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RECURSOS HIDRÍCOS, IRRIGAÇÃO E USOS AGRÍCOLAS DO TERRITÓRIO: categorias, escalas e elementos de mediação.

definindo as mediações.

Mapa 01. Brasil: delimitação do semiárido (2005).

1.5 RECURSOS HIDRÍCOS, IRRIGAÇÃO E USOS AGRÍCOLAS DO TERRITÓRIO: categorias, escalas e elementos de mediação.

De acordo com Santos (2008a), ao analisar as dinâmicas do espaço geográfico, as quais se relacionam diretamente com os usos do território, o pesquisador deve priorizar a adoção de categorias analíticas eminentemente geográficas, sejam elas: estrutura, processo, função e forma. Todavia, ressalta-se que estas não são as únicas categorias utilizadas no desenvolvimento desta pesquisa, mas serão tomadas como macrocategorias geográficas que se

destacam pela abrangência e pertinência na análise. As mesmas, como evidenciado na figura 01, serão operacionalizadas a partir de pares dialéticos.

Figura 01. Categorias analíticas priorizadas na investigação

Fonte: elaboração do autor, 2016.

A estrutura é sempre resultante da “inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de organização ou construção” (SANTOS, 2008a, p. 69). Compreende-se que a estrutura é um dado do tempo presente, ainda que seja constituída e condicionada por objetos geográficos herdados de distintos momentos históricos.

No contexto desta pesquisa, a estrutura revela-se por meio dos processos desencadeados nas áreas irrigadas e pelas materialidades ali presentes. A adoção e operacionalização desta categoria possibilitará compreender em que medida a emergência dos açudes e perímetros irrigados redimensionam os usos, as dinâmicas e a configuração do território no Rio Grande do Norte.

Ao se trabalhar com a categoria supracitada, observar-se-á à divisão territorial e técnica do trabalho, a qual de acordo com Silva (1986, p. 30) figura como sendo “o aspecto visível e a dimensão espacial da divisão social do trabalho”, sendo esta a expressão territorial mais duradoura, decorrente do desenvolvimento das atividades produtivas (SILVA, 1986).

Ao estabelecer as tessituras entre a “estrutura” e a divisão territorial e técnica do trabalho, é essencial se compreender que estas não expressam unicamente a espacialização das relações de trabalho e produção, mas condicionam também a efetividade das relações existentes entre as diversas frações do território.

Destarte, apregoa-se que as divisões territoriais e técnicas do trabalho englobam a um só tempo as relações sociais de produção, estas devendo ser apreendidas também como relações espaço-temporais, não obstante a distribuição espacial e o uso dos objetos geográficos, os quais expressam em certa medida a complexa relação existente entre a configuração do território e as divisões do trabalho.

Para uma acurada análise acerca dos processos em curso nas áreas ocupadas pelos perímetros irrigados existentes no Rio Grande do Norte, acionar-se-á o par dialético: densidade e rarefação, com o intuito de verificar dentre os perímetros irrigados, e no território potiguar, a ocorrência de áreas que concentram a presença de pessoas, objetos técnicos, firmas, empresas de insumos, prestadoras de assistência técnica, instituições financeiras e centros de pesquisa relacionados com as atividades agrícolas praticadas nos perímetros irrigados presentes no território do Rio Grande do Norte.

Os processos, nesta perspectiva analítica são entendidos como “uma ação contínua desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando os conceitos de tempo (continuidade) e mudança” (SANTOS, 2008a, p. 69). Partindo deste entendimento buscar-se-á problematizar as distintas realidades vivenciadas nos perímetros irrigados e refletir sobre como uma política, implementada em diferentes áreas, repercute na produção de realidades distintas e complexas. Aqui se priorizará a premissa de que o território e os sujeitos sociais possuem um papel ativo e de singular importância na composição e na dinâmica dos lugares.

Os processos verificados nos perímetros irrigados serão abordados a partir da lógica de atuação das empresas que utilizam o território como recurso, explorando-o de modo a lograr a ampliação de seus lucros, e das estratégias de reprodução social e econômica dos agricultores familiares, que fazem uso do território como abrigo, sendo este não somente o local do trabalho, mas o lugar em que estes sujeitos sociais se realizam e se reproduzem enquanto seres sociais.

De acordo com Santos (2008a, p. 69), a função possui relação direta com a “tarefa ou atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa”. Nesta pesquisa as funções a serem observadas vinculam-se ao papel desempenhado pelos açudes e perímetros irrigados na dinâmica agrícola do estado, não obstante as ações viabilizadas a partir destes objetos, seus conteúdos técnicos e científicos, as intencionalidades dos agentes e aos processos sociais decorrentes, respectivamente, da instalação dessas infraestruturas e delimitação destas áreas produtivas. Desse modo à incorporação desta categoria possibilitará o entendimento sobre a implantação dos perímetros irrigados no território potiguar e seus desdobramentos na dinamização da agropecuária, bem como sobre os usos do território nesta unidade da federação.

As apreciações sobre a função dos objetos técnicos serão aprofundadas a partir de análises que buscarão evidenciar o sistema de sucessões e coexistências presentes nos perímetros irrigados. Em visita de reconhecimento das áreas de estudo constatou-se que nestas é marcante a presença de objetos técnicos de diferentes períodos e com distintas funcionalidades, que se imbricam e possibilitam a realização das distintas etapas inerentes aos processos produtivos agrícolas.

No que se refere à forma, estas apresentam-se como “uma estrutura técnica ou objeto responsável pela execução de determinada função. As formas são governadas pelo presente, e conquanto se costume ignorar o seu passado, este continua a ser parte integrante das formas. Estas surgiram dotadas de certos contornos e finalidades-funções” (SANTOS, 2008a, p. 69).

Inicialmente pode-se inferir que, conforme especificidades da pesquisa em tela, a forma estaria associada à morfologia do sistema de engenharia hídrica e ao modo de organização espacial dos perímetros irrigados, todavia, se buscará entender a forma em sua relação simbiótica com o local de instalação, dando enfoque às espacialidades/territorialidades produzidas a partir de sua criação.

Pormenorizadamente as categorias função e forma, serão operacionalizadas a partir da adoção do par dialético forma-conteúdo. Este permitirá definir a função de cada um dos objetos geográficos presentes nas áreas dos perímetros irrigados, bem como o conjunto de relações que conferem sentido a cada um destes.

Não obstante ao exposto, elucida-se que conforme aponta Gomes, Steinberger e Barbosa (2013), ao se adotar a concepção teórica proposta por Santos (2001), sobre o uso do território, deve-se ter especial atenção com: a natureza dos usos, amplitude dos usos, duração dos usos, coexistência de usos, complexidade e conflito entre os usos, normatização dos usos e escalaridade dos usos. Nesse sentido ressalva-se que estes serão os motes que guiarão o nosso olhar e a investigação sobre a realidade que ora apresenta-se como dimensão empírica do problema de pesquisa.

1.6 NAS MEDIAÇÕES ENTRE O ABSTRATO FORMAL E O EMPÍRICO