecuária Guatapará Ltda., Vale do Paraná Agrícola Ltda., ABENGOA Bioenergia Agroindústria Ltda., Agropecuária S.S. Ltda., Unitas Agrícola S/A, Companhia Agrícola Colombo, Santa Helena Agroindustrial Ltda., Fazenda Sete Lagoas Agrícola S/A, JF Citrus Agropecuária Ltda., Agropecuária Iracema Ltda., Condomínio Agropecuário Oswaldo Ribeiro de Mendonça, Suco cítrico Cutrale Ltda., Agro-Pecuária CFM Ltda., JBS Agropecuária Ltda., Agro-Pecuária Tinamu S/A, Damha Agronegócio Ltda., Fischer SA Comercio, Indústria e Agricultura, Agopecuária FRIBOI Ltda. e Sociedade Agropecuária Guatapará Ltda., Vale do Paraná S.A Álcool e Açúcar, Usina Moema Açúcar e Álcool Ltda. e Destilaria Alcidia (ANA, 2016e).

Ao analisar os dados referentes à emissão de outorgas de uso da água no estado de São Paulo, percebe-se também a atuação de empresas de outros setores, com destaque para o ramo de participações e empreendimentos, a exemplo da A.L. Santana Participações e Empreendimentos Ltda., FC Administração e Participações Ltda., P6 Empreendimentos e Administração Imobiliária Ltda., NEARCO - Administração e Participações Ltda., as quais, respectivamente, possuem outorgas para irrigação da cana de açúcar, soja, pastagem e capim (ANA, 2016e).

Compreende-se aqui que a emissão de outorgas para estas empresas e a atuação desta junto ao ramo produtivo agrícola é um indício do processo de fusão de capitais que vem ocorrendo progressivamente no campo brasileiro. No entendimento de Delgado (1985) a fusão entre os capitais de diferentes origens, sobretudo financeiro e imobiliário, com o capital agrícola, bem como a expansão do “capital hibrido” no campo brasileiro é uma tendência que emerge com o processo de modernização agrícola do país e que se consolida com o atual processo de financeirização do território.

No caso especifico do Estado do Rio Grande do Norte, os 398 pontos de uso e exploração da água outorgados entre 2001 e 2015 concentram-se basicamente na bacia do Rio Piranhas-Açu e destinam-se em sua maioria à prática da agricultura irrigada, abastecimento público e desenvolvimento da aquicultura (ANA, 2016e), como cartografado no mapa 18. As outorgas emitidas para irrigação concentram-se particularmente nas bacias hidrográficas do Rio Piranhas-Açu e no Rio Guaju, este último localizado na porção extrema do litoral sul, no limite entre os estados do Rio Grande do Norte e Paraíba.

Os pontos de coleta de água outorgados na bacia do Piranhas-Açu, expostos no mapa 18, possuem como traço em comum a utilização da água para provimento de sistemas de irrigação localizada (gotejamento), irrigação por aspersão convencional e irrigação por meio da instalação de pivôs-centrais (ANA, 2016e). Dentre as culturas irrigadas cultivadas nesta fração do território potiguar, destaca-se a banana, o mamão e a manga, produzidas, sobretudo, em unidades de agricultura patronal ou por empresas especializadas na produção de frutas tropicais irrigadas, ainda que estejam também presentes em unidades de produção familiar.

Ainda no que se refere à emissão de outorgas para irrigação, cabe observar as outorgas emitidas no leito do Rio Guaju, situado na divisa entre os estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba. As referidas outorgas destinam-se a irrigação da cana-de-açúcar por meio de sistemas de irrigação autopropelida e por aspersão convencional, sendo esta última também, a forma de irrigação utilizada na cultura do coco verde presente nesta fração do território potiguar (ANA, 2016e), onde historicamente a paisagem foi marcada pela presença de canaviais e unidades de processamento, industrial e artesanal, da cana-de-açúcar.