II. SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE – O PAÍS E A DIÁSPORA –
2.2 Breve resenha política
A história política de São Tomé e Príncipe desde a sua independência caracteriza-se pela existência de dois períodos distintos.
Um primeiro período estende-se desde 1975, ano da independência do país até 1990. Durante estes anos, São Tomé e Príncipe vive um sistema político de cariz socialista e unipartidário em que o Presidente e o Primeiro-ministro são eleitos pelo Comité Central do partido único. Um segundo período situa-se desde 1990 até à actualidade e é caracterizado pela existência de um sistema multipartidário e pela eleição directa e universal do Presidente e do Primeiro-ministro.
Logo após a independência, Manuel Pinto da Costa e Miguel Trovoada tornam-se, respectivamente, os primeiros Presidente e Primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe. Foram ambos eleitos pelo Comité Central do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, único partido existente e que protagonizara a oposição à administração portuguesa até à independência do país.
O partido constituíra-se como Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe em 1960 no Gana e era maioritariamente constituído por estudantes que tinham aderido ao movimento marxista-leninista. Embora diversas circunstâncias, nomeadamente geográficas não permitissem um forte mobilização popular, o Comité acabou por 60
transformar-se no Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), tendo Manuel Pinto da Costa sido eleito Secretário-Geral.
Em Novembro de 1974, o MLSTP assina com Portugal, na Argélia um acordo para a criação de um governo de transição em São Tomé e Príncipe e onde se estabelece a independência para o dia 12 de Julho de 1975.
Com a independência de São Tomé e Príncipe, o MLSTP, único partido, assume os destinos do país. Em 5 de Novembro de 1975, é aprovada a nova Constituição, que estabelece os órgãos clássicos de soberania – o Presidente da República, a Assembleia Nacional Popular, o Governo e os Tribunais – bem como a Lei Básica que estabelece o sistema do partido único.
Desde logo, no entanto, e durante todo o período deste sistema unipartidário, as divergências no partido foram uma questão recorrente.
“A Direcção do MLSTP, enquanto força dirigente do Estado, entre 1974 e 1990 passou ao longo daquele período por fases de tensão política que foram geradoras de grande instabilidade no seio do regime, consequência da existência de diferentes concepções sobre o papel dirigente do MLSTP e sobre a sua estrutura ideológica, que nunca foi formalmente assumida.”92
Essas divergências no seio do partido tiveram por consequência o afastamento do Primeiro-ministro Miguel Trovoada pelo Presidente da República Manuel Pinto da Costa, tendo sido abolido o cargo de Primeiro-ministro.
Paralelamente foi-se organizando a oposição no exílio, nomeadamente em Portugal e no Gabão, através da Coligação Democrática da Oposição, que reclamava a realização de eleições multipartidárias.
A aproximação do fim da “guerra-fria”, do desmantelamento da URSS e dos seus países satélites levou a que o partido do poder fosse também procurando uma abertura política gradual que, no entanto, não o perigasse como única força política do país.
“Contudo, as notícias sobre o início da derrocada do Bloco de Leste contribuíram para avolumar o descontentamento de alguns sectores mais esclarecidos da sociedade civil são-tomense, verificando-se um aumento de tom nas exigências de democratização do sistema político, facto que terá levado o MLSTP a tornar mais abrangente o processo de abertura político anunciado pelo Comité Central do Movimento, em Outubro de 1987.”93
92 ROMANA, Heitor, “São Tomé e Príncipe –Elementos para uma análise antropológica das suas vulnerabilidades e potencialidades”, ISCSP; 1997, p.174
93 Ibidem p. 175 61
O MLSTP anuncia, finalmente a realização de uma reforma constitucional, que incluía a realização de eleições presidenciais e legislativas por sufrágio universal em 1990 bem como restabelecimento do cargo de Primeiro-ministro.
O projecto inicial da nova Constituição a ser promulgado iria garantir o
multipartidarismo, os direitos humanos e a abolição da pena de morte. O projecto de Constituição é aprovado em Março de 1990 pela Assembleia Nacional Popular, tendo sido ratificada por referendo popular em Agosto de 1990. É também agendada a realização de eleições legislativas e presidenciais para esse mesmo ano.
Com a aprovação e aplicação da nova Constituição Política cria-se um novo quadro político-institucional e inicia-se a II República. Dá-se a ruptura com o sistema de governação em vigor de 1975 a 1990: o sistema do partido único dá lugar ao multipartidarismo e a soberania do Estado pertence ao povo que a exerce através de sufrágio secreto, directo e universal.
As primeiras eleições legislativas por sufrágio directo, secreto e universal, realizam-se em Janeiro de 1991, tendo sido vencidas, por maioria absoluta, pelo PCD/GR e com a estrondosa derrota do MLSTP/PSD. Daniel Daio toma posse como primeiro-ministro no mês seguinte.
As eleições presidenciais, as primeiras por sufrágio directo e universal realizam-se nesse mesmo ano. Miguel Trovoada, apoiado pelo PCD/GR e pela CODO foi o único candidato, que alcançou 81,8% dos votos. É de salientar, no entanto, a elevada abstenção nestas eleições, comparando com a das eleições legislativas.
No ano seguinte realizam-se as primeiras eleições autárquicas que são ganhas pelo MLSTP, resultado que foi interpretado como um primeiro sinal de descontentamento face ao Governo do PCD/GR e que marcou o início da recuperação política eleitoral do MLSTP/PSD. Também nestas eleições, a abstenção foi bastante significativa. Entretanto, os desentendimentos entre o Presidente da República, Miguel Trovoada e o governo do PCD/GR, originaram uma ruptura, em 1992, que levou à queda do Governo de Daniel Daio e do seu sucessor, Norberto da Costa Alegre. Realizaram-se, então, eleições antecipadas em 1994, tendo sido vencedor o MLSTP.
Miguel Trovoada é o vencedor das eleições presidenciais em Julho de 1996, derrotando Manuel Pinto da Costa. Dois anos depois, nas legislativas de 1998, o MLSTP ganha a maioria dos assentos parlamentares. Em 2001, Fradique de Menezes do partido da Acção Democrática Independente, é eleito Presidente da República.