• Nenhum resultado encontrado

BRASIL GOVERNO DE

2.3 Contexto histórico de Parques Tecnológicos no cenário internacional

2.3.1 Breve revisão da experiência do Stanford Research Park e do Silicon Valley

Os Parques Tecnológicos têm origem na Universidade de Stanford, instituição privada fundada no final do século XIX, na Califórnia, Estados Unidos. A principal riqueza dessa região, ao sul de São Francisco, era a agricultura, mas essa universidade decidiu transcender as vocações locais e apostar no futuro, focando as Engenharias e Ciências Exatas. Com isso, durante os primeiros quarenta anos, os seus graduados encontraram dificuldade em obter empregos nessa região, fazendo com que eles tivessem que procurar oportunidades econômicas em outros lugares. Perante a situação, em 1930, o Professor Frederick Terman encontrou como solução à fuga de cérebros a promoção de bolsas de estudos, acesso a laboratórios e orientação a formados que desejassem criar empresas por meio da incubação de empresas (SPOLIDORO; AUDI, 2008).

O crescimento das empresas geradas passou a demandar instalações mais adequadas na Universidade de Stanford, que, em 1951, teve que criar um espaço para empreendimentos, inicialmente denominado Stanford Industrial Park. Havia uma outra corrente, à qual pertencia ao Professor Terman, que conseguiu preservar o Parque para empresas dispostas a trabalhar em aliança com a academia. (SPOLIDORO; AUDI, 2008).

Em 1974, o Stanford Industrial Park contava com mais de 70 empresas intensivas em conhecimento, que empregavam vinte e seis mil profissionais. Sua denominação foi alterada para Stanford Research Park de modo a indicar claramente o seu compromisso com a pesquisa e a inovação. Já em 2005, o Stanford Research Park tinha mais de 150 empresas em áreas intensivas em conhecimento, em especial eletrônica, informática e biotecnologia, bem como diversos centros de pesquisa e empresas com foco em advocacia, finanças, consultoria e capital de risco. A partir de 1970, o esgotamento dos terrenos no Stanford Research Park levou as empresas intensivas em conhecimento a instalarem-se nas proximidades da Universidade. Nesse processo, o Vale do Silício foi praticamente transformado em um imenso Parque Tecnológico disseminado no tecido urbano (SPOLIDORO; AUDI, 2008).

O modelo do Stanford Research Park

O Stanford Research Park foi visualizado, em um primeiro momento, como o conjunto formado por empresas intensivas em conhecimento e centros de pesquisa e desenvolvimento, os quais podiam estar localizados tanto na Universidade como no Parque. Nesse modelo, a Universidade é responsável na geração de pesquisas e novos conhecimentos. Por sua vez, as empresas interagem com o mercado e fornecem produtos ao Parque, a partir

de desenvolvimentos próprios, muitos dos quais realizados em estreita colaboração com os clientes (SPOLIDORO; AUDI, 2008).

Spolidoro e Audy (2010) destacam como condições subjacentes ao desenvolvimento do Parque e do Vale do Silício:

• Povo com elevada educação;

• Ensino e pesquisa de excelência em Engenharias e Ciências Exatas e da Vida; • Organização e uso adequado do espaço socialmente construído;

• Políticas governamentais adequadas em todos os níveis;

• Aceleração do surgimento de novos paradigmas científicos e tecnológicos; • Ambiente propício à inovação;

• Elevada qualidade de vida; • Globalização da economia; • Infraestruturas adequadas; • Paladinos e iniciativas locais.

O Silicon Valley

O Silicon Valley é considerado o precursor de PTs. Com o surgimento da Universidade de Stanford, houve inúmeros acontecimentos na área da eletrônica, dando estímulo à revolução microeletrônica que colocou o Silicon Valley como referência mundial. Conforme Murphy (1997) a excelência acadêmica da Universidade de Stanford permitiu que o Silicon tivesse sucesso na formação de empresas, em especial, no desenvolvimento da

Hewlett-Packard, uma das maiores empresas do setor eletrônico. Essa empresa tornou-se o

núcleo para o avanço do Silicon Valley, já que depois outras empresas desenvolvedoras de alta tecnologia começaram a ser parte do Parque, tendo como base a vantagem da proximidade com a Stanford.

Segundo Saxenian (1996), apud Zouain (2004), o sucesso do Silicon Valley está caracterizado por seu estilo descontraído e pela busca permanente de resultados que permitiram a atração de renomados cientistas para contribuir na geração de projetos inovadores. Ademais, esse fato contribuiu para atrair investimentos de capitalistas interessados em novos projetos, em especial, investidores com capital de risco.

Murphy (1997) ressalta algumas vantagens que permitiram o sucesso no Silicon

Valley:

 Localização: A proximidade com a Universidade de Stanford permitiu ao

Silicon manter vínculos acadêmicos e garantir um nicho de mercado mais

resistente à recessão, em comparação com outros parques empresariais (MURPHY, 1992, IN: GUEDES & FORMICA, 1997);

Infraestrutura de alta qualidade;

Uma base científica ou de pesquisa voltada para o futuro; Forte vínculo com a universidade e centros de pesquisa; Empresas residentes com um foco especializado.

O planejamento estratégico também é considerado um instrumento importante no Silicon para garantir sua sustentabilidade no tempo. Murphy (1997) indica o estudo realizado pela comunidade do Parque e consultores especializados, para argumentar alguns pontos importantes na situação desse complexo tecnológico:

 O Parque possui uma sólida posição no mercado, principalmente como resultado do vínculo com a Universidade de Stanford;

 A vantagem competitiva do Parque é constantemente desafiada por outros Parques locais e/ou internacionais que oferecem melhores condições para as empresas residentes no que diz respeito a preços, instalações, e proximidades;

 Os vínculos acadêmicos são fortes em nível individual, já que as empresas têm gerado uma quantidade ilimitada de pesquisas patrocinadas por universidades, com o apoio de empresas parceiras que subsidiam as pesquisas e outorgam recursos significativos em doações e equipamentos;

 Falta de identidade do Parque, já que muitas das pessoas que trabalham no local não têm conhecimento pleno das atividades desenvolvidas nele;

 Certa ansiedade e desconforto entre os residentes com relação à política inconstante sobre o arrendamento de terrenos e políticas algumas vezes indefinidas em vista dos problemas de contaminação tóxica existente;

 Desenvolve-se uma ação conjunta com a cidade de Palo Alto, entre a Universidade e as empresas do Parque, com o escopo de fazer frente aos déficits orçamentários e estabelecer políticas locais de desenvolvimento da região.

Spolidoro e Audy (2008) também citam as condições que permitiram a inovação no

Stanford Research Park e no Silicon Valley –Quadro 10.

Quadro 10 - Condições para inovação no Stanford Research Park e no Silicon Valley.

Condições Descrição

Ensino e pesquisa de excelência em Engenharias e Ciências Exatas e da Vida e organização e uso

adequado do espaço socialmente construído.

O Stanford Research Park é adjacente ao campus da Universidade de Stanford, que é habitado por boa parcela dos estudantes e dos professores, situação que facilita a interação do corpo docente e discente da universidade e dos pesquisadores e demais profissionais que atuam nos centros de pesquisa e empresas no parque. Além disso, o Stanford

Research Park aluga lotes e prédios, e a receita é

utilizada para ampliar e aperfeiçoar as atividades de ensino, pesquisa e extensão da universidade.

Políticas governamentais adequadas em todos os níveis.

As compras governamentais dirigidas às empresas domésticas (Buy American Act) e a doação a cada ano, pelo Governo Federal dos Estados Unidos, sob o título de contratos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, de cerca de trinta bilhões de dólares às empresas privadas domésticas em setores portadores de futuro, tais como as encontradas no Vale do Silício, promovem a inovação nesse país.

A facilidade e rapidez para abrir e encerrar empresas no Silicon Valley.

O estabelecimento, em 1954, de um programa (Honors Cooperative Program) que estimulou a participação de empregados das empresas residentes no parque em cursos de pós-graduação na Universidade de Stanford, em tempo parcial, permitiu a sinergia das empresas e da academia e promoveu um contínuo aperfeiçoamento profissional dos empresários e dos seus colaboradores.

Iniciativas e paladinos locais.

Entre os paladinos locais que viabilizaram o Silicon

Valley, devem ser lembrados os milionários Leland e

Jane Stanford, que instituíram uma universidade em memória do filho precocemente falecido, bem como o Professor Frederick Terman, cuja ação desencadeou a incubação de empresas e parques tecnológicos.

Fonte: Elaborado pela autora com dados extraídos de Spolidoro e Audy (2008).

A revisão da experiência de sucesso do Stanford Research Park e o ambiente do

Silicon Valley, permite entender porque a partir da década de 1950, em âmbito internacional,

conduziu-se à estruturação de mais de dois mil Parques Tecnológicos no mundo para gerar diversas inovações quanto à organização política do território.