• Nenhum resultado encontrado

dimensões normativas e institucionais

INSTRUÇÃO NORMATIVA

ESPECIFICAÇÃO DESCRIÇÃO

Instrução normativa – SEMARH nº 0001/2012

Estabelece critérios e normas para a emissão de outorgas de direito de uso dos recursos hídricos para a prática da piscicultura em gaiolas ou tanques-redes, em corpos d’água de domínio do Estado do Rio Grande do Norte.

Fonte: ANA, 2015; Rio Grande do Norte, 1996; 1997a; 1997b; 1998; 1999; 2002; 2003a; 2003b; 2004a; 2004b; 2004c; 2004d; 2005; 2008; 2009a; 2009b; 2010a; 2010b; 2010c; 2010d; 2012a; 2012b; 2013a; 2013b; 2013c; 2013d; 2013e.

NOTA: *Determinas as competências da Secretaria de Recursos Hídricos.

** Determinas as competências da Secretaria de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos. *** Regulamenta a emissão de outorgas e licença de obras hídricas.

**** Regulamento a prática da aquicultura.

De acordo com o exposto, pelos representantes da SEMARH/RN e do IGARN, a legislação estadual aplicada ao gerenciamento dos recursos hídricos encontra-se em consonância os marcos legais nacionais, faltando ao estado somente a elaboração de mecanismos para a implementação efetiva das leis já existentes. Nesse sentido, ambas as instituições alertam para o caráter formal e informativo do atual plano de estadual de recursos hídricos, o qual não prevê os mecanismos e ações necessários a sua aplicação prática.

Se como aponta Santos (2009a) os objetos técnicos são solidários e funcionam em sistemas, o mesmo dar-se com as normas, pois são articuladas e complementares. Assim, o conjunto de leis, instruções normativas, decretos e resoluções integram as estruturas normativas, que abrangem um “conjunto de normas formais, as regras e convenções informais, conhecimento tácito e o conjunto de estruturas não hierárquicas que conferem especificidades tanto as regiões como as organizações” (RIO, 2008, p. 220).

A Política Nacional de Recursos Hídricos, considerada por Braga etall (2011) um dos instrumentos de maior completude e complexidade no que refere-se a instrumentos de gestão dos recursos hídricos, assim o é não somente em razão de seu conteúdo instrumental e normativo, mas também em razão do arranjo institucional por meio dela preconizado. Para sua operacionalização esta política, suscita articulações entre agentes e escalas, cada um com atribuições específicas, conforme apresentado no quadro 07.

Quadro 07. Brasil: competência dos entes federados no processo de gerenciamento dos recursos hídricos.

ENTE FEDERADO COMPETÊNCIA

UNIÃO

Gerencia a Política Nacional e o Plano Nacional de Recursos Hídricos;

Fiscaliza e regula a gestão hídrica no país, junto ao Ministério do Meio Ambiente e a Agência Nacional de Águas;

Abriga o Conselho Nacional de Recursos Hídricos regulamenta política com a participação do governo federal, estados, DF, Setores e Usuários da Sociedade Civil;

Gerencia comitês de bacias federais ou interestaduais; Fiscaliza a água para consumo humano por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

ESTADOS

Responsáveis pela gestão das águas sob o seu domínio territorial; Elaboram as legislações específicas em conformidade com as características, demandas e necessidades de suas áreas;

Organizam o Conselho Estadual de Recursos Hídricos e garantem o funcionamento dos comitês de bacia em sua competência;

Fiscalizam a água que se destina ao consumo humano por meio da Vigilância Sanitária estadual.

MUNICÍPIOS

Integram políticas de saneamento básico, de uso, ocupação e conservação do solo e do meio ambiente com as políticas federal e estaduais de Recursos Hídricos;

Possuem assentos nos Comitês e Bacias Hidrográficas no intuito de promover a articulação intersetorial e federativa das políticas públicas territoriais;

Fiscalizam a qualidade da água para consumo humano por meio da vigilância Sanitária municipal.

DISTRITO FEDERAL Possui as mesmas competências dos estados e municípios na gestão de seus Recursos Hídricos

Fonte: Aith e Rothbarth (2015).

Esse conjunto de instrumentos normativos e institucionalidades que abarca a totalidade do território nacional, mas salvaguarda as especificidades de cada estado ou município, são necessárias a um modelo de gestão democrática e participativa da água, pois

O Brasil vive um paradoxo em relação aos recursos hídricos. Eles são abundantes na escala federal, mas faltam em diversas localidades, muitas delas com boa disponibilidade de água. Para equacionar a distribuição geográfica da água no país é necessário ponderar as dimensões naturais, como oferta hídrica, mas, principalmente políticas, por meio da acomodação de interesses diversificados que usam a água de formas distintas (RIBEIRO, 2013, p. 111)

Como demonstrado no quadro 07, à gestão descentralizada dos recursos hídricos proposta pela Política Nacional de Águas, em consonância com os princípios da participação dos entes federados e dos cidadãos apregoados por meio da Constituição Federal de 1988, concebe uma série de articulações entre entes federados com diferentes competências, cada qual com escala de ação diferenciada e de abrangência distinta, fortalecendo desse modo a

autonomia relativa das unidades federativas, redefinindo, por conseguinte a teia de relações entre os estados e união.

A autonomia atribuída aos estados e municípios é aqui considerada como relativa, pois os atos deliberados pela união refletem obrigatoriamente nas outras escolas, mas dificilmente a ação desencadeada pela gestão municipal repercutirá em mudanças estruturais nas políticas nacionais. É valido lembrar que as legislações específicas que tratam da água nos estados e municípios, precisam estar alinhadas com os marcos legais nacionais, podendo em alguns casos ser mais restritivas, quanto as possibilidades de uso da água e na determinação de suas condicionalidades.

Dados esses novos mecanismos de integração que do ponto de vista geográfico é territorial e multiescalar, adverte-se que no território brasileiro são recorrentes os casos de sobreposição das ações institucionais e desarticulação das escalas de atuação de diferentes agentes (RIO e EGLER, 2003), sendo a gestão dos recursos hídricos considerada como um desafio “geoinstitucional”, o qual para ser sanado demanda a adoção de uma perspectiva operacional que abarque a um só tempo a governança, a taxação pelo uso da água e a gestão do território, uma vez que

A exploração dos recursos hídricos e a distribuição da água exigem uma organização institucional complexa, apoiada em um sistema de concessões, contratos, controle sobre a disponibilidade, acesso aos serviços e tarifas. Esse sistema apresenta, portanto, uma organização espacial que envolve um número crescente de agentes econômicos e atores sociais, impondo desafios significativos para a gestão dos recursos e dos serviços que lhe são associados (RIO, 2008, p. 221).

Com o intuito de dar conta daquilo que é determinado nas instruções normativas e articular as ações desempenhadas pelos entes federados, criam-se então agências e instituições que terão dentre suas finalidades fiscalizar e normatizar a exploração e o uso da água em diferentes escalas, todas estas subordinadas a Agência Nacional de Águas e participes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH.

Dentre estas destacam-se a Agência Nacional de Águas, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal, os Comitês de Bacia Hidrográfica; as agências e institutos estaduais de água, os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos (BRASIL, 2000). No quadro 08 elucida-se a as atribuições das principais instituições integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Quadro 08. Brasil: principais instituições públicas e suas competências frente ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

ORGÃO/INSTITUIÇÃO COMPETÊNCIA

CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Órgão deliberativo de máximo poder no âmago do SINGREH, sendo o responsável por gerir conflitos não solucionados nas instâncias menores. Uma de suas máximas responsabilidades é direcionar a revisão e as reformulações da Política Nacional de Recursos Hídricos.

SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS E AMBIENTE URBANO

Vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, está é a entidade encarregada pela formulação da Política Nacional de Recursos Hídricos, por encaminhar propostas orçamentárias para União e atuar como uma espécie de secretaria executiva do SINGREH.

AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS – ANA

Autarquia responsável por disciplinar à implementação, operacionalização, controle e avaliação dos instrumentos de gestão criados pela Política Nacional de Recursos Hídricos através do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

CONSELHO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS – CERH

Órgão de maior representatividade no contexto estadual, tendo como atribuição gerir os conflitos pelo uso da água no contexto dos estados e direcionar a construção da política estadual de recursos hídricos.

ÓRGÃO GESTOR ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Órgão que na jurisdição estadual possui atribuições similares a da ANA, inclusive o de fornecer outorga e fiscalizar o uso da água.

COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA - CBH

Fóruns colegiados que tem como responsabilidade aprovar o Plano de Recursos Hídricos de cada Bacia, atuar na solução de conflitos pelo uso da água, propor mecanismos e indicar valores padrão para cobrança pelo uso da água na região de atuação do comitê.

AGÊNCIA DE BACIA HIDROGRÁFICA

Aparelho executivo do comitê de bacias, incumbido de funções operacionais como a cadastramento de usuários, operacionalização das cobranças, atualização das informações juntos aos sistemas nacionais e elaboração do plano da bacia.

Fonte: Braga at al (2011); Aith e Rothbarth (2015).

Cada uma com suas atribuições as agências, conselhos e comitês de bacias hidrográficas figuram como verdadeiras instituições reguladoras do território, que associados a outros órgãos públicos, corporações internacionais, empresas nacionais, agentes financeiros e movimentos sociais, todos capitaneados pelo Estado e pelo capital, regulam efetivamente os usos do território nacional.

Essas agências, a exemplo do que verifica-se a partir da atuação da ANA, produzem informações e normas essenciais a regulação do território, surgindo a partir “da necessidade de uma regulação pública que delimite as regras de funcionamento de diferentes mercados” (RIO e EGLER, 2003, p. 813) e precisam “considerar que as interações entre os agentes e

organizações sociais comportam conflitos de natureza variada, relações contratuais, direito de propriedade e alocação de recursos” (RIO e EGLER, 2003, p. 813).

Na compreensão de Antas Júnior (2004, p. 85) o processo de criação das agências nacionais de regulação indica de forma clara a ocorrência de uma “associação da hegemonia soberana com a hegemonia corporativa no exercício da regulação do território”. Essa hegemonia soberana, própria dos estados nacionais, se manifesta no poder atribuídas as instituições públicas que arbitram sobre o direito de exploração e uso dos recursos hídricos. Já a hegemonia corporativa se expressa nas políticas formuladas pelas empresas, seja estas as estratégias de mercado ou as táticas empregas nas negociações efetuadas com o Estado.

Partindo dessa compreensão entendemos que os territórios normatizados e prenhes de densidades institucionais, a exemplo das bacias hidrográficas, são igualmente territórios alienados e produtores de alienações territoriais. Nesse sentido ressalta-se que a alienação social e do território são processos intercambiáveis, pois “a alienação do território, envolvendo a venda do patrimônio natural e cultural, articulasse à alienação territorial, que atinge, com especial intensidade, as classes médias e altas” (RIBEIRO, 2005, p. 266).

Estas frações do território são alienadas porque convertem-se numa arena de conflitos entre o Estado e o capital, possibilitando assim um “alargamento do tabuleiro da política, simultâneo à ampliação da arena da produção” (RIBEIRO, 2005, p. 265), sendo produtores de alienações na medida em que está é

difundida pelas ideologias do capitalismo adquire uma dimensão material coerente com a natureza, a escala e a intensidade da globalização da economia. Estas ideologias, que apoiam a multiplicação ininterrupta dos objetos, transformam os lugares em alvos de investimentos voláteis e, a cultura em alavanca do lucro (RIBEIRO, 2005, p. 266)

Nota-se a partir do exposto que o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos para fins de gestão da água propõe uma hierarquia de instituições a qual pressupõe a ocorrência de interações escalares. Aqui se compreende que os órgãos gestores estaduais e os comitês de bacias hidrográficas são de grande importância na execução dos princípios postos na Política Nacional de Irrigação, pois se colocam como elementos de mediação entre as autarquias existentes em nível de união e as bacias em si, enquanto unidades de uso, exploração e gestão da água.

Uma das mais importantes instituições atreladas ao gerenciamento dos recursos hídricos é o Comitê de Bacia Hidrográfica, pois é a instância que de forma mais direta atua nas questões inerentes ao uso da água na escala da própria bacia, valendo-se do repertório conceitual e

normativo em vigência na escala nacional (LEAL, 2010; LEAL, 2012). Conforme o autor uma das características fundamentais desses comitês consiste em sua formação diversificada, agregando agentes de diferentes setores e com interesses diversos, sendo por excelência um ambiente de negociação e gestão de conflitos, já que

a legislação propõe uma política participativa e um processo decisório aberto aos diferentes atores sociais vinculados ao uso da água, dentro de um contexto mais abrangente de revisão das atribuições do Estado, do papel dos usuários e do próprio uso da água. A legislação fortalece a gestão descentralizada de cada bacia hidrográfica (JACOBI, 2009, p. 44).

No Brasil existe hoje um total de 201 comitês de bacias hidrográficas, distribuídos nas diversas unidades da federação, com exceção dos estados do Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima onde não há registro de comitês de bacias hidrográficas, conforme apresentado no gráfico 06. É curiosa também a situação do estado do Amazonas que possuindo a maior rede hidrográfica do país apresenta apenas um comitê de bacia, responsável pela bacia hidrográfica do Rio Tarumã.

Gráfico 06. Brasil: número de comitês de bacias hidrográficas por unidade da federação (2016)

FONTE: Agência Nacional de Águas (2016c).

É valido ressaltar que pós eleições de 2018, os comitês de bacias hidrográficas e os demais órgãos colegiados existentes no Brasil entram em um acelerado e perverso processo de fragilização, deixando as discussões e decisões cada vez mais concentradas nas mãos dos agentes institucionais do Estado. Negar a importâncias dos órgãos colegiados, como tentativa

0 5 10 15 20 25 30 35 40 AM TO MT GO MS MA PI CE RN PB PE AL SE BA ES RJ MG SP PR SC RS

de barrar a participação popular, mas que antidemocrático é um desrespeito à constituição cidadã de 1988.

É preciso que se reconheça que a partição efetiva e real da sociedade brasileira nos órgãos colegiados ainda se coloca como uma virtualidade, por isso mesmo é preciso valorizar e incentivar a coletividade a se posicionar e exercer o seu direito a voz e ao voto. No caso específico das entidades de caráter consultivo que se preocupam com a gestão das águas, a participação consciente do povo faz de grande importância, pois no seio do debate está um bem comum, vital e de uso coletivo.

Cabe tencionar se os ataques feitos aos órgãos colegiados e de base popular, têm sido também acompanhados por levantes de mesma natureza que busquem silenciar, ou mitigar, a influência dos agentes financeiros e políticos, que fortemente direcionam as políticas voltadas ao setor agrícola e a gestão das águas no Brasil. Como revelado por Locatel e Lima (2016), muitos são os sujeitos que se reproduzem politicamente a partir do investimento das empresas vinculadas ao agronegócio, sendo estes os membros da bancada ruralista.

Se o uso agrícola do território é dependente da apropriação da água, é essencial que as falas e ações desse grupo político seja duplamente monitorado, pois o incremento das exportações agrícolas leva consigo uma quantia de água não calculada e não taxada, pois a exportação de alimentos é em certa medida uma forma indireta de exportação da água.

O Rio Grande do Norte possui quatro comitês de bacias hidrográficas, sendo três desses comitês estaduais responsáveis pelas bacias dos rios Apodi-Mossoró, Ceará-Mirim e Pitimbu, e um comitê interestadual ocupado na gestão da bacia hidrográfica do Rio Piancó-Piranhas- Açu, como representado no mapa 16.